O Vulcão Dourado do Amor Divino - Cap. 1 - A Vida de Sri Chaitanya Mahaprabhu


odas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

O Vulcão Dourado do Amor Divino
de
Sri Srimad Srila
Bhaktiraksaka Sridhar Dev-Goswami Majaraja Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

A Vida de Sri Chaitanya Mahaprabhu

Sri Chaitanya Mahaprabhu
Sri Chaitanya Mahaprabhu é a Verdade Suprema Absoluta em sua expressão mais completa e mais dinâmica. A influência de Radharani sobre Krishna O transformou em um devoto, e Ele está na busca por Si mesmo.
Krishna; a personificação do êxtase e da beleza; é louco por saborear Seu próprio néctar interno, e Sua dança indica que Ele é repleto de êxtase. E Seu movimento sankirtana é a distribuição desse êxtase a outros.

Sripada Nityananda Prabhu
Pela graça de Nityananda Prabhu, desenvolvemos nossa atração por Sri Gauranga. Nityananda Prabhu nos ajuda a consolidar a base que nos ajuda a progredir adiante. Sua misericórdia às vezes excede a misericórdia de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ele não permite que mesmo os que querem evitar a Consciência de Krishna escapem. Se alguém diz: "Não quero isso", Nityananda Prabhu não permite. Ele diz: "Não! Você tem que querer. Eu lhe peço intensamente - aceite! Use e será capaz de ver o valor da Consciência de Krishna".

O
Avatara
Dourado

Nos ensinamentos de Karabhajana Rishi (Bhag. 11.5.27), encontramos descrições das encarnações das diversas eras (yugavataras). Menciona-se o yugavatara para a dwapara-yuga da seguinte maneira:
dvapare bhagavan syamah
pita-vasa nijayudhah
srivatsadibhir ankais ca
laksanair upalaksitah
"O Senhor Krishna aparece na dwapara-yuga com a cor de uma nuvem escura de chuva, e usa vestes de tecidos coloridos brilhantes. Ele usa vários adornos, Seu peito porta a marca de Srivatsa, e traz Suas armas particulares". Após a descrição do yugavatara de dwapara-yuga, Karabhajana Rishi descreve o kali-yugavatara. Ele diz:
iti dvapara urv-isa
stuvanti jagad-isvaram
nana-tantra-vidhanena
kalav api tatha srnu
"Ó rei, acabei de descrever as encarnações das eras especificas até dwapara-yuga, para lembrar as pessoas sobre os deveres mais apropriados para suas eras. Elas nos dizem: 'Se agirem dessa forma obterão o melhor beneficio'. Ó rei, após o término de dwapara-yuga, começa a era de Kali. A encarnação da era de Kali é mencionada em várias partes das escrituras, e agora vou te explicar essa informação". (Bhag. 11.5.31).
krsna-varnam tvisa'krsnam
sangopangastra parsadam
yajnaih sankirtana-prayair
yajanti hi su-medhasah
O verso explica o advento de Sri Chaitanya Mahaprabhu em forma disfarçada. O significado normal de krsna-varnam é "de cor negra". Enquanto tvisakrsnam significa "Sua cor não é negra". Acompanhado pelos Seus associados, Ele é adorado pelo processo de sankirtana, o cantar dos santos nomes de Krishna, e aqueles dotados de intelecto aguçado realizarão essa adoração.
Dádiva Dourada do Senhor Dourado
Jiva Goswami explica o significado desse verso em outro verso paralelo de sua autoria:
antah krsnam bahir gauram
darsitangadi-vaibhavam
kalau sankirtanadyaih sma
krsna-caitanyam asritah
"Eu me abrigo em Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, que é de cor dourada externamente, mas internamente é o próprio Krishna. Nessa era de Kali, Ele mostra Suas expansões enquanto executa o canto coletivo do santo nome de Krishna. Que Ele é negro por dentro significa que Ele é Krishna internamente, que Ele é dourado por fora quer dizer que aceitou o humor de Srimati Radharani. O Senhor Dourado é visto, na era de Kali, acompanhado de Suas expansões, companheiros, e devotos íntimos na realização de sankirtana".
Alguém poderá argumentar que o significado de krsna-varnam é que Sua cor é negra, e Seu brilho também. Mas como é possível? Isso seria redundante. A conjunção das palavras tvisa e akrsnam significa que Sua cor é krsna, negra, mas Seu brilho é akrsnam, não negro. Alguém poderá argumentar ainda: "Não negro não necessariamente significa dourado. Por que deveria significar dourado?" A resposta se encontra no Srimad Bhagavatam.
Certa vez, Vasudeva mandou o astrólogo sacerdote Garga Rishi a Vrindavana para realizar a cerimônia de dar nome para Krishna. Quando Garga Rishi chegou à casa de Nanda Maharaja, explicou que Vasudeva o tinha enviado e disse: "Seu filho já está um pouco crescido, por isso, a cerimônia de dar nome deve ser realizada". Então, citou o seguinte verso:
asan varnas trayo hy asya
grhnato'nuyugam tanuh
suklo raktas tatha pita
idanim krsnatam gatah
"Esse menino apareceu em Suas encarnações passadas com cores diferentes: branca, vermelha e dourada, conforme a era em particular na qual apareceu. Agora, Ele assumiu a, cor negra".
E continuou: "Krishna vem numa cor branca na satya-yuga, vermelha na treta-yuga, e também aparece com a tez dourada. Agora, em dwapara-yuga Ele veio em cor negra". Aqui se encontra referência à cor dourada (pita), pois essa cor sobrou só para a presente era de Kali. Há outra referência sobre essa cor dourada nos Upanishads: yada pasya pasyate rukma varnam: "Krishna, o Brahman Supremo, aparece em uma forma dourada". Rukma varnam quer dizer dourado. E aqui também, não negro quer dizer dourado.
Krishna queria voltar como a encarnação desta era de Kali, bem como cumprir Sua promessa em Vrindavana: "Eu cantarei as glórias das gopis, especialmente de Srimati Radharani. Eu cantarei Seu Nome, Suas glórias, e rolarei na poeira da Terra"! Mas Radharani disse: "Não permitirei que Seu corpo role na poeira da Terra. Eu O cobrirei com Meu brilho". Tanto o humor quanto o brilho de Radharani capturam Krishna quando Ele vem aqui na kali-yuga. Mas isso não acontece em todas as kali-yugas, é só em uma kali-yuga especial.
O yugavatara vem em todos os dias de Brahma e em cada yuga, mas Krishna só aparece em um dia de Brahma, ou seja, a cada 4,3 bilhões de anos. Nessa época, a Personalidade de Deus Original (svayam bhagavan) aparece com Suas moradas, Vrindavana e Navadwip. Krishna e Mahaprabhu não vêm sozinhos, mas com Sua parafernália e companheiros adequados.
Doçura que Se Auto Saboreia
Ele realiza duas funções nesta era de Kali: prega o nama-sankirtana, e o mais importante, assume o humor de Radharani para saborear Sua própria doçura, rasa. Ele é rasa em pessoa. Krishna pensa: "Qual é a intensidade do rasa mais refinado em Mim? Gostaria de experimentar". Mas só os devotos podem sentir esse sabor, por isso Ele assumiu a posição de Radharani para saborear a Si mesmo como Krishna, a morada central, final e perfeita do rasa. Somente Radharani pode saborear o rasa máximo. Assim, Ele tem que assumir a natureza, o humor e o temperamento Dela, a fim de saborear Seu próprio êxtase intrínseco. Esse foi o motivo pelo qual Ele descendeu. Seu primeiro dever foi propagar nama-sankirtana, e Seu dever secundário, interno e íntimo era realizar bhajana-vibhajan, saborear Seu próprio êxtase interno no humor de Radharani. Ele saboreou o grande oceano de união em separação continuamente por doze anos em Puri, junto com Ramananda Raya, Swarupa Damodara, e outros companheiros íntimos. Passou o tempo todo exclusivamente dedicado ao processo de saborear essa doçura nos últimos doze anos.
Essa encarnação é geralmente adorada com sankirtana. Gauranga e Sua parafernália não podem ser adorados sem sankirtana. Ele é o proponente do sankirtana, Ele ama sankirtana e só Se satisfaz com sankirtana. Somente aqueles possuidores de mérito suficiente (sukritivan) O adorarão através desse processo. A massa comum não pode participar dessa campanha. Quem tem boa conduta internamente e boa fortuna pode capturar o âmago da verdade e se ocupar no processo de nama-sankirtana.
O Amor é Supremo
Um cérebro poluído não pode detectar o que é certo ou errado, nem a importância disso. Não pode entender e nem seguir essa linha de pensamento mais elevada. A pessoa deve ser julgada pelo seu ideal, suas aspirações por tópicos superiores. A pessoa é grande se o ideal for grande. Qual é o ideal mais elevado? Amor. Amor é a coisa suprema. É o que existe de mais raro e precioso. O amor e beleza divinos são o plano mais elevado concebido no mundo, aqueles que podem realizar isso são de verdade dotados de um bom intelecto (su-medhasah). E quem possui o ideal superior deve ser considerado de classe superior. Só ele pode entender e praticar sankirtana. Somente ele pode adotar esse caminho, esse processo de satisfazer o Ser Supremo pelo cantar do santo nome do Senhor.
A Encarnação Escondida
Isso é mencionado no Srimad Bhagavatam bem como no Mahabharata e outras escrituras Védicas. Karabhajana Rishi, o último dos nove grandes yogis, nos deu uma pista para entender que Sri Chaitanya Mahaprabhu é a encarnação especial desta era. Ele mencionou a encarnação da era de Kali numa forma mística. Podemos pensar: Por que essa descrição não foi feita de uma forma clara? Muitos avataras são claramente descritos, mas quando o Srimad Bhagavatam descreve Sri Chaitanya Mahaprabhu como a encarnação da era de Kali, faz de uma forma mística. A solução está nos ensinamentos de Prahlada Maharaja que diz: "Ó Senhor, um de Seus nomes é Triyuga, que significa aquele que encarna em três eras - Satya, Treta e Dwapara - mas não em Kali. Por quê? A encarnação da era de Kali é disfarçada (channa kalau yad abhavas tri-yugo'tha sa tvam)". Aqui encontramos a chave para essa forma mística de representar Sri Chaitanya Mahaprabhu para o círculo dos afortunados e inteligentes (su-medhasah); pessoas comuns podem não ter nenhuma chave de acesso.
dhyeyam sada paribhava-ghnam abhista-doham
tirthaspadam siva-virinci-nutam saranyam
bhrtyarti-ham pranata-pala bhavabdhi-potam
vande maha-purusa te caranaravindam
"Ó Mahaprabhu, Seus pés de lótus são o objetivo mais elevado da meditação, pois não somente destroem a dor da existência material, como concedem a satisfação maior para todas as almas que se abrigam sob eles. Seus pés de lótus purificam até mesmo todos os santos e locais sagrados. O Senhor Shiva e o senhor Brahma anseiam pelo abrigo em baixo de Seus pés de lótus. Ó Mahaprabhu, o Senhor abriga todos aqueles que simplesmente se prostram perante Você. O Senhor alivia todas as aflições de Seus servos rendidos.
Podemos cruzar o oceano de misérias materiais no grande navio de Seus pés de lótus. Ó Mahaprabhu, caio prostrado a Seus pés de lótus".
Após mencionar a encarnação do Supremo para a era de Kali, o Srimad Bhagavatam subitamente começa essa canção em adoração ao yugavatara, Sri Chaitanya Mahaprabhu. O Bhagavatam cantou com voz magnífica a prece desse guia de kali-yuga. A prece segue o verso que menciona o avatara de kali-yuga. Krishna-varnam significa aquele que sempre descreve Krishna, que tem sempre em Seus lábios as palavras: "Krishna, Krishna, Krishna". Outro significado dessa expressão é: "Aquele que é Krishna em pessoa, mas cujo brilho não é negro". Se olharmos profundamente, veremos que por trás de Seu brilho dourado está o corpo negro de Krishna. Ele veio a este plano com Sua parafernália pessoal, só se serve a Ele através do sankirtana, som divino em canto de massa. Podemos reconhecer Sua posição divina através desses sintomas.
Sri Chaitanya Mahaprabhu é uma encarnação oculta. Ele vem disfarçado. Tal avatara é adorado pelos possuidores de intelecto divino. E assim, o Srimad Bhagavatam descreve a personalidade sem igual, Sri Chaitanya Mahaprabhu, numa forma mística e depois proclama Sua nobreza e grandeza.
O Srimad Bhagavatam explica: "A mesma personalidade que apareceu como Ramachandra e Krishna, apareceu novamente. Ele veio para o dirigir à real satisfação da vida. Ele derrama o doce néctar para o beneficio de todos. Medite somente Nele que todos seus problemas terminarão. Ele é o agente que purifica todos os locais de peregrinação e os grandes santos pelo Seu toque, Ele traz o que há de mais elevado no mais alto plano pelo Seu sankirtana. Até mesmo Brahma e Shiva, desnorteados por Sua nobre dádiva, começam a glorificá-Lo. Eles anseiam ardentemente pelo abrigo sob Seus pés de lótus em rendição. As dores de todos que começarem a servi-Lo serão removidas, e as necessidades de suas almas serão satisfeitas. Ele cuidará daqueles que se abrigarem Nele, e lhes dará proteção, bem como tudo que possam precisar. Este mundo é um lugar onde a mortalidade governa, onde experimentamos constantemente as mudanças indesejáveis de repetidos nascimentos e mortes, é uma área onde ninguém quer viver; mas virá um grande barco para nos resgatar e nos tirar desta situação tão desagradável. Caiamos aos pés dessa grande personalidade que vem para trazer o néctar mais sublime".
O Srimad Bhagavatam continua:
tyaktva su-dustyaja-surepsita-rajya-laksmim
dharmistha arya-vacasa yad agad aranyam
maya-mrgam dayitayepsitam anvadhavad
vande maha-purusa te caranaravindam
"Ó Senhor Supremo, Você renunciou à deusa da fortuna e à grande opulência dela, que é extremamente difícil de abandonar, e é almejada até mesmo pelos deuses. Foi para a floresta para honrar a maldição do brahmana, a fim de estabelecer os princípios da religião perfeitamente. Veio procurar as almas pecaminosas que perseguem prazeres ilusórios e lhes deu Seu serviço devocional para liberá-las. Ao mesmo tempo, está ocupado na busca de Si mesmo, na busca de Sri Krishna: a realidade, o belo".
Srila Visvanatha Chakravarti Thakura explicou que embora esse verso aparentemente se refere ao Senhor Ramachandra, que deixou Seu reino e foi para a floresta com Sitadevi para executar os deveres designados por Seu pai, também se refere a Sri Chaitanya Mahaprabhu. Visvanatha Chakravarti Thakura extraiu o significado interno desse verso e o aplicou no caso de Chaitanya Mahaprabhu. tyaktva su-dustyaja-surepsita-rajya-laksmim significa que Ele renunciou à prosperidade real, que é difícil de se abandonar. Geralmente, encontramos esse fato no caso do Senhor Ramachandra, mas Visvanatha Chakravarti Thakura diz que surepsita-rajya-laksmim significa a valiosa companhia devocional de Vishnupriya-devi. Talvez isso possa não parecer algo excepcional materialmente, mas a dedicação que Vishnupriya tinha em Seu coração por Sriman Mahaprabhu é maior que qualquer padrão imperial. E Ele teve de abandonar isso. Tal padrão de sacrifício e serviço não é encontrado nem mesmo na maravilhosa sociedade dos deuses. Ele teve que ignorar essa atitude de serviço amoroso de Vishnupriya.
A Maldição do Brahmana
O verso menciona a maldição de um brahmana. Esse brahmana disse a Sriman Mahaprabhu: "Eu quero participar dos Seus kirtanas noturnos, nos quais Você saboreia krsna-lila, mas as portas estão sempre fechadas". Quando Sriman Mahaprabhu realizava kirtana e saboreava o vraja-lila de Krishna, fazia-o atrás de portas fechadas e em altas horas da noite. Mas esse brahmana se considerava muito religioso e qualificado, pois subsistia apenas por tomar leite sem mais nada, assim ele disse: "Eu preciso entrar nesse kirtana. Eu não como nada além de leite, por que não me permitem"? Sri Chaitanya Mahaprabhu respondeu: "Beber leite não é qualificação para entrar na consciência de Krishna". O brahmana replicou: "Então, eu O amaldiçôo a perder Sua vida familiar"! Mahaprabhu disse: "Está bem", e aceitou a maldição. Mais tarde Ele aceitou sannyasa e foi atrás das pessoas mal guiadas por Mayadevi a fim de salvá-las. Ao mesmo tempo, Ele aceitou o humor de Srimati Radharani, mesmo por ser Krishna. Foi por esses dois motivos que Ele abandonou Sua vida aparentemente mundana; Ele agiu para o bem-estar da sociedade, e após terminar esse trabalho, passou os próximos doze anos a saborear a aspiração mais íntima de Srimati Radharani e a procurar por Sua própria doçura interior. Foi isso que Ele veio mostrar ao mundo. O Srimad Bhagavatam proclamou o magnânimo aparecimento de Sri Chaitanya Mahaprabhu numa forma mística.