Cantos ao Sadhaka

Cantos ao Sadhaka
Srila Atulananda Acharya
1
Canto-lhe ao sadhaka, (ao praticante), ao que luta, ao que se levanta
Ao que submete seus sentidos, ao que é forte na sua determinação
Ao que se mantém humilde e temeroso
Ao que sente a grande divida com seu mestre
Ao que já não se pertence e se vence a cada passo
A esse lutador grandioso, Oh Krsna! Danos Tua graça!
Sem ela não somos nada
Não há sadhaka, nem sadhana, nem esperança alguma
Faz-nos fortes ante maya, fracos a Tua Vontade Suprema!
Oh Senhor! Enche nossa vida!
Prabhupad não queria que nos esquecêramos de Ti...
2
Recordas antes que chegara Srila Prabhupad?
Para uns a cabeça cheia de fumaça
Os cabelos cumpridos, a música estridente
Em busca da verdade... Num violão
Embarcados em longos viajes, uns viajavam
Uns viviam nas montanhas, alçadas entre penhascos e rios
Juventude louca, inventando o amor
Tornando o grande barato
Uns pseudo-s intelectuais diziam: “Todo é energia, tu e Deus mesmo
Tu és Deus”….... Diziam.…
Na loucura de uma época extraviada
Sem saber nada, nada sabiam.
As estrelas guardavam sua muda palavra
O céu sempre falava, mas ninguém entendia
Os livros carregavam sua sabedoria
Mas sem Pabhupad todo calava
Uns buscavam, outros nem sequer isso
A todos chegou com sua graça
Ao despertar, ao despertar vinha:
“O amor é a verdade, a razão da vida” •Agora te despertas e te levantas
E tens um grande compromisso
Todo te ensina, todo te instrui
És um filho, o mensagem é tão grande, tão grande tua divida
Que sabias de Krsna, que fazia, quem era?
Agora queres selar teu compromisso com os mahatmas
Cumprir com eles, render tua vida
Te sentes vazio, inepto
Mas igual corres:
Ao encher corações e o teu
Corres a entender o que não entendes
A satisfazer essa necessidade interna que nunca se satisfaz
Pedes serviço com teu canto impetuoso
Temeroso e atrevido, serviço pedes no domínio Supremo!
Antes nada sabias Oh Sadhaka! Cómo tens cambiado!
Seu serviço anseias
Não foram às palavras de Prabhupad o doce som da Sua flauta?
O de lábios de lótus! O dos pés de lótus!
Que como um cisne pela terra andavas!
3
Oh Sadhaka! (praticante) Que bela é tua vida!
Voltas a ser um menino
Começas a viver com o céu
O sol te fala de teus gayatris
(As estrelas do primeiro)
A lua recorda teus jejuns
E as sagradas datas dos santos
Gosto de tua vida austera, dura, pura
Teu banho de manhã
Levando o santo nome
Te postras ante teu guru como um filho
Teu coração esta cheio de sua palavra
Sentes que queres amar mas não podes
E os grandes mestres te pedem calma
Amo tua vida
Porque amas sem amar ainda
Por essa bela esperança que tens
Vives na fe de uma bela perspectiva
Gozas sem gozar e aceitas as asperezas
Os golpes duros abrandam o coração - meditas
Buscas a doçura, o amor, o serviço
Te elevas a suas fontes
Te sentas a escutar as palavras dos santos
Queres purificar-te, “lavas o carvão”, acabas contigo
Queres encher-te de Krsna, de bondade, de serviço
Para ti todo é um grande salto, pegar um grande risco
O risco mais absurdo porque te aproximas ao mais Bom
Mas assim são as armadilhas de maya
E agora tu estas aprendendo a viver
A assinar teu compromisso com o céu
Dele vem teus compromissos e teus votos
Tua vida é um poema
Tua vida começa a ser uma bela canção junto ao Belo
Oh Sadhaka, Oh meu sustento, mantém teu coração puro a pesar de todo!
Não te sintas sozinho junto aos vaisnavas!
4
Há calma, há quietude, oh sadhaka!?
Ainda não, me dizes
Há pureza, há convicção, lograste algo?
Ainda não, me respondes
tens compreendido, sabes que fazer, quem és?
Falta muito, é tua resposta
Teu Gurudeva te pôs no lado negativo
Krsna te desperta e te leva a essa realidade mesma
Ele quer correr para abraçar tua humildade
Na tua completa humildade te mantém abraçado
Junto a teu ouvido te sussurra:
“Te darei conhecimento sem causa,
E desapego do mundo...” •Para que querer outra riqueza? Oh sadhaka!
Caminhas quando sentes que não caminhas...
Quando choras porque o perdes, ali o ganhas
5
Doce paz, doce éter, doce silencio charmoso
As campainhas do aratik soam
E o sol vai alegrando o crepúsculo
Presenteando ao sadhaka outro dia
Quando os pássaros vão dormir:
Tu adormeces tua alma com o Nome Santo
A levas descansar ao regaço de teu amo
Tua vida já não te pertence
Dia a dia repetes tua palavra, cumpres tua promessa
Acrescenta tua riqueza no céu
Tua vida é simples, selada no amor
Vives nesse mundo virtuoso, tão puro e diáfano
Que o olho carnal não percebe teu progresso
Mas tu vãs a Ele
Tu vãs a Ele, sadhaka, não temas
Assim nos dizem os mestres...
6
Oh sadhaka! Que te sentas no chão
E às vezes comes com a mão
Todo é divino para ti
Pegas teu simples arroz, trás a oração de agradecimento
Com a alegria do banquete dos deuses
Estás com os teus, em família, em tua vida simples
Estás avançando até reino glorioso
Onde és o rei de teus sentidos e um escravo do Charmoso
“Vida simples, pensamento elevado” •Oh sadhaka! Que riqueza tão grande te deram os sábios!
Tu a aprecias com tua vida simples, tua mente simples
Tu avanças
Tu estas agora guerreando forte todos os dias
A vida a ganha quem luta por ela
Não quem satisfaz este corpo funesto e dormido
7
Oh Sadhaka! És heróico, és glorioso
A gente ordinária teme a disciplina, os ideais altos
Temem falar a verdade muito mais vivê-la!
Querem almofadas brandas, música suave e sexo
O sexo enche suas consciência com uma vida pornográfica
Não há alma para eles, só há corpos, muito sujos e baixos
Que nunca para o serviço divino são ocupados
Mas oh sadhaka! Tu vives para a alma
Ousado, intrépido, vãs a essa zona com os passos da esperança
A uma vida luminosa e santa
Lutas contra todos, pais, irmãos, se é necessário, se eles não querem
Estas disposto a seguir sozinho, seguro e erguido
Como um grande soldado sob um grande baluarte
Disposto a morrer por esses generais que conhecem a gloria
Que coroados como reis de seus sentidos,
Te guiam a seus reinos, a teu lar,
Oh sadhaka! Oh santo!
8
Quanta solidão! Quanto tropeço!
Quanta adversidade! Oh amigo, minha vida aplanas!
Cale minhas orações e me senti sozinho
Assim sozinho achei tropeço e nele adversidade
E voltei a minhas orações
Retomei meu canto
Senti Sua companhia interna
Seu amor no coração também o teu Oh sadhaka!
E de novo quis ser como tu
E renovar meus votos
Sentir-me unido aos santos através da minha prática
De que servem as conversas em vão?
Que alivio ao coração deixam?
Falemos do Senhor
Sintamos Sua companhia
Me abençoa Oh sadhaka! Com teu sadhana intenso
Me leva a teu kirtan
Não me deixes perder na nada
9
Canto o Santo Nome com uma grande esperança
Vocês me tem alentado, oh bhaktas!
Como gotas que pouco a pouco o coração transbordam
Cada palavra do mantra chega a mim
Entrando aos poucos
Sempre é assim para todos
Só escuta este doce nome que corre a teu coração
Entesoura este presente de Srila Prabhupad
Receberas este presente com um coração frio?
Poderás assim entender do que se trata?
Ele que chegou com seu coração candoroso
E trouxe a ciência do amor
O trouxe de uma maneira concreta
Para que o possas sentir e viver com ele
Por fim viver nele!
No amor, no amor tão grande
Essa é nossa esperança
Atrás dessa perspectiva madrugas Oh sadhaka!
O Senhor sabe o que procuras
Ele escuta teu mantra
Em tua boca o põe se esconde
Chama-o, serve-o e chama-o
Seu doce coração só busca o momento mais oportuno
Para dar-se
10
Algumas vezes ao me levantar falo:
Quando poderei amar-te meu Senhor?
Quando poderei dizer Teu Nome?
Quando estarei puro e não causarei dor com meu pecado?
Quando estará limpa minha mente
E nela brilhará a devoção pura por Ti
Quando serei Teu devoto?
Quando terei verdadeiro Amor?
Quando buscarei de verdade Teu serviço,
deixando de lado toda comodidade pessoal?
Quando rirei do medo, da ira e a ilusão?
Quando conhecerei a doçura da humildade
E quando terei amor pelos devotos?
Quando poderei romper o encanto de maya,
O desejo perverso, a atração mundana?
Quando Tu, Govinda, serás minha concreta realidade,
meu sustento, meu amigo, meu refugio, minha meta, meu todo...?
Se multiplicam os dias, os anos vem e passam,
E sou ainda o mesmo , ainda tão longe...
Mas estou na senda do sadhaka
Nesse caminho que gostaria pegar e não o deixar
Esse longo caminho às vezes pedregoso e sinuoso,
Nesse caminho montanhoso que procuro e que amo
Onde temo e tropeço
Onde sofro o desamparo
E onde te busco a ti oh sadhaka!
Oh Sadhaka que estendes tua mão!
11
Recordas, Sadhaka, tua vida?
Quando chegou o dia em que Govinda te chamava?
Quando desapareceu o encanto da ciência exata
E a grandeza do homem se desmoronava?
Quando percebeste o tempo, o factor tempo regendo tudo
E que este mundo já não era um refugio amistoso
Quando fostes consciente da morte, e da outra vida
E dos atos pecaminosos,
Foi um despertar
Um despertar sobrio e profundo
Repetido na mente, insistente, sempre presente na consciência
Um olhar metafísico
Além do sorriso e do beijo
Além do perfume e as jóias
Maya, cortina superficial, se tornou o mundo
Os risos, as festas, os compromissos e amigos
O ganho do dia, o sabor da noite
Todo se desvaneceu como uma débil neblina
O que os homens chamam cultura
Foram espasmos de pobres criações
Sensações perdidas de ilusões tristes
O ar de importancia, o ar de grandeza
Só ar inflando o balão do orgulho
A luta por se individualizar neste rascunho da vida
A luta por surgir explorando aos otros
Que acontece? - dissestes - acordando
E fostes onde teus pais, teus irmãos, teus amigos
Mas já não era o mesmo
Tu tinhas mudado e estavas vendo:
O sentido das palavras, do mesmo evangelio
Palavras que galopavam no fundo da tua conciência
Então veio a solidão a abraçar-te
Te receberam os caminhos solitarios e calados
As praias vazías, as molhadas rochas
Os corações duros e a resposta dos surdos
E te sentiste desorientado, desamparado e perdido
No mundo ao que recém nascias
Onde ainda não engatinhavas nem comias
Num mundo onde recém gemías e choravas
Ficavas sozinho num universo vazío
Os disfarces e honras do mundo já não te possuíam
O éxito, O triunfo anseiado pelos jóvens
Para ti já era comida mastigada e experimentada
Tristemente comida e engolida desde siempre
Quando a alma despierta já não pertence a este mundo
Só o eterno é real, procuradora de raíces
E choravas por achar outros espíritus em vigilia
Ay quantos livros! Ay quantos caminhos e mestres!
Ay Govinda escondido! Ay o Travesso, o Charmoso!
Tantas vidas, tantos caminhos, tantas perguntas
Para amadurecer o coração, o mais doce fruto
E chegaste aos devotos
Foram te procurar com seu canto e com seus livros
Tilintido de kartalos, lembras?, Dança de alegria
A alma convidada ao fim da sua ansiada festa
Chegaste ao fim sadhaka a teu refugio seguro
Um caminho muito longo seguiste para chegar ao caminho
Ao caminho tão longe do amor e do serviço
O longo caminho todo cheio de graça
E assim tua alma fresca e rejuvenescida
Alço seu vôo no kirtan sacudindo as incongruências
E assim te sentas a falar esta vez com outros sadhakas
Como foi tua historia, como chegaste a Krsna
Como se desvelo Sua misericórdia a senha do universo
Abrindo a boca dos sábios e descobrindo profundos segredos
Contas tua chegada com alegria
Com a alegria de quem recebe a graça Sua
Teu recorrido de dor o contas com um sorriso
Mas teu choro pelos que dormem ainda perdura...
Aspiração do Sadhaka
Um dia lhe perguntaram ao sadhaka humilde e simples, ao de continuo sadhana, ao que passeava em seus dedos as contas de tulsi junto com o Nome: “Qual é tua aspiração para a próxima vida, oh sadhaka? Qual é o resultado que desta, tua abnegada vida esperas?...
Fechou seus olhos o sadhaka e desenhou um sorriso: “Que mais que uma vida de entrega?”; assim resumiu sua singela resposta, mas depois, como chamado pela vina dos Vedas, começo a susurar seu pensamento: Espero na minha próxima vida, nascer numa vila afastada, povoado de sábios e na beira de um rio sagrado, que desde antes do sol sair vibrem os sons que louvam ao Senhor, que declaram Sua bela gloria com a poesia ainda, mas bela... Ali quero ter minha mansão: uma pequena choça de palha e terra... E meu pai um santo, no Santo Nome absorto, de vida frugal, de coração profundo, de amorosas palavras cheias de religião; e minha mãe também uma santa abnegada, amante da simplicidade e a pobreza, da excelsa Deidade e do serviço a seu esposo. Sempre estará ali a música do rio cristalino e verei o campo de compacta riqueza, levantando ao céu seus frutos, pelo sol beijado e acariciado por frescas brisas que dão perfumes e traem um concerto de pássaros... Levantarei-me quando o céu seja um pano escuro salpicado de estrelas e pensarei nos santos, repassarei na minha mente os últimos versos que estudei da Santa Escritura, meu olhos umedecidos de emoção, buscaram agradecer ao dador de tanta fortuna. Sempre entregado ao Santo Nome e ao estudo das Escrituras. Sempre trabalhando feliz em todos os que fazeres, aprenderei a lavrar a terra, a reconhecer o anuncio dos pássaros e o recorrido das estrelas, conhecerei a bondade de cada erva, aprenderei a cozinhar e a tocar diversos instrumentos, isso será algo normal e natural. O mas importante será a conferencia dos sábios, sentar-me durante horas a escutar suas realizações, acompanha-los em seus peregrinagem e sempre orar por receber a graça deles.
Sempre terei presente que este mundo é morada passageira, uma preparação para o infinito, uma escola de muitos anos e de muitas lições. Sempre me esforçarei por sentir a vontade e a presença de Krsna em todas as coisas, tentarei entender que não sou este corpo. O divino kirtan do Santo Nome enchera minhas horas, desde a saída do sol até que se esconda, sempre buscarei a bondade, buscarei amar a todos, até os menores e orarei pela graça de sentir-me o mais desvalido, o mais privado de todos os seres.
Pedirei a graça da montanha e da árvore, querei aprender da sua silenciosa grandeza e da calada tolerância do dador de frutos. A graça do vento poderoso querei ter, como viaja livre sem limite de fronteiras, como seu ressonante sopro agoniava o coração dos ignorantes. Querei aprender do sol que todo alumbra em sua generosa marcha, que como um grande paramahansa pega água doce do salgado mar, das águas desse mesmo mar querei aprender, como se alçam para aplacar a rocha; e da pedra insignificante e dura, que causa o tropeço dos grandes e construí mansões. Em todo cisco, em cada gota, em cada reflexo e em cada grão de areia, estarei enlevado de Ti, minha mente irá a Ti, mas essas serám só observações secundarias, de menor importância, eu buscarei o pó dos pés de Teus devotos, e farei uma guirlanda para eles, e adorarei a forma de Tua Deidade engraçada...
Sentirei a graça dos jejuns, aquietando minha mente, assentando meus sentidos, estarei feliz com essa austeridade divina. Uma sensação de paz e de alegria virá desde dentro de mim mesmo, como uma voluntariosa força que conquista, que domina as paixões, que estabelece um caráter nobre e puro... Não sei se terei minha casa e meus filhos, minhas frutas e minha horta. Só Deus sabe o que é bom para mim. Mas quero nascer com um profundo sentido de renuncia, quero nascer com o desinteresse completo pelos prazeres do mundo, sem nenhum interes pelo desfrute pessoal, pelo ganho pessoal, pelo aparente êxito vão que tantos buscam com cega veemência. Oro por isto. Porque o desprendimento total seja minha, mas cobiçada meta, porque saber-me o mas pequeno e insignificante seja minha ambição mas grande, porque por toda riqueza tenha pureza de coração e a compreensão dos santos. Que “escravo” seja meu nome, os desejos e as paixões domadas meu principio, a impoluta devoção todo meu caráter, a caridade minha ação, minha aprendizagem os sastras, meu ensinamento a rendição a Seus pés divinos, os remanentes sagrados meu único alimento, Seu Santo Nome meu exclusivo canto, o tilaka indicando que pertenço a Sua casa, minhas mãos que anseiem as contas de Tulasi. Por isso oro por ter tal graça... Que sempre vão meus pés a Teu templo, que sempre olhem Tua imagem meus olhos, que sempre meus ouvidos recebam Teu sruti, que minha mente Te recorde, que minha inteligência Te descubra, que meu coração Te anseie; que a língua louca já dominada, só cante Tua gloria. Que todo seja para Ti, que todo gire entorno Teu: a lua, o sol, o grilo noturno, as cidades ilustres, todos os pensamentos, todos os atos, todos os sentidos, todos os desejos, todo unido a Ti, todo ensamblado Contigo, só Tu em todas partes, Tu e os que Te servem, Tu e os que Te amam. Oro por essa realidade, oro pela Verdade em todas as coisas.
Nessa casa reinara a paz da vida santa. Serám meus pais fonte de consolo, de fortaleza e de luz. Os cânticos saíram pela janela, ou se escutaram vindo da terra fresca, quando as estrelas marcam a escuridão do céu e quando a lua cheia passeia sua pálida presença...
Estarei livre dos vícios, dos desejos de exploração, do desejo de triunfar neste mundo vendendo perversão e subcultura, animalizando ao homem, o degradando até a demência... Só para ser um grande senhor dos novos templos de mármore chamados Bancos... Não querei a fama nem a eloqüência dos intelectuais especuladores e charlatães, amantes do sexo e da vida superficial e plácida, desses fanfarrões que preferem inventar antes que aprender, que falam sem escutar, que fazem do conhecimento um frio objeto de analise e estudo, um mero objeto de observação, desde a escura plataforma do orgulho, mas que nunca é algo venerável e adorável para eles, nunca algo tão valioso como para dedicar a vida a ele. E isso é por que não tem conhecimento algum, porque só mastigam e engolem a casca de suas apreciações mentais, sem chegar nunca à doce substancia da Tua presença. Estes intelectuais falam de um mundo sem Deus, ou se existe, é de escassa importância, para eles só valem suas muitas fantasias e loucas ambições. Enchem livros e livros sem nada claro, para levar de um charco a outro charco, eles não sabem do éxtasis da Tua palavra, não sabem que sabedoria significa uma vida dedicada a Ti...
Poderei apreciar a santidade como a mais alta riqueza? Estarei realmente livre do temor aos tantos perigos deste mundo? Em Teu nome me abrigarei e na companhia de Teus santos. Eles me darão refugio, e o oceano de perigos se reduzirá a água contida na pegada de um terneiro. Porque não há maior perigo que desconhecer Tua grandeza e não há pobreza mais grande que ignorar Tua graça.
Mas, um momento! Quem és Tu pequeno sadhaka, para aspirar a um nascimento tão vantajoso? Que tens feito e porque sonhas com tanto merecimento?
Meu Mestre nos ensinou a pensar em grande, mas é verdade, de onde saquei tanta petulância em meu vôo? É verdade, nada mereço e todo o que obtenho é por graça de meu Mestre e de meu Senhor, e só para gloria de eles. Mas também é verdade que seremos levados de acordo ao desejo do coração e a disposição da mente, tal vez em milhares de vidas mas para a frente, mas algum dia quero ser abençoado com o gosto por uma vida santa e simples.
E todo me fará orar em forma incessante: a dor de meus pecados, o temor à caída, a ordem de meu Guru, a graça divina, o mesmo sabor do Nome, os sucessos da vida, a implicância desta Verdade em todos os atos que execute...
Com grande regozijo cantarei os versos do Bhagavad-Gita no doce sânscrito, saboreando cada palavra carregada de bhakti, Saída em forma direta do coração do Amado. Tomara possa chorar então... Suas palavras viram como uma velha lembrança, como uma sensação de algo já conhecido, como me encontrando de novo com um velho amigo cujo nome é Krsna. Seu nome é belo e dinâmico, pleno e sóbrio, grato ao ouvido e gozoso, me regozijarei entoando Sua eterna sabedoria, minha mente agitada, minha inteligência fortalecida, meu coração purificado e perfumado com o lótus da Sua transcendência, “oh canto colossal do meu Senhor glorioso!” - pensarei para mim com o maior orgulho, com um sorriso inevitável em meus lábios, com o sorriso de Sañjaya ante o iminente triunfo das hostes de meu Senhor. Oh sim!, Teus inimigos caíram como moscas, como traça desvanecidas ante Tu refulgente esplendor; os especuladores do mundo não poderão, se opor a Tua exposição grandiosa... Eles Te evitaram ou Te apresentaram de maneira equívoca, ou se renderam a Ti se são buscadores genuínos.
Oh sim!, os buscadores sinceros acharão paz em cada uma da Tuas palavras. Aqueles que temem a noite de Kali, que vem o mundo como um penoso inferno... Esses espíritos que amam a bondade e a Verdade, que se inclinam pela pureza, que exercitam disciplina, que procuram avançar e se corregir... Aqueles que anseiam a humildade e a um Mestre, que quer apreender cantos de louvor e aspiram a estar sempre alertas à repentina voz da Verdade, eles Te amarão Oh Gita!. Eles Te levarão em seus corações, Te pronunciarão com cada respiro, não se afastaram de Ti em nenhum de seus atos... Eu sentirei isso com meu sorriso, com o sorriso de Teu inevitável triunfo, Tua vitoriosa bandeira agitada nos céus de Kali, a voz de meu Senhor soando como um tumultuoso trovão, com a luz do relâmpago, agitando as nuvens que ao céu ocultam... Cada verso quero amar, cada verso amado de Tuas palavras, cada expressão de Teu amor até os que sofremos a ignorância que ao corpo grosseiro nos ata. Sempre querei escutar a aurora da Tua voz... Irei aos pés de Teus santos com perguntas pertinentes... Querei penetrar a revelação de Teus mistérios, o que exige muita luz e amor, muita rendição para um espírito vaidoso como o meu.
Alí estarão os santos sumidos em seus estudos, repassando sus velhos livros com seus olhos profundos e entediados do mundo. Com cada versículo me alçaram as nuvens, ao alto da Tua gloria infinita. Me levantaram com as palavras de realização que de suas bocas saem, como venturosas ondas do mar do prema no que sempre se submergem. E cada dia me darão mais. Me levaram ao Bhagavatam... Por toda a literatura da graça e do amor... Por todas essas páginas que se lêem à luz da pureza e da dedicação a Teu serviço. Me ensinaram o significado dessas palavras que a alma invejosa não pode entender, quero sentir então um grande anseio por Tua companhia... Ao menos um grande afã de pureza, de possuir todas as virtudes que ao bhakti decoram; mas para o prazer Teu, não para minha honra…Desejarei muito o poder te comprazer, que Te regozijes em mim de alguma maneira. Orarei sempre para te poder ser grato algum dia. Quero em meu coração a convicção da Tua bondade, da Tua presença, da virtude de todas as coisas, da rejeição ao pecado. Quero força resoluta para avançar sempre, para ir até acima, para ter a realização suficiente como para me render a Ti…Quero saborear quando ordenas: “Levantasse e luta!, e quando tratas de miseráveis e mesquinhos aos homens que são como eu…Gozarei quando retas aos que não amam a Verdade, aos que poupam sacrifícios por te ter, aos que ficam nervosos com o mundo se não da prazeres e que são rápidos para ficar enfadados ou com ira. Sim, em essa nova vida só querei ser como a grama que não se revela, que coopera e participa com humilde silencio. Querei ter a tolerância da árvore que depois de toda uma vida de dádivas e privações, entrega seu corpo para a conveniência dos outros…Com esse espírito cresce alto e frondoso, mas sabe inclinar-se ante o silvo do vento…Assim quero crescer eu no espírito de Teu amor e saber me prostrar ante o som do sruti… Mas, como lograrei isto sem Tua graça? Sem Teu generoso presente? Será impossível senão te tornas misericordioso comigo…Por isso oro com toda humildade, ou com o pouco que possuo, para que venhas em meu auxilio…Porque Tu permites ver aos homens com aa ajuda do sol e da lua, Tu lhes permites recordar seus nomes cada vez que despertam na manhã, Tu nos permites saber que existimos e das coisas que existem... Agora escutei que existe algo assim como a ciência da rendição amorosa a Teus divinos pés… Essa é a ciência que bondosamente quero apreender hoje…Por favor não demores mais em me ensinar…Da-me Teu refugio logo, a companhia de Teus devotos, e o saber apreciá-los de todo coração…
Às vezes querei me perder no silencio da montanha para cavar mais dentro de mim, e em meu pequeno retiro me sentarei perto do fresco arroio e cantarei o sastra, (a escritura)… Ali Te direi: “até quando carregarei a dor da minha ignorância? Quando despertara em mim a misericórdia pelos demais? Quando Te procurarei com um coração puro? Quando conhecerei o caminho que conduz a Teu amor?… As vezes querei essa solidão para me mortificar ao analisar minha profunda baixeza, e de seguro sentirei que ainda estou longe de ser um verdadeiro solitário… Mas igual experimentarei por um tempo…Me submergirei em Teu nome… O sentirei entrar em meu coração… Em esses pequenos momentos de felicidade e gozo, de tanto regozijo e abandono a Ti, sentirei que é verdade a palavra dos sábios, que aparte de Teu nome não há no mundo nada mais… Então descerei da montanha gritando Teu nome a todo pulmão, enchendo as direções com o eco de meu grito para que inclusive as apartadas árvores das afastadas quebradas possam Escutar de Ti…
E ao chegar a casa me postrare ante a bela e simples planta de Tulsi, a que sempre decora Teus pés e se oferece em Teu prato com amor… Me postrare ante ela, a dadora de devoção, a que ocupa todo seu ser no serviço a Ti… Minha mãe me recebera com poucas palavras absorta já em sua cotidiana oração… Terá na terra a esteira de palha, com seus olhos brilhosos, com seu sorriso de luz… Tirara o prasadam de suas panelas de argila, aquilo que foi sua oferenda amorosa a Deus… Novamente me convidará à oração esse alimento puro preparado por minha mãe, com os ingredientes naturais do campo ou com o resultado da mendicidade… O esterco de vaca foi o combustível simples e precioso, todo está aromático e saboroso… Ninguém poderia fazê-lo como ela, a que sempre respira o incenso e a Tulsi oferecida à Deidade…
E quando meu pai tenha voltado da associação com os devotos, lavarei seus pés com fervor e salpicarei essa água na minha cabeça… Tem chegado o pai da casa, o que me inicio na devoção, o que entoou em meus ouvidos os primeiros cânticos a Hari, o que me ensinou a forma da Deidade e me levou aos pés de meu Guru, o que dia e noite vela por que o fogo da divina virtude brilhe dentro de mim…
Amarei o despertar do dia, cada vez com sua roupa de cores tênues, sempre cambiantes, como uma dança de flamengos que chama aos seres à vida, que anuncia a chegada do que coroa ao céu, ao deslumbrante astro, a morada de Narayan… O dourado rei marcara com seu passo os deveres distintos… Quero que cada dia meu seja santo, cada dia dedicado a Ti… Querei ver dentro do concerto da Tua vontade aos múltiplos corpos celestes, que dizer dos sucessos da minha vida!, que dizer da erva crescida no mais crescido e esquecido jardim! …Mas isso não é nada…Isso é o mais elementar e sóbrio da Tua realidade… Queiras, novamente e sempre, o sabor de Teu nome…E por isso se fecharam meus olhos e sacrificarão o alba e o crepúsculo, se fecharão as galáxias de estrelas infinitas, se negarão ao mesmo concerto desta vida, que Tu mesmo diriges, buscando algo mais de Ti… Buscarei em Teu nome, na mansidão a Tua vontade, penetrarei na vertente da Tua doçura, além de qualquer mundano fulgor… Ousado penitente!… Favorecido por Tua graça ilimitada irei direto a bater a porta de Teu vinculo amoroso… Seguirei só a pisada desses santos que caminham sob o cuidado de Teu olhar y que são insaciáveis mendigos de teu docíssimo amor… Orarei porque a voz deles encha a bacia do meu coração…Que peguem a renda da minha errática consciência…Que me amansem com suas realizações…Que me conduzam sempre pela senda que eles dominam, plena de misericórdia e de virtude…
E ao chegar onde meu Guru estarei ante o senhor da minha vida. Sua vontade será minha regra, seu desejo uma ordem. Tentarei inclusive de adiantar-me a seu desejo e de sempre complazê-o em todo. Sua amizade reinara por acima de todas as demais amizades, seu conselho será o Vedanta conclusivo, só querei ver com seus olhos, ouvir sua palavra, servir seu sentimento. Essa alma cheia de misericórdia me dará o Santo Nome, me ensinará a atitude correta para seu canto, me ensinará a servir aos vaisnavas e ao universo do amor… Sempre sua palavra será meu consolo, sua presença a clara aurora, só a lembrança sua é o entusiasmo da minha vida… Seus atos meu orgulho, sua missão meu eterno serviço… Em seus pés estará a pisada dos grandes santos, o sagrado pó dos lugares de peregrinagem, e o frescor das águas dos rios que por essas terras cruzam… Cuidadosamente entregando o fruto maduro que da sucessão de mestres descende, sempre falará palavras com a fragrância do lótus… Sempre bem disposto a escutar ao espírito aflito que cruza a dura solidão desta vida invadida de paixão e ignorância cega… Ele será o consolo dos pobres e dará sua audiência aos príncipes da terra… E ele será igual ante a rocha e o rubi, ante o rico e o pobre, ante o sábio e o inculto… Sempre dançará a sabedoria em seus lábios e nos dará seu doce néctar nos dizendo: “Canta este Nome como se tiveras milhares de bocas, faz um coro em teu coração com angelicais vozes… Enche tua vida com o som do mantra e sempre canta… Sempre canta como a ave que ao fazê-lo aumenta su beleza… Como o inquieto rio que tira da pedra música e alivia à mente aflita… Como o rouco oceano que coreia com poderoso brio… Como o vento que arranca do campo plegarias adormecidas… Como a colossal nuvem que ruge trovões e relâmpagos, som e luz que ao céu alumbra… Canta sempre assim, até ficar com teu coração possuído, embriagado de amor, fora de si, Ele dada tua vida. Até que o canto te submerge na dedicação absoluta ao serviço divino, até que retire do todo os véu de maya e te leve a esse lar de ambrosíacos campos, á terra do néctar, ao doce lar onde todos tem uma preocupação afetuosa por ti… Onde teu interes está plenamente representado pelo harmonioso plano do Onisciente Absoluto.
Não deixes que teu espírito se confunda com a ambígua luz que do Supremo Ser emana. Dessa luz tens vindo, pequena semente de consciência… Mas agora rompe essa velha estrutura e da nascimento a teu fresco brote, anuncia a vida que há dentro de ti, mostra que se podes ser uma pessoa no reino transcendental… Resgata teu potencial divino… A realização da eternidade é como o fundo respiro do que quase se afoga, e por um momento poderá pensar que não necessita de nada mais, nada mais que respirar esse ar tonificante e fresco, que é só o sustento e o principio de uma vida que tem que começar a crescer e a desenvolver-se muito mais. Assim a alma que tem realizado ao brahman ou o espírito começa a respirar o cheiro da sua própria natureza, livre da mortal cobertura… Mas não deve detener-se ali!. Não penses irmão que esse é o fim último, não te enganes chamando a tal logro “Vedanta”, é uma calúnia para o Veda que nos presenteia muito mais. Não digas que já tens concluído o caminho do conhecimento divino e da auto-realização e não te faças chamar Deus… Pois que longe estarás da verdadeira meta! E tu declaração de que és o Supremo só semeará o ateísmo e a irreligião. Não pode misturar-se a religião verdadeira com a inveja e o orgulho. Se rejeitam como o fogo ao frio e como o sol à escuridão… Quem declara que se tem tornado um com Ele está sentado no pedestal de seu mau pretendido logro, longe, muito longe da grácil realidade da sua alma, que é de uma vida de entrega ao serviço do amoroso Senhor.
O Veda nos da mais indicações… Como uma frondosa árvore, carregado de sabedoria, que guarda no mais alto de suas ramas, esses frutos que tem madurado pelo contacto do sol… Esses altos frutos já são só domínio do céu e do vento, de um vento que arrasta o cheiro transcendental do sruti, ou o som da escritura, levando as mais profundas conclusões como um pólen sagrado que fecundará novos espíritos… É ali acima também o domínio da ave chamada Sukadeva Goswami, só a ligeireza de seu espírito pode se posar nessas raminhas suaves, só seu bendito bico pode saborear o fruto nectário custodiado pelos mahajanas, as mais grandes almas auto-realizadas… E depois de experimentar seu embriagante néctar, seu ser saciado no mais puro rasa, depois de abranger o leito profundo das mais profundas realizações espirituais, abre suas majestosas e coloridas asas para iniciar seu vôo próprio, para resgatar mais tesouros do céu infinito… E assim, sábios como ele, de quem o rei Pariksit extraiu o valioso néctar, te levarão à flor de mel mais pura, te adentraram ao mesmo lila de Sri Krsna, no encanto de Seus esotéricos passatempos, vedados para os corações invejosos e egocêntricos. Ali estará a Verdade Ultima, aquela que os sábios descrevam com versos seletos. É o Ser mais encantador e todo fascinante, é o Amor de Sri Sri Radha e Krsna… Todo outro amor se prostra ante ele e lhe cede o passo a seu nobre excelência… Todo outro amor queda enriquecido e se nutre dele, como o sol para muitas flores, como a raiz para muitos frutos, como o diamante fino que realça às pedrezinhas que o rodeiam… Este sim é o fim último: o serviço amoroso a Sri Sri Radha Govinda em Vrindavan, não aspires a nada mais que isso, qualificasse por inteiro, dedicasse de cheio a alcançar a mais elevada altura e a realização mais profunda… Teu coração só nesse serviço pode saciar seu anseio inquieto… Para isso foi criado… Como o pequeno peixe para o imenso mar, como a pequena ave para o imenso céu…”
Assim falará meu Gurudeva, palavras de sabedoria profunda, aliviando a alma da ignorância agônica… Mas na realidade, ! Insolente de mim!, Eu não posso dizer: “assim falará meu Gurudeva” Como pode o cego saber o que vê o vidente? Como pode o surdo conhecer a música de Seu louvor? Só sei que algo assim falara, me baseando nas escrituras, perdoem este atrevimento meu… Mas ele destruirá a lamaçal escura do impessonalismo, e dara o néctar do Nome puro, sua voz se ouvirá nos extremos do mundo, por toda a abóbada celeste, a palavra do jagad-guru será escutada em todos os recantos!…
Ele anunciara a mensagem de Mahaprabhu, Seu profundo desejo, as razões de Seu grande advento… Então um dia tirara de entre seus livros um néctar oculto… Algo que para mím tinha reservado até aquele momento… Algo que guardou por muito tempo enquanto eu me preparava… Imaginemos algo assim como Krsna revelando as coisas gradualmente, e me falara com sua doce voz que escapa entre sorrisos: “Já escutaste falar do Avatar Dourado, do Amo do Santo Nome, do pregador triunfante que recorreu toda Bharata (India) com Seu canto nos lábios… Sua bela figura superava toda beleza, e toda ela se entregava à doçura do kirtan… Seus longos braços alçados ao céu chamavam a Seus devotos quem, como abelhões enlouquecidos, se reuniam ao redor da mel de Su canto… “Que em toda aldeia, povoado, cidade, pelas beiras de rios e mares, que em cada ponto do imenso firmamento, o Santo Nome de Krsna seja cantado…” Esse foi Sua grande profecia e Ele mesmo deu inicio ao movimento das primeiras ondas que agitariam ao grande oceano do prema (do Amor) de Si mesmo emanado…” Então terei a sensação de adivinhar o desejo de meu Guru. Seu coração cheio de misericórdia, constituído da natureza de um vaisnava puro, não poderá tolerar a dor dos outros, a dor da ignorância, a dor que consome a aqueles que se ferem com o aguilhão do pecado… ”Estão comendo a carne de irmãos inocentes e sofrem a embriaguez dos prazeres mundanos…” Me dirá com seus olhos úmidos, com a voz tremendo, quando o sol esteja se guardando, quando esteja indo justamente a iluminar os paragens das cidades do ocidente… “Tem esquecido a importância da alma e o desejo sexual excita seus sentidos e paixões. Para eles não há nada mais que isso na vida, salva-os desse inferno!…” Algo assim me dirá e eu sentirei o peso de um antigo compromisso… As últimas aves revolutearam em seu jardim como dando sua aprovação imediata, antes que o sol fosse embora por completo e apareça seu luminoso séqüito no já escuro oceano do céu…
Serei capaz de fazê-lo?, pensarei saboreando a idéia, apreciando o desafio, agradecendo a confiança de meu pai divino… Sua palavra firme, cheia de convicção, seu olhar seguro, sua sempre misericordiosa postura, invadiram meu ser por completo… Em sua ordem virá a potencia, a capacidade para cumpri-o… Eu sei que sim, assim o sentirei plenamente, cheio de emoção e com certo temor e incerteza… “Meu Guru me empurra ao abismo… - pensarei - quer dar-me a conhecer a doçura da misericórdia dos vaisnavas… Depois de todo que é a missão de Mahaprabhu sem uma vida de pregação? Virei ao monte deitando-se e escutarei o suave murmuro do rio, e quando junto com o coro dos grilos se apaguem os últimos cantos da noite, eu pensarei que já não será mas assim, que já não escutarei tão fácil a música de Teu louvor em aquelas cidades de um progresso que não pode apreciar nunca. De cada casa de meu povo de barro e palha saía ao amanhecer o canto de Teu louvor. Eu caminhava descalzo e todos nos conhecíamos. O grande evento era a chegada de algum santo, e o regozijo da vista era ver à Deidade com vestidos de finos bordados e Sua guirlanda com as flores frescas dos caminhos. Este conceito do povo meu terá que entrar no focinho das grandes cidades impessoais e indolentes. Ali irei com meu pequeno canto, com meus poucos livros, com a firmeza que da a graça, e com o amor que aprendi dos anciãos…
“Pega” - me dirá meu Guru com um sorriso como de orgulho e triunfo - “leva a imagem do grande Acarya, do que atravessou o oceano a idade avançada e levou o Krsna-lila ao centro mesmo do hedonismo e da subcultura. Leva sua convicção e sua palavra, a cujo serviço botei as minhas… Quando ele atravessou, só tinha pecado na terra dos bárbaros, mas agora há muitos vaisnavas e eles compartilharam contigo o sacrifiço divino…” E dizendo-me isso levarei a minha cabeça essa santa imagem, depois de recebê-la de sua generosa mão… Então sentirei uma felicidade muito doce e pacífica, sentirei que recebo uma benção distante e desde muito alto, e que agora poderei compraze-lo em algo, ao que semeo prema bhakti no árido deserto de Kali e o regou com a chuva de seu incessante kirtan… “Ajuda a conservar os frutos do florido vergel, que as sementes de seu amor se abram em radiantes trepadeiras, que não lhes entre o Verne da inveja nem a carniça do interes mundano…” - Assim tal vez me dirá meu Guru, no serviço ao parampara ocupado.
Partirei com a benção de meu pai divino e trás reverenciar a Tulsi de casa… Ali estarão meus pais sentados humildes, como a mesma plantinha divina que adoram… Seus pés serão para mim mais valiosos que todos os lugares de peregrinagem juntos… E com esse pó na minha cabeça irei embora… Irei a acrescentar a fama dos que amam, porque essa é a única verdadeira qualidade que deve se proclamar.
Empurrado pelo Amor deles parecerei como um apóstolo na terra, e entrarei a esses caminhos duros e asfaltados… Nessas cidades onde não se distingue o dia da noite, a amizade do perigo, a confiança do engano, o amor da luxuria, a ajuda da conveniência… Essas grandes cidades me receberam com seus gritos elétricos e suas as vezes brandos tapetes… E falarei aos grandes dignitários da terra, e em alguma esquina com um pobre mendigo… E quem sabe quantos serão meus êxitos e fracassos, mas só saberei que qualquer coisa boa que faça, será graças à voz de meu Guru e demais preceptores, graças à plantinha de Tulsi que adoram em casa, graças aos livros sagrados que carrego, graças a esse canto que já desde criança me diste, e graças em fim a todos aqueles que uma vez com piedade me olharam…
Assim foi o falar do sadhaka essa vez, como se falasse para se mesmo, como recorrendo as páginas de uma ansiada esperança… No céu tinha nuvens rosas e em seu coração jazia a paz da sua pureza resguardada… Este era um sadhaka belo e luminoso, e quem o veia desejavam sua amizade ao instante… Muitos revelavam seus sentimentos mais íntimos a ele como um lótus se abrindo ante o morno sol de outono… Ele marcava o caminho para muitos espíritos idealistas e inquietos… Ele entregava a determinação firme até os princípios do bhakti… A seu lado ninguém podia dizer “é que eu não posso”, ao sumo podiam lhe dizer: “da-me teu apoio, tua amizade, tua graça…”