O aspecto som do Supremo por Srila Sridhara Maharaj

O som executa um papel preponderante durante toda nossa vida.

Embora o homem moderno esteja fascinado pelas possibilidades da comunicação, não tem explorado, em profundidade, os vastos efeitos do som no éter.

As tradições religiosas afirmam ter uma intuição mais profunda sobre o uso do som; parecem sugerir, que por meio dos sons correto pode-se estabelecer contato com a Divindade.

Já ouvimos dizer que a palavra e o nome de Deus são espirituais:

“No princípio era o Verbo... o Verbo estava em Deus... o Verbo era Deus”; e “...santificado seja Vosso Nome.”






O ASPECTO SOM DO SUPREMO





B. R. Srila Sridhar Goswami



Direitos reservados para o Presidente e Acharya do Sri Chaitanya Saraswat Math, Srila Bhakti Sundar Govinda Dev Goswami. Proibida a reprodução parcial ou total deste texto por qualquer meio ou ainda sua utilização em qualquer veículo de comunicação sem autorização.



1996 * Presidente e Acharya do Sri Chaitanya Saraswat Math/Índia

Srila Bhakti Sundar Dev Goswami

Direitos Reservados





TRADUTORES:

Phanibhusan Das

Bhuvana Mohan Das



PRODUZIDO POR:

Govardhana Das



COLABORADORES:

Bhakti Shoban Padmanabha Maharaj

Vyasa Das





Abril de 2002
















INTRODUÇÃO





O som executa um papel preponderante durante toda nossa vida.

Embora o homem moderno esteja fascinado pelas possibilidades da comunicação, não tem explorado, em profundidade, os vastos efeitos do som no éter.

As tradições religiosas afirmam ter uma intuição mais profunda sobre o uso do som; parecem sugerir, que por meio dos sons correto pode-se estabelecer contato com a Divindade.

Já ouvimos dizer que a palavra e o nome de Deus são espirituais:

“No princípio era o Verbo... o Verbo estava em Deus... o Verbo era Deus”; e “...santificado seja Vosso Nome.”

Os mestres das muitas tradições da meditação em mantras – nas quais várias fórmulas sonoras são utilizadas para criar estados de consciência alterados – são, talvez, os mais eloqüentes advogados do potencial do som em espiritualizar a consciência.

A pergunta mais óbvia que surge em relação à teoria do som divino é: “Como pode o nome de Deus ser pronunciado ou percebido pela língua e ouvidos materiais?”.

Essa pergunta foi feita a B. R. Sridhar Goswami Maharaj. Em seu Ashram de Navadwip, Bengala Ocidental, Índia, aos noventa e três anos de idade, Srila Sridhar Maharaj deu a seguinte resposta...



O nome de Deus não pode ser articulado pela língua material nem pode o ouvido material ouvir este nome.

Deus é ADHOKSAJA, aquele que se reserva o direito de não se expor aos sentidos orgânicos.

Colhemos toda experiência, conhecimento e memória que possuímos auxiliados pelos sentidos mundanos.

Nossa língua compõe-se, principalmente, dos elementos terra e água. Os terminais nervosos, que se estendem a todas as partes do corpo, carregam cargas de eletricidade (um elemento também material).

Se um objeto está muito longe, não será tocável, visível, degustável etc., se estiver muito próximo, o objeto também será imperceptível.

Não conseguimos ver nossa própria tilaka ( a marca devocional de argila pintada na testa ) ou a maquilagem dos olhos.

Quando os sentidos se expandem através de microscópio e telescópios, esses instrumentos nos permitem maior alcance, mas ainda assim continuamos limitados à esfera material.

O telescópio não consegue penetrar a cobertura última do universo; o microscópio tem sua lente composta de átomos e, portanto, não consegue ver o átomo ou o que for menor que o átomo.

Do mesmo modo, o sistema mental de especulação é insuficiente para deixar-nos perceber o elemento espiritual.

A Mente é um elemento material cuja densidade é muito tênue; por conseguinte, abstrações elevadas não são mais espirituais do que são as duras rochas.

Existe uma crença comum de que através da expansão da mente vamos poder conceber o infinito, mas esse processo é defeituoso.

Se o infinito pudesse ser confinado dentro da mente limitada, então não seria infinito.

Nem sequer sei quantos cabelos existem em minha cabeça.

Especuladores mentais moem seus cérebros em cima dos aforismos do Zen e dos Upanishads e pensam que por meio de seu próprio poder obterão algo como o infinito.

O resultado é que a mente explode e morre de exaustão a reação é deplorável total esquecimento do EU e também do Infinito.

Existe em canais por meio dos quais o Infinito descende. Ele possui todo poder, glória, beleza, conhecimento, riqueza e renuncia. Ele é dominante, todo-expansivo, livre e autocrático.

O Infinito não pode ser contido numa esfera limitada, mas se Ele é realmente o Infinito, então tem o poder de Se dar a conhecer à mente finita em toda Sua plenitude.

A verdadeira percepção do Supremo, a auto-realização e a revelação transcendental acontecem quando, por Sua própria prerrogativa. Ele toma a iniciativa e Se revela ao devoto. Ele vem pelo canal do som transcendental, vibrando a língua espiritual dos devotos puros que O representam para o mundo. O elemento espiritual por primeiro vibra as línguas espirituais nunca antes vibradas dos que ouvem o SAT-GURU ( o mestre eterno ).

Nota-se então que, se o guru é um farsante o nome não tocará a centelha espiritual dentro as coberturas mental e corpórea. Pode soar como sendo o mesmo, mas não é; e sim como leite e cal que se parecem ainda que sejam totalmente diferentes.

Atualmente existem muitos gurus artificiais; é como se eles estivessem camuflando os devotos genuínos.

Se alguém encontra um tesouro sob uma árvore, inscreve suas iniciais no tronco e mais tarde volta para encontrar cada árvore com as mesmas iniciais, não mais será capaz de reencontrar a árvore original.

SAT-GURUDEVA, o guru eterno, pronuncia o santo nome. Nossos ouvidos materiais ouvem algum som que se assemelha ao nome transcendental de Deus; nossos tímpanos movem o liquido do ouvido interno – metade água, metade ar – que vibra o elemento etéreo e toca nossa mente.

Neste ponto, a alma permanece ainda intocada, e não ouve nenhuma experiência espiritual genuína.

Ouvindo com as impressões mentais, desfrutamos do som dos cimbalos, do ritmo do cântico, da agradável companhia e do efeito do ouvir e cantar.

Porem não termina por aqui trespassando a mente, o som original pronunciado pelo guru move nosso intelecto, e passamos a tomar em considerarão a filosofia transcendental: por milhões de anos sábios têm cantado o mesmo som à beira de muitos rios sagrados.

Idéias fluem de toda parte a respeito dos possíveis efeitos do mantra.

Ainda que muito bem-aventurada essa ainda não é uma revelação espiritual no verdadeiro sentido.

Para além da inteligência encontra-se o elemento espiritual: a alma – o eu propriamente dito.

Esse som, tendo penetrado todos meus sentidos, incluindo a mente e o intelecto, faz vibrar, agora, os mais refinados sentimentos de minha própria e real existência.

Esta é a percepção do Santo Nome no plano espiritual através de minha audição espiritual.

Nisto, a alma, inspirada recapitula, enviando a vibração de volta à inteligencia, à mente etc., até à língua externa, e dizemos: “Krsna”. Este Krsna é Ele mesmo! E dançamos em êxtase.

Som, som, som! Apodere-se dos sons. Aposse-se das ondas sonoras, dentro do éter e sua felicidade estará garantida na vida espiritual.

Um sábio explicou em seu sutra que as epidemias que assolam as massas devem-se à contaminação do éter causada pelo som impuro.

Quando os advogados e promotores na Corte começam a mentir em nome da Justiça, estas vibrações contaminam o éter, que por sua vez contaminam o ar e a água que as pessoas respiram e bebem, resultando em epidemias.

Quando o Brahma de quatro cabeças cria o Universo, a semente dos ingredientes é som, o OM. E desse OM nasce o mantra GAYATRI, dele brotando as quatorze galáxias planetárias, como verticilus de planetas e estrelas espiraladas tendo o sol como o centro do Universo.

Cada sistema planetário é composto de um som diferente pronunciado por Brahma.

Cada galáxia provê às infinitas entidades vivas (jivas) em suas esferas especificas de ação (karma), função religiosa (dharma), desenvolvimento econômico (artha), desfrute e sofrimento sensoriais (karma) e a facilidade para a liberação (moksha).

Brahma tem a função de suprir as diversas galáxias e planetas conforme os feitos meritórios ou pecaminosos das inúmeras entidades vivas.

Brahma pronuncia um som diferente para cada sistema planetário, e Sri Vishvakarma, seu engenheiro, cria os planetas conforme tais sons. É desse modo que os elementos densos e sutis são ordenados.

Em nosso planeta os elementos predominantes são terra e água; em outros mundos encontra-se apenas água, e no sol predomina o fogo.

Se, sob os efeitos da ilusão, ou maya, um ser espiritual desejar encerrar sua existência densa, terá de penetrar num planeta feito de ar, éter, mente ou inteligência e lá viver como fantasma.

A alma individual (jiva) é também dotada de uma partícula do poder criador, sendo que ela cria sua minúscula esfera de influência por meio do som.

A esfera de influência de alguns seres não ultrapassa a dimensão de seus próprios crânios; já outros influenciam uma comunidade, uma nação ou até mesmo um planeta inteiro.

A beleza e harmonia de suas esferas particulares de influência dependem da qualidade do som que produzem.

Quando uma nação tenta conquistar outra nação, os primeiros pontos a capturar serão as estações de rádio, os jornais – as linhas de comunicação.

Transmitindo o seu manifesto por meio do som, um governo pode derrubar os antigos líderes de seus postos e tomar o país. É então – e também por meio do som – que o novo governo se estabelece.

Se houvesse algum defeito nesse som, por menor que fosse, tudo estaria arruinado.

É por isso que há tantas mudanças na situação mundial.

O som de todas essas almas é, para citar a Bíblia, uma Babel. Sons absurdos estão penetrando e contaminando o éter, o ar, a água e a própria estrutura molecular de cada pessoa, lugar e coisa.

A mente de um indivíduo se compõe de duas funções tecnicamente conhecidas como sancalpa e vicalpa.

Sancalpa significa o desejo mental de agrupar os pensamentos em conceitos, teorias e grupos de teorias.

Vicalpa é a função da mente de rejeitar pensamentos, simplificado e limitando as experiências que são coletadas por meio dos sentidos da visão, audição, olfato, paladar e tato; ambas funções são controladas por meio do som.

Aqui está um experimento: feche os olhos. Quando eu repetir um número você verá um lampejo do número refletir-se diante da mente como numa caixa registradora. Um... três... sete... quatro...

O processo de sancalpa e vicalpa, respectivamente, faz o pensamento ir e vir.

Esta é uma forma bastante simplificada do processo mental. Numa escala mais complexa existe o arriscado negócio de intencionalmente invadir as ondas sonoras com sons defeituosos.

As linhas de comunicação estão repletas de sons impuros, desde os mais elementares livros escolares até as filosofias ditas mais avançadas.

Os embusteiros do Congresso são outro exemplo excelente da poluição intencional dos canais sonoros.

Mas, se introduzíssemos no éter o som espiritual, se o saturássemos com a vibração do som transcendental do nome de Deus, o mantra purificaria, iluminaria e saturaria cada ser com suas potências.

Cheto-darpana-marjanam. No início, o som espiritual do mahamantra ( Hare Krsna Hare Krsna/ Krsna Krsna Hare Hare/ Hare Rama Hare Rama/ Rama Rama Hare Hare) limpa a poeira material do espelho de nossa mente.

A mente é como o médium conectante entre o espírito e sua cobertura material externa: o corpo.

A não tem atividade material. Quando coberta por maya, a ilusão, a alma permanece dormente, num estado de animação suspensa.

Contudo, tamanha é a magnitude da alma que ela espalha consciência em todas as direções.

Os sentidos agem através do médium da mente, e, assim, nós “sabemos” coisas. Se a lente da mente estiver fora de foco, influenciada pela natureza externa, sofreremos dor, confusão, doença e morte.

Sim, a morte é apenas um estado mental, pois, a alma não morre. Devido à mente cometemos o equívoco de pensar que “Oh! Estou morrendo!”, “Estou me afogando!”, “Estou parindo!”, “Estou doente!”etc.

Esses planos materiais têm sua origem nos prazeres sensoriais matérias.

A mente, quando se limpa por meio do maha-mantra, fica inevitavelmente purificada; todas as invencionices materiais, sendo a causa de nosso sofrimento, são forçosamente mortas de fome.

Inundar a mente com som transcendental é algo assim como pisar no pino de uma bomba: aquelas concepções errôneas de sofrimentos e desfrutes materiais são todas estraçalhadas, mortas, e a mente material é plenamente conquistada sem que reste nenhum inimigo para trás.

Nesse momento, a mente reflete o conhecimento, a qualidade, e a energia espiritual da própria alma.

Em seguindo vem, bhava-maha-davagni-nirvapa-nam: a extinção do fogo da vida condicionada.

Nirvana, que muitas pessoas estão desejando compreender dos textos budistas, significa extinguir o fogo da existência material.

Este corpo tem estado ardendo desde o começo dos tempos pelo processo da digestão; todos os biólogos declaram que o corpo é um organismo candente que emana calor, vapor de água e dióxido de carbono.

Após setenta anos ou mais, nosso corpo é completamente consumido por esse fogo abrasante da digestão, e mudamo-nos para outro corpo tão-só para queima-lo também.

É como fumar numa sucessão de cigarros – continuamente acendendo um novo cigarro na brasa do anterior. Pela potência do som transcendental é que se extingue a causa desse fogo.

Depois vem, shreyah-kairava-chandrika-vitaranam-vidya-vadhu-jivanam. O som transcendental espalha a luz de bendições, de sugestões pacíficas e destemor, e nenhuma ansiedade invadirá mais a mente.

Após sairmos do ventre, encaramos o mundo com muitos medos enraizados. Há segurança? Existirá felicidade? Existirá paz? A resposta é a semente básica: Om, que, neste sentido, significa um grande e espiritual SIM. Om; sim – uma resposta positiva.

A mera negação da mente não satisfará as questões da alma; algo de positivo deve ser dado. O mahamantra inunda a mente com sugestões da verdade.

E... anandam-budhi-vardhanam-pratipadam-purnamritasvadanam. Um grande gole do bem-aventurado oceano de néctar é servido à alma, que tem estado sedenta desde tempos imemoriais.

Sarvatma-snapanam-param-vijayate-sri-krsna-sankirtanam. Neste ponto temos duplos significados: um interno e outro externo.

Sarvatman significa todos os seres (jivas). O santo nome banha todas as almas em amor, bem-aventurança, e conhecimento transcendental.

O som transcendental conquista completamente a alma com suas sublimes potências. Mas atman possui significados, como foram dados por Sri Chaitanya Mahaprabhu; significa a Suprema Verdade Absoluta, o corpo, a mente, o esforço, a inteligência, a convicção e a natureza.

Ao pronunciar o puro som do mahamantra invadimos a própria causa de tudo o que existe. A mente, o corpo e a alma – e até a própria natureza – podem ser convertidos para sua natureza transcendental pela simples pronuncia do Seu puro nome.

Capturem as ondas sonoras que são a causa de cada item da existência e saturem-nas do nome de Deus! O resultado será a total transformação de energia.

Um ashram, templo, e a parafernália nele existente são todas divinas. O meio ambiente em que se vive no ashram não é o mesmo em que nascemos. Situa-se “lá”, no mundo espiritual; e quanto mais você progredir na prática espiritual, mais Deus Se revelará a você.