Sri Krsna Samhita por Srila Bhaktivinoda Thakur

POR SRILA BHAKTIVINODA THAKURA 


Conhecido como o Sétimo Goswami, Thakura Bhaktivinoda foi o primeiro Acarya á se comprometer de corpo e alma com a missão de Sriman Mahaprabhu e espalhá-la para todo o mundo. Ele tem um lugar singular no nosso parampara.

Antes dele, os Vaishnavas puros viviam absortos em bhajana e viviam como babajis altamente renunciados e sem nehuma relação social com niguém. também haviam muitas seitas sahajiyas e toda Índia pensava que os seguidores de Mahaprabhu eram todos falsos e sem valor. Ele achavam que os sahajiyas eram representantes de Mahaprabhu. Então Thakura Bhaktivionda se esfôrçou sobre humanamente em restabelecer a supremacia e o respeito aos ensinamentos de Mahaprabhu como limite máximo da religião. Ele escreveu mais de cem livros e também traduziu muitos para vários idiomas. Ele era um filósofo perfeito, os filósofos ocidentais da sua época começaram á aprender bengali á fim de lerem os livros do Thakura. As glórias deste Maha Bhagavata são intermináveis e insondáveis, quem somos nós para compreender a importância de tal personalidade?

Thakura Bhaktivinoda também redescobriu o lugar de nascimento de Sriman Mahaprabhu em Mayapura junto com seu Mestre Espiritual Srila Jaganath das Babaji Maharaj. Sua contribuição para a Gaudiya Sampradaya é insondável para os cérebros ordinários como o nosso.



PREFÁCIO

Compilei o Sri Krsna-samhita depois de estudar cuidadosamente o significado da literatura védica. As verdades relativas à filosofia vaisnava são o que há de mais importante no dharma ariano. Aqui, discute-se especialmente isso. Todo mundo — incluindo os adoradores de Durga, Surya, Ganesha, Siva e Visnu — deve aceitar o conteúdo desse livro de acordo com a sua respectiva qualificação. Aqui também encontraremos a mais elevada conclusão sobre brahman-jnana, o conhecimento impessoal da Verdade Absoluta, e também são discutidos os principais significados das escrituras religiosas. Portanto, nele podemos encontrar discussões sobre todos os ramos e sub-ramos do dharma ariano.

Na introdução encontraremos considerações históricas e geográficas sobre todas as verdades religiosas. E na conclusão discutimos essas verdade com uma terminologia moderna.

Assim que for publicado, muita gente vai obter um exemplar. Mas não creio que muitos leitores irão estudá-lo cuidadosamente. O Sri Gita-govinda, compilado por Jayadeva Gosvami, supostamente só deve ser estudado por pessoas qualificadas, porque ali podemos encontrar versos como: yadi hari smarane sarasaˆ manaƒ yadi vilasa kalasu kutuhalam ity adi — “Ó devotos, se as suas mentes ficarem atraídas pela lembrança das características do Senhor, e se suas mentes ficarem curiosas em compreender os encantadores passatempos da rasa-lila do Senhor...” No entanto, eruditos literários comuns e panditas, bem como as pessoas que estão apegadas aos assuntos amorosos não param de ler tais livros. Portanto é necessário dizer algumas palavras sobre esse assunto.

Com as minhas mãos postas em súplica, solicito aos leitores acostumados com temas corriqueiros que compreendam que se encontrarem alguma conclusão nesse livro que seja contrária aos seus conceitos, é devido a que ele foi escrito visando um determinado tipo de pessoa. No entanto, tudo o que foi escrito sobre os códigos religiosos deve ser aceito por todos. As conclusões relativas aos temas subsidiários irão conceder o resultado de purificar algum campo de conhecimento específico que alguém possua. Não há perda ou ganho para quem acredita ou não acredita nos diferentes temas descritos na introdução no que diz respeito aos incidentes históricos e ao tempo, de acordo com o raciocínio e argumentação sastricos. A história e o conhecimento do tempo são parte do Artha-sastra, escrituras que tratam de temas sobre economia. Se considerarmos história e o tempo de acordo com o raciocínio e argumentos lógicos, não haverá grande benefício para a Índia. Com isso, também podemos esperar fazer um avanço gradual no caminho pela meta definitiva da vida. Se o raciocínio e o argumento lógico são combinados com crenças antigas, então todo limo de equívocos acumulado será destruído, e no devido curso de tempo o odor da infâmia será erradicado do povo Indiano; então o conhecimento dessa Nação recuperará a sua saúde. Minha prece aos respeitáveis eruditos profissionais e devotos é que não menosprezem esse Krsna-samhita depois de verem as conclusões independentes mencionadas na introdução. Eles serão obrigados a respeitar esse livro pela única razão dele descrever os nomes, qualidades e passatempos de Krsna. No Srimad Bhagavatam, Narada Muni declarou (1. 12. 52):

tad-vag-visargo janatagha-viplavo
yasmin prati-slokam abaddhavaty api
namany anantasya yaso’nkitani yat
sAvanti gayanti gAanti sadhava

tad-vag-visargo janatagha-viplavo
yasmin prati-slokam abaddhavaty api
namany anantasya yaso’nkitani yat
sAvanti gayanti gAanti sadhava

“Por outro lado, a literatura que está repleta de descrições sobre as glórias transcendentais do nome, fama, formas, passatempos, etc. da ilimitada Suprema Personalidade de Deus é uma criação diferente, cheia de palavras transcendentais destinadas a fazer com que haja uma revolução na vida ímpia dessa civilização mundial mal- conduzida. Essa literatura transcendental, mesmo que composta imperfeitamente, é ouvida, cantada e aceita pelos homens purificados que são completamente honestos.”

O meu pedido aos leitores modernos é que eles não sintam aversão por esse livro apenas por ouvirem o nome e o dos passatempos do Senhor de Vraja que ele contém. Quanto mais alguém ler o livro com fé, mais irá perceber a Verdade Absoluta. Na minha opinião, o leitor terá melhor proveito estudando a Introdução, depois a Conclusão e finalmente a parte principal.

Agradeço de modo especial a Sri Pandita Damodara Vidyavagisa, Sri Govinda Candra Mahapatra, Pandita Sasibh™aAa Smtiratna e Sri Pandita Candra Mohana Tarkaratna, que ocasionalmente me ajudaram a editar esse livro.

Servo do servo do Senhor,

Akincana Sri Kedaranatha Datta (Bhaktivinoda).

INTRODUÇÃO 

caitanyatmane bhagavate namah

Há dois tipos de literatura — aquela que concede artha, ou prosperidade material, e aquela que concede paramartha, ou prosperidade espiritual. Geografia, história, astrologia, física, psicologia, medicina, microbiologia, matemática, linguagem, poesia, música, lógica, ioga, religião, direito, arquitetura e artes bélicas estão incluídos na primeira categoria. Todo livro visa revelar um assunto em especial — esse é o propósito. Quando todos os propósitos se complementam uns aos outros e finalmente conduzem ao propósito supremo, na forma do destino definitivo da alma, ele é chamado paramartha. A literatura que discute como alcançar esse propósito supremo é chamada de paramathica, ou literatura espiritual.

Inúmeras obras literárias espirituais têm sido compiladas na Índia e em todo mundo. Na Índia, os sábios têm compilado uma vasta literatura espiritual desde tempos imemoriais, depois de terem considerado devidamente os assuntos espirituais. Dentre essas obras, o Srimad Bhagavatam é a mais importante. Esse livro contém 18.000 versos. Nele, os dez assuntos principais do mundo (*) têm sido discutidos em algumas passagens como instruções diretas e em outras passagens como história. Dentre os dez temas, o último, asraya, é o paramatha-tattva, ou tema espiritual. O asraya-tattva, ou summum bonum, é muito confidencial e ilimitado. Apesar do asraya-tattva ser auto-evidente para as entidades vivas, no atual estado condicionado as pessoas têm muita dificuldade em compreendê-lo. É por esse motivo que o compilador do Srimad Bhagavatam foi induzido a discutir compassiva e claramente as outras nove verdades(**).

(*)”No Srimad Bhagavatam existem dez divisões de declarações sobre os seguintes temas: a criação do Universo, subcriação, sistemas planetários, proteção do Senhor, o ímpeto criativo, a mudança dos Manus, a ciência de Deus, a volta ao lar, volta ao Supremo, liberação e o summum bonum.”(Bh. 2.10.11)

(**)”Para isolar a transcendência do summmum bonum, os sintomas do restante são às vezes descritos pela inferência védica, às vezes pela explicação direta e às vezes pelas explicações sumárias dadas pelos grandes sábios.” (Bh. 2.10.2)

Um livro assim imaculado até hoje não foi explicado apropriadamente. As pessoas da Índia e de outros países podem ser divididas em duas categorias: as que se assemelham aos asnos e as que se assemelham aos cisnes. Na divisão, as que se assemelham aos asnos são a maioria. As que se assemelham aos cisnes são muito raras. As pessoas que se comportam como cisnes abstraem o significado das escrituras para o seu avanço e benefício pessoal. É por isso que o significado do Srimad Bhagavatam ainda não foi claramente revelado. Tenho enorme desejo em traduzir o Srimad Bhagavatam no estilo apropriado das pessoas que se comportam como cisnes, mas não tenho tempo para traduzir um trabalho tão vasto. Por essa razão agora estou extraindo o significado principal dessa grande literatura e o estou apresentando na forma do Sri Krsna-samhita. Depois de escrever os versos desse livro eu não fiquei satisfeito, e então os traduzi para o Bengali. Espero que as pessoas cultas sempre discutam o livro criteriosamente para poderem apurar os temas espirituais.

Todo mundo tem o direito de discutir temas espirituais. No entanto, as pessoas estão divididas em três categorias quanto à sua qualificação(*). Aquelas que não possuem poder de discriminação independente estão na primeira categoria e são chamadas neófitas, ou aquelas cuja fé ainda é muito limitada. Elas não têm alternativa para a fé. Se não aceitarem aquilo que os compiladores das escrituras escrevem por ordem do Senhor, elas caem. Elas só estão qualificadas para compreender o significado grosseiro da ciência de Krsna; elas não estão qualificadas para compreenderem o significado sutil. Até que elas avancem gradualmente devido à boa associação e instrução, deverão tentar avançar sob o abrigo da fé. Aquelas que ainda não conseguiram conectar a fé com os argumentos lógicos estão no segundo grupo de pessoas, ou madhyama-adhikaris. E aquelas que são peritas em relacionar os dois padrões são perfeitas em todos os aspectos. Elas são capazes de alcançar a perfeição ao utilizarem os recursos materiais em seus esforços independentes. Elas são chamadas pessoas mais elevadas, ou uttama-adhikaris. Dos três tipos de pessoas, é necessário determinar qual a candidata a estudar esse livro. Os neófitos não são qualificados, mas poderão ir se qualificando gradativamente ao alcançarem um estágio mais elevado através da boa-fortuna. As pessoas muito elevadas não têm muita necessidade de lerem esse livro, a não ser para reforçarem as suas próprias conclusões. No entanto, elas devem discutir esse livro com o devido respeito para poderem beneficiar os madhyama-adhikaris. Portanto os candidatos apropriados para estudar esse livro são os madhyama-adhikaris. As pessoas das três categorias mencionadas estão qualificadas para estudar o Srimad Bhagavatam, no entanto a maioria dos comentários sobre esse livro imaculado são compostos para beneficiar os neófitos. Os comentaristas são sempre pessoas com comportamento semelhante ao dos cisnes e eles têm exibido mais compaixão com os neófitos do que com os madhyama-adhikaris. Sempre que eles discutem jnana, estão se referindo ao brahman-jnana, o conhecimento da Verdade Absoluta no seu aspecto impessoal. Portanto, os especuladores modernos acabam não sendo beneficiados. Atualmente, muitas pessoas do nosso país discutem a literatura e a ciência estrangeiras desejando avaliar o seu significado. Elas perdem a fé rapidamente logo ao observarem as apresentações indiretas(**) dos compiladores das escrituras e os comentários, que como já salientamos, são mais adequados para os neófitos. Então, ou elas adotam uma religião diferente ou se tornam famosas ao introduzirem uma nova religião. O perigo nisso é que tais pessoas acabam perdendo o seu tempo inventando um novo tipo de compreensão, deixando de lado o caminho perfeito indicado pelos mahajanas do passado, que eleva automaticamente as pessoas que estão em uma qualificação inferior. Se houvessem alguns livros apropriados para os madhyama-adhikaris discutirem, então não haveriam anarthas, ou as coisas indesejáveis, na forma de sub-religião, religião enganosa, ou irreligião na Índia. O propósito principal desse livro é o de satisfazer os requisitos citados. Na verdade, ele irá beneficiar direta e indiretamente os três tipos de pessoas — uttama, madhyama e kani˜ha. Portanto todos devem respeitar esse livro.

(*) “Tanto o mais tolo dos tolos quanto quem está situado transcendentalmente a inteligência desfrutam de felicidade, enquanto que as pessoas que se encontra entre essas duas categorias sofrem das dores materiais.” (Bh. 3.7.17)

(**) “As pessoas infantis e tolas estão apegadas às atividades materialistas fruitivas, apesar da verdadeira meta da vida ser a liberação de tais atividades. Portanto, as injunções védicas conduzem indiretamente ao caminho da liberação definitiva ao prescrever as atividades religiosas fruitivas, assim como um pai promete doce à criança para que ela tome o remédio.”(Bh. 11.3.44)


O sectarismo é um subproduto natural da Verdade Absoluta. Quando inicialmente os acaryas determinam e instruem a Verdade, ela não está poluída com o sectarismo. Todavia, as regras e regulações recebidas através da sucessão discipular, no que diz respeito à meta e ao método de alcançá-la, podem mudar no decorrer do tempo de acordo com a mentalidade e localização das pessoas(*). Uma regra que é seguida por uma sociedade não é aceita necessariamente em outra comunidade. É por isso que uma comunidade é diferente da outra. Assim que uma comunidade gradativamente vai desenvolvendo os seus padrões, ela vai desenvolvendo aversão pelas outras comunidades e considera os padrões dos outros inferiores. Esses sintomas sectários são vistos em todos os países desde tempos imemoriais. Isso é muito evidente nos neófitos e também ocorre em certa medida entre os madhyama-adhikaris. No entanto, nos uttama-adhikaris não há indício de sectarismo. A adesão a determinados padrões é o sintoma proeminente de uma sociedade. Existem três tipos de padrões — alocakagata‚ alocanagata e alocacyagata. Alocakagata, aqui os sectários adotam alguns sinais exteriores. Os exemplos de alocakagata são a tilaka, os colares, vestes açafroadas e o batismo que é amplamente praticado. As diferentes atividades praticadas no processo de adoração são chamadas alocanagata. Exemplos de alocanagata são os sacrifícios, austeridades, cerimônias de fogo, votos, estudo das escrituras, adoração de deidades, construção de templos, respeitar o pureza de diversas árvores e rios, vestir-se como sannyasis, agir como acaryas, vestir-se como brahmacaris ou ghasthas, fechar os olhos, respeitar determinados tipos de livros, regras e regulações para comer e respeitar a pureza de determinadas ocasiões e locais. Os exemplos de alocyagata são a atribuição de personalismo e impersonalismo ao Senhor Supremo, instalar deidades, exibir o humor de uma determinada encarnação do Senhor, especular sobre céu e inferno e descrever o destino futuro da alma. As diferentes formas dessas atividades espirituais criam divisões de sectarismo. As diferenças que surgem de locais, épocas, línguas, comportamento, alimentos, vestimentas e naturezas das diversas comunidades estão incorporados nas práticas espirituais das pessoas e vão fazendo que gradualmente uma comunidade se torne completamente diferente da outra. Essa diferença é tão acentuada que até mesmo a consideração de que todos são seres humanos pode deixar de existir. Devido a essas diferenças há desacordo, deixam de haver relacionamentos sociais e acabam ocorrendo as lutas, que chegam ao ponto da matança mútua. Quando uma mentalidade de asnos predomina entre os kani˜ƒa-adhikaris, eles fatalmente acabam assumindo esse tipo de conduta. Contudo, se eles desenvolvem uma mentalidade de cisnes, então, eles não tomam partido nas disputas; ou seja, eles assumem um comportamento mais elevado. Os madhyama-adhikaris não discutem tanto sobre os padrões exteriores, mas vivem apegado aos desacordos filosóficos. Às vezes, eles condenam os padrões dos neófitos e estabelecem os seus próprios padrões como sendo superiores. Eles condenam a adoração à deidade dos neófitos para estabelecerem a adoração ao Senhor sem atributos ou forma(**). Nesses casos, eles também são considerados como possuidores de mentalidade semelhante a asnos. Por outro lado, se apresentarem uma mentalidade de cisnes e o desejo de alcançarem um nível mais elevado, devem respeitar as práticas dos outros e inquirir sobre temas mais elevados. Na verdade, as contradições só ocorrem devido à mentalidade de asnos. As pessoas de mentalidade de cisnes consideram a necessidade de diferentes práticas de acordo com a qualificação das pessoas, e portanto estão naturalmente desapegadas das disputas sectárias(***). Quanto a isso deve ficar claro que tanto as pessoas semelhantes a asnos quanto aquelas semelhantes a cisnes podem ser encontradas entre kani˜ƒas e madhyama-adhikaris. Eu não espero que pessoas de mentalidade asinina aceitem esse livro com o devido respeito. Se os neófitos e madhyama-adhikaris se tornarem complemente indiferentes em relação às contradições encontradas nas várias práticas e tentarem avançar mais, daí então eles se tornarão pessoas semelhantes a cisnes. Então, serão nossos amigos queridos e respeitáveis amigos. Apesar de personalidades de comportamento semelhante a cisnes poderem aceitar uma prática em particular do nascimento até a infância de acordo com as instruções que receberam, elas ainda assim permanecem indiferentes e não-sectárias.

(*)”Portanto, devido às diferentes características das entidades vivas dentro do Universo, existe uma grande variedade de rituais védicos, mantras e recompensas. Devido à grande variedade de desejos e naturezas dos seres humanos, existem inúmeras filosofias de vida teístas, que são mantidas pela tradição, costumes e sucessão discipular. Existem outros mestres que mantêm diretamente pontos de vista ateístas.” (Bh. 11.14.7-8)

(**) “Ó melhor entre os homens, a inteligência dos seres humanos está confundida pela Minha potência ilusória, e dessa maneira, de acordo com as atividades e desejos, eles falam de inúmeras maneiras sobre o que é realmente bom para as pessoas.” (Bh. 11.14.9)

(***)”Quem não deseja nada no mundo, quem já obteve a paz por controlar os sentidos, cuja consciência está equilibrada em todas as circunstâncias e cuja mente está completamente satisfeita em Mim, só encontra felicidade aonde for.”(Bh. 11.14.13)

Os princípios religiosos que serão explicados e estabelecidos aqui são muito difíceis de serem classificados. Se dermos aos princípios um determinado nome sectário, então outras seitas irão se opor a eles. Por esse motivo, o Srimad Bhagavatam estabeleceu sanatana-dharma como satvata-dharma, ou os princípios religiosos relacionados com a Verdade Absoluta(*). Outro nome para esses princípios religiosos é vaisnava-dharma. Os vaisnavas de comportamento semelhante a asnos caem na categoria dos Saktas (seguidores de Durga), Sauras (seguidores do deus do sol), GaAapatyas (seguidores de Ganesha), Saivitas (seguidores de Siva) e vaisnavas (seguidores de Visnu). Porém, os vaisnavas com comportamento semelhante a cisnes são não-sectários e portanto raros. Os cinco tipos de espiritualistas são encontrados na Índia, e classificados de acordo com as suas respectivas qualificações. Os seres humanos têm dois tipos de tendências - arthica, material; e paramarthica, espiritual. As tendências materiais incluem a manutenção do corpo, construção de uma casa, casamento, ter filhos, estudar, ganhar dinheiro, ciência material, trabalho nas fábricas, adquirir e manter o erário e acumular mérito piedoso. Apesar de haverem algumas semelhanças entre as atividades dos seres humanos e dos animais, os esforços materiais humanos devem ser considerados superiores às tendências naturais dos animais. Se depois de executarem as atividades materiais os seres humanos não se abrigarem em atividades constitucionais, então passarão a ser chamados animais de duas pernas. As atividades naturais de uma alma pura são chamadas sva-dharma, ou atividades prescritas. A sva-dharma de uma entidade viva é predominantemente manifesta no seu estado de existência pura. No estado de existência pura o sva-dharma está presente na forma de atividades espirituais. Todas as tendências materiais mencionadas tornam-se bem sucedidas quando relacionadas com as atividades espirituais, de outra maneira, isoladamente, elas não podem ajudar a se alcançar a meta mais elevada (”As atividades ocupacionais que um homem realiza de acordo com a sua própria posição nada mais são do que muito trabalho inútil se elas não provocam atração pela mensagem da Suprema Personalidade de Deus.” Bh. 1.2.8). O estágio que vai da dedicação a atividades materiais até o despertar das atividades espirituais é chamado de estágio preliminar da consciência de Deus. Do estágio preliminar até o estágio uttama-adhikari existem vários níveis (”As cinco qualidades, tamaƒ, rajas-tamaƒ, rajaƒ, rajaƒ-sattva e sattva são geradas das cinco propensões grosseiras das pessoas. Os eruditos têm considerado os cinco níveis de propensões e qualidades do mais baixo até o mais elevado.” Datta-kaustuba). Indagar sobre a verdade do mundo material é chamado Sakta-dharma, porque a deidade predominante no mundo material é a semideusa Durga. Todo comportamento e práticas em Sakta-dharma são úteis apenas no estágio preliminar. Esse comportamento e essas práticas se destinam a fazer com que a pessoa se aproxime da vida espiritual, e as pessoas materialistas podem ficar atraídas por isso apenas, até o momento em que começarem a indagar sobre a Suprema Verdade Absoluta. Sakta-dharma é o início do esforço que as entidades vivas fazem para iniciarem a vida espiritual e ele é extremamente necessário para as pessoas nesse nível. Quando o estágio preliminar avança um pouco mais, alcança-se o nível seguinte. Então, passa-se a considerar a energia do trabalho e a superioridade do calor sobre a matéria inerte, e portanto passa-se a aceitar o deus do sol, que é a fonte do calor, como a deidade adorável. Nesse momento é despertada o Saura-dharma. Mais tarde, quando se considera calor como matéria inerte e a consciência animal como sendo superior, alcança-se o terceiro estágio, GaAapatya-dharma. No quarto estágio grosseiro, o Senhor Siva é adorado como a consciência pura das entidades vivas e se manifesta o Saiva-dharma. No quinto estágio a entidade viva adora a consciência suprema e então o Vaisnava-dharma se manifesta. Por natureza, há cinco tipos de dharmas paramarthicos, ou deveres espirituais, que são conhecidos no mundo inteiro com diferentes nomes em épocas diferentes. Se considerarmos todos os diferentes dharmas que existem na Índia e pelo mundo, poderemos verificar que fatalmente eles caem em uma das cinco categorias. Os princípios religiosos ensinados por Maomé e por Jesus Cristo são similares aos princípios religiosos ensinados pelas seitas vaisnavas. Budismo e jainismo são similares ao Saiva-dharma. Essa é uma consideração científica sobre as verdades relativas aos princípios religiosos. Aqueles que consideram os seus princípios religiosos como o verdadeiro dharma e os outros princípios religiosos como irreligião ou sub-religião são incapazes de apurar a verdade por estarem sendo influenciados pelo preconceito. Na verdade todos os princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral são diferentes unicamente devido às diferentes qualificações dos praticantes, mas os princípios religiosos constitucionais de todas as entidades vivas é apenas um. Não é apropriado que as pessoas de comportamento semelhante a cisnes rejeitem os princípios religiosos que as pessoas em geral seguem de acordo com a situação delas. Portanto, com o devido respeito aos princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral, é que iremos discutir os princípios religiosos constitucionais das entidades vivas.

(*) “Rejeitando completamente todas as atividades religiosas materialmente motivadas, esse Bhagavata PuraAa propõe a verdade mais elevada, que é compreensível para os devotos que são completamente puros de coração...” (Bh. 1.1.2)

O Satvata-dharma, ou o Vaisnava-dharma não-sectário, é o princípio religioso constitucional, ou eterno, das entidades vivas (*). Os princípios vaisnavas que são encontrados na saˆpradaya Mayavada são apenas imitações indiretas desses princípios. Quando os princípios vaisnavas sectários se tornam transcendentais; isto é, quando eles se livram do impersonalismo, então eles se tornam Satvata-dharma, ou princípios religiosos relacionados com a Verdade Absoluta. As diferentes saˆpradayas, denominadas dvaita (dualismo), dvaitadvaita (simultânea unidade e diferença), suddhadvaita (unidade purificada) e vaisi˜advaita (monismo específico) que são encontradas em satvata-dharma não são nada além do que as maravilhosas variedades de sentimentos dentro da ciência vaisnava. Na verdade as várias saˆpradayas não são o resultado das diferenças sobre a verdade básica. O impersonalismo é diametralmente oposto à ciência de bhakti. Os vaisnavas que aceitam o impersonalismo não são vaisnavas puros.



(*) “Aqueles que são espiritualmente avançados simplesmente contemplam os pés de lótus de Visnu.” (¬g Veda 1.22.20)


É nosso dever considerar quando e como o vaisnava-dharma se manifestou na Índia. Antes de considerarmos esse assunto, no entanto, há inúmeros outros assuntos que precisam ser esclarecidos. Portanto, primeiro iremos determinar as datas, de acordo com as considerações modernas, dos principais eventos que ocorreram na Índia. Mais tarde iremos determinar a estimativa da idade das escrituras. Assim que apurarmos as idades das escrituras, explicaremos, de acordo com a opinião moderna, a história do vaisnava-dharma que é explicada nas escrituras. Apesar de considerarmos a idade das escrituras de acordo com os métodos clássicos, agora seguiremos a metodologia contemporânea para o benefício das pessoas.

A própria história remota da Índia está encoberta por uma densa escuridão de esquecimento, porque não há uma seqüência apropriada na história remota. Vou estabelecer com um pouco de suposição todas as informações que pude obter na leitura dos quatro Vedas, do RamayaAa, Mahabharata e dos PuraAas. No início, os arianos viviam em um pequeno país denominado Brahmavarta, que estava situado entre dois rios — Sarasvati e Davati. O nome atual do Davati é Kagara(*). Ao discutir o significado do nome “Brahmavarta” é de se presumir que os arianos vieram de um outro país para residir ali. Não podemos assegurar exatamente de onde vieram, mas, acredita-se que eles vieram de algum país do Norte(**).

(*) Os seguintes versos do Mahabharata (Vana-parva 83.4) criam alguma dúvida a esse respeito. As pessoas de comportamento semelhante a cisnes deverão destruir essa dúvida através de samadhi.

“Quem vive em Kuruketra, que fica ao sul do rio Sarasvati e ao norte do rio Dadvati, vive no céu.”

(**) No Mahabharata (Vana-parva 82.103) o tirtha de Devi perto do Kashmir é descrito da seguinte maneira: “Dizem que os brahmaAas começaram a existir primeiro nesse local.”

Quando eles chegaram, eram relativamente civilizados de acordo com os padrões da época. Não há dúvidas quanto a isso. Orgulhosos da sua civilização, eles costumavam menosprezar os nativos locais. Dizem que quando os arianos menosprezaram os nativos locais, o rei dos nativos, Rudradeva, mostrou aos arianos a sua bravura aceitando a mão de Sati, a filha do Prajapati Daka, fazendo uma aliança com Daka. No entanto, os arianos eram tão orgulhosos que depois daquele casamento, eles passaram a desrespeitá-la e ao seu esposo. Foi por isso que Sati passou a odiar a si mesma e abandonou o seu corpo na arena sacrificial de Daka, depois disso Siva e os seus seguidores passaram a perseguir os arianos. Portanto, mais tarde os brâmanes foram forçados a fazer aliança com Siva permitindo que ele desfrutasse de um quinhão dos sacrifícios. No entanto, para poderem manter a sua superioridade, os arianos colocaram o assento de Siva no quadrante nordeste da arena de sacrifício. Não resta dúvidas de que a cerimônia de fogo de Daka ocorreu logo após os arianos terem se estabelecido em Brahmavarta, porque dez personalidades lideradas por Daka são descritas como sendo os Prajapatis originais. A esposa de Daka chamava-se Pras™ti. Ela era filha de Svayambhuva Manu, o filho de Brahma. Svayambhuva Manu e os Prajapatis foram os habitantes originais de Brahmavarta. Outro filho de Brahma foi Marici, cujo filho foi Kasyapa. O filho de Kasyapa foi Vivasvan, cujo filho foi Vaivasvata Manu. O filho de Vaivasvata Manu foi Ikvaku. Disso podemos concluir que a dinastia Surya começou com a sexta geração de Brahma. Na época do Maharaja Ikvaku, os arianos estavam vivendo em um lugar chamado Brahmari. De acordo com os cálculos modernos as seis gerações citadas desfrutaram de seu reinado por duzentos anos. Como Brahmavarta era muito pequena, ela foi expandida nos duzentos anos e passou a se chamar Brahmari. Os arianos estavam muito ansiosos em expandir a dinastia e tiveram tantos filhos que Brahmavarta ficou superpovoada para suprir as necessidades. Os acadêmicos modernos dizem que algumas personalidades civilizadas como Candra foram introduzidas na raça ariana naquela época. De acordo com os seus cálculos, no período de duzentos anos houveram oito Manus, começando de Svayambhuva Manu até Vaivasvata Manu. Logo após Svayambhuva Manu, o filho de Agni chamado Svarocia Manu surgiu. O neto de Svayambhuva Manu foi Uttama Manu. Ele teve outro irmão chamado Raivata Manu. Cakua Manu apareceu na sétima geração de Svayambhuva Manu. Vaivasvata Manu era a quinta geração de Brahma. SarvaAi Manu era irmão adotivo de Vaivasvata. Portanto, todos os Manus desenvolveram as suas atividades antes da época de Ikvaku. Não há dúvidas quanto a isso. Daka-sarvaAi, Brahma-sarvaAi, Dharma-sarvaAi, Rudra-sarvaAi, Deva-sarvaAi e Indra-sarvaAi só existiram na imaginação das pessoas modernas. Se eles foram históricos, então devemos considerar que eles viveram em diferentes partes da Índia nesse período de duzentos anos. Também está declarado que a batedura do oceano ocorreu durante a época de Cakua Manu. Vamana apareceu durante o período de Vaivasvata Manu. Depois do sacrifício de Bali todos os demônios foram passados para trás por meio de uma trapaça. Os reis da dinastia de Manu tinham as suas capitais fora de Brahmavarta, mas primeiramente eles não foram habilidosos no gerenciamento do reinado, na educação ou na vida familiar. Dhanvantari apareceu durante a batedura do oceano. Os Asvini-kumaras também apareceram nessa época. O veneno que emanou durante a batedura do oceano foi eliminado por Siva da dinastia de Rudra. Ao analisarmos esses tópicos podemos verificar que naquela época a cultura e a medicina estavam progredindo. Também pode-se observar que o demônio Rahu foi cortado ao meio e dessa maneira foram formados Rahu e Ketu. Do fato, podemos deduzir que naquela época estudavam a ciência da astrologia. No entanto, não se acredita que naquela época havia escrita. E por isso, não há informações precisas do período. E uma vez que não há registros escritos desse período, supõe-se que ele deve ter durado por muito tempo. Na verdade, muito mais tarde, quando começou o cálculo do tempo, dizem que cada Manu desfrutou o reinado por setenta maha-yugas. Dentre os reis, quem quer que estabelecesse um código de leis era respeitado por todo mundo e tratado como Manu. Existem duas razões pelas quais surgiram tantos Manus em um período de tempo tão breve. A primeira delas é que não havia linguagem escrita ou livros, assim o conhecimento era transmitido pelo sruti, ou audição. Os outros srutis que foram acrescidos ao sruti original foram atribuídos aos reinados dos diversos Manus. A segunda razão é que devido a um aumento populacional, o território em que viviam os arianos se expandiu e foi dividido em várias áreas onde governavam diferentes reis. Dessa maneira haviam inúmeros senhores feudais, ou Manus. Essa é a maneira como os acadêmicos modernos têm descrito as diferentes durações dos Manus. As pessoas de comportamento semelhante a cisnes respeitam toda a substância que pode ser extraída desses tópicos, mas explicações transcendentais são mais úteis para as pessoas de mentalidade asinina (*).

(*) “As injunções védicas costumam descrever uma situação como algo diferente para dissimular a sua verdadeira natureza para conduzir as pessoas tolas e infantis que estão apegadas a atividades fruitivas. (Bh. 11.3.44)

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Essas explicações das características transcendentais e divisões do tempo foram aceitas para gerar firme fé na mente de tais pessoas. Os grandes sábios aceitam a existência dos diferentes Manus para poder beneficiar os neófitos e avaliar as fantasias que são criadas em diferentes épocas e locais. Nós nunca iremos dizer que a história e o processo de calcular o tempo de acordo com as escrituras é falso ou imaginário.

Os acadêmicos modernos têm declarado que os nomes dos reis da época de Ikvaku estão disponíveis. Os nomes dos reis da dinastia de Surya podem ser aceitos com uma boa margem de certeza. De Ikvaku até Ramacandra houveram 63 gerações. Se considerarmos que cada rei governou por 25 anos, então o período de tempo desde Ikvaku até Ramacandra é algo em torno de 1.575 anos. O rei Bhadbala, na nonagésima quarta geração dessa dinastia, foi morto por Abhimanyu na batalha de Kuruketra. A batalha de Kuruketra ocorreu 2.350 anos depois do reinado de Ikvaku. A duração de todos os manvantaras é de cerca de 200 anos. Portanto teremos que aceitar que Brahmavarta foi estabelecida 2.550 anos antes da batalha de Kuruketra.

A genealogia dos reis da dinastia Candra não é muito clara. De Ila, que foi contemporânea de Ikvaku, até Pur™rava e de lá até Yudhi˜hita, são descritas 50 gerações. Portanto, é difícil aceitar que Sri Ramacandra apareceu na sexagésima terceira geração de Ikvaku, e ainda bem antes de Yudhi˜hira, se houveram apenas 50 gerações de Ila até Yudhi˜hira. Valmiki foi um ri muito antigo. Portanto, seus cálculos devem ser mais acurados do que os cálculos dos ris modernos. Além do mais, os reis da dinastia Surya eram muito poderosos, e assim os seus sacerdotes familiares escreveram sobre a duração dos reinados de seus vários reis. Não há dúvidas sobre isso. Ou seja, há um equívoco na origem da dinastia Candra. Talvez depois dos reis da dinastia Surya terem governado por um longo período, o rei Yayati se tornou muito poderoso. Quando Yayati foi incapaz de entrar na dinastia Surya e decidiu unir a sua dinastia à dinastia de Pur™rava Nahusa. No entanto, mesmo após ter feito isso, ele e muitos outros soberanos da sua dinastia foram incapazes de estabelecer um relacionamento com a dinastia Surya. O rei Romapada(*), amigo de Dasaratha, apareceu na décima quarta geração de Pur™rava, na dinastia de Anu, o filho de Yayati. Kartaviryarjuna nasceu na décima sexta geração de Pur™rava, na dinastia de Yadu. Ele era inimigo de Parasurama. Por isso podemos deduzir que o rei Yayati governou seu reino em um período de treze ou quatorze gerações antes de Ramacandra. Esse foi o início da dinastia Candra. É por isso que eles calcularam o seu tempo em relação a dinastia de Surya.

(*) “O célebre Romapada não tinha descendência e portanto o seu amigo Maharaja Dasaratha deu-lhe a sua filha, chamada Santa. Romapada a aceitou como sua filha e mais tarde ela se casou com ¬yas‰ga.” (Bh. 9.23.7-8)

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No começo, os reis da dinastia Surya viveram à beira do Yamuna em um local conhecido como Brahmari. O décimo rei da dinastia Surya, chamado Sravanta, criou Sravantipuri. No RamayaAa está declarado que Ayodhya foi fundada por Manu. No entanto, muitas pessoas acreditam que Vaivasvata Manu viveu perto do Yamuna e que o seu filho, Ikvaku, fundou Ayodhya e passou a residir lá. Está escrito que os filhos de Ikvaku viveram em Aryavarta. Vaisalipuri foi criada pelo rei Visala, que estava na vigésima quinta geração de Vaivasvata. A cidade de Sravanti está situada a cerca de 60 milhas ao norte de Ayodhya, a capital de Kosala. O nome atual da cidade é Sahet Mahet. A cidade de Vaisali está situada a 28 milhas ao norte de Patna. A partir disso, fica claro que os reis da dinastia Surya foram soberanos de um reino que ia do Yamuna até o rio Kausiki, na margem oeste do Ganges. Gradualmente, quando o poder dos reis da dinastia Candra aumentou, os reis da dinastia Surya foram ficando mais fracos. Costuma-se dizer que na época do Mandhata os arianos da dinastia Surya costumavam chamar Mithila e as vizinhanças em volta do Ganges de Aryavarta. Todavia, na época de Bhagiratha, que veio logo depois do rei Sagara, os distritos próximos ao Ganges e toda área até o oceano foram considerados Aryavarta. Antes disso as escrituras concluíam que se um ariano morresse fora de Aryavarta iria para o inferno. Nessa época Aryavarta se estendia apenas entre os Himalaias e as montanhas Vindhyas(*). Os descendentes do rei Sagara abandonaram os seus corpos em um lugar chamado Mleccha-desa(**), a Bengala (atualmente chamada Ga‰ga-sagara), e até que esse local fosse incluído em Aryavarta, os descendentes da dinastia Surya estavam condenados. Por esse motivo muitos reis da dinastia Surya, tais como Dilipa, Aˆsuman e Bhagiratha, adoraram Brahma, o chefe dos is e estabeleceram toda a área até Ga‰ga-sagara como Aryavarta. De acordo com a opinião moderna, esses reis propagaram suas glórias desde o Ganges até o oceano. A opinião moderna é que não foram as águas do Ganges que foram levadas até o oceano e sim as glórias do Ganges que foram levadas até o oceano. É por isso que o Manu-saˆhita (2.22) descreve Aryavarta como a área entre os Himalaias e as montanhas Vindhya se estendendo do oceano ocidental ao oriental(***). Essas divisões de Aryavarta e DakiAatya são aceitas desde o tempo de Bhagiratha.

(*)”A terra sagrada de Aryavarta está situada entre as montanhas Vindhya e os Himalayas.“(Sridhara Svami)

(**) Na descrição da conquista das províncias orientais por Bhima está declarado no Mahabharata (Sabha-parva 30.33):

“Depois que Bhima derrotou o beligerante rei Vasudeva (PauAdraka), ele começou a atacar os reis de Bengala. Depois disso, Bhimasena, o melhor dos Bharatas, derrotou Samudrasena, Bh™pala Candrasena, Tamralipta, o rei de Karva˜a e o rei Suhma da Bengala. Depois de derrotá-los, ele foi para a beira do oceano e lá derrotou os reis mleccha.”

(***) asamudrat tu vai p™rvad asamudrat tu pascimat

tayor evantaram giryor aryavartaˆ vidur budhaƒ

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Agora vou explicar os cálculos das quatro yugas de acordo com a opinião moderna. A Satya-yuga se estende até a época do rei Mandhata. A Treta-yuga começa na época de Mandhata e vai até o reinado de Lava e Kusa. A Dvapara-yuga então dura até a batalha de Kuruketra. A Satya-yuga consiste em 650 anos, Treta-yuga em 1.125 anos e Dvapara-yuga em 775 anos. Assim, há um total de 2.550 anos(*). No entanto os eruditos védicos não aceitam essas conclusões.

(*) A era de Kali começou logo depois da Batalha de Kuruketra e de lá até hoje já dura 3.800 anos. No entanto, aqueles que fizeram os cálculos do atual panjika, ou almanaque, dizem que no ano de 1879, a Kali-yuga completava 4.979 anos. Talvez o cálculo dos paAjikas começam para poder determinar as ocasiões dos votos como descritos no Mahabharata e nos PuraAas.

“Quando a constelação dos sete sábios está passando pela casa lunar de Magha, começa a Kali-yuga. Ela compreende 1.200 anos dos semideuses.” (Bh. 12.2.31)

De acordo com essa citação, que está no presente verbal, compreende-se que há uma discrepância de 1.179 anos porque as pessoas consideram que essa declaração está no passado verbal. Na verdade: “O tempo que vai do início até a frutificação das atividades realizadas continuamente é chamado presente.” De acordo com a definição de vartamana, ou presente, nesse verso, deve-se aceitar que há um equívoco. Antes do rei Parikit ouvir o Srimad Bhagavatam, os sete sábios desfrutaram no Maha-nakatra por 33 anos e 4 meses. Assim dos 1.200 anos podemos subtrair 21 anos, reatando 1.179 anos. Se deduzirmos esse período dos 4.979 anos que os escritores dos paAjikas dizem ter passado da Kali-yuga, então o saldo é de 3.800 anos.

As pessoas com comportamento semelhante a cisnes podem escrever esses 3.800 anos em seus panjika como sendo o tempo decorrido na Kali-yuga.



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Nas descrições dos principais tirthas das diferentes yugas, está citado que Kuruketra era o tirtha para a Satya-yuga. Kuruketra está situado perto de Brahmavarta. O tirtha da Treta-yuga era Puskara, próximo a Ajmer. Na Dvapara-yuga, o tirtha era NaimiaraAya. O atual nome de NaimiaraAya é Nimkhara ou Nimsara. Ele está localizado a 44 milhas a nordeste de Lucknow na beira do rio Gomati. Na era de Kali o tirtha é o Ganges. Assim como Brahmavarta, Brahmari-desa, Madhya-desa, a antiga e a moderna Aryavarta foi se estabelecendo gradativamente com o decorrer do tempo, e de maneira análoga, os tirthas foram se espalhando de Kuruketra até o Ga‰ga-sagara durante a expansão do país. Conforme o avanço da inteligência das pessoas em uma época particular, aparecem diferentes encarnações nas diferentes eras. Conforme as pessoas avançam em religiosidade, vão gradualmente surgindo os mantras para a sua liberação.

De acordo com a opinião moderna, alguns dos maiores incidentes que ocorreram nos 2.550 anos antes da batalha de Kuruketra foram o sacrifício de Daka, a luta entre os semideuses e os demônios, a batedura do oceano, o banimento dos demônios para Patalaloka, a matança do rei Vena, a condução do Ganges até o oceano, a matança dos Katriyas por Parasurama, a vitória de Ramacandra sobre La‰ka, a jornada do rei Devapi e Maru até a vila de Kalapa e finalmente a batalha de Kuruketra. Além desses incidentes as escrituras relatam inúmeras outras efemérides.

Os acadêmicos modernos acreditam que o sacrifício de Daka ocorreu logo após os arianos terem se estabelecido em Brahmavarta. Esse incidente estranho ocorreu devido ao orgulho que os arianos sentiam por sua casta e sua relutância em estabelecer relacionamento com os nativos locais. Naquela época Bh™tanatha Rudra era o líder dos nativos locais. A maior parte das áreas montanhosas estava sob sua jurisdição. O Butão ou Bh™ta-sthana, Koca-vihara ou Kucni-vihara, e Trivarta, onde está situada a montanha Kailasa, estavam sob o controle de Rudra. Apesar de ser um nativo local, ele era hábil na ciência da medicina, nas artes bélicas e no canto. Ao apreciarem essas suas habilidades, onze reis Rudras, que eram seus representantes, aclamaram que ele era o controlador supremo. Uma personalidade como o rei dos Rudras não poderia tolerar o falso ego dos brâmanes, então ele casou-se com a filha do Prajapati Daka usando o argumento da força e da habilidade política. Daka vivia em Kankhala, perto de Haridvara. Depois que Sati abandonou o corpo, ocorreu uma feroz batalha entre Rudra e os brâmanes. Depois da batalha, foi-lhe dado um quinhão dos sacrifícios e o canto nordeste da arena sacrificial. Depois disso, os arianos fizeram amizade com o poderoso povo das montanhas. Desde então, jamais se descreveu outra disputa entre o povo montanhês e os brâmanes, porque os montanheses respeitaram os brâmanes e o rei dos Rudras passou a ser considerado entre os senhores dos arianos(*).



(*) Depois de narrar as conclusões e descrições dos acadêmicos modernos sobre Sri Rudradeva, desejo humildemente esclarecer aos leitores ivaístas que aceitamos Sri Mahadeva como jagad-guru e uma encarnação do Senhor. Estamos sempre desejosos da sua misericórdia. Através da sua misericórdia irrestrita, alcançamos a devoção a Krsna



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Apesar dos arianos não terem tido mais desavenças com os montanheses, muitas pessoas da sua própria comunidade colocaram obstáculos no caminho da prosperidade. Os descendentes de Kasyapa, que aceitaram os aspectos de serpentes e aves, começaram a residir em vários locais esparsos sob a subordinação dos semideuses. Nessa época os descendentes de Kasyapa que aceitaram o aspecto de aves desenvolveram uma grande hostilidade contra as serpentes. Porém, depois as serpentes tornaram-se mais poderosas e governaram diversos reinos. Gradativamente as aves quase se extinguiram. Do ventre de Diti, a esposa de Kasyapa, nasceram alguns homens formidáveis. Eles foram condenados como demônios. Eles se tornaram inimigos de todas as pessoas boas ao agirem caprichosamente contra os brahmaris. Por fim eles tiveram desavenças com o rei Indra e estabeleceram um reino separado. Essa disputa ficou conhecida como a batalha entre os semideuses e os demônios. Quase todos os demônios viviam em um país conhecido como Panca-nada (o local dos cinco rios). Sakala, Asarara, Narasiˆha e Multan ou Kasyapapura, estavam sob sua jurisdição. É possível que o Prajapati Kasyapa, em cuja família nasceram os demônios e os semideuses, tenha vivido nos países de Panca-nada e Brahmavarta. Os Prajapatis viviam em volta de Brahmavarta. Naquela época Brahmavarta era o centro do reino dos semideuses. Tanto o rio Sarasvati quanto o Dadvati fluíam pelo reino dos semideuses. Brahmavarta é o local que foi fundado pelos semideuses entre os dois rios (*). A palavra deva nesse verso citado no rodapé indica que os semideuses viviam ali. Os semideuses também eram filhos do Prajapati Kasyapa, portanto eles também são aceitos como arianos. Acredita-se que durante a fundação de Brahmavarta, logo após o reinado de Svayambhuva Manu, Indra, o filho de Kasyapa e um hábil administrador, recebeu o título de Rei dos semideuses. As personalidades destacadas que se dedicavam ao trabalho administrativo recebiam diferentes postos como Vayu, Varuna, Agni, Yama e P™a. Mais tarde, quando outros alcançaram esses postos, também ficaram conhecidos como Indra, Candra, Vayu e Varuna. Depois do reinado de Vaivasvata, os semideuses ficaram muito fracos. O seu governo no reino tornou-se apenas nominal. Sempre que haviam sacrifícios, eles eram convidados e prestavam-lhes respeitos. Assim, depois de algum tempo as grandes personalidades de Brahmavarta já não existiam e elas passaram a ser contadas entre os semideuses celestiais. Seus lugares e quinhões nos sacrifícios nesse planeta eram dados a outros brâmanes convidados. Os semideuses então passaram a ser conhecidos como yantras e eram invocados por mantras. Isso também é encontrado no sistema de filosofia de Jaimini, o mimaˆsa. No começo os semideuses eram os governantes, mais tarde eles se tornaram os desfrutadores dos quinhões dos sacrifícios e finalmente foram estabelecidos nas escrituras na forma de mantras. Na época em que os semideuses governavam, os demônios, nascidos da outra esposa de Kasyapa, cobiçaram o reino dos semideuses e criaram inúmeros distúrbios. A primeira batalha entre os semideuses e demônios ocorreu na época de HiraAyakasipu. A batedura do oceano ocorreu logo depois dessa batalha. Durante a batalha entre os semideuses e os demônios, Bhaspati era o ministro de Indra e Sukracarya era o dos demônios. Incapazes de matar HiraAyakasipu, os brâmanes fizeram que o filho do demônio passasse para o lado dos semideuses, com a ajuda de ±aAda e Amarka. HiraAyakasipu foi morto por arranjo da providência. O neto de HiraAyakasipu foi Virocana. Durante o seu reino foi feita uma aliança entre os semideuses e os demônios. Combinando a inteligência dos semideuses com a força e o conhecimento industrial dos demônios ocorreu a batedura do oceano do conhecimento e vários itens excelentes como as opulências científicas e o néctar foram produzidos. Mais tarde, ao discutir-se o conhecimento do eu, o veneno, na forma da renúncia ao trabalho fruitivo e a autodestruição, foram produzidos. Maha Rudra, que conhecia a ciência espiritual, controlou esse veneno pelo poder científico. Os demônios foram iludidos politicamente e não puderam dispor do néctar e por isso ocorreu uma nova batalha. Os asuras foram derrotados nessa batalha e foram obrigados a viver em seu próprio reino por um longo tempo. Enquanto isso, Bhaspati, o mestre espiritual dos semideuses, foi insultado por Indra e foi viver no ostracismo. Nessa conjuntura, sob orientação de Sukracarya, os demônios reiniciaram a guerra. Com a permissão de Brahma, Indra aceitou Visvar™pa, o filho de Tva˜a, como seu sacerdote. Usando várias táticas, Visvar™pa então ajudou os semideuses a derrotar os demônios. Visvar™pa tinha o hábito de tomar vinho, e devido à sua amizade com os asuras ele concebeu um plano para que os asuras capturassem Brahmavarta em troca de um quinhão dos sacrifícios.

Por esse motivo Indra o matou. O pai de Visvar™pa, Tva˜a, ficou irado com Indra e deu início a uma revolta. O seu outro filho, Vtra, juntou-se aos demônios e começou a afligir Indra, e então os semideuses resolveram buscar o apoio de Dadhici. Depois da morte de Dadhici, Visvakarma, com muito trabalho e métodos científicos, criou vajra, ou o raio. Então, Indra matou Vtra com a ajuda desse raio e se tornou um condenado pelo crime de matar um brâmane. Juntamente com os outros brâmanes, Tva˜a exilou Indra por algum tempo. Nessa época Indra foi viver perto do Manasa-sarovara. Os brâmanes discutiram entre si, mas não puderam encontrar um candidato apropriado para o cargo de Indra. Finalmente eles decidiram instalar como rei, Nahua, o neto de Pur™rava. Logo Nahua desenvolveu a tendência de negligenciar os brâmanes, de maneira que os brâmanes reinstalaram Indra como rei e depois enviaram Nahua de volta às suas atividades anteriores. A batalha entre os semideuses e os demônios ocorreu em Kuruketra, perto de Brahmavarta. Não resta dúvidas quanto a isso, porque Indra matou Vtra e foi residir no Manasa-sarovara, que fica a nordeste.(**)¹ Também está provado que Dadhici Muni anteriormente vivia perto de Kuruketra. Algumas pessoas dizem que três pequenas colinas, chamadas Tripi˜apa, ainda podem ser encontradas tanto em Kuruketra quanto ao norte de Brahmavarta.



(*) “A porção de terra fundada pelos semideuses entre os Sarasvati e Dadvati é chamada Brahmavarta.” (Manu-saˆhita 2.17)

(**) “Ó rei, Indra primeiro fugiu para o céu, mas lá ele também viu a mulher que era a personificação do pecado vir castigá-lo. Essa bruxa o seguia aonde quer que ele fosse. Por fim ele foi rapidamente para o nordeste e entrou no lago Manasa-sarovara.” (Bh. 6.13.14)



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Sob a direção de Sukracarya, os demônios foram ficando cada vez mais poderosos e quando os semideuses ficaram incapazes de controlá-los, foram buscar a ajuda de Vamanadeva. Através das táticas de Vamanadeva, os semideuses fizeram com que o rei Bali e seus seguidores fossem expulsos da área de Tripi˜apa. Talvez os asuras tenham resolvido ir viver nas margens do rio Sindhu, no local conhecido como Sindhu(*). Naquela época o local era conhecido como Patala, porque ali viviam os descendentes dos nagas. Elapatra, Takaka e outros indivíduos da dinastia dos nagas residiram nesse país por muitos anos. Depois dos asuras terem vivido lá por muito tempo, eles voltaram a residir em Tripi˜apa. Naquela época foram fundados o lago conhecido como Elapatra e a cidade de Takasila. Os nagas também viveram na província de Kashmir. Descrições elaboradas desse evento podem ser encontradas no Raja-tara‰giAi. O rei Bali estava na quinta geração de Kasyapa. Foi durante o seu reinado que os asuras foram exilados ardilosamente para Patala.



(*) Na época de Alexandre, havia uma cidade denominada Patala perto da foz rio Sindhu. Por favor verifiquem o Atlas do Mr. Butler.



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Os tópicos do rei Vena são um dos temas principais da história dos arianos. O rei Vena pertencia à décima primeira geração de Svayambhuva Manu. Nesse ponto devemos considerar onde Manu e os seus descendentes estavam vivendo. Em algumas partes das escrituras está relatado que Manu residia em Brahmavarta. A cidade de Manu, Barhimati, está situada ao sul de Brahmavarta e a sudoeste de Kuruketra. Os limites de Brahmai-desa ainda não estavam estabelecidos naquela época, portanto os sábios consideram a cidade de Manu como parte de Brahmavarta. Na verdade, a cidade de Manu deve ser considerada como parte de Brahmari-desa, porque está situada a sudeste do rio Sarasvati(*). É descrito que Manu visitou os asramas de inúmeros sábios em ambas as margens do rio Sarasvati ao regressar do asrama do Prajapati Kardama no Bindu-sarovara.



(*)”O lago sagrado chamado Bindu-sarovara foi formado pelas águas do rio Sarasvati e é procurado por legiões de sábios eminentes. Suas águas sagradas não são apenas auspiciosas, mas também doces como néctar.” (Bh. 3.21.39)

”Ao longo do caminho, ele viu a prosperidade dos maravilhosos eremitérios dos sábios pacíficos e ambas as margens encantadoras do rio Sarasvati, o rio era muito agradável às pessoas santas.”

“Felizes ao saberem do seu regresso, os seus súditos vieram de Brahmavarta para recepcioná-lo com canções, preces e instrumentos musicais.”

“A cidade de Barhimati, rica em todo tipo de opulências, era assim chamada porque um fio de cabelo do Senhor Visnu caiu ali quando Ele manifestou a Sua encarnação de javali. Ao sacudir o Seu corpo, esse pêlo caiu e se transformou nas folhas verdejantes das gramas kusa e kaa, e com essas folhas os sábios adoraram o Senhor Visnu depois dEle ter derrotado os demônios que interferiam na execução dos sacrifícios.”

“Manu estendeu um assento feito de folhas de gramas kusa e kasa e adorou o Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, por cuja a graça ele havia obtido o governo de todo o globo terrestre.” (Bh. 3.2.27-31)



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Ele acabou deixando o Sarasvati antes de entrar em sua cidade de Kusakasa. Outra consideração a respeito de Manu é a questão de como ele se tornou um katriya. Os filhos de Brahma foram chamados Prajapatis, eles eram todos brâmanes. Então, por que motivo Svayambhuva Manu aceitou uma posição inferior? Talvez quando os arianos fundaram Brhamavarta deveria haver uma só casta; mas para aumentar a população havia falta de mulheres, então eles pegavam um menino e uma menina de casta desconhecida e, depois de convertê-los em arianos, eles os casavam. Eles foram Svayambhuva Manu e sua esposa Satar™pa. Depois as filhas do casal se casaram com vários sábios e a dinastia dos arianos prosperou. Contudo, era considerado impróprio que os arianos abertamente aceitassem uma noiva de origem não-ariana, os seus pais primeiro foram convertidos em arianos e o pai assumiu o posto de Svayambhuva Manu. Essa era a tática adotada para aceitarem as suas filhas em casamento. Uma vez que os filhos gerados por essas filhas não tinham a mesma posição dos arianos puros, eles eram chamados katrus. Um katru é aquele que é capaz de livrar alguém da kata, ou injúria. Essa é a explicação encontrada no comentário do Raghuvaˆsa feito por Mallinatha. Apesar dos arianos aceitarem Manu e os seus descendentes como membros de sua comunidade, no entanto, com o desejo de mantê-los separados dos arianos originais que estabeleceram Brahmavarta, os arianos permaneceram com a posição de brâmanes e empregaram os membros das famílias ktriyas para protegê-los. Os semideuses residiram no flanco noroeste de Brahmavarta como protetores dos asuras, que naquela época estavam vivendo em Panca-nada. Os ris costumavam viver nas margens do Sarasvati. Manu e seus descendentes residiam na margem sudoeste desse rio, em um local chamado DakiAatya. Eles protegiam os brâmanes das castas incivilizadas. Os reis terrenos estavam sob o controle dos reis celestiais. O semideus Indra era o imperador de todos. O local onde os semideuses residiam era chamado Tripi˜apa, ou o local onde havia três colinas. Sobre o flanco norte do pico dessas colinas ficava o palácio de Indra. Esse palácio era protegido em cada um dos oito quadrantes pelos dikpalas. Não irei explicar a opinião moderna sobre isso temendo aumentar demais o tamanho do livro. Porém, não posso me furtar de mencionar mais uma coisa a esse respeito. Os filhos de Kasyapa, que estava na quarta geração de Brahma, fundaram o reino dos semideuses. De Brahma até Kasyapa houveram dois reinos: o dos Manus e os dos Prajapatis. O reino dos semideuses foi fundado mais tarde. Quando o reino dos semideuses se tornou poderoso, então começaram as batalhas entre eles e os demônios. Conforme o reino dos semideuses ia enfraquecendo, o reino de Manu ia ficando mais poderoso. Conforme o reino de Vaivasvata Manu ia ficando mais poderoso o reino de Svayambhuva Manu ia declinando seu poder. Vaivasvata Manu era filho de Surya. Mas os compiladores das escrituras têm diferentes opiniões a respeito do nome da sua mãe. Talvez ele tenha sido um filho adotivo, ou talvez tenha nascido não-ariano. É por isso que ele não podia ser aceito como brâmane, como seus irmãos. Ele foi aceito como um katriya, como Svayambhuva Manu. Não há necessidade de discutirmos mais a opinião moderna sobre esse assunto. Quando o rei Vena viu que os semideuses estavam se enfraquecendo, ele tentou dispersá-los(*). Então, os brâmanes, que eram os líderes dos semideuses, o mataram. Depois de massagearem as suas mãos, eles encontraram uma grande personalidade chamada Pthu e uma mulher chamada Arci em cada lado do seu corpo e depois eles confiaram a Pthu o governo do reino. Durante o reinado de Pthu foram fundadas vilas, desenvolveram-se fazendas, plantaram-se jardins e inúmeras outras instalações materiais(**).



(*) No Srimad Bhagavatam (4.12.48) o rei Vena disse:

“Ofereçam-me toda a parafernália. Se vocês forem inteligentes, devem saber que não existe personalidade superior a mim, que possa aceitar a primeira oblação de todos os sacrifícios.”

(**) “Antes do reinado do rei Pthu não havia planejamento para as diversas cidades, vilas, campos de pastagens, etc. Tudo era disperso e cada um construía o seu recanto residencial de acordo com a sua própria conveniência. No entanto, desde o tempo do rei Pthu têm sido feitos planos para as vilas e aldeias.” (Bh. 4.18.32)



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Se aceitarmos a opinião moderna a respeito do Ganges, então pode-se dizer que o rei Bhagiratha da dinastia de Surya realizou uma grande obra ao difundir as glórias do Ganges até o oceano e ampliando assim a extensão da área de Aryavarta. Naquela época Aryavarta se estendia apenas até Mithila, e a dinastia de Manu estava praticamente extinta. Os reinos das dinastias Surya e Rudra eram bastante poderosos naquela época, e eles tinham uma aliança que nenhum tipo de obra poderia ser feita na Índia sem seu consentimento. Quando os filhos do rei Sagara foram amaldiçoados a morrer perto do oceano, isso criou uma má fama para a dinastia de Surya, para poder desfazer essa má fama, o rei Bhagiratha adorou Brahma, o líder dos semideuses e Siva o rei dos Rudras e assim recebeu permissão para incrementar a prosperidade de Aryavarta. Bhagiratha então uniu o Ganges ao oceano. No início o rio Sarasvati era apenas um rio sagrado. À medida que as áreas em volta do Yamuna foram ficando povoadas pelos arianos, as glórias do Yamuna também começaram a ser difundidas. Então, durante a época de Bhagiratha, o Ganges se tornou célebre como o mais sagrado de todos os rios.

Algum tempo após esse incidente houve uma grande discórdia entre os brâmanes e os katriyas. Durante esse período os arianos e os katriyas tornaram-se mais desrespeitosos quando notaram que o reino dos semideuses, Brahmavarta, estava se enfraquecendo. Eles chegaram até a matar alguns dos ris mais proeminentes. Quando os brâmanes foram incapazes de tolerar esses incidentes, eles designaram Parasurama como seu general e começaram a retaliar. Kataviryarjuna da dinastia Haihaya reuniu inúmeros katriyas e declarou guerra contra os brâmanes. Kartavirya foi morto pelo insuperável machado de Parasurama. Kartaviryarjuna governou a cidade de Mahimati, às margens do rio Narmada. Ele era tão poderoso que os não-arianos de DakiAatya viviam com medo dele. O rei RavaAa de La‰ka não se atrevia a vir para Aryavarta por temer Kataviryarjuna. No entanto, os brâmanes não estavam satisfeitos com a morte de Kartavirya. Eles passaram a lutar contra os reis das dinastias Surya e Candra. Dizem que Parasurama eliminou do mundo todos os katriyas vinte e uma vezes e depois disso deu o mundo para Kasyapa governar. O significado disso é que o reinado dos semideuses de Brahmavarta caiu nas mãos dos brâmanes da dinastia de Kasyapa. Quando a dinastia de Kasyapa estava praticamente em colapso e inúmeros reis estavam reinando, Parasurama restabeleceu o reinado para a dinastia de Kasyapa. No entanto os acadêmicos eruditos da atualidade, consideram que os brâmanes não eram mais capazes de governar o reino, e portanto os katriyas passaram a administrá-lo. Proeminentes rei brâmanes e katriyas tiveram diversos encontros, onde passaram a compilar as escrituras de Manu. Mais tarde iremos discutir se essas escrituras de Manu ainda estão em vigência ou não. Brahmavarta ou o reino dos semideuses, já não era respeitado pelas pessoas locais. Os semideuses só eram respeitados durante os sacrifícios. Isso também foi simplificado na forma de nomes e mantras. As verdadeiras comunidades de brâmanes passaram a ser muito respeitadas. Dessa maneira, apesar de brâmanes e katriyas terem formalizado uma aliança, Parasurama lutou novamente com os katriyas com intuito de capturar o reino. No RamayaAa está descrito que Parasurama foi lutar contra Ramacandra, mas foi derrotado e exilado para as montanhas Mahendra, perto de Kanya-kumari. Os brâmanes auxiliaram Ramacandra a alcançar essa vitória e por esse motivo Parasurama passou a ter rancor contra os brâmanes e criou alguns tipos de brâmanes no Sul. Inúmeros brâmanes do Sul admitem que eles se tornaram brâmanes através de Parasurama. Os brâmanes que viveram com Parasurama na província de Malabara pregavam as escrituras arianas pela Dakinatya. Foi assim que a astrologia de Kerala e outras ciências foram introduzidas no Sul. Os descendentes daqueles brâmanes ainda existem até hoje e são conhecidos como sarasvata-brahmaAas.

Imediatamente após esse incidente, ocorreu a batalha entre RavaAa e Rama. RavaAa, o rei de La‰ka, era muito poderoso naquela época. Um ri da dinastia de Pulastya saiu de Brahmavarta e foi residir na ilha de La‰ka por algum tempo. A dinastia de RavaAa começou depois que esse ri se casou com uma moça da dinastia Raka. Portanto, podemos dizer que RavaAa era meio Raka e meio ariano. Devido ao seu poder, o rei RavaAa foi conquistando inúmeras províncias do sul da Índia. O seu reino acabou se estendendo até as margens do rio Godavari, onde ele destacou dois comandantes — Khara e D™aAa — para guardar a fronteira. Quando Rama e LakmaAa fizeram uma cabana às margens do Godavari, RavaAa pensou que os descendentes da dinastia Surya estavam erigindo um forte na fronteira para poder atacar o seu reino. Tendo isso em conta, o rei RavaAa seqüestrou Sita, com a ajuda de Marica, o filho de Taraka, que era um residente de Bakasara. Ramacrandra foi buscar o auxílio dos habitantes de DakiAatya e de KiskiAda para poder localizar Sita. Valmiki era um poeta ariano que tinha a tendência natural de criticar as pessoas de DakiAatya e por isso ele descreveu os grandes heróis e amigos de Rama de maneira cômica. Ele descreveu alguns deles como macacos, outras como ursos e outras como rakasas. Ele chegou a descrevê-los como possuidores de rabos e corpo coberto de pelos. De qualquer maneira, durante a época de Ramacandra, foi plantada a semente da amizade entre os arianos e os habitantes de DakiAatya. Não há dúvida quanto a isso. Essa semente mais tarde se transformou em uma grande árvore, que deu excelentes frutos. Caso contrário, as pessoas de KarAata, Dravida, Mahara˜ra e Mysore não seriam reconhecidas como hindus. Ramacandra aceitou a ajuda dos habitantes desses países para conquistar La‰ka e resgatar Sita.

Os acadêmicos modernos também concluíram que a batalha entre os Kauravas e os PaAdavas ocorreu 775 anos depois da vitória de Ramacandra sobre La‰ka. Durante esse período não houveram maiores incidentes a não ser a expansão gradativa do reinado ariano.



Os katriyas arianos viviam na província de Vidarbha, ou Nagpur, e acabou ficando conhecida como Mahara˜ra. Durante essa época os descendentes de Yadu estenderam o seu reino do Sauvira no Sindhu até Mahimati Chedi no Narmada e até Mathura no Yamuna. Durante esse período os descendentes da dinastia Surya ficaram extremamente fracos. O rei Maru da dinastia Surya e o rei Devapi da dinastia Candra haviam abandonado seus reinos e foram viver na vila de Kalapa, perto de Badarikasrama. A industrialização avançou e gradativamente a posição das cidades e vilas foi se destacando, a língua dos arianos era refinada, foram instalados muitos locais sagrados em províncias não-arianas e Hastinapura foi fundada pelo rei Hasti nas margens do Ganges(*). Com a permissão dos semideuses, o rei Kuru estabeleceu um local sagrado conhecido como Kuruketra no país de Brahmasi.



(*) “Mesmo atualmente a cidade de Hastinapura é visivelmente elevada no lado sul, junto ao Ganges, exibindo os sinais do poder do Senhor Balarama.” (Bh. 10.68.54)



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A batalha entre os Kurus e os PaAdavas foi um grande incidente porque diversos reis da Índia ali se digladiaram alcançando o céu depois da batalha. Todos os incidentes dessa batalha são temas das conversas cotidianas entre os indianos, e não há necessidade de fazermos aqui uma descrição detalhada desses eventos. Só é preciso salientar que Jarasandha, o rei de Magadha, foi morto por Bhima um pouco antes da batalha. O reinado de Magadha foi crescendo em poder gradualmente. Jarasandha tentou até ofuscar o prestígio de Hastinapura para incrementar o prestígio de Magadha. Apesar de inúmeros reis da linhagem familiar de Parikit terem governado um reino nas proximidades do Ganges e do Yamuna, o seu reino estava sob a jurisdição do rei de Magadha. Isso fica claro porque apenas os nomes dos reis de Magadha subsequentes são destacados nos PuraAas.

Agora devemos determinar quando ocorreu a batalha de Kuruketra. O Maharaja Parikit nasceu logo depois dessa batalha. Do nascimento de Parikit até a coroação de Nadivardhana (o quinto dos reis Pradyotana) passaram-se 1.115 anos(*). Conningham e outros autores dizem que a palavra nandabhieka se refere ao primeiro dos nove Nandas. Porém, apesar do respeitável Sridhara Svami também aceitar isso, ele diz que o número é irrelevante. Portanto não tememos aceitar que esse Nanda é Nandivardhana. Além do mais, no Nono Canto do Srimad Bhagavatam está declarado que 20 reis da dinastia de Bhadratha, começando de Marjari até Ripunjaya, deveriam governar por 1.000 anos(**). Os nomes desses 20 reis também estão no Décimo segundo Canto do Srimad Bhagavatam. Depois disso governarão cinco reis Pradyotana por 138 anos e dez reis Sisunaga por 360 anos e nove reis Nandas governarão por 100 anos. Então se considerarmos o primeiro dos nove Nandas, serão 1500 anos; mas se deduzirmos 23 anos do reinado de Nandivardhana, então chegaremos ao número correto de 1.115 anos. E novamente(***), o Srimad Bhagavatam declara que durante o reinado de Parikit a constelação dos sete sábios se refugiará no nakatra chamado Magha.



(*) “Do seu nascimento até a coroação do rei Nanda irão passar 1.115 anos.” (Bh. 12.2.26)

(**) “Todas essas personalidades irão pertencer à dinastia de Bhadratha, que governará o mundo por 1.000 anos.” (Bh. 9.22.49)

(***) “Das sete estrelas que formam a constelação dos sete sábios, Pulaha e Kratu são as primeiras a surgir no céu noturno. Se traçarmos uma linha de norte a sul passando pelo meio delas, toda a casa lunar em que essa linha passar será considerada como o asterismo governante da constelação para aquele período. Atualmente, durante o seu período de vida, os Sete Sábios estão situados no nakatra chamado Magha e estarão nessa mansão lunar por cem anos humanos.”(Bh. 12.2.27-28)

“Quando a constelação dos sete sábios está passando pela casa lunar de Magha, a era de Kali se inicia. Ela perfaz 1.200 anos dos semideuses. Quando os grande sábios da constelação de Saptai passar de Magha para P™rvasadha, Kali estará com plena força, a partir do rei Nanda e sua dinastia. (Bh. 12.2.31-32)



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Quando essa constelação dos sete ris atravessar os nakatras desde Magha até Jyai˜ha, a era de Kali estará com 1.200 anos de idade. Se essa constelação permanece 1.200 anos em nove nakatras, então a duração de cada nakatra é 133 anos e 4 meses. Quando a constelação dos sete sábios passa para o P™rvaadha-nakatra, virá outro Nanda; então a constelação dos sete sábios deverá ter viajado através de onze nakatras, um adicional de 14 anos. Se acrescentarmos 360 anos — a duração do reinado dos dez Siunagas — aos 1.138 anos até o fim do reinado de Nandivardhana, então o total se eleva a 1.498 anos. Uma vez que a duração dos reinados é igual à duração do movimento da constelação dos sete sábios, isso confirma as declarações anteriores. Ao ouvir a declaração que os ris irão permanecer no Magha-nakatra por 100 anos, muitas pessoas poderão pensar que os ris ficarão 100 anos em cada nakatra. Mas os ris deveriam ficar no Magha-nakatra por 100 anos na época em que Sukadeva estava falando com Parikit. Se aceitarmos que antes de Sukadeva falar com Parikit os ris já estavam no Magha-nakatra há 33 anos e 4 meses, então não resta dúvida. Portanto é correto dizer que desde a coroação de Nandivardhana passaram-se 1.115 anos. Depois do seu governo, durante o reinado dos outros Nandas, Kali se tornou extremamente proeminente. Isso também é confirmado através da observação prática. Depois da quinta geração Jataatru tornou-se rei. Durante o seu reinado, Sakyasiˆha pregou o budismo, na forma do conhecimento de auto-realização desprovido da concepção do Infalível (Deus) (*). Os Nandas comportavam-se como vaqueiros e tinham inveja dos princípios religiosos eternos. Asokavardhana propagou ainda mais o budismo. Gradualmente várias castas como os Sundhas reinaram e criaram inúmeros obstáculos no caminho da religião. A duração total até o fim do reinado dos nove Nandas foi de 1.598 anos. CaAakya Pandita matou o último dos Nandas e deu o reino para os reis da dinastia Maurya. De acordo com algumas opiniões, o rei Dasaratha, e de acordo com outras, Candragupta foi o primeiro rei da dinastia Maurya. Durante a época de Candragupta, as pessoas da Grécia visitaram a Índia, primeiro com Alexandre e depois com Seleucus. De acordo com as opiniões da literatura grega, das nove grandes dinastias de Siˆhala, e com a história budista de Brahma-desa, Candragupta assumiu o trono 215 anos antes de Cristo. Por esses cálculos pode-se compreender que a batalha de Kuruketra ocorreu a 3.791 anos. O Dr. Bentley calculou a posição das estrelas mencionadas no Mahabharata e decidiu que a batalha de Kuruketra ocorreu 1.824 anos antes de Cristo. Quando comparamos os seus cálculos com os meus há uma diferença de 89 anos. Ou Bentley equivocou-se ou os 1.000 anos de duração do reinado dos Barhadrathas foi um aproximação de onde teremos que deduzir 89 anos. Os futuros eruditos de comportamento de cisnes poderão determinar o quadro correto depois da devida pesquisa.



(*) “Conhecimento de auto-realização, mesmo completamente livre de toda afinidade material, não parece muito bem se desprovido de uma concepção do Infalível (Deus). Qual então a finalidade das atividades fruitivas, que são naturalmente árduas desde o início e passageiras por natureza, se elas não forem utilizadas para o serviço devocional ao Senhor?” (Bh. 1.5.12)

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Os Mauryas reinaram por dez gerações. O Srimad Bhagavatam diz que a duração total do seu reinado foi de 137 anos. Asokavardhana foi o Maurya mais poderoso. Primeiro ele era ariano e depois se converteu ao budismo. Ele então estabeleceu inúmeros sustentáculos budistas em toda a Índia. Durante o seu reinado, oito reis yavanas tais como Diodotos, Demetrios e Euricratides conquistaram uma parte da Índia na porção oeste do rio Sindhu. Não foi estabelecido em que dinastia nasceram os reis Mauryas(*). Talvez ele tenham nascido na dinastia dos May™ras, que residiam perto da montanha Rohita na margem ocidental do rio Vitasta. Na verdade, eles pertenciam a algumas das quatro castas padrão. A maneira como eles se relacionavam com os yavanas sugere que eles deveriam pertencer a uma insignificante classe da casta Saka. Também é conhecido que antes da chegada dos yavanas, os Mauryas estabeleceram o seu reino em May™rapura ou Haridvara e se consideravam arianos. O nome Maurya veio de May™rapura. Um pouco antes do governo dos Mauryas, os nove Nandas viveram na porção ocidental do rio Sindhu, em um local denominado Avabtya, ou Arabai˜a. Talvez os Nandas se assemelhassem a vaqueiros, porque no Srimad Bhagavatam eles são chamados de Vala. E também, os sete reis subordinados são descritos como Abhiras, ou vaqueiros.



(*) Na descrição da conquista do PaAca-nada por Nakula no Mahabharata (Sabha-parva 32.4), está declarado:

“Depois disso, Nakula chegou ao distrito em torno da maravilhosa montanha Rohita, que é querido de Karttikeya. Ali Nakula lutou com grandes reis katriyas como Mattamay™ra.”



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Quanto ao reinado de Maghada, as dinastias Sundha tomaram o trono logo após o governo dos Mauryas. Eles então governaram por 112 anos. Entre eles, Pupamitra e depois Agnimitra estenderam seu domínio de Magadha até Panca-nada. Para poder fazer amizade tática com os arianos, eles começaram a perseguir os budistas da cidade de Sakala, da província de Madra. Eles declararam que quem trouxesse a cabeça de um sannyasi budista receberia a recompensa de cem moedas. Depois deles, os reis da dinastia de Kanva governaram Magadha. Quatro reis da dinastia de Kanva governaram Magadha por um total de 45 anos. A duração do seu governo está descrita no Srimad Bhagavatam com sendo de 345 anos, mas o Visnu PuraAa diz que Vasudeva reinou 9 anos, Bh™mimitra por 14 anos, NarayaAa por 12 anos e Susarma por 10 anos. Isso pode fazer parecer que a declaração do Srimad Bhagavatam está incorreta. Infelizmente, Sridhara Svami também aceitou essa declaração incorreta. De qualquer maneira, vamos aceitar que na opinião do autor do Bhagavatam a duração foi 45 de anos. Depois da dinastia de Kanva, a dinastia de Andhra governou Magadha por 456 anos. O último rei dessa dinastia foi Salomadhi. O reinado da dinastia Andhra terminou no ano 435 da era cristã.

Entre esses reis não-arianos, nenhum deles pode ser considerado imperador. Apenas o reino de Asokavardhana era particularmente grande. Não resta dúvida que os Sundhas e os Kanvas eram uma espécie de saqueadores da província de Sidhia. Os vários tipos de moedas que foram encontradas em escavações de locais como Kabul, Punjab e do Indostão estão cunhadas com os emblemas de yavanas gregos e várias castas da província Sidhia. Moedas cunhadas com os nomes de Havika, Kanika e Vasudeva foram encontradas na província de Mathura. Isso faz acreditar que esses reis governaram Mathura por algum tempo. Na época dos reis citados foi introduzido um calendário conhecido como Samvat. Depois disso, o rei Vikramaditya derrotou os Sakas e por essa proeza ele ficou conhecido como Sakari, ou inimigo dos ±akas, e às vezes dizem que ele introduziu o calendário Samvat. No entanto, é difícil acreditar nisso, porque os escritores dos PuraAas mencionam nomes de reis que reinaram nos primeiros quinhentos anos do calendário Samvat, mas não incluem o nome de Vikramaditya. Se Vikramaditya, o rei de Ujjain, tivesse realmente governado naquela época, os escritores dos PuraAas certamente o teriam glorificado. Portanto, deve-se supor que houveram inúmeros reis com o nome de Vikramaditya. O Vikramaditya que governou Ujjain tornou-se rei no ano de 592 depois de Cristo. No primeiro século depois de Cristo na cidade de Sravasti havia um Vikramaditya que era inimigo dos budistas. O rei Salibahana era um rei respeitável de DakiAatya. O calendário Sakabda, que ele introduziu, foi amplamente aceito no Sul. Está declarado que no ano 78 da era cristã, o rei Salibahana perseguiu os Sakas e fundou uma cidade chamada Salibahanapura na província do Punjab. E também está descrito que Salibahana tinha a sua capital em um local conhecido como Pa˜hana nas margens do rio Narmada. Portanto, a verdadeira história desses dois reis (Salibahana e Vikramaditya) ainda não está clara.

Nimicakra apareceu seis gerações depois do rei Parikit. Ele deixou Hastinapura e foi residir em Kusambi, ou Kauikipuri. A dinastia Pandu continuou até o rei Kemaka, que pertencia à vigésima segunda geração de Nimicakra.

A dinastia Surya acabou com o rei Dola‰gula Sumitra, que apareceu na vigésima oitava geração depois do rei Bhadbala. Portanto, tanto a dinastia Candra quanto a Surya terminaram depois do reinado de Nandivardhana. Os reis que se tornaram proeminentes depois disso, tais como os Nandas, eram todos sem casta. Depois disso, os reis da província de Taila‰ga em Andhra conquistaram e governaram Magadha. Parece que eles eram da dinastia Chola, porque quando os reis de Andhra governaram Magadha, os reis Chola estavam reinado na cidade de Vara‰gala em Andhra. É muito difícil confirmar se os reis Chola era arianos ou não, mas devido ao seu comportamento e ausência de qualquer relacionamento com as dinastias Surya e Candra, presume-se que eles seriam sem casta. Os reis Chola eram originários da cidade de Kancinagara, na província de Dravida. Eles expandiram gradualmente o seu reino até as margens do Ganges. Quando Parasurama viveu no Sul, ele estabeleceu novas comunidades brâmanes e katriyas, inclusive os Cholas. De qualquer maneira, os reis da dinastia Andhra estão mencionados nos PuraAas.

Nos 772 anos, de 435 a 1206 depois de Cristo, quando começou o domínio muçulmano, nenhum imperador governou a Índia inteira. Durante essa época inúmeros pequenos reis governaram diferentes províncias da Índia. Inúmeros arianos e pessoas de casta mista se tornaram muito poderosas em Kanyakubja, Kashimir, Gujarat, Kalinjara e Gauda. Os Rajaputs de Kanyakubja e os Palas de Gauda-desa se tornaram igualmente poderosos. Os reis da dinastia Pala reinaram aceitando o título de Cakravarti. Durante essa época o rei Vikramaditya de Ujjain estudou inúmeras ciências. Haravardhana e Visaladeva também eram muito poderosos. Não estou escrevendo a história dessas dinastias, porque esse livro se tornaria muito volumoso. Portanto, vou parar por aqui. Para resumir, os reis Rajaputs que acabaram sucedendo os reis das dinastias Candra e Surya foram mais ou menos recentes. Os escritores dos PuraAas não os glorificaram muito(*).



(*) “Nessa época os brâmanes irão esquecer todos os seus princípios regulativos e os membros da ordem real não serão melhores do que s™dras. A terra junto ao rio Sindhu, bem como os distritos de Candrabhaga, Kaunti e Kasmira serão governados por s™dras, brâmanes caídos e comedores de carne. Tendo abandonado o caminho da civilização védica, eles terão perdido todo poder espiritual. Nessa mesma época, Ó rei Parikit, existirão inúmeros reis incivilizados governando ao mesmo tempo.” (Bh. 12.1.36-38)



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Os muçulmanos governaram a Índia de 1206 a 1757 da era cristã, quando foram derrotados pelos ingleses. Durante o governo muçulmano a Índia caiu na inauspiciosidade. Templos foram destruídos, o sangue ariano foi poluído de inúmeras maneiras, o padrão do varAasrama-dharma diminuiu e as discussões sobre a antiga história ariana praticamente terminaram.

No momento, sob o governo inglês, os arianos estão vivendo mais pacífica e prosperamente. A história védica e as glórias dos arianos estão começando a ser discutidas novamente. Já não há medo de que os templos sejam destruídos. Em suma, nos livramos de uma grande calamidade.

Os incidentes que mencionei e que estão sendo considerados pelos eruditos modernos, que dividiram a história da Índia em oito períodos, estão ilustrados na tabela abaixo:



dinastia dominante significado do nome anos de duração data de início



1. Prajapratis reinado dos sábios 50 4463 AC

2. Manus reinado de Svayambhuva

Manu e seus descendentes 50 4413

3. Semideuses reinado de Indra e outros 100 4363

4. Vaivasvata reinado de Vaivasvata e

seus descendentes 3465 4263

5. Sem castas Abhiras, Sakas,

Yavanas, Khasas e

Andhras 1233 798

6. Vratya reinado de novas

castas arianas 771 435 DC

7. Muçulmanos reinado dos Patans e

Moguls 551 1206

8. Britânicos governo britânico (*) 121 1757



(*) Srila Bhaktivinoda escreveu esse livro em 1888. Nessa época o domínio inglês na Índia estava completando 121 anos. A Índia se tornou independente em 26 de janeiro de 1950, portanto os britânicos governaram a Índia por 183 anos. Hoje a Índia é uma república independente.



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Dei apenas alguns indícios sobre o governo da Índia de acordo com os cálculos modernos. Agora vou apresentar a opinião moderna sobre as escrituras compiladas pelos arianos. Durante o reinado dos Prajapratis, não haviam escrituras; havia apenas algumas palavras elogiosas. No início de tudo o praAava se manifestou. A escrita ainda não havia sido introduzida. Só havia uma sílaba com anusvara acrescida a ela (oˆ). Quando começou o reinado de Manu, foram introduzidas outras sílabas como tat sat. Durante o reinado dos semideuses, os antigos mantras foram compostos juntando pequenas palavras. A realização de sacrifícios começou nessa época. Gradativamente foi aparecendo a poesia métrica antiga como o Gayatri. Cakua Manu apareceu na oitava geração de Svayambhuva Manu. Dizem que o Senhor Matsya apareceu durante o seu reinado e liberou os Vedas. Talvez durante esse período inúmeras poesias métricas e versos dos Vedas foram compostos, mas tudo na forma de vibração sonora, nada escrito. Eles eram transmitidos pela audição. Depois o Veda permaneceu sem estar escrito por um grande período e o número de versos foi aumentando, até ficar difícil de ser memorizado. Nessa época os sábios, liderados por Katyayana e Asalayana, resolveram tornar a memorização dos s™tras do Veda mais fácil fazendo uma composição. No entanto, inúmeros outros mantras foram compostos depois disso. Quando o Veda ficou muito extenso, então Vyasadeva resolveu dividir o Veda em quatro e o escreveu na forma de livro(*). Isso ocorreu pouco tempo antes do reinado do rei Yudhi˜hira. Os discípulos de Vyasadeva então dividiram esses livros entre si(**). Os ris que eram discípulos de Vyasadeva, então dividiram os quatro Vedas em diferentes subdivisões para que as pessoas pudessem estudá-los mais facilmente(***). Agora devemos compreender que o ¬g, Sama e Yajur Vedas são os mais difusamente respeitados e citados(****). Parece que todos os versos antigos foram reunidos nesses três Vedas. Todavia, não podemos negligenciar o Atharva Veda por ser considerado moderno, porque o seguinte verso é encontrado no Bhad-araAyaka Upaniad (4.5.11): “O ¬g, Yajur, Sama e Atharva Veda, os Itihasas ou histórias, os PuraAas, Upaniads, os slokas ou mantras cantados pelos brâmanes, os s™tras ou coletâneas de declarações védicas, bem como vidya ou conhecimento transcendental e as explicações dos s™tras e dos mantras, são todos emanações da respiração da grande Personalidade de Deus.” O Bhad-araAyaka não pode ser considerado moderno porque foi composto antes dos escritos de Vyasadeva.



(*) “Vimos que os sacrifícios mencionados nos Vedas eram meios pelos quais as ocupações das pessoas poderiam se purificar. E para simplificar o processo ele dividiu o único Veda em quatro, para poder divulgá-lo entre os homens. As quatro divisões das fontes de conhecimento originais (os Vedas) foram feitas separadamente.”(Bh. 1.4.19-20)

(**) “Depois dos Vedas terem sido divididos em quatro divisões, Paila ¬i se tornou o mestre do ¬g Veda, Jaimini o mestre do Sama Veda e Vaisampayana isoladamente tornou-se glorificado pelo Yajur Veda.” (Bh. 1.4.21-22)

(***) “Dessa maneira o grande sábio Vyasadeva, que é muito bondoso com as massas ignorantes, editou os Vedas para que eles pudessem ser assimilados pelas pessoas menos intelectuais.”(Bh. 1.4.24)

(****) “Os mantras do ¬g, Sama e Yajur Veda emanaram do Senhor Supremo.”(MaAduka Upaniad)



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No verso citado anteriormente há uma descrição das histórias e dos PuraAas como sendo literaturas védicas que contêm temas ancestrais similares aos encontrados nos Vedas. Todos os argumentos que Jaimini ¬i apresentou para poder estabelecer os Vedas como eternos são para o benefício dos neófitos. As pessoas com o comportamento semelhante a cisnes devem aceitar os significados semelhantes a cisnes dos ensinamentos de Jaimini. O significado dos seus ensinamentos é o seguinte: Todas as verdades reveladas são relatadas pelo Senhor Supremo, portanto elas são eternas. Aqueles que descrevem as verdades védicas como temporárias por citar exemplos de kika˜a, naicasaka e prama‰gda não desejam compreender essas verdades. Essa é a conclusão de Jaimini.

Agora irei estabelecer a data em que foram escritos os smti-sastras de acordo com a opinião dos acadêmicos modernos. O Manu-saˆhita é o primeiro e o mais importante de todos os smtis. Não há evidência de que o Manu-saˆhita tenha sido escrito durante o reinado de Manu. Quando ¤anu se tornou um governante proeminente, os Prajapatis aceitaram seu governo e foram viver em uma cidade chamada Barhimati, fora de Brahmavarta, para que seus filhos pudessem continuar sendo uma classe separada. Dessa época em diante os Prajapatis passaram a se chamar brahmaAas e aceitaram os Manus como katriyas. Foi dessa maneira que se introduziram outras castas além dos brâmanes. Manu também teve o devido respeito para com os brâmanes e providenciou que houvessem diferentes deveres ocupacionais para as diferentes castas com a ajuda de ris como Bghu. Os ris aprovaram as providências de Manu. No entanto, na ocasião os diferentes deveres ocupacionais não foram escritos. Mais tarde, quando os brâmanes e os katriyas lutaram entre si, Parasurama designou alguém da dinastia de Bhgu, que conhecia esses deveres estabelecidos por Manu, para escrever tudo na forma de versos. Os deveres apropriados para os vaisyas e s™dras também foram incluídos. Cerca de 600 anos depois da batalha de Kuruketra as atuais escrituras de Manu foram escritas com a assistência de outro Parasurama, cuja posição era semelhante ao do Parasurama original. Esse Parasurama mais recente apareceu na dinastia dos arianos e viveu em uma província sulista. Há um calendário que se inicia na época do seu nascimento e ainda é usado nessa província. Esse calendário inicia em 1176 antes de Cristo. Baseado nesse calendário, o respeitável Prasanna Kumar Thakura escreveu na introdução do seu livro, Vivada-cintamaAi, que as escrituras dos Manus foram compiladas pela primeira vez naquela época. No entanto, isto está errado porque encontramos referências às escrituras de Manu no Chandogya-sruti(*). O Parasurama original foi um contemporâneo de Ramacandra. Não há dúvida que nessa época os brâmanes e katriyas fizeram uma aliança depois de estabelecerem o sistema de varAasrama. Mas nas escrituras dos Manus está declarado que os dois oceanos são os limites de Aryavarta, e há referências de algumas castas como a cina, que existia no reino de Manu. Portanto, deve-se concluir que essas literaturas foram ampliadas em uma data posterior. A conclusão é que a compilação das escrituras atribuídas a Manu começaram na época de Manu e continuaram a ser escritas até cerca de 1176 antes de Cristo. Outras escrituras religiosas foram escritas em vários outros países antes e depois dessa época.



(*)”Tudo o que Manu disse tem a sua aplicação prática.”(Chandogya).



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Apesar do RamayaAa ser considerado um poema, ele também pode ser considerado história. Ele foi escrito por Valmiki Ri, que era contemporâneo de Ramacandra. Não acreditamos que o RamayaAa atual tenha sido escrito apenas por Valmiki. Considerando o diálogo entre Narada e Valmiki e a recitação do RamayaAa na assembléia de Ramacandra por Lava e Kusa, fica claro que Valmiki compôs inúmeros versos do RamayaAa glorificando as características de Ramacandra, mas depois de algum tempo algum outro erudito deve ter acrescentado muita coisa na obra de Valmiki. Creio que atualmente o RamayaAa deve ter se propagado depois da composição do Mahabharata, porque ao castigar Jabali, Ramacandra o acusa de estar poluindo a filosofia Sakya(*). Presume-se que o RamayaAa atual tenha sido escrito por volta de 500 da era cristã. Dizem que o Mahabharata foi composto por Vyasadeva, e não há objeção quanto a isso; mas não se pode dizer que o autor do Mahabharata tenha sido o mesmo Vyasa que dividiu os Vedas e que recebeu o título de Vedavyasa durante o reinado de Yudhi˜hira. O motivo disso é que no Mahabharata há descrições de reis como Janmejaya, que reinou depois de Yudhi˜hira. No Mahabharata há referências específicas sobre as escrituras de Manu, portanto o atual Mahabharata deve ter sido escrito por volta de 1000 depois de Cristo(**). Isso sugere que primeiro Vedavyasa fez um esboço do Mahabharata e que mais tarde outro Vyasa o elaborou na forma atual dando o título de Mahabharata. Um acadêmico erudito da comunidade s™dra chamado LomaharaAa recitou o Mahabharata diante dos sábios em NaimiaraAya. Talvez ele tenha criado o atual Mahabharata, porque durante sua época os 2.400 versos originais que foram escritos por Vyasa foram expandidos para 100.000 versos. Agora precisamos considerar quando foi que LomaharaAa viveu. Está escrito que ele foi morto por Baladeva. Esse incidente deixa claro que se alguém se torna um devoto erudito, deve ser respeitado como sendo um brâmane, mesmo que tenha nascido como s™dra. A comunidade vaisnava daquela época criou esse incidente para poder confirmar essa afirmativa. Na verdade a assembléia de NaimiaraAya ocorreu muito tempo depois de Baladeva. O LomaharaAa que dizem ter sido discípulo de Vyasa não deve sequer ter sido o orador daquela assembléia. Talvez o LomaharaAa discípulo de Vyasadeva, tenha sido morto enquanto falava alguma narrativa védica durante a época do Baladeva. Mais tarde, mesmo depois do diálogo entre Janmejaya e Vaisampayana, uma pessoa chamada Sauti recitou o Mahabharata. No curso do tempo os incidentes anteriores estão relacionados com essa recitação. Uma vez que não há uma menção especial de Buddha no Mahabharata deduz-se que o Mahabharata foi recitado por Sauti(***) antes do reinado de Ajatasatru e depois do reinado dos descendentes de Bhadratha. Se estudarmos as descrições de NaimiaraAya, ficaremos sabendo que quando os pacíficos ris viram o final das dinastias Candra e Surya, eles se sentiram desprotegidos devido à ausência de katriyas. Portanto, eles foram se isolar em NaimiaraAya e passaram as suas vidas discutindo as escrituras. Há outra crença sobre a assembléia de NaimiaraAya. Por algum tempo depois da batalha de Kuruketra e antes da coroação do rei Nandivardhana a religião vaisnava era muito proeminente. A principal conclusão dos vaisnavas é que toda a entidade viva tem direito de cultivar vida espiritual. Mas de acordo com a opinião dos brâmanes, as pessoas que pertencem a outras castas não são elegíveis para a liberação. As pessoas sóbrias de outras castas devem nascer novamente como brâmanes para se esforçarem pela liberação. Devido a essas duas opiniões divergentes, os vaisnavas levam em alta consideração os eruditos da linha de S™ta Gosvami e assim determinaram que em NaimiaraAya eles eram superiores aos brâmanes. Alguns brâmanes ali presentes que eram menos qualificados e controlados pelas posses materiais também aceitaram os eruditos da linha de S™ta como sendo superiores. Esses brâmanes menos qualificados renegaram as doutrinas de karma-kaAda e aceitaram S™ta como o seu mestre espiritual. Eles se abrigaram nos princípios religiosos vaisnavas, que são o único meio para atravessar a influência de Kali, a morada de todo pecado(****). De qualquer maneira, aquela assembléia se reuniu bem depois da batalha de Kuruketra. Não há dúvida quanto a isso.



(*) Consulte por favor o RamayaAa em sânscrito impresso sob a direção do rei de Burdwan.

(**) “Os PuraAas, os Manu-dharma-sastras, os Vedas e todos os seus corolários e os trabalhos sobre medicina terapêutica foram todos escritos seguindo a maior autoridade que existe e não devem ser refutados através da argumentação lógica.” (Mahabharata)

(***) Esse Sauti que compôs o Mahabharata foi o último Vyasa. Sabe-se que ele residia em Puskara, perto de Ajmer, pois em sua descrição dos locais sagrados ele diz que Puskara é o primeiro local sagrado a ser visitado.

(****) “Sabendo bem que a era de Kali já começou, nos reunimos aqui nesse local sagrado para ouvir detalhadamente a mensagem transcendental do Supremo e dessa maneira realizarmos sacrifício. Acreditamos que nos encontramos com Vossa Mercê pela vontade da Providência, sendo assim devemos aceitá-lo como o capitão do navio daqueles que desejam atravessar o difícil oceano de Kali, que deteriora todas as boas qualidades de um ser humano.” (Bh.1.1.21-22)



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Os Darsana-sastras, escrituras filosóficas, foram compilados logo depois do Mahabharata. Existem seis sistemas filosóficos mais importantes na Índia: Nyaya, ou lógica; Sa‰khya; Patanjala, ou yoga; KaAada, ou Vaiseika; P™rvamimaˆsa, ou Karma-mimaˆsa; e Vedanta. Todos esses sistemas filosóficos foram introduzidos depois do budismo. Os ris que propuseram esses sistemas primeiro compuseram as suas filosofias em s™tras. Os s™tras védicos foram compilados para facilitar a memorização, mas esse não foi o caso dos s™tras dos sistemas filosóficos. Quando os brâmanes foram atacados pela poderosa filosofia budista, eles primeiro compilaram os Upaniads, que são o pináculo da literatura védica e dessa maneira reforçaram a doutrina deles com lógica e argumentação. Os budistas gradativamente apresentaram inúmeros sistemas filosóficos tais como o Saugata, Madhyamika e Yogacara. Depois disso eles entraram em intensos debates com os brâmanes. Os brâmanes então introduziram os seus seis sistemas filosóficos, começando com Nyaya e Sa‰khya, mantendo-os na forma de s™tras e transmitindo-os aos seus discípulos. Durante a época de Ramacandra foi composta alguma lógica védica na forma de Anvikiki principalmente por Gautama ¬i e até hoje ela está em vigência. De acordo com as suas necessidades, os brâmanes compuseram o atual sistema de Nyaya sob o nome de Gautama e o substituíram pelo sistema anterior. Nos Gautama-s™tras há uma tendência a contrariar a filosofia Saugata(*). As escrituras de Kanada estão na categoria de escrituras de Nyaya. No sistema de SaAkhya também há inúmeros pareceres sobre o budismo. O sistema de Patanjala cai na categoria de Sa‰khya. O P™rva-mimaˆsa proposto por Jaimini sustenta o sistema karma-kaAda que foi rejeitado pelos budistas. Apesar das escrituras Vedantas serem mais recentes, elas têm sido aceitas como outra forma de Anvikiki, uma vez que elas estão baseadas nos Upaniads. Portanto todas as escrituras filosóficas foram escritas em 800 anos, de 400 antes de Cristo a 400 depois de Cristo.



(*) “Não, (as coisas não são momentâneas e criadas do nada) porque há percepção das causas de geração e destruição. Não, o leite (que fez o iogurte não foi destruído) só foi transformado, o que significa que novas qualidades se manifestaram.” Gautama-s™tras (3.2.12, 15)



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Os PuraAas foram compostos depois dos Darsana-sastras, ou escrituras filosóficas. Os PuraAas que são citados no Mahabharata e no Bhad-araAyaka Upaniad são compostos de histórias védicas. Eles são dezoito ao todo. O MarkeAdeya PuraAa é o mais antigo, porque nele não há menção dos futuros reis. O MarkeAdeya PuraAa contém explanações sobre os Dharma-sastras, glorificações ao deus do sol e à deusa Durga e resoluções de dúvidas a respeito do Mahabharata. Ele também narra a história do rei Suratha da dinastia Caitra. A partir disso fica claro que o MarkeAdeya PuraAa deve ter sido escrito depois que os reis da dinastia Citranaga de Cho˜anagapura foram derrotados pelos Cholas. Isso é confirmado pela palavra kolavidvaˆsinaƒ. Nessa época os brâmanes e katriyas criados por Parasurama eram muito proeminentes na Índia. Conclui-se, portanto, que esse PuraAa foi escrito 500 depois de Cristo. Entre os demais PuraAas, o Visnu Purana é o mais respeitado. Ele foi compilado logo depois do MarkeAdeya PuraAa. Não resta dúvida de que esse Visnu PuraAa foi composto por um erudito do sul da Índia porque ele declara que as pessoas devem começar as suas refeições com alimentos adocicados e terminar com alimentos amargos. Essa é uma prática corrente no sul da Índia. O autor do Visnu PuraAa mencionou em seu livro o sistema de alimentação adotado na sua província. No entanto, os arianos comem doces depois das refeições. O Visnu PuraAa foi escrito por volta de 600 depois de Cristo. Outros PuraAas como o Padma e o Skanda foram escritos por volta de 800 depois de Cristo, porque esses PuraAas contêm discussões sobre filosofias modernas (*). Esses PuraAas foram escritos depois que SaAkaracarya pregou a sua filosofia de advaita-vada, ou monismo. Em seu comentário, ele cita versos do Visnu Purana, portanto acredita-se que esse Visnu Purana foi escrito antes dessa época.



(*) (O Senhor Siva informou à deusa Durga, a superintendente do mundo material) “Na era de Kali eu assumo a forma de um brâmane e explico os Vedas através de escrituras falsas de maneira ateísta, semelhante à filosofia budista.”

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Agora iremos considerar o ponto de vista dos eruditos modernos sobre a data do aparecimento do Srimad Bhagavatam, a jóia entre as escrituras. Por não compreenderem os nossos argumentos, as pessoas de terceira classe poderão perder toda a fé e considerarem essa escritura uma obra recente. Portanto, elas não devem ler essa seção. Na verdade o Srimad Bhagavatam não é um livro recente. Ele é eterno e ancestral como os Vedas. O venerável Sridhara Svami confirmou a eternidade do Srimad Bhagavatam usando as palavras tara‰kuraƒ sajjaniƒ. O Srimad Bhagavatam tem sido aceito como o fruto supremo da árvore dos desejos da literatura védica (*). Do praAava (oˆ) veio o Gayatri, os Vedas vieram do Gayatri, dos Vedas vieram os Brahma-s™tras e dos Brahma-s™tras veio o Srimad Bhagavatam. Esse Paramahaˆsa-saˆhita consiste de temas inconcebíveis relacionados com a Verdade Absoluta que surgiu como um sol brilhante sat-cid-ananda depois de ter sido refletido no samadhi do autor. Aqueles que têm olhos poderão ver, os que tiverem ouvidos poderão ouvir e aqueles que têm mente deverão meditar sobre os temas do Srimad Bhagavatam. As pessoas infectadas pela cegueira da parcialidade estão privadas de saborear a doçura do Srimad Bhagavatam. Que o Senhor supremamente consciente tenha a misericórdia de eliminar essa cegueira.



(*) “Ó homens peritos e meditativos, saboreiem o Srimad Bhagavatam, o fruto maduro da árvore dos desejos da literatura védica. Ele emanou dos lábios de Sri Sukadeva Gosvami. Portanto esse fruto tornou-se ainda mais saboroso, apesar do seu suco nectáreo já estar disponível para o deleite de todos, inclusive das almas liberadas.”(Bh. 1.1.3)



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O Srimad Bhagavatam não tem nascimento porque é eterno, sem começo ou fim. No entanto é extremamente desejável determinar quando, onde e por quem essa literatura se tornou manifesta de acordo com a opinião moderna. Os eruditos modernos concluíram que Vyasadeva escreveu o Srimad Bhagavatam às margens do rio Sarasvati sob instrução de Narada Muni, o conhecedor da Verdade. Estando insatisfeito depois de ter escrito as escrituras, Vyasadeva apresentou o Srimad Bhagavatam depois de visualizar a Verdade Absoluta através de samadhi. Ele apresentou o Srimad Bhagavatam para beneficiar as pessoas de terceira classe, que não são capazes de compreender o significado profundo de um tema assim profundo. As grandes personalidades que compilaram as escrituras são todas conhecidas como Vyasas e sempre foram respeitadas pelas pessoas em geral. Sendo assim, o título Vyasa indica todos os Vyasas, começando com Vedavyasa indo até o Vyasa que escreveu o Srimad Bhagavatam. Quando ele foi incapaz de determinar a Verdade Absoluta depois de estudar todas as escrituras, Vyasadeva, que é perito na ciência espiritual, desviou sua mente e fala dessas literaturas, realizou a Verdade Absoluta através de samadhi e então escreveu o Srimad Bhagavatam. Os eruditos modernos também dizem que o Srimad Bhagavatam apareceu no Sul da Índia (Dravida-desa) há cerca de 1000 anos. A entidade viva tem uma inclinação natural em ter apego pelo seu local nativo. Portanto, até mesmo as grandes personalidades revelam essa tendência em algum grau. Devido à glorificação que o Srimad Bhagavatam faz de Dravida-desa, que não é muito antiga, parece que Vyasadeva era natural dessa província (*) Se as glórias de Dravida-desa fossem mencionadas em outras escrituras, então não teríamos o direito de chegar a essa conclusão. Nossa conclusão é confirmada pela menção no Srimad Bhagavatam de um lugar sagrado muito recente (**). Está declarado no Ve‰kata-mahatmya, que é popular no Sul, que Ve‰ka˜a-tirtha foi estabelecido quando Lakmidevi foi de Kolapura para Chola. Kolapura está situada no sul de Satara. Os reis Chalukya derrotaram os Cholas no século VIII e estabeleceram um grande reinado nessa província. Portanto Lakmi foi para Kolapura e VeAka˜a foi estabelecida naquela época. Por essa razão, os eruditos não hesitam em aceitar que esse Srimad Bhagavatam foi escrito no século IX. Sa˜hakopa, Yamunacarya e Ramanujacarya pregaram com muito vigor o vaiAavismo no século X. Eles também eram de Dravida-desa. Todos eles enalteciam muito o Srimad Bhagavatam e não podemos aceitar que o Srimad Bhagavatam tenha sido escrito no século IX. Além do mais, quando Sridhara Svami escreveu o seu comentário sobre o Srimad Bhagavatam no século XI, já haviam outros comentários como o Hanumad-bhaya. Portanto não precisamos tecer outras considerações a esse respeito. Não encontrei nenhuma maneira de determinar o nome da família do autor do Srimad Bhagavatam. No entanto, quem quer que ele tenha sido, somos gratos e reverenciamos com grande respeito essa grande personalidade, Vyasadeva, como sendo o mestre espiritual das pessoas que têm comportamento de cisne (***).



(*) “Meu querido rei, os habitantes da Satya-yuga e de outras eras desejam ardentemente nascer nessa era de Kali, uma vez que nessa era existirão inúmeros devotos do Senhor Supremo, NarayaAa. Esses devotos irão aparecer em vários lugares, mas serão especialmente numerosos no sul da Índia. Ó amo dos homens, na era de Kali as pessoas que beberem as águas dos rios sagrados de Dravida-desa, tais como o TamraparAi, Ktamala, Payasvini, do extremamente piedoso Kaveri e do Pratici Mahanadi, serão quase todos devotos de coração puro da Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva.”(Bh. 11.5.38-40)

(**) “Nas províncias sulistas conhecidas como Dravida-desa, o Senhor Supremo viu a sagrada colina de Ve‰ka˜a.” (Bh. 10.79.13)

(***) Discordamos veementemente desse tipo de conclusão. Esse tipo de crença não pode ser chamado fé.



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Dessa maneira descrevemos extensamente a opinião moderna sobre a época do aparecimento das escrituras a que estamos nos referindo. Não há necessidade de analisar todas as escrituras dos arianos. Há inúmeras outras escrituras antigas estudadas pelos arianos. Depois de considerar os pontos de vista do Sr. Playfair, Mahatma Archdikan Prat deliberou que a astrologia era usual em Aryavarta 1000 anos antes do início da era de Kali. Antes disso os Vedas existiam na forma de sruti, ou auditiva. O Sr. Wilford determinou que o astrólogo védico Parasara Ri escreveu o seu livro de astrologia em 1391 antes de Cristo. De acordo com a opinião do Sr. Davis, isto é confirmado em um verso do Atharva Veda. Mas a possibilidade desse verso sobre astrologia no Atharva Veda ter sido acrescido posteriormente não foi considerada pelo Sr. Wilford. De acordo com a nossa opinião, o cálculo de Archdikan Prat é mais aceitável, porque as estrelas denominadas Sete Sábios eram anteriormente denominadas Prajapatis. Uma vez que não havia linguagem escrita naquela época, a astrologia era expressada através de vários sinais. Dessa maneira, a medicina, na forma de ayurveda, era praticada desse tempos muito remotos. Se considerarmos todas essas coisas‚ esse livro se tornará muito volumoso, então vamos parar por aqui. Já descrevemos os vários livros que direta e indiretamente explicam a ciência espiritual e damos o seguinte quadro:



nome da escritura Período em que ela foi pregada



1. Os primeiros códigos de Durante o reinado dos Prajapatis

srutis, começando com o pranava (oˆ)

2. Os rutis o Gayatri Durante o reinado dos Manus, semideuses e ... parte do reinado de Vaivasnata

3. Sautra srutis No início do reino de Vaivastava

4. Os smtis de Manu Durante a segunda metade do reinado de ... Vaivasvata

5. Histórias Durante a segunda metade do reinado de Vaivasvata

6. Escrituras filosóficas Durante o reinado dos sem casta

7. PuraAas e Satava Tantras Durante o reinado dos brâmanes e katriyas ... criados por Parasurama

8. Tantras Durante o reinado dos muçulmanos





Assim descrevemos as épocas dos incidentes e das escrituras, até onde foi possível de acordo com a opinião moderna. As pessoas de comportamento semelhante a cisnes não estão interessadas em polêmicas (*), portanto se for apresentada alguma conclusão contrária como a argumentação apropriada, nós a aceitaremos. Esperamos ouvir mais sobre essas conclusões em um dos transcendentalistas ou dos materialistas inteligentes do futuro.



(*) “Não devemos nos permitir à argumentação e à contra-argumentação. Nem devemos nos abrigar em qualquer causa ou facção.” (Bh. 7.13.7)



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De acordo com as nossas escrituras, o cálculo das datas não é esse. Só acreditamos nas declarações das escrituras. Apresentei as conclusões modernas para beneficiar as pessoas que se preocupam com isso. De acordo com essas conclusões, os arianos começaram a governar a Índia há 6.341 anos. Assim estabelecemos a incomparável longevidade da história da Índia. Nenhuma outra civilização pode ser comparada a ela. Dizem que o Egito é um país muito antigo. Estima-se pelas descrições de Minitho, um historiador egípcio, que as pessoas passaram a viver naquele país em 3553 antes de Cristo. O nome do seu primeiro rei era Minis (Menes). Calcula-se que seu reinado começou quando Hariscandra estava governando a Índia. O estranho é que havia um rei chamado Maniscandra que era contemporâneo de Hariscandra. Também se diz que o rei Menes foi para o Egito vindo de algum país oriental. A grande pirâmide foi edificada pela dinastia Suphu. Um rei chamado Hyksos vindo do oriente atacou o Egito perto de 2000 antes de Cristo, ou cerca de duzentos anos antes da batalha de Kuruketra. Uma religião semelhante ao varAasrama-dharma era praticada antigamente no Egito. A partir desses fatos parece que há alguma relação entre o Egito e a Índia. Deixemos que os eruditos do futuro pesquisem mais sobre isso. De acordo com a opinião dos hebreus, o seu reino foi criado em torno de 4000 antes de Cristo, provavelmente na época do rei Sravasta. No entanto é difícil provar essas coisas nos dias de hoje. Quando a situação dos hebreus e dos egípcios é essa, nem é preciso mencionar as outras raças. Descrições anteriores à época do rei Menes do Egito são incomuns. O período de vida de 1000 anos que os hebreus atribuem a Adão tornou-se tema de discussões entre as pessoas graduadas dessa nação. Os eruditos modernos da Índia comparam o período de vida de Adão com o período de vida de setenta e uma maha-yugas de um Manu ou com o período de vida de 1000 anos de Dasaratha. As pessoas com a mentalidade de cisnes não devem pensar que estamos tentando estabelecer a Índia como sendo o país mais antigo do mundo para poder aumentar o prestígio e a posição desse país. Uma vez que os vaisnavas com mentalidade semelhante a cisnes vêem as pessoas de maneira equânime, aceitam toda a verdade que seja substanciada de acordo com a idade das diferentes raças.

A história passada da Índia e a idade das diferentes escrituras são descritas dessa maneira de acordo com a opinião dos eruditos modernos. Todo mundo tem o direito de decidir se deve ou não aceitar esses fatos. O avanço do vaiAavismo não depende desse tipo de conclusão. Sabemos que o vaiAavismo, os Vedas e as escrituras devocionais como o Srimad Bhagavatam são eternos. Agora iremos tentar discutir o desenvolvimento e o avanço do conhecimento espiritual desde o tempo em que ele apareceu até o presente. O dever constitucional da entidade viva é o de indagar sobre a Verdade Absoluta. Temos que aceitar que esse dever constitucional acompanha a criação das entidades vivas (*). No início esses deveres eternos foram auto-manifestos no estado não evoluído de considerar o Senhor e as entidades vivas como sendo unos. Nessa ocasião as diferenças específicas entre o Senhor e as entidades vivas ainda não haviam sido estabelecidas e o nó da devoção ao Senhor ainda não havia sido atado(**). Essa percepção espiritual da unidade entre o Senhor e as entidades vivas foi vigente por muito tempo. Mas a verdade luminosa não pode ser encoberta para sempre pelas nuvens da ignorância e da ilusão. De tempos em tempos os is vêm para revelar os deveres constitucionais das entidades vivas introduzindo vários métodos como sacrifícios, austeridades, adoração, autocontrole, quietude, tolerância e caridade (***).



(*) “Dentre todos os semideuses, Brahma foi o primeiro a nascer. Ele é tanto o criador quanto o protetor desse Universo. Ele intruiu o seu filho mais velho, Atharva, na ciência espiritual do eu, que é a base de todos os outros ramos de conhecimento. Depois Atharva transmitiu esse conhecimento para A‰gira.” (MuAdaka Upaniad 1.1.1)

(**) “Ele é esse Brahman Supremo.” (Bhad-araAyaka Upaniad 4.4.5)

(***)”Pela influência do tempo, o som transcendental do conhecimento védico foi perdido na época da aniquilação. Portanto, quando ocorreu a criação subsequente, Eu falei o conhecimento védico para Brahma porque Eu mesmo é quem sou os princípios religiosos anunciados nos Vedas. “(Bh. 11.14.3)

“Ó melhor dos homens, a inteligência dos seres humanos está confundida pela Minha potência ilusória, e portanto, de acordo com as suas próprias atividades e desejos, eles falam de inúmeras maneiras sobre o que é realmente bom para as pessoas.” (Bh. 11.14.9)

“Alguns dizem que as pessoas serão felizes por realizarem atividades religiosas piedosas. Outros dizem que essa felicidade é alcançada através da fama, gratificação sensorial, veracidade, autocontrole ou tranqüilidade.” (Bh. 11.14.10)



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Há muito tempo atrás as pessoas rejeitaram a idéia da unidade com o Senhor e começaram a se dedicar a atividades mundanas fruitivas. Cair em uma ilusão atrás da outra parece ser avanço para a pessoa que está iludida. Mas dentro de pouco tempo essa ilusão é desfeita. Quando os arianos consideraram os resultados insignificantes e adversos das atividades fruitivas, eles voltaram as suas mentes para a liberação (*). Mas isso também é estéril e infrutífero. No entanto, a verdade certamente prevalece, mesmo que demore. Mais tarde, quando a incomparável verdade apareceu no coração dos arianos, a forma de amor extático ficou clara para eles (**). Os vaisnavas que têm comportamento de cisnes definiram os seguintes temas a respeito dos deveres eternos das entidades vivas. Eles podem ter mudado com o passar do tempo.



(*) “Todas as pessoas que acabei de mencionar obtêm frutos temporários do seu trabalho material. Na verdade, as situações precárias e miseráveis que elas alcançam trazem infelicidade futura e estão baseadas na ignorância. Mesmo enquanto desfrutam os frutos do seu trabalho, essas pessoas estão cheias de lamentação.” (Bh. 11.14.11)

“Ó erudito Uddhava, aqueles que fixam a sua consciência em Mim, abandonando todos os desejos materiais, compartilham coMigo de uma felicidade que não é possível se experimentada por aqueles que vivem dedicados à gratificação dos sentidos.”(Bh. 11.14.12)

“Devemos nos dedicar a atividades no modo da bondade pura para podermos nos livrar da prisão da vida no mundo material e terminar com os sofrimentos provocados pelo nascimento, morte e velhice.” (Lalita-vistara)

(**) “Você deve conhecer Krsna como sendo a Alma original de todas as entidades vivas.”(Bh. 10.14.55)



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1. Paramatma — a personalidade superconsciente e luminosa, que é eternamente plena de conhecimento e de bem-aventurança. Jivatma — os minúsculos raios de consciência do sol supremo.

2. O Senhor superconsciente é diferente das entidades vivas diminutas que têm consciência diminuta e que são a energia superior eterna do Senhor. As entidades vivas são individuais e eles residem em diversos meios ambientes de acordo com as qualificações que possuem. O mundo material é uma emanação do Senhor superconsciente.

3. O mundo material é um aspecto pervertido do mundo espiritual. A bem-aventurança pura do mundo material é refletida pervertidamente na felicidade e na aflição do mundo material.

4. As entidades vivas não têm relacionamento com o mundo material. O mundo material é a residência apenas das almas condicionadas. Através da atividade da energia inconcebível do Senhor, as almas condicionadas ficam presas em corpos materiais. Algumas vivem absortas na felicidade material e outras se esforçam pela felicidade espiritual.

5. A tendência natural de apego pelo Senhor é o dever constitucional de uma entidade viva. Na vida condicionada, esse dever constitucional é transformado em apego pelo desfrute material. Essa é uma condição de vida lamentável.

6. Liberação significa estar situado na posição constitucional de nossos deveres constitucionais. Isso é alcançado através do serviço devocional.

7. De acordo com a nossa qualificação, o cultivo de nossos deveres constitucionais varia. Ele pode ser tanto direto quanto indireto.

8. O cultivo direto visa realizar a nossa posição constitucional; não há possibilidade de outro resultado.

9. O cultivo indireto resulta em frutos irrelevantes relacionados com o corpo material.

10. Samadhi, ou a completa absorção no Ser Supremo, é o meio primário e direto de cultivo. As atividades tais como manutenção do corpo que são os meios para ajudar a alcançar o samadhi são chamadas cultivo primário indireto.

11. O dever eterno da entidade viva é cultivar a consciência de Krsna seguindo o humor dos residentes de Vraja através do samadhi, porque essa é a meta mais desejável.

12. A atividade mais gloriosa para uma entidade viva é se dedicar de acordo com a sua qualificação em discutir as doçuras conjugais desfrutadas por Krsna, a personificação da doçura.

Dentre esses doze itens, os primeiros quatro se referem ao relacionamento das entidades vivas com o Senhor. Do quinto ao décimo se referem aos deveres das entidades vivas e os dois últimos se referem à meta suprema.

Durante os reinados dos Prajapatis, Manus e semideuses, a ciência do nosso relacionamento com o Senhor se manteve em forma de uma semente. Eles só deveriam considerar que havia uma personalidade adorável que deveria ser satisfeita. Isso é compreendido através do praAava e do Gayatri. Naquela época havia alguns debates entre os karmis e jnanis sobre os deveres das entidades vivas. Algumas poucas personalidades como Sanaka e Sanatana negligenciaram completamente o pravtti-marga, o caminho que incrementa a prosperidade material, enquanto que os Prajapatis, Manus e semideuses como Indra desejavam satisfazer Hari avançando na prosperidade material através da realização de sacrifícios. Como resultado disso, o pensamento de céu e de inferno entrou em suas mentes. Naquela época o estado puro das entidades vivas, a procura da liberação, e, finalmente o amor a Deus eram desconhecidos. Na parte final do reinado de Manu, quando os smtis e histórias foram introduzidos, as pessoas começaram a considerar a ciência da auto realização e a meta da vida (“A realização apropriada dos quatro tipos de sacrifícios simples — vaisvadeva, oferendas aos Visvadevas; homa, oferendas de oblações aos semideuses; balikarma nitya-sraddha, oferendas de oblações aos ancestrais e outras entidades vivas; e atithi-bhojana, alimentar os convidados — não podem ser comparadas nem sequer a uma décima sexta parte do benefício de se cantar os santos nomes do Senhor.” Manu-saˆhita 2.86). Mas não parece que houve qualquer progresso em direção à meta da vida. Durante o reinado dos sem casta e dos brâmanes e katriyas criados por Parasurama houve um avanço no que diz respeito à compreensão do nosso relacionamento com Deus, as atividades para se cultivar esse relacionamento e o alcance da meta da vida, como encontrado nos PuraAas e escrituras filosóficas(*).



(*) “Ó meu Senhor, Ó Suprema personalidade de Deus. será que serei novamente capaz de ser um servo dos Seus servos eternos que só se abrigam em Seus pés de lótus? Ó Senhor da minha vida, quando poderei novamente me tornar um servo deles para que a minha mente sempre pense nos Seus atributos transcendentais, para que as minhas palavras sempre glorifiquem esses atributos e que meu corpo sempre se dedique ao Seu serviço?

“Ó Meu Senhor, fonte de todas as oportunidades, não desejo desfrutar em Dhruvaloka, nos planetas celestiais, ou no planeta do Senhor Brahma, nem desejo ser o governante supremo de todos os planetas terrenos ou dos sistemas planetários inferiores. Não desejo ser mestre de yoga mística, nem desejo a liberação se tiver que abandonar os Seus pés de lótus.” (Bh. 6.11.24-25)

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Uma discussão completa e uma apresentação clara sobre as conclusões dessas três verdades é encontrada no Srimad Bhagavatam. Mas o Srimad Bhagavatam é como um oceano, e é extremamente difícil para um madhyama-adhikari determinar qual é a parte que contém as jóias. Depois de considerar esse posto, o mais misericordioso discípulo de Sa˜hakopa, Sri Ramanujacarya, compilou as verdades essenciais sobre o vaiAavismo pela primeira vez. Algum tempo antes disso, Sri Sa‰karacaya escreveu um comentário sobre os Vedanta-s™tras e assim difundiu o cultivo de conhecimento em tal escala que Bhaktidevi (*), amedrontada e cheia de ansiedade, foi se esconder por muito tempo nos corações dos devotos.





(*) Os sintomas gerais de bhakti são descritos por Srila R™pa Gosvami no seu Bhakti-rasamta-sindhu da seguinte maneira: “Devemos prestar serviço amoroso transcendental ao Supremo Senhor Krsna favoravelmente e sem desejo de lucro material, benefício na realização de atividades fruitivas ou em especulação filosófica. Isso é chamado serviço devocional puro.“ Atividades fruitivas e o cultivo de conhecimento não são rejeitados ao se explicar os sintomas do serviço devocional, mas quando a tendência pela devoção pura está encoberta por jnana e karma, então a devoção não se manifestará. Quando as atividades fruitivas se tornaram proeminentes, as discussão do serviço devocional foi interrompida. Quando o budismo era proeminente, o cultivo de conhecimento foi interrompido, o que foi até pior.

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Não podemos culpar Sa‰karacarya, porque ele era um devoto do Senhor e o benfeitor de todos. Portanto oferecemos as nossas reverências a ele. Ele teve um motivo para se dedicar a esse trabalho em uma época em particular. Todo mundo sabe que por volta do ano 500 antes de Cristo uma grande alma chamada Gautama nasceu na família dos Sakas na vila de Kapilavastu. Ele pregou os princípios de jnana-kaAda tão vigorosamente que os princípios religiosos de varAasrama-dharma estabelecidos pelos arianos foram quase completamente destruídos. A filosofia budista que ele pregou tornou-se como um espinho para todas as antigas práticas dos arianos. Com a ajuda de Kanika, Havika e Vasudeva da dinastia Sidia, o budismo gradualmente atravessou o Punjab e se expandiu por inúmeros países como a China,Tatara e Trivarta, que estão situados ao norte dos Himalaias. No Sul, o rei Asokavardhana pregou vigorosamente o budismo em Brahma-desa e em Sri La‰ka. Sob o patrocínio de Asokavardhana, o budismo foi gradualmente se espalhando por toda a Índia com os discípulos de Sariputra, Modgalayana, Kasyapa e Ananda. Os locais sagrados dos arianos foram transformados em locais sagrados para budistas. Todos os sinais da cultura bramânica praticamente desapareceram. No século VII, quando esse desastre já não era mais suportável, os brâmanes ficaram muito irados e conspiraram juntos para destruir o budismo. Naquela época, por arranjo da providência, Sa‰karacarya, que era o mais erudito e inteligente da sua casta, tornou-se o comandante dos brâmanes de Kasi. Ao avaliarmos as suas atividades, parece que ele era uma encarnação de Parasurama. Há inúmeras opiniões diferentes a respeito do seu nascimento. Os seus seguidores brâmanes o aceitam como o filho de Mahadeva. Na verdade a sua mãe viúva era de Dravida-desa, mas havia se mudado para Kasi por desejar viver em um local sagrado. As pessoas com o comportamento igual a cisnes não ligam que uma pessoa apresente falhas devido ao seu nascimento, porque a grandeza da pessoa é julgada de acordo com o seu avanço no vaiAavismo. Narada, Vyasa, Jesus e Sa‰kara tornaram-se respeitados em todo mundo pelas qualidades do seu trabalho. Quanto a isso não há questionamento. Mas agora mencionei Sa‰kara para ilustrar um ponto. É que, a partir do século VII, a inteligência aguçada e poderosa era encontrada entre as pessoas do sul da Índia e em nenhum outro lugar. Daquela época em diante, Sa‰karacarya, Sa˜hakopa, Yamunacarya, Ramanuja, Visnusvami, Madhvacarya e inúmeros outros acadêmicos eruditos apareceram como estrelas brilhantes no céu do Sul. Sa‰karacarya não estava satisfeito com os seus seguidores brâmanes, e assim ele introduziu dez tipos de sannyasis, tais como Giri, Puri e Bharati. Com a ajuda física e mental desses sannyasis, Sa‰karacarya converteu os brâmanes que eram apegados a atividades fruitivas e se preparou para converter os budistas à sua filosofia. Onde quer que ele falhasse em convertê-los através da argumentação filosófica, ele empregava os Nagas, os sannyasis nus, que os convertia com o argumento armado. Finalmente ele escreveu um comentário sobre o Vedanta, combinando o karma-kaAda dos brâmanes com o jnana-kaAda dos budistas. E assim ele uniu os dois grupos. Depois disso, todos os templos budistas e suas deidades foram convertidos para o padrão védico. Com medo de serem aniquilados fisicamente e também por realizarem a insignificância de suas práticas religiosas, sem outra alternativa, os budistas aceitaram a autoridade dos brâmanes. Os budistas que odiavam serem convertidos pegaram o que sobrou da sua cultura e fugiram para Sri La‰ka e Brahma-desa. Os antigos budistas pegaram o dente do Senhor Buddha que estava em Jagannatha Puri e foram para Sri La‰ka. Eles deixaram Buddha, seus ensinamentos e sua associação em Jagannatha Puri. Mais tarde esses três elementos foram identificados como Jagannatha, Baladeva e Subhadra. No século V um erudito da China chamado Phahiyan visitou Jagannatha Puri e escreveu com muita alegria que o budismo ali se encontrava em seu estado puro e que não havia torturas impostas pelos brâmanes. Depois desse incidente, no século VII, outro erudito chinês chamado Huyessaˆ foi para Jagannatha Puri e escreveu que o dente do Senhor Buddha havia sido levado para Sri La‰ka e os brâmanes haviam poluído Puri completamente. Quando discutimos esses incidentes, as atividades de Sa‰karacarya parecem surpreendentes. De certo modo Sa‰karacarya prestou um favor à Índia ao eliminar o budismo. Ele ajudou a interromper a deterioração gradativa da comunidade ariana. Em particular, ele mudou a mentalidade ariana ao introduzir um novo método de pensamento baseado em suas escrituras. Ele até os inspirou a necessidade de considerar novos temas com sua inteligência. A flor da devoção nos corações dos devotos tornou-se abalada com o fluxo dos argumentos de Sa‰karacarya. Apoiado no poder da filosofia de Sa‰karacarya, Ramanujacarya, por misericórdia do Senhor, escreveu um comentário diferente do Sariraka-bhaya. Dessa maneira a força e a prosperidade do vaiAavismo foi incrementada. Dentro de pouco tempo Visnusvami, Nimbarka e Madhvacarya introduziram discretas variações nos princípios vaisnavas ao apresentarem seus comentários sobre o Vedanta. Mas todos eles seguiram os passos de Sa‰karacarya. Assim como Sa‰karacarya, eles escreveram comentários sobre o Bhagavad-gita, Visnu-sahasra-nama e os Upaniads. Naquela época despertou um sentimento nos corações das pessoas, que para estabelecer uma saˆpradaya, deveria haver comentários sobre os quatro livros mencionados. A partir desses quatro vaisnavas, as quatro saˆpradayas vaisnavas, tais como a Sri-saˆpradaya, foram introduzidas. Dentre as doze verdades que mencionamos, as primeiras dez foram aceitas pelas quatro saˆpradayas. As duas últimas foram aceitas em certa extensão pelas saˆpradayas de Madhava, Nimbarka e de Vinusvami.

Sri Caitanya Mahaprabhu apareceu em Navadvipa em 1486. No início da Sua vida, Ele permaneceu em casa. Mais tarde Ele aceitou a ordem de vida renunciada e pregou conhecimento sobre os dois últimos itens. Qual é a dúvida de que a terra da Bengala é dificilmente alcançada até mesmo pelos semideuses? Quem não sabe que o filho de Saci, que é supremamente adorado pelos vaisnavas desceu à terra da Bengala e distribuiu uma riqueza incomparável para dito mundo? Felizmente nascemos nessa terra. Todos vaisnavas que nascerem nessa terra futuramente se sentirão tão afortunados quanto nós.

Sri Caitanya Mahaprabhu, com a ajuda de Nityananda e Advaita, explicaram claramente a verdade sobre nosso relacionamento com o Senhor. Ele explicou claramente a verdade sobre o relacionamento das entidades vivas com o Senhor através de R™pa. Sanatana, Jiva, Gopala Bha˜˜a e os dois Raghunathas, Ramananda Raya, Svar™pa Damodara e Sarvabhauma Bha˜˜acarya. Ele consolidou o processo de agir nesse relacionamento ao estabelecer a supremacia da realização de kirtana. A respeito da meta definitiva da vida, Ele estabeleceu a maneira simples de saborear as doçuras de Vraja.

Se o leitor analisar cuidadosamente, ficará claro que a ciência espiritual se desenvolveu gradualmente desse tempos ancestrais e se tornou mais simples, mais clara e mais condensada. Quanto mais as impurezas relativas ao tempo e ao local foram sendo removidas, mais brilhante e maravilhosa essa ciência aparece diante de nós. Essa ciência nasceu na terra da grama kusa nas margens do rio Sarasvati em Brahmavarta. Conforme ela foi ganhando alento, passou sua infância na morada de Badarikasrama nas margens do rio Gomati e sua juventude nas maravilhosas margens do rio Kaveri na província de Dravida. A ciência espiritual alcançou a sua maturidade em Navadvipa, nas margens do Ganges, que purifica o Universo.

Ao estudarmos a história do mundo verificamos que a ciência espiritual alcançou o seu clímax em Navadvipa. A Suprema Verdade Absoluta é o único objeto de amor para as entidades vivas. A não ser que Ela seja adorada com apego, a entidade viva jamais irá alcançá-lA. Mesmo que uma pessoa abandone todo afeto por esse mundo e passe a meditar no Senhor Supremo, ainda assim Ele não será facilmente alcançado. Ele é controlado e alcançado unicamente através das doçuras transcendentais. (*)



(*)”Quando compreendemos a Personalidade de Deus, o reservatório do prazer, Krsna, realmente nos tornamos transcendentalmente bem-aventurados.” (Taittiriya Upaniad. 2.7.1)

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Essas doçuras são de cinco tipos: santa, dasya, sakhya, vatsalya e madhurya. A primeira doçura, santa, é o estágio em que a entidade viva supera as dores da existência material e se situa na transcendência. Nessa estágio há um pouco de felicidade, mas não há o sentimento de independência. Nessa ocasião o relacionamento entre o praticante e o Senhor ainda não está estabelecido. Dasya-rasa é a segunda doçura. Ela contém todos os ingredientes de santa-rasa e mais a afeição: “O Senhor é o meu amo e eu sou o Seu servo eterno.” Esse tipo de relacionamento é o encontrado em dasya-rasa. Ninguém dá muita atenção às melhores coisas desse mundo a não ser que haja uma relação afetiva. Portanto dasya-rasa é superior a santa-rasa de várias maneiras. Assim como dasya é superior a santa, tenha como certo que sakhya é superior a dasya. Em dasya-rasa há um espinho na forma de temor e reverência, mas o principal ornamento em sakhya-rasa é o sentimento de amizade em igualdade. Dentre os servos, aquele que é amigo é superior. Não há dúvida quanto a isso. Em sakhya-rasa está incluída todo cabedal de santa e dasya. Assim como sakhya é superior a dasya, vatsalya é superior a sakhya. Isso é compreendido facilmente. Dentre todos os amigos, o filho é mais querido e causa de maior felicidade. Em vatsalya-rasa está presente o cabedal das quatro rasas, iniciando com santa. Apesar de vatsalya-rasa ser superior às outras rasas, ela parece insignificante quando comparada a madhurya-rasa. Podem haver muitos segredos entre um pai e um filho, mas não podem existir tais segredos entre um esposo e uma esposa. Portanto, se formos considerar profundamente, veremos que todas as rasas mencionadas são vistas em perfeição na madhurya-rasa.

Se passarmos a analisar as histórias dessas cinco rasas, compreenderemos claramente que santa-rasa era vista nos primeiros dias da Índia. Quando a alma não ficou satisfeita depois de realizar sacrifícios com ingredientes materiais, os transcendentalistas como os quatro Kumaras, Narada e Mahadeva se desapegaram desse mundo e situados na transcendência, realizaram santa-rasa. Mais tarde, dasya-rasa se manifestou em Hanuman, o líder dos macacos. Essa dasya-rasa se expandiu gradualmente para o Norte e se manifestou em uma grande personalidade chamada Moisés. Muito depois de Hanuman, o líder dos macacos, Uddhava e Arjuna tornaram-se autoridades qualificadas em sakhya-rasa. Eles pregaram sobre essa rasa pelo mundo afora. Gradualmente essa rasa se expandiu pelos países árabes, sob a liderança de Maomé, o conhecedor dos princípios religiosos. Vatsalya-rasa se manifestou pela Índia em diferentes formas em diferentes épocas. Dentre as diferentes formas, vatsalya misturada com opulência atravessou a Índia e apareceu em uma grande personalidade chamada Jesus Cristo, que era um pregador dos princípios religiosos judeus. Madhurya-rasa primeiro cintilou em Vraja. É extremamente raro essa rasa entrar nos corações das almas condicionadas, porque essa rasa tende a permanecer com as entidades vivas puras, qualificadas para desfrutarem dela. Essa rasa confidencial foi pregada por Navadvipa-candra, Sri Saci-kumara e Seus seguidores. Até hoje essa rasa ainda não saiu da Índia. Há pouco tempo atrás um erudito inglês chamado Newman realizou algo sobre essa rasa e escreveu um livro sobre ela. As pessoas da Europa e da América não estavam satisfeitas com a vatsalya-rasa misturada com opulência pregada por Jesus Cristo. Espero que pela graça do Senhor, em bem pouco tempo eles se sintam sedentos em beber o néctar intoxicante de madhurya-rasa. Verificamos que toda a rasa que surge na Índia acaba se dispersando pelo mundo. Assim como o sol primeiro nasce na Índia e depois vai espalhando a sua luz para os países do Ocidente, o brilho inigualável da verdade espiritual primeiro surge na Índia e gradualmente se espalha pelos países ocidentais.

Depois de analisar o nível de avanço das pessoas, os compiladores das escrituras no passado estabeleceram os santos nomes apropriados para a liberação nas diferentes eras. Os santos nomes para a liberação na Satya-yuga são os seguintes:



narayaAa-para veda narayaAa-parakaraƒ

narayaAa-para muktir narayaAa-para gatiƒ





O significado desse verso é que o Senhor NarayaAa é a meta de toda ciência, linguagem e liberação e Ele é o destino supremo. O nome da Verdade Absoluta misturada com opulência é NarayaAa. O Senhor Supremo é completamente realizado na forma de NarayaAa, que está rodeado pelos Seus associados em VaikuA˜ha. Nesse estágio são encontradas santa-rasa pura e um pouco de dasya-rasa.



rama narayaAananta mukunda madhus™dana

Krsna kesava kaˆsare hare vaikuA˜ha vamana





Esses são os santos nomes para a liberação na Treta-yuga. Os nomes que são mencionados nesse texto indicam os poderes de NarayaAa. Esse é o estágio completo de dasya-rasa e há um reflexo de sakhya-rasa.



hare murare madhu-kaitabhare gopala govinda mukunda saure

yajnesa narayaAa Krsna viAo virasrayaˆ maˆ jagadisa raka



Esses são os santos nomes para a liberação na Dvapara-yuga. Os nomes mencionados nesse verso visam a aproximação de Krsna, que é o abrigo das pessoas desabrigadas. Nesse estágio há uma proeminência de santa, dasya, sakhya e vatsalya-rasas.



hare Krsna hare Krsna Krsna Krsna hare hare

hare rama hare rama rama rama hare hare





Esses são os nomes mais doces do Senhor. Nesse mantra não há nenhuma prece. A provocação para todas as rasas misturadas de intimidade são encontradas nesse mantra. Não há menção do poder do Senhor ou da concessão da liberação. Esse mantra revela apenas que a alma tem uma atração indescritível pela Superalma pelo elo do amor. Esses nomes são o mantra para aqueles que estão no caminho de madhurya-rasa. A deliberação constante desses nomes é a melhor forma de se adorar ao Senhor. Todas as atividades espirituais das pessoas de comportamento semelhante a cisnes tais como adoração da Deidade, seguir votos e estudar as escrituras estão incluídos nesses santos nomes. Não há consideração quanto ao tempo, local e candidato para cantar esse mantra. O cantar desse mantra não depende das instruções de um Guru ou da adoração da Deidade por alguma recompensa (*).



(*)”Quando uma entidade viva nasce para se dedicara o serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, que é o controlador supremo, o seu nascimento, todas as suas atividades fruitivas, o seu período de vida, sua mente e suas palavras se tornam verdadeiramente perfeitas.

“Um ser humanos civilizado tem três tipos de nascimento. O primeiro nascimento é através do pai e da mãe e esse nascimento é chamado seminal. O próximo nascimento ocorre quando ele é iniciado pelo mestre espiritual e esse nascimento é chamado savitra. O terceiro nascimento, chamado yajnika, ocorre quando lhe é dada a oportunidade de adorar ao Senhor Visnu. Apesar da oportunidade de alcançar esses nascimentos, mesmo que alguém tenha o período de vida de um semideus, se ele não se dedicar de verdade ao serviço do Senhor, tudo o mais é inútil. Da mesma maneira, as suas atividades podem ser mundanas ou espirituais, mas elas serão inúteis caso não visem à satisfação do Senhor.

“Sem o serviço devocional, qual é o significado de austeridades severas, do processo de audição, do poder da fala, do poder da especulação mental, da inteligência elevada, da força e do poder dos sentidos?

“As práticas transcendentais que não acabam ajudando a se realizar a Suprema Personalidade de Deus são inúteis, sejam elas as práticas de yoga mística, ou o estudo analítico da matéria, austeridades severas, a aceitação de sannyasa, ou o estudo da literatura védica. Tudo isso pode ser muito importante para o avanço espiritual, mas a menos que se compreenda a Suprema Personalidade de Deus, Hari, todos esses processos são inúteis. (Bh. 4.31.9-13)

“Na verdade a Suprema Personalidade de Deus é a causa original de toda a auto-realização. Consequentemente, a meta de todas as atividades auspiciosas - de karma, jnana, yoga e bhakti — é a Suprema Personalidade de Deus.” (Bh. 4.31.9-13)

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É dever das pessoas de comportamento semelhante a cisnes buscar refúgio nesses nomes ao aceitarem as doze verdades já mencionadas. As pessoas de comportamento semelhante a cisnes dos países estrangeiros cujas línguas e posições sociais são diferentes devem aceitar esses santos nomes nas suas próprias línguas fazendo alusão a esse mantra. Isso significa que no processo de adoração desse mantra não deve haver considerações científicas complexas, argumentação inútil ou qualquer tipo de prece direta ou indireta. Se houver alguma prece ela deve visar o amor a Deus. Então ela será impecável. As pessoas com o comportamento semelhante a cisnes vivem de maneira simples, completamente satisfeitos, enquanto internamente permanecem como almas rendidas (*)



(*) “Por mostrar misericórdia para com todas as entidades vivas, estando satisfeito de uma maneira ou de outra e controlando os sentidos do apego pelo desfrute sensorial, pode-se muito rapidamente satisfazer-se a Suprema Personalidade de Deus, Janardana.” (BH. 4.31.19)

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Aqueles que têm olhos divinos os consideram yogis equilibrados, e os que são menos inteligentes, ou as pessoas de terceira classe, os consideram apegados ao desfrute sensorial. Algumas pessoas podem até considerá-los avessos a Deus. Uma pessoa de comportamento semelhante a cisnes pode identificar outro irmão de comportamento igual que possua todos os sintomas apropriados, mesmo que ela seja de um outro país. Apesar de suas vestimentas, língua, adoração, Deidade e comportamento pareceram diferentes, elas podem se dirigir uma a outra livremente como irmãs. Esse tipo de pessoas é chamado no Srimad Bhagavatam de paramahaˆsas e o Srimad Bhagavatam é a escritura que se destina aos paramahaˆsas (*)



(*) “Um homem erudito retira a essência do conhecimento de todos os locais, assim como uma abelha coleta o mel de cada flor.” (Bh. 4.18.2)



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Não posso concluir essa introdução sem discutir mais um assunto. Devido aos preconceitos, inúmeras pessoas eruditas acusam as pessoas de comportamento semelhante a cisnes de discutir livremente assuntos amorosos e acabarem se tornando incompetentes nos assuntos familiares. Elas argumentam que a menos que nos esforcemos pela prosperidade da vida familiar, o Senhor Supremo não fica satisfeito; e que devido aos excessivos esforços pela auto-realização, a afeição pela família diminui. No entanto, esse argumento é extremamente fraco, porque se alguém se esforça em agir de acordo com o desejo do Senhor Supremo e por isso a sua vida material temporária fica arruinada, qual é o dano? (*)



(*) Considerando esse argumento como sendo inútil, Vyasadeva diz:

“Dessa maneira ele fixou a sua mente, engajando-a perfeitamente no serviço devocional (bhakti-yoga) sem qualquer mácula de materialismo e assim viu a Suprema Personalidade de Deus juntamente coma Sua energia externa, que estava sob completo controle.

“Devido a essa energia externa, a entidade viva, apesar de ser transcendental aos modos da natureza, pensa que é um produto material e se submete às reações das misérias materiais.

“As misérias materiais da entidade viva, que lhe são supérfluas, podem ser mitigadas diretamente com a adesão ao serviço devocional. Mas a massa das pessoas não sabe disso e portanto o erudito Vyasadeva compilou a literatura védica, que está relacionada com a Verdade Absoluta.

“Simplesmente por dar recepção auditiva a essa literatura védica, o sentimento pelo serviço devocional ao Senhor Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, surge imediatamente para extinguir o fogo da lamentação, ilusão e medo.”(Bh. 1.7.4-7)



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É verdade que o mundo material foi criado com o intuito de satisfazer a um plano longínquo do Senhor Supremo, mas ninguém pode explicar qual é esse plano. Algumas pessoas imaginam que a alma primeiro nasceu nesse mundo grosseiro na forma de um ser humano. O mundo material foi criado pelo Senhor Supremo com a intenção de que as entidades vivas iriam prosperar gradativamente por seguirem os princípios religiosos. Algumas pessoas dizem que esse mundo material se tornaria um local feliz, como o céu, através da inteligência humana. No entanto, há outros que decidiram que quando esse corpo acabar eles alcançarão a liberação na forma de nirvaAa. Tais conclusões são tão inúteis quanto a que as pessoas cegas chegam ao tentar definir a forma de um elefante. As pessoas com o comportamento semelhante a cisnes não entram nesse tipo de argumentação inútil, porque ninguém pode chegar a uma conclusão adequada com a inteligência humana (*).



(*) “O tolo com um pobre cabedal de conhecimento não pode saber a natureza transcendental das formas, nomes e atividades do Senhor, que atua como um ator em um drama. Nem podem expressar essas coisas, nem através de suas especulações nem através de suas palavras.

“Apenas aqueles que prestam serviço devocional favorável, irrestrito e ininterrupto aos pés de lótus do Senhor Krsna, que porta uma roda de carroça em Suas mãos, é que podem conhecer o criador do Universo em toda a Sua glória, poder e transcendência.” (Bh. 1.3.37-38)

Os vaisnavas com comportamento semelhante a cisnes rejeitam a propensão de argumentar ao cultivarem consciência de Krsna. Abrigando-se no conhecimento que é naturalmente adquirido, eles discutem os dois estados da alma: desenvolvido e retraído.

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Qual é a necessidade de se pesquisar por uma solução? Se simplesmente mantivermos a nossa vida, enquanto permanecermos subordinados ao Senhor Supremo, então a Sua misericórdia nos revelará tudo com muita facilidade. As pessoas que estão sendo afligidas pelas flechas da luxúria naturalmente se dedicarão à prosperidade material. Que elas façam esse mundo material se tornar próspero e nós iremos utilizar essa prosperidade. Que elas discutam assuntos como economia, que acumulem muito dinheiro, e nós, por misericórdia de Krsna, utilizaremos esse dinheiro para a satisfação do Senhor Supremo. Mas se ao mantermos o nosso corpo material, houver algum avanço em nossa situação material, não há nenhum problema. Estamos completamente indiferentes ao avanço ou deterioração de nossa situação material, mas naturalmente estamos ocupados com o avanço da vida espiritual de todas as entidades vivas. Estamos até prontos para jogar no lixo a felicidade em nossas vidas para sempre podermos beneficiar os nossos irmãos. A dedicação principal dos vaisnavas é a de liberar do ciclo da existência material os seus irmãos caídos. Quando mais a família vaisnava se expande, mais diminui a família ateísta. Essa é a lei natural do Universo. Que o amor e a devoção por todas as entidades vivas se dirija ao ilimitado Senhor Supremo. Que os princípios vaisnavas, que são a causa de toda felicidade, gradativamente se espalhem por todo Universo. Que os corações das pessoas que são avessas ao Senhor se derretam de amor a Deus. Pela misericórdia do Senhor, a associação com os devotos e com a influência do serviço devocional, que as pessoas de terceira classe se tornem pessoas de primeira classe e se refugiem no puro amor extático. Que os elevados madhyama-adhykaris abandonem as suas dúvidas e o cultivo de conhecimento e se estabeleçam na ciência do amor. Que todo o Universo ecoe com o som do canto congregacional dos santos nomes de Hari.

sri sri KrsnarpaAam astu

oˆ santi santi santi hari oˆ







CAPÍTULO I



DESCRIÇÕES DE VAIKU¦THA



Ofereço as minhas respeitosas reverências a Sri Krsna Caitanya, que é repleto de doçuras transcendentais e que concede o conhecimento espiritual. Sem a Sua misericórdia, ninguém pode definir a verdade sobre Krsna. (1)



Assim como não é possível para uma partícula de poeira absorver o oceano, é extremamente difícil para uma pessoa tola e pouco inteligente como eu definir a verdade. (2)



Apesar da entidade viva nunca ser capaz de definir a verdade com a sua pequena inteligência, uma personalidade escura com uma forma de consciência pura apareceu em meu coração e me incumbiu de trabalhar para definir a verdade. Por esse motivo tive a coragem de assumir essa tarefa. (3)



O Senhor Sri Krsna está além do espírito e da matéria e não tem outra origem. O nome da Sua morada é VaikuA˜ha e ela foi criada pela Sua potência interna, cit-sakti. VaikuA˜ha está além do tempo e do espaço materiais e é a residência das almas eternamente liberadas. Todas as entidades vivas eternamente liberadas, que são partes fragmentárias do Senhor Supremo, emanam da jiva-sakti do Senhor, ou a Sua potência marginal, para assistirem o Senhor em Seus passatempos. VaikuA˜ha é a morada das almas eternamente liberadas e o lar dos passatempos eternos de Krsnacandra. Essa realidade está além do tempo material e portanto o passado, presente e futuro não existem lá. No entanto, nessa criação material, devemos considerar o passado, presente e futuro, porque aqui as entidades vivas estão condicionadas pelo tempo e espaço. (4)



O Senhor Sri Krsna está sempre absorto em rasas transcendentais e rodeado por almas liberadas. Ele vive sempre entregue às emoções que surgem das inúmeras atividades espirituais. Ele é o centro de atração de todos os olhares. (5)



Um grande e maravilhoso relacionamento espiritual é encontrado entre as entidades vivas espiritualmente perfeitas e Krsnacandra, que é a causa de todo o conhecimento espiritual. Esse relacionamento é chamado priti, ou amor. Esse amor é concomitante à criação das entidades vivas, portanto ele é a natureza inerente das entidades vivas. No entanto se não houver independência nesse relacionamento, não há possibilidade da entidade viva alcançar rasas elevadas. Portanto Sri Krsna dá o poder da independência às entidades vivas, para que elas possam discriminar entre uma atividade apropriada e uma atividade imprópria e Ele lhes concede os frutos das suas atividades independente. (6)



Dentre as entidades vivas que possuem independência diminuta, aquelas que têm uma forte disposição para servir ao Senhor alcançam a servidão na morada eterna. (7)



Dentre elas, aquelas que desejam servir ao Senhor com opulência vêem o seu Senhor adorável como NarayaAa e aquelas que desejam servir ao Senhor com doçura O vêem como Krsna. (8)



Aquelas que servem ao Senhor com opulência têm o humor natural de temor e reverência. Portanto sua afeição termina com prema, ou amor, pois devido à fé insuficiente não há praAaya, ou intimidade. (9)



A fé daquelas que servem ao Senhor na rasa conjugal é extremamente forte. Portanto sua afeição avança até mahabhava. (10)



Alguns pessoas dizem que a menos que haja unidade entre a atma e o Paramatma, haverá ausência de praAaya nos relacionamentos espirituais. Elas também dizem que o conceito de mahabhava é a falsa aceitação de pensamentos materiais como sendo espirituais. Considerando essas opiniões, dizemos que as diferentes emoções das entidades vivas que surgem de praAaya não são transformações da ignorância material, elas são emoções espirituais. (11)



Os passatempos na pura morada espiritual de VaikuA˜ha são todos imaculados e como ondas no oceano de bem-aventurança. A palavra vikara, ou transformação, não pode ser aplicada a esses passatempos. (12)



Não há diferença entre Krsna e NarayaAa. Ele aparece como NarayaAa aos olhos absortos em opulência e aparece como Krsna aos olhos absortos em doçura. Na verdade não há diferença na Verdade Absoluta. A diferença só é considerada entre as pessoas que discutem a Verdade Absoluta e nas discussões sobre a Verdade Absoluta. (13)



Sri Krsna é a Suprema Verdade Absoluta sem outra alternativa. Ele é o Senhor de aspecto de Lua, que está sempre absorto no êxtase de Seus passatempos e Ele manifesta diferentes formas devido à variedade das rasas. (14)



Na verdade não existe diferença entre as Suas várias formas, porque na Verdade Absoluta não há diferença entre o continente e o seu conteúdo, entre o corpo e o seu possuidor, ou entre a ocupação e o seu executante. No estado condicionado, existem essas diferenças no corpo humano devido à concepção errônea de se identificar o corpo como o eu. Essas diferenças são naturais para os objetos materiais. (15)

Os vaiseikas dizem que a qualidade pela qual um objeto se diferencia do outro é chamada variedade. Devido a essa variedade que vemos diferença entre os átomos da água e os átomos do ar e entre os átomos do ar e os átomos do fogo. Mas os vaiseikas têm detectado a variedade que existe apenas no mundo material; eles não têm informação sobre a variedade que existe no mundo espiritual. Não há nenhuma informação sobre isso nas escrituras dos jnanis. É por isso que os jnanis consideram a liberação como sendo o brahma-nirvaAa, a absorção ou imersão no Supremo. De acordo com os vaisnavas essa qualidade da variedade não existe apenas no mundo material, mas existe eternamente no mundo espiritual. É por isso que a Superalma é diferente da alma e a alma é diferente do mundo material, e todas as almas são diferentes umas das outras. A partir da qualidade da variedade, o amor a Deus assume a forma de ondas e aparece como várias emoções. (16)



Devido ao condicionamento material a nossa inteligência se tornou poluída pela sujeira desse mundo. Portanto a realização da variedade que existe no mundo espiritual é extremamente difícil. (17)



Devido à qualidade da variedade não há apenas uma diferença eterna entre o Senhor e as entidades vivas puras, há também um relacionamento puro eterno entre eles. Assim como as entidades vivas condicionadas têm cinco tipos de relacionamentos no mundo material, também existem cinco tipos de relacionamentos entre Krsna e as entidades vivas. (18)



Os nomes desses cinco tipos de relacionamento são santa (neutralidade), dasya (servidão), sakhya (amizade), vatsalya (afeição paternal) e madhurya (amor conjugal). (19)



Na associação do Senhor, o amor extático das entidades vivas puras se manifesta de acordo com as suas qualificações e relacionamentos em oito emoções diferentes. Todas essas emoções são sintomas de amor. Elas são conhecidas como pulaka (arrepio), asru (choro), kampa (tremor), sveda (perspiração), vaivarAya (palidez), svara-bheda (choque) e pralaya (devastação). Esses sintomas se manifestam na forma pura das entidades vivas, mas nas entidades vivas condicionadas eles são contaminados materialmente. (20)



A afeição dos devotos que estão situados em santa-rasa permanece na forma de rati, ou atração, que proporciona felicidade mental. Quando a afeição está misturada com apego em dasya-rasa, então isso é chamado de atração em amor puro. (21)



Em sakhya-rasa, essa atração em amor puro se transforma em praAaya, ou intimidade, que é reforçada pela fé, apego e que destrói o medo. (22)



Em vatsalya-rasa essa afeição flui até sneha-bhava, afeição com sentimentos de êxtase. Mas quando kanta-rasa, ou a rasa conjugal, aparece, então todas as emoções citadas se misturam com mana (ira de ciúmes), raga (apego), anuraga (maior apego) e maha-bhava (grande êxtase). (23)



Assim como as entidades vivas estão cercadas pelos parentes e dedicadas às atividades domésticas no mundo material, o Senhor Kna está fazendo a mesma coisa em VaikuA˜ha. (24)



Todos os associados em santa, dasya, sakhya, vatsalya e madhurya são servos do Senhor. Sri Krsna é o Senhor amado e o objeto de adoração desses devotos. (25)



Na afeição da realidade absoluta de VaikuA˜ha, as qualidades como onisciência, tolerância, habilidade, consideração, perícia e compaixão estão em completa harmonia. Devido à ausência de afeição no mundo material, essas qualidades parecem distintas. (26)



O rio Viraja flui eternamente pelo círculo externo de VaikuA˜ha. O rio Kalindi flui eternamente pelo círculo interno. Os dois rios são transcendentais ao modo da paixão. Essa terra indescritível é o local de repouso de todas as almas puras. (27)



Todas as trepadeiras, palácios, casas e portais são completamente espirituais e livres de todas as falhas. A influência do tempo e espaço não podem poluir essas coisas. (28)



Algumas pessoas tentam impor as suas concepções materiais sobre a natureza de VaikuA˜ha e assim acabam tomadas pelo preconceito. Mais tarde eles tentam estabelecer esses preconceitos com os seus argumentos perspicazes. Concluem que no entanto essas descrições de VaikuA˜ha e dos passatempos do Senhor são na verdade completamente materiais. Esses tipos de conclusões surgem apenas devido a um conhecimento impróprio da Verdade Absoluta. Somente as pessoas que não discutiram profundamente os temas espiritais estarão propensas a raciocinar dessa maneira. Os corações cheios de dúvidas dos madhyama-adhikaris estão sempre oscilando entre o material e o espiritual por serem incapazes de atravessar para a realidade da Verdade Absoluta. Na verdade, a variedade vista no mundo material é apenas um reflexo pervertido do mundo espiritual. A diferença entre os mundos materiais e espirituais é essa: No mundo espiritual tudo é bem-aventurado e sem defeitos, enquanto no mundo material tudo é uma mistura temporária de felicidade e aflição, cheio de imperfeições que surgem devido ao tempo e ao local. Portanto, as descrições do mundo espiritual não são imitações do mundo material, elas são os ideais mais elevados. (29)



O esplendor da morada espiritual é estabelecido pela qualidade de variedade. Apesar desse esplendor ser eterno, VaikuA˜ha no entanto é não-dual e constitucionalmente eterno, pleno de bem-aventurança e conhecimento. O mundo material consiste em dualidades que surgem do tempo, espaço e circunstâncias, contudo, como VaikuA˜ha é transcendental à criação material ele é desprovido de dualidade e de falhas. (30)



O serviço eterno ao Senhor Krsna é a felicidade eterna daqueles que são eternamente perfeitos e daqueles que alcançaram a perfeição. (31)



Está além da minha capacidade de expressão descrever os passatempos puros extáticos das entidades vivas, porque as palavras que usaria para descrevê-los seriam produtos do mundo material. (32)



Apesar de ser incapaz de descrever com clareza esse tema através das palavras, através de sama e pelo processo de saraju˜ tenho descrito esses temas sobre o Senhor com o melhor da minha habilidade. Se alguém simplesmente levar em conta o significado literal insignificante dessas palavras, então não realizará apropriadamente o tema descrito. Portanto solicito ao leitor que tente realizar essas verdades através de samadhi. Devemos tentar compreender os pontos sutis a partir das declarações grosseiras, como em Arundhati-nyaya (quando se evidencia uma estrela opaca com a ajuda de uma grande estrela). O processo de argumentação é inútil, porque ele não pode nos conduzir à Verdade Absoluta. O processo sutil de percepção direta da alma é chamado samadhi. Dei essas descrições baseadas nesse processo. O leitor também deve seguir esse processo para realizar a verdade. (33)



VaikuA˜ha pode ser percebido naturalmente através do samadhi daqueles uttama-adhikaris que alcançaram amor por Krsna, que realiza passatempos em Vraja. Os kani˜ha-adhikaris e os madhyama-adhikaris ainda não estão qualificados nesse aspecto, porque essas verdades não podem ser realizadas pela leitura ou pela argumentação. Os kani˜ha-adhikaris que consideram as escrituras a única autoridade e os lógicos que se consideram liberados são incapazes de avançar.(34)



Assim termina o primeiro capítulo do Krsna-samhita, intitulado “Descrições de VaikuA˜ha”.



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.









CAPÍTULO 2





DESCRIÇÕES DAS ENERGIAS DO SENHOR





Agora vamos considerar a ciência de VaikuA˜ha, que deve ser conhecida pelo erudito. No início deve ser compreendido que não há diferença entre a energia e o energético. Não se ganha nada se considerarmos a Verdade Absoluta como desprovida de energia, portanto é dever das pessoas de comportamento como o dos cisnes aceitarem a existência dessas energias. A energia nunca é uma verdade separada do energético Senhor Supremo. Apesar dos exemplos apropriados para descrever a Verdade Absoluta não estarem disponíveis nesse mundo material, podemos encontrar alguns exemplos indiretos. Assim como o fogo e o calor não podem existir separadamente, a Verdade Absoluta e Suas energias não existem separadamente. (1)



A Verdade Absoluta é manifesta através da energia superior inconcebível da energética Verdade Absoluta, que é a origem dos puruavataras e é realizada através de samadhi. Se o calor for separado do fogo, devido a uma ausência de energia, o fogo não existiria. Analogamente, se a energia fosse separada da Verdade Absoluta, então a Verdade Absoluta não existiria. (2)



A energia superior da Verdade Absoluta é realizada em três aspectos diferentes — sandhini, samvit e hladini. A primeira manifestação da Verdade Absoluta é sat (sandhini), cit (samvit) e ananda (hladini). “No início só havia o Brahman Supremo, depois, que ocorreu a manifestação das Suas energias, Ele se tornou conhecido como sat-cid-ananda. ”Esse tipo de conceito errôneo surge devido à consideração do tempo material e não deve ser aplicado à Verdade Absoluta. As pessoas de comportamento semelhante a cisnes compreendem que a forma sat-cid-ananda do Senhor é sem início, sem fim e eterna. A energia sandhini manifesta a existência da morada eterna, nome, forma, associados, relacionamentos, aspectos e bases da Verdade Absoluta. A energia superior do Senhor tem três potências: cit, ou espiritual; jiva ou marginal; e acit, ou material. A potência espiritual cit é Sua potência interna. As potências marginal e material são separadas. As potências são consideradas de acordo com a proporção de energia manifesta. VaikuA˜ha é a morada da potência espiritual do aspecto sandhini da energia superior. (3)



Os nomes de Krsna se manifestam de abhida-satta, o corpo de Krsna se manifesta de r™pa-satta e as amantes de Krsna como Radha se manifestam de uma mistura de r™pa-satta e sa‰gini-satta. (4)



Todos os tipos de relacionamento se manifestam do aspecto sandhini. O aspecto sandhini do Senhor é a origem de todas as manifestações espirituais e passatempos. (5)



O aspecto samvit da energia superior consiste do conhecimento e a sua aplicação prática (jnana e vijnana). Quando samvit interage com as manifestações do aspecto sandhini, aparecem todas as emoções. (6)



Sem a presença de emoções a existência seria desconhecida. Portanto, todas as verdades são iluminadas por samvit. Todas as emoções de VaikuA˜ha são criadas pelo aspecto samvit da potência espiritual. (7)



Todos os relacionamentos em VaikuA˜ha são estabelecidos por Samvitdevi, que dirige a ação e a inação. As diferentes rasas, tais como santa e dasya, e as respectivas atividades nessas rasas são estabelecidas por samvit. (8)



Se não aceitarmos a qualidade da variedade, então Samvitdevi nos manifesta o aspecto impessoal da Verdade Absoluta. A entidade viva então se refugia no conhecimento impessoal do Brahman. Portanto, o conhecimento impessoal do Brahman é apenas a consideração impessoal de VaikuA˜ha. Para quem aceita a qualidade da variedade, Samvitdevi manifesta a Suprema Personalidade de Deus (Bhagavan). Então, a entidade viva aceita o serviço devocional ao Senhor. (9)



Quando a potência espiritual da energia superior interage com o aspecto hladini, ela cria um apego que leva até o estado de mahabhava, onde hladini concede o êxtase mais elevado. (10)



Esse aspecto hladini é Sri Radhika, que é uma energia do energético, que possui os sentimentos amorosos mais elevados e que é metade da forma do Senhor Supremo. Ela se expande nas formas indescritíveis da inconcebível felicidade de Krsna. (11)



Essa Radha dá prazer a Krsna. Ela é a corporificação de mahabhava. Existem oito variedades de emoções que sustentam a rasa de hladini. Elas são conhecidas como as oito sakhis de Radha. (12)



Quando a energia hladini da entidade viva realiza uma parte da energia hladini espiritual devido à associação com os devotos e pela misericórdia do Senhor, então a entidade viva se torna eternamente feliz, alcança o estágio de sentimentos eternos puros e permanece como entidade individual. (13)



As energias sandhini, samvit e hladini estão eternamente situadas em Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus; isto é, existência, conhecimento e apego estão em perfeita harmonia nEle. No entanto, essas três energias também estão presentes em Suas expansões pessoais em Seus passatempos em VaikuA˜ha. (14)



Apesar de inúmeras qualidades variadas estarem eternamente manifestas em Sri Krsna, Ele maravilhosamente permanece nirguAa, desprovido de qualidades materiais, porque as Suas qualidades são interações da Sua potência espiritual e são formas da Sua opulência espiritual. (15)



Depois de concluir as considerações sobre os aspectos sandhini, samvit e hladini da potência espiritual da energia superior, agora vou explicar os aspectos sandhini, samvit e hladini da potência marginal da energia superior. A entidade viva é criada pela vontade do Senhor e pela Sua energia superior inconcebível. As entidades vivas recebem independência diminuta e portanto são classificadas como verdades separadas e suas atividades são referidas como sendo separadas das atividades do Senhor. (16)



Krsna é como um sol espiritual e as entidades vivas são como partículas atômicas desses incomparáveis raios de sol. Portanto, todas as qualidades de Krsna estão naturalmente presentes nas entidades vivas. (17)



Apesar de ser impróprio comparar a grandeza das qualidades do Senhor com o oceano da Terra, se considerarmos Suas qualidades dessa maneira, então as qualidades das entidades vivas parecerão como pequenas gotas do oceano, ou como grãos de areia da Terra. (18)



Os três aspectos — hladini, sandhini e samvit — estão plenamente manifestos em Sri Krsna, mas eles também estão presentes de forma diminuta nas entidades vivas. Isso é compreendido pelas pessoas de inteligência refinada. (19)



Todas as entidades vivas têm independência que lhe foi concedida pelo Senhor, no entanto aquelas que desejam auspiciosidade permanecem naturalmente subordinadas a Krsna. (20)



Aqueles que são incapazes de reconhecer o que é auspiciosidade e o que é inauspiciosidade e que se dedicam à gratificação dos sentidos não aceitam ficar subordinados à potência espiritual e dessa maneira vivem independentemente. Eles perambulam pelo caminho das atividades fruitivas ao vagarem pelo mundo material, que é difícil de sair depois de ter nele entrado. (21)



Para aquelas entidades vivas que trilham o caminho das atividades fruitivas, o Senhor, como Seu passatempo, as acompanha na forma da Superalma. (22)



Os passatempos do Senhor e das entidades vivas parecem mundanos para as almas condicionadas. As entidades vivas desfrutam os resultados das suas atividades fruitivas, enquanto que a Superalma lhes concede os resultados. (23)



Quando a potência marginal da energia superior interage com sandhini, são criados os planetas celestiais superiores. (24)



As atividades fruitivas, os resultados das atividades fruitivas, a aflição, felicidade, pecado, piedade e todos os desejos são criados por essa interação com sandhini. As funções dos corpos sutis também são criadas por essa interação. Svargaloka, Janaloka, Tapoloka, Satyaloka e Brahmaloka são todos criados por essa interação. Até os planetas infernais inferiores devem ser compreendidos com sendo criados por essa interação com sandhini. (25)



Quando a potência marginal da energia superior interage com samvit, ela manifesta o conhecimento da Verdade Absoluta. Por esse conhecimento a entidade viva realiza a Superalma. Esse conhecimento é diferente e inferior ao conhecimento do Brahman impessoal, que se manifesta pela interação da potência espiritual da energia superior com samvit. (26)



A renúncia, na forma de negligenciar maya, se manifesta da interação de samvit com a energia marginal. Às vezes as entidades vivas consideram a felicidade de realizar o eu como sendo insignificante e a felicidade de realizar a Superalma como relativamente superior e portanto elas desejam imergir na Superalma. (27)



Quando a potência marginal da energia superior interage com hladini, ela manifesta o serviço devocional ao Senhor Supremo. Esse serviço devocional anula a concepção material do Senhor e O estabelece como nirakara, ou desprovido de forma. (28)



O rati, ou apego, da potência espiritual é diferente desse tipo de serviço devocional ao Senhor Supremo. Portanto, esse serviço devocional ao Senhor é naturalmente seco, ou sem rasa, e não está baseado no amor. (29)



As preces daqueles que realizam esse tipo de serviço devocional estão misturadas com gratidão, portanto isso não pode ser chamado de serviço devocional imotivado. Ou seja, suas preces estão repletas de desejos de avanço material ou renúncia. (30)



Apesar de às vezes surgirem lágrimas de emoção ao se executar esse tipo de serviço devocional, as emoções por Sri Krsna, que desfruta de passatempos espirituais, não desponta. (31)



Isso significa que não existe emoção superior nos corações das almas condicionadas além dessa forma de serviço devocional? Certamente que há. Assim como Sri Krsna realiza Seus passatempos em VaikuA˜ha com as entidades vivas eternamente perfeitas, Ele certamente realiza passatempos relacionados com as almas condicionadas. (32)



Aqueles que consideram a felicidade do aspecto hladini da potência marginal como insignificante e que consideram o Brahman impessoal como incompleto compreendem que os passatempos de Krsna com a potência espiritual da energia superior são mais saborosos, e portanto se juntam a esses passatempos. Eles estão qualificados para receber a felicidade mais elevada. Eles são servos do Senhor e estão sob a proteção da potência espiritual. Eles não recebem os frutos do conhecimento do Brahman impessoal ou de yoga. Nesse contexto, ioga se refere ao serviço devocional (como o descrito nos versos 28-31), como praticado pelas entidades vivas. No que diz respeito ao conhecimento do Brahman impessoal, veja por favor o verso 9 desse capítulo. Portanto quando os yogis e jnanis se tornam afortunados, eles se dedicam às atividades espirituais. (33)



Depois de completar as discussões sobre a potência marginal, agora irei discutir os aspectos sandhini, samvit e hladini de maya-sakti, a potência externa. Toda a matéria inerte se manifesta da potência externa da energia superior. Portanto, essa potência maya confere características espirituais às características materais. Maya, a potência externa, encobre as entidades vivas, portanto ela é a mãe da ilusão e uma serva da Superalma. (34)





Depois de estudar cuidadosamente a natureza de maya, conclui-se que ela é a potência mais baixa de toda a criação, porque toda a inauspiciosidade para as entidades vivas é criada por maya. Se maya não existisse, não haveria degradação para as entidades vivas na forma da aversão ao Senhor. Portanto, muitas pessoas duvidam até que maya seja uma energia do Senhor, porque o Senhor Supremo é todo-auspicioso e não é afetado pelo pecado. Aqueles que compreendem que o Senhor Supremo é o agente e controlador supremo não aceitam nenhum verdade que seja contrária a Ele; portanto eles aceitam maya como sendo a potência material da energia espiritual do Senhor Supremo. A potência externa, que é um reflexo ou sombra da potência espiritual, não é independente. Por vontade do Senhor maya é o reflexo pervertido e portanto, certamente, ela é subordinada à potência espiritual. Nesse conceito não devemos aceitar o significado filosófico Mayavadi de bimba (reflexo), prati-bimba (imagem refletida) e praticchaya (sombra). (35)



Se considerarmos a existência de maya, podemos concluir que esse mundo é um reflexo de VaikuA˜ha, que é criado pela potência espiritual da energia superior do Senhor e que é repleto de variedade. O exemplo da lua na água se aplica à sua sombra (o mundo material). Mas o mundo não é falso assim como a lua não é falsa. Como maya é de fato uma potência da energia superior, tudo o que é criado por ela também é um fato. (36)



No que diz respeito a essa criada (Maya), os eruditos dizem que esse mundo material é uma criação dela. Essa existência material é capaz de atar as entidades vivas como parte dos passatempos do Senhor (ver os versos 22-23 desse capítulo). (37)



Assim como a condição original, pura, de um objeto não é manifestada pela sua sombra, não podemos encontrar o prazer do mundo espiritual no mundo material, que é criado por maya, mas encontramos aqui sua qualidade pervertida, o sofrimento. (38)



Quando a potência externa da energia superior interage com sandhini, ela gera a concepção de nacionalismo. Essa mentalidade só é encontrada nesse mundo. Os sintomas dessa concepção se difundem através das formas e de suas expansões. Se pudéssemos conceber VaikuA˜ha com o nosso pensamento, então as formas materais e suas expansões seriam certamente úteis. Mas a ciência de VaikuA˜ha está além da realidade do espaço material, do tempo e da argumentação e é realizada através de samadhi. Na verdade todas as formas e expansões que são vistas em VaikuA˜ha, a morada dos passatempos transcendentais, são todas espirituais e auspiciosas. Devemos saber que as formas e expansões do mundo material, reflexos pervertidos do mundo espiritual, são sempre desprovidas de bem-aventurança. (39)



As atividades e os corpos das entidades vivas condicionadas são materiais e limitadas e se destinam a realizar trabalho e desfrutar dos resultados. Eles são criados pelo aspecto sandhini da potência externa. Se tentarmos compreender palavras como “minúscula” e “atômica” ao descrevermos as entidades vivas e “grande” ao descrevermos o Senhor Supremo em termos de espaço material, então jamais alcançaríamos o conhecimento da Verdade Absoluta.”

Quando a potência externa da energia superior interage com samvit, ela cria o corpo sutil das almas condicionadas na forma de inteligência e falso ego. A posição constitucional da entidade viva pura está além dos corpos sutis e grosseiro. O aspecto samvit da potência externa é conhecido nas escrituras como ignorância. Devido a essa ignorância é que são criados os corpos grosseiros e sutis das entidades vivas. Quando as entidades vivas puras residem em VaikuA˜ha, o primeiro nó da ignorância, na forma do falso ego, não as amarra. As entidades vivas puras não podem permanecer estáveis depois de abandonarem as suas atividades espirituais. Portanto, assim que a entidade viva se situa em sua própria felicidade devido à diminuta independência que o Senhor lhes dá, elas perdem o seu abrigo e são compelidas a buscar abrigo em Maya. Por isso, as entidades vivas puras não têm outro abrigo além de VaikuA˜ha. As entidades vivas de VaikuA˜ha são muito insignificantes, assim como vagalumes quando comparadas ao poderoso brilho solar do Senhor. Logo que uma entidade viva deixa VaikuA˜ha, simultaneamente um corpo sutil e é arremessada para o mundo material, criado por Maya. Todas as manifestações dos aspectos sandhini, samvit e hladini da potência marginal são misturados com maya assim que que a entidade viva deixa o refúgio de VaikuA˜ha. Quando alguém considera a existência material como sendo a sua existência verdadeira, isso é chamado falso ego. A absorção nesse falso ego é função do coração, o cultivo de objetos dos sentidos materiais no coração é função da mente e a realização através desse cultivo é chamado conhecimento material. A mente, sendo superior aos sentidos, se manifesta como função dos sentidos quando se associa com eles. Quando a impressão do contato entre os sentidos e os objetos dos sentidos se estabelece na mente, ela é protegida por força da memória. Quando se cultivam essas memórias acumuladas seguindo o processo de elaborá-las e condensá-las, então tudo o se pode conjecturar é chamado argumento. É através de desse argumento que se adquire conhecimento dos objetos dos sentidos e dos itens relativos a eles. (41)



O aspecto samvit da energia externa cria a inteligência do coração, os sentimentos dos sentidos, a lembrança da mente e o conhecimento dos objetos dos sentidos (42)



O conhecimento dos objetos dos sentidos é completamente mundano. Ele não tem nada a ver com os nossos deveres constitucionais. Ele é chamado conhecimento material porque está relacionado com as qualidades do mundo material. (43)



O aspecto hladini da energia externa manifesta-se como apego pelos objetos materais. Esse apego gera o conceito de desfrute na forma da felicidade derivada das atividades fruitivas. O apego pelo mundo material, o esforço pela prosperidade material e o desejo de gratificação sensorial surgem naturalmente desse apego pelos objetos dos sentidos. Para poder manter a vida pacificamente foram estabelecidas as quatro castas — brahmaAa, katriya, vasya e s™dra — de acordo com as características naturais das pessoas; e os quatro asramas — ghasta, vanaprasta, brahmacari e sannyasi — de acordo com a posição da pessoa. De acordo com a necessidade são determinados os deveres constitucionais e condicionais das pessoas. Quando os planetas superiores e inferiores, que são criados pelo aspecto sandhini da potência marginal (ver versos 24-25), estão relacionados com os resultados desses deveres, então eles se tornam o objeto das esperanças e temores dos trabalhadores fruitivos. Também deve ser mencionado nesse ponto que os aspectos samvit e hladini da potência marginal, estando quase encobertos pelos aspectos samvit e hladini da potência externa, às vezes manifestam renúncia e conhecimento do eu, que acabam sendo encobertos por maya devido à ausência de atividades espirituais. (44)



Nesse ponto a Superalma é percebida como Yajnesavara, o Senhor do sacrifício. As pessoas do mundo material tentam satisfazê-lO através das suas atividades e O adoram através dos sacrifícios. O nome dessa religião é trivarga, ou dharma, artha e kama. Mas por esse caminho não há a possibilidade de moka, ou liberação. (45)





Assim termina o Segundo capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Descrições das Energias do Senhor.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.





CAPÍTULO 3

DESCRIÇÕES DAS ENCARNAÇÕES DO SENHOR



As duas filosofias: advaita-vada, ou monismo da escola Vedanta e o materialismo da escola Sa‰khya, têm vigorado desde tempos imemoriais. O monismo é também dividos em dois tipos: vivarta-vada e mayavada. Algumas dessas filosofias dizem que o mundo material é uma transformação do Brahman, outras dizem que ele é falso e outras dizem que o mundo material é sem início. No entanto, as pessoas com o comportamento de cisnes, dizem que apesar do Senhor Krsna estar separado de todas as ativiades e das suas causas, através da Sua potência inconcebível e através das Suas três energias principais, Ele está presente e envolvido nas atividades de VaikuA˜ha, das entidades vivas e no mundo material. (1)



Krsna está presente pessoalmente nas atividades espirituais, Ele está presente como a Superalma das entidades vivas e é adorado no mundo material como Yajnesvara. Somente Ele é quem concede todos os resultados das atividades. (2)



Todas as expansões pessoais existentes e todas as expansões separadas criadas, as entidades vivas, são produtos da energia de Krsna, a origem de todas as expansões. Nada pode se manifestar a parte de Sua energia, portanto Ele é a fonte de todas as formas. Todas as encarnações do Senhor emanam dEle, portanto Ele é a fonte de todas as encarnações. O Senhor Sri Krsna é a Suprema Personalidade de Deus. Não há verdade superior a Ele. (3)



Esse Krsna é inconcebivelmente poderoso e misericordioso. Ele se dedica ardentemente ao bem-estar das entidades vivas que têm sido condicionadas por Maya devido à utilização errônea da sua independência. (4)



Quando as almas condicionadas recebem várias formas de acordo com a natureza delas, o Supremo Senhor Krsna, através da Sua potência inconcebível, concorda em acompanhá-las encarnando e desfrutando de passatempos com elas. (5)



Quando as entidades vivas aceitam a posição de peixe, o Senhor aceita Sua encarnação de peixe, Matsya. Matsya é sem daAda. Quando gradualmente as entidades vivas aceitam a posição de vajra-daAda, então o Senhor encarna como K™rma. Quando vajra-daAda gradualmente se torna meru-daAda, o Senhor encarna como Varaha. (6)



Quando as entidades vivas aceitam a posição combinada de ser humano e animal, o Senhor aceita Sua encarnação de Nsiˆha. Quando as entidades vivas são pequenas, Ele aparece como Vamana. Quando as entidades vivas são incivilizadas, Ele aparece como Parasurama. Quando elas são civilizadas, Ele aparece como Ramacandra. (7)



Quando a entidade viva possui o cabedal de conhecimento prático, então o próprio Senhor Krsna aparece. Quando as entidades vivas desenvolvem a tendência de argumentar, o Senhor aparece como Buddha. E quando elas são ateístas, o Senhor vem como Kalki. Esses fatos são bem conhecidos. (8)



No decurso gradual do desenvolvimento dos corações das entidades vivas, o Senhor se encarna em uma forma correspondente ao humor dos devotos. A origem e as atividades dessas formas não são tocadas pelas contaminações materiais. (9)



Depois da devida consideração, os sábios dividiram a história do avanço das entidades vivas em dez períodos de tempo. Cada período tem sintomas diferentes, em que cada humor sucessivo é superior ao anterior. Cada humor progressivo é descrito como uma encarnação. (10-11)



Alguns acadêmicos eruditos têm descrito esse período de tempo em vinte e quatro e determinado vinte e quatro encarnações. Enquanto outros têm descrito dezoito períodos e dezoito encarnações. (12)



Algumas pessoas dizem que o Senhor Supremo é onipotente, e portanto às vezes Ele pode encarnar através da Sua energia inconcebível em um corpo material e que portanto todas as encarnações podem ser aceitas simplesmente como incidentes históricos. De acordo com a opinião dos vaisnavas de comportamento semelhante a cisnes, essa declaração é extremamente irracional porque é impossível que o Senhor Krsna aceite um corpo material e que realize atividades materiais. Para Ele essa atividade seria insignificante e abominável. Mas o Seu aparecimento e passatempos nos corações das entidades vivas realizadas são aceitos tanto pelos sadhus quanto por Krsna. (13)



Assim como o sol não pode desfrutar da sua sombra, Krsna não pode desfrutar da Sua maya. (14)



Para não dizer de Krsna desfrutar de maya, Ele sequer é visto pelas pessoas que estão sob o abrigo de maya. No entanto, simplesmente pela misericórdia de Krsna podemos vê-lO através de samadhi. (15)



As atividades puras de Krsna têm sido percebidas através do samadhi de pessoas de comportamento de cisnes, como Vyasadeva. As atividades de Krsna não são exatamente históricas como aquelas das pessoas que vivem sob as garras de maya, porque as atividades de Krsna não são limitas pelo tempo e pelo espaço. E nem as Suas atividades podem ser comparadas com as atividades das pessoas comuns. (16)



Depois de considerar cuidadosamente e pela misericórdia de Sri Krsna Caitanya iremos descrever brevemente as atividades de Krsna. (17)



A explicação sobre a ciência de Krsna que é apresentada nesse livro pode ser aplicada às Suas várias encarnações. A conclusão é que Krsna é a causa primordial e a semente de todas as encarnações. Ele está eternamente desfrutando de passatempos com as entidades vivas como a Superalma. A Superalma reciproca de acordo com o humor e a realização que a entidade viva adquire ao viajar pelo caminho das atividades fruitivas. Contudo, Krsna não aparece pessoalmente até que surja um apego espiritual nos corações das entidades vivas. Portanto, todas as outras encarnações surgem da Superalma, de quem Krsna é a semente original (ver cap. 2, versos 22-23) (18)



Solicitamos aos vaisnavas de comportamento de cisnes que ignorem as imperfeições desses versos e que desfrutem alegremente das atividades de Krsna, que são a essência e toda fortuna das entidades vivas (19)



No que diz respeito a essa descrição das atividades de Krsna, a despeito de muito esforço somos incapazes de restringir a nossa inteligência das considerações sobre tempo e espaço, porque não estamos livres das dores da vida material (20).



No entanto, depois de beber o aguaceiro da misericórdia de Sri Gauracandra, o filho de Saci é nosso único guia, que o pouco que descrevermos entre nos corações de todas as entidades vivas para suprir a ausência de Krsna-rasa; isto é, que todos saboreiem as doçuras transcendentais dos relacionamentos com Krsna. (21)



E assim termina o terceiro capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Descrições das Encarnações do Senhor.”



Que o Senhor Krsna fique satrisfeito.









CAPÍTULO 4

OS PASSATEMPOS DO SENHOR KRSNA



Dois tipos de pessoas, os kani˜ha-adhikari e os uttama-adhikaris, são elegíveis para compreender a ciência de Krsna. Os madhyama-adhikris não podem compreender a ciência de KrAa devido a sua natureza hesitante. Os madhyama-adhikis são conhecidos como impersonalistas ou então adoradores do controlador supremo. Se eles forem afortunados, por força da associação com devotos eles se tornarão uttama-adhikaris e também realizarão a doçura de Krsna através do processo de samadhi. Apesar de pela misericórdia de Krsna, as entidades vivas poderem alcançar facilmente o estágio de uttama-adhikari, as pessoas geralmente têm uma grande fé na argumentação que surge do aspecto samvit da energia externa e consideram o processo simples de samadhi como superticioso. No entanto, se começarem a ter fé, então primeiro eles se tornam kani˜ha-adhikaris, e mais tarde, pela associação com os devotos, por seguirem as instruções dos devotos e pelo avanço gradual, eles podem certamente se tornar uttama-adhikaris. Mas de forem hesitantes desde o início, então ou eles acabam tendo a boa fortuna de atravessar o oceano da argumentação e se tornam uttama-adhikaris, ou acabam se tornando cada vez mais avessos ao Senhor e se desviam do caminho da liberação. Portanto quando o conhecimento experimentado pelas entidades vivas chega à maturidade pela discussão fiel, então no final da Dvapara-yuga, nasce na piedosa terra de Bharata-vara em Mathura, a personificação do conhecimento Absoluto, o rei Vasudeva e a personificação da bondade pura. (1-2)



Vasudeva apareceu em uma família de devotos e se casou com Devaki, a assim-chamada filha de Kaˆsa, que era a personificação do ateísmo. (3)



Temendo o advento do Senhor apartir desse casal, o malvado Kaˆsa da dinastia Bhoja os prendeu e colocou-os na cadeia da memória. É conhecido que os descendentes da dinastia Yadu eram todos devotos, enquanto que os descendentes da dinastia Bhoja eram todos extremamente argumentativos e contrários ao Senhor. (4)



Esse casal foi tendo seis filhos como Yasa e Kirti, mas Kaˆsa, que era contrário ao Senhor, os matou na infância. (5)



Sri Baladeva é decorado com o serviço ao Senhor e é o reservatório transcendental de todas as entidades vivas. Ele é o sétimo filho do casal. (6)



Sri Baladeva é o reservatório transcendental de todas as entidades vivas e Ele apareceu no ventre de Devaki, que representa o coração cheio de conhecimento. Mas devido ao medo de Kaˆsa, o Seu tio materno, Ele foi para o Seu lar em Vraja. (7)



Ele foi transferido para a fervorosa morada de Vraja e entrou no firmemente devotado coração de RohiAi. Nessa ocasião veio a notícia do aborto de Devaki. (8)



Logo após o aparecimento do reservatório transcendental de todas as entidades vivas, o temor ao Senhor apareceu nos corações das entidades vivas. Em seguida apareceu o oitavo filho de Vasudeva e Devaki, a Suprema Personalidade de Deus, como NarayaAa repleto de todas as opulências. O Senhor apareceu como um grande herói, com o desejo de conquistar Kaˆsa, que era a personificação do ateísmo. (9)



O Senhor na Sua própria forma de Krsna foi trazido para Vraja, que é criada pelo aspecto sandhini da potência espiritual. O fundamento dessa terra é a fé. Isso significa que nessa terra não existe a argumentação e o conhecimento especulativo; ela existe na fé. (10)



Aqui não se encontra conhecimento especulativo ou renúncia. A única autoridade aqui é o abençoado filho de Nanda. Nessa morada ninguém leva em consideração a superioridade ou inferioridade das diferentes castas. É por isso que Ele apareceu em uma família de vaqueiros. Ele está sempre cuidando e protegendo as vacas, porque essas atividades são desprovidas de opulência e são cheias de doçura. (11)



A energia inferior, Maya, que foi concebida pela bem-aventurada mãe Yasoda, a esposa de Nanda, foi levada para fora de Vraja por Vasudeva. A concepção mundana que é inerente à impressão que as almas condicionadas têm da morada espiritual é destruída com a chegada de Krsna. (12)



O inconcebível Senhor Supremo, Sri Krsna e o reservatório transcendental de todas as entidades vivas, Balarama, cresceram juntos em Gokula, que está repleta de raios solares transcendentais de amor puro. (13)



Com o desejo de matar Krsna, o ateísta Kaˆsa mandou P™tana, a matadora de crianças, para Vraja. Iludindo Krsna com afeição maternal, P™tana ofereceu-Lhe o leite do seu seio e foi morta pelo poder de Krsna. (14)



TAavarta, a personificação da argumentação, também foi morto pelo poder do Senhor. Depois disso o Senhor quebrou o assinino Saka˜a, que só carrega cargas. (15)



Sri Krsna exibiu para a Sua mãe o Universo inteiro quando Ele abriu a boca, mas mãe Yasoda não pôde aceitar a opulência de Krsna por estar tomada pela ignorância da potência espiritual que gera apego. Os devotos transcendentais são tão afetados pela doçura do Senhor que não podem aceitar a opulência do Senhor nem quando ela se manifesta. No entanto essa ignorância não é um produto material. (16)



Depois de ver a malcriação de Krsna, ao roubar o coração (na forma de manteiga), Yasoda, a forma do júbilo, tentou em vão atar Krsna com cordas. (17)



Ele, que não tem foram material, foi atado por Yasoda apenas com um cordão de amor. Ninguém pode alcançar a perfeição atando Krsna com cordas materiais. (18)



Durante os passatempos infantis de Krsna, os dois filhos de Kuvera foram facilmente liberados das suas formas de árvores. (19)



A liberação das árvores Yamalarjuna nos permite compreender dois tipos de instruções. A primeira é que por um momento de associação com um devoto, a entidade viva se livra da prisão. A segunda é que através da associação com não-devotos, até mesmo os semideuses se tornam materialistas e se dedicama atividades pecaminosas. (20)



A criança Krsna entrou na floresta com os Seus amigos para pastorear as vacas. Isso significa que as entidades vivas puras, que estão encobertas pela ignorância provocada pela potência espiritual, alcançam a forma de bezerros por estarem fixas em sentimentos de subordinação a Krsna. Vatsasura, a forma das ofensas da meninice, foi morto nos campos de pastagem. (21)



Bakasura, que era mantido por Kaˆsa e que personifica a religião enganosa, foi morto pelo puramente inteligente Krsna. (22)



A serpente chamada Agha, que era a forma da crueldade, soi aniquilada. Depois disso, o Senhor fez um pic-nic de simplicidade. (23)



Enquanto isso, o Brahma de quatro cabeças, o criador de todos os planetas e locutor dos quatro Vedas, ficou confundido pela energia externa de Krsna e roubou os bezerros e vaqueirinhos. (24)



Com esse incidente, Krsna exibiu o domínio completo da Sua doçura suprema, Apesar de ser simplesmente um vaqueirinho, Ele exibiu o Seu controle completo sobre o criador de todo Universo. Esse passatempo também faz compreender que a pessoa mais querida do mundo espiritual, Krsna, não é controlado por nenhuma regulação. (25)



Depois que Brahma roubou os meninos e os bezerros, o Senhor manifestou-Se pessoalmente como os meninos e bezerros e continuou a realizar os Seus pasatempos sem nenhuma dificuldade. Isso deixa claro que mesmo com a destruição do mundo material e do mundo espiritual, a opulência de Krsna nunca é prejudicada. Ninguém pode superar as habilidades de Krsna, não importa quão poderoso ele seja. (26)



Dhenukasura, que personifica o asno do preconceito fanático, foi morto por Baladeva, o reservatório transcendental de todas as entidades vivas. (27)



A serpente Kalya, a personificação da malícia, poluiu as águas do Yamuna, que são líquido espiritual. O Senhor o torturou e o baniu. (28)



O formidável fogo florestal, na forma das desavenças entre as saˆpradayas vaisnavas, foi engolido pelo Senhor para proteger a terra de Vraja. (29)



O patife Pralambasura, que sequestrou o reservatório de todas as entidades vivas e personifica a forma oculta da filosofia budista, Mayavada, foi enviado pelo ateísta Kaˆsa para matar Baladeva. (30)



Assim termina o quarto capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Os Passatempos de Krsna.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.







CAPÍTULO 5

OS PASSATEMPOS DO SENHOR KRSNA



Quando madhurya-rasa se torna excessivamente liquefeita, então o amor cai como a chuva da estação chuvosa. Então as gopis, que são as mais queridas para Hari e completamente absortas em meditar nEle, enlouquecem ao cantarem as Suas glórias. (1)



Agitadas pelo som da flauta de Krsna, as gopis de Vraja adoraram a deusa Yogamaya com o desejo de alcançar Krsna. O aparecimento da verdade de VaiukuA˜ha na consciência pura das entidades vivas desse mundo é chamada Vraja. A palavra vraja significa “ir.” É impossível nos elevarmos desse mundo material rejeitando maya, portanto devemos nos abrigar nos itens materiais favoráveis e tentarmos pesquisar sobre a verdade indescritível. Por essa razão as entidades vivas que alcançaram o humor das gopis buscam refúgio na grande deusa Yogamaya para ajudá-las a alcançar os passatempos do Senhor no mundo espiritual. (2)



As pessoas que têm um desejo intenso de servir a Krsna não guardam segredos entre si ou para os outros. Para poder ensinar esse princípio aos devotos, Krsna roubou as roupas da gopis. Um coração que está situado na bondade pura é a morada apropriada para cativar o Senhor. Ele expôs o amor das gopis por Ele ao roubar-lhes as roupas. (3-4)



Enquanto pastoreava as vacas perto de Mathura, Sri Krsna esmolou grãos alimentícios dos brâmanes que estavam fazendo sacrifício. Por estarem orgulhosos de sua casta, aqueles brâmanes consideraram que a realização de sacrifícios era o princípio mais elevado e por isso não deram nada para Krsna. (5)



O motivo disso é que aqueles brâmanes de alta-classe são os supostos seguidores dos Vedas e portanto não podem realizar o significado sutil dos Vedas. Eles seguem o processo insignificante das atividades fruitivas e se tornam materialistas, ou estudam a ciência da auto-realização e o conhecimento especulativo e se tornam absortos no impersonalismo. Tais brâmanes preferem simplesmente materem-se sob o controle das injunções das escrituras ou das estabelecidas pelos seus antepassados, obdecendo formalmente essas instruções. Eles são incapazes de compreender que o apego ao Senhor é o propósito principal de todas as escrituras, portanto como podem se tornar servos de Krsna? Não devemos concluir com isso que todos os brâmanes são trabalhadores fruitivos ou seguidores do conhecimento especulativo. Inúmeras grandes personalidades apareceram em famílias brâmanes e alcançaram a posição mais elevada dentro do serviço devocional. Portanto o significado desse verso é que os brâmanes de mentalidade asinina que seguem formalmente as regras e regulações são contrários a Krsna, mas os brâmanes que têm comportamento como o dos cisnes são servos de Krsna e portanto são adoráveis por todo mundo. (6)



As esposas dos brâmanes asininos representam as pessoas que estão subordinadas a eles com fé rudimentar. Ao ficarem sob o controle da doçura de Krsna, que é a Superalma, elas saem da floresta e vão se oferecer a Ele. Aqueles que têm fé rudimentar são chamados devotos mundanos. (7)



Através desse incidente é estabelecida a igualdade de todas as entidades vivas. Não há consideração de casta para satisfazer a Krsna; ou melhor, às vezes a consciência de casta se torna um obstáculo no desenvolvimento do amor. (18)



Para manterem a ordem social os arianos dividiram a sociedade em quatro castas e quatro ordens sociais. Se o sistema social é protegido, então a vida espiritual das pessoas é sustentada pela boa associação e discussão. Portanto o sistema de varAasrama deve ser aceito em todos os aspectos. Com esse arranjo há a possibilidade de gradualmente se alcançar o amor por Krsna. O principal propósito desse arranjo é cultivar a vida espiritual, ou amor por Krsna. Mesmo que alguém atinja a perfeição sem seguir esse processo, ainda assim ele não deve ser desprezado. Nesse ponto devemos compreender que depois de se alcançar a perfeição, esse processo naturalmente perde a sua importância. Não é falha em rejeitar um processo relativamente pouco importante como o varAasrama para quem alcançou a perfeição na forma do amor por Krsna. Portanto a conclusão é que as falhas e qualidades só podem ser atribuidas quanto a qualificação do executor. (9)



O Senhor Yajnesvara é o Senhor predominante das atividades que visam proteger a ordem social. O Seu representante entre as entidades vivas é Indra. Essas atividades são de duas qualidades: constitucionais e condicionais. As atividades regulares que visam manter a vida são chamadas constitucionais. Todas as demais são condicionais. Se formos analisar veremos que todas as atividades fruitivas podem cair em uma dessas duas categorias. O Senhor Krsna proibe os Seus devotos de realizar qualquer outra atividade além daquela que se destina a preservar a vida. Quando Indra, o senhor das atividades fruitivas, viu o Senhor Krsna fazendo um arranjo para negligenciar as atividades destinadas a sustentar o mundo, ele criou um grande distúrbio. O Senhor protegeu os Seus devotos da inundação e supriu as suas necessidades aceitando Govardhana, o abrigo expandido das pessoas sóbrias, como um guarda-chuva. (10)



Se as atividades que sustentam o mundo forem negligenciadas para o cultivo da consciência de Krsna, os devotos de Krsna não devem se entir ansiosos. (11)



Ninguém pode destruir aquele que Krsna deseja proteger. O poder das regulações não pode influenciar essas pessoas. Para os devotos de Krsna só existem as amarras que os atam ao Senhor, eles não estão atados pelas regras e regulações. (12)



Em Sri Vndavana, a terra da fé, flui o Yamuna, a personificação do líquido espiritual. Nanda Maharaja foi imerso nessa água e o Senhor o liberou como parte dos Seus passatempos. (13)



Depois disso, o Senhor Krsna misericordiosamente exibiu a verdade e a opulência de VaikuA˜ha para os vaqueiros. Isso mostra que a doçura de Krsna é tão proeminente que Suas opulências ficam encobertas pela Sua presença. (14)



O Senhor, que é muito querido para as entidades vivas eternamente perfeitas e para os seus seguidores, realizou a Sua rasa-lila, que é o climax do amor extático. (15)



Depois o Senhor mais misericordioso incrementou o amor das gopis ao desaparecer de repente da presença delas, Ele começou a dançar no círculo da rasa-lila. (16)



Nesse mundo material, que é criado por maya, há uma constelação principal chamada Dhruva. Todos os sóis e os seus planetas gravitam continuamente em volta de Dhruva devido ao seu poder de atração. A principal consideração é que existe uma energia que atrai todos os átomos materiais. Pelo poder dessa energia os átomos são atraídos uns pelos outros e assim eles criam um planeta globular. Quando esses planetas são atraídos por um planeta globular maior, eles começam a se mover em volta dele. Essa é uma lei invariável do mundo material. Maya é a base do mundo material e é apenas um reflexo do mundo espiritual. Isso já foi explicado anteriormente ao discutirmos as energias do Senhor. Devido à sua constituição eterna, na forma do amor, a entidades vivas de consciência diminuta no mundo espiritual são atraídas umas pelas outras e elas imitam uma com consciência mais elevada. Essas pessoas de consciência mais elevada e os seus associados subordinados se movem constantemente no círculo da dança da rasa de Krsna, que é o superconsciente e supremo Dhruva. Portanto o grande passatempo da rasa-lila se manifesta eternamente na realidade de VaikuA˜ha. No mundo espiritual essa atração sempre existente expande o amor até mahabhava e no mundo material o reflexo se extende como uma inconcebível atração material que cria a diversidade. para poder ilustrar verdades sutis com exemplos grosseiros, dizemos que no mundo material o sol e os planetas estão girando constantemente em volta da constelação de Dhruva pelo poder dessa atração, assim como todas as entidades vivas puras circulam eternamente em volta de Krsna pelo pode da Sua atração. (17-18)



Nos passatempos transcendentais da rasa-lila, Sri Krsna é o único desfrutador e todas as outras entidades vivas são desfrutadas. A conclusão é que a personalidade semelhante ao sol do mundo espiritual, o Senhor Sri Krsna, é o único macho e todas as demais entidades vivas são fêmas. Todos os relacionamentos do mundo espiritual estão baseados em amor puro, portanto admite-se que o desfrutador é o macho e os desfrutados são fêmeas. O machos e fêmeas do mundo material são reflexos pervetidos do desfrutador e dos desfrutados no mundo espiritual. Se pesquisarmos em todos os dicionários não iremos encontrar palavras que descrevam apropriadamente os passatempos espirituais e supremamente conscientes do Senhor e dos Seus associados. Portanto as descrições de homem e mulher do mundo material são usadas aqui como uma indicação adequada. Não há necessidade ou sugestão de pensamentos obcenos quanto a isso. Se rejeitarmos essas atividades como obcenas, então perderemos a oportunidade de discutir esse passatempo supremo. Somos capazes de descrever as verdades de VaikuA˜ha descrevendo as emoções mundanas como reflexos das emoções espirituais. Não há outra alternativa a esse respeito. Por exemplo: Krsna é misericordioso. Mas para demonstrar como Krsna é misericordioso, temos que dar o exemplo de certas pessoas que são misericordiosas. Não há maneira de expressar essa qualidade além de dar um exemplo que seja bem conhecido. Portanto as pessoas de comportamento semelhante ao dos cisnes devem abandonar a timidez e considerações obcenas e então ouvir, ler e meditar sobre os tópicos transcendentais da rasa-lila sem ansiedades. (19)



A expressão mais elevada da rasa-lila é Srimati Radhika, que é a personificação de hladini, que manifesta a doçura de Krsna e que é supremamente adorável para as entidades vivas, Ela é rodeada pelas Suas sakhis, que são personificações das várias emoções e beleza situadas na dança da rasa. (20)



Depois da dança da rasa, os passatempos aquáticos nas águas espirituais do Yamuna ocorrem naturalmente. (21)



Quando Maharaja Nanda, que é a personificação da felicidade, foi engolido pela serpente, que personifica a imersão no Supremo, Krsna, o protetor dos devotos, o resgatou do perigo. Sa‰khac™da era a personificação da fama, porque considerava a fama a sua vida e alma. Ele foi morto ao tentar criar distúrbios em Vraja. (22)



Quando Krsna, o inimgo de Kaˆsa, decidiu ir para Mathura, o demônio cavalo, Kesi, que personifica a futilidade da ambição política, foi morto. (23)



Akr™ra, o catalisador dos eventos futuros, levoi Krsna e Balarama para Mathura, onde os dois Senhores primeiro mataram o lutadores e depois Kaˆsa. (24)



Depois que o ateísta Kaˆsa foi morto, o seu pai, Ugrasena, a personificação da liberdade, foi instalado no trono por Krsna. (25)



As duas esposas de Kaˆsa, Asti e Prapti, descreveram a morte do esposo delas para Jarasandha, a personificação das atividades fruitivas. (26)



Ao ouvir a descrição que elas fizeram, o rei de Magadha reuniu em imenso exército e atacou Mathra dezessete vezes, mas foi derrotado todas as vezes. (27)



Quando Jarasandha atacou Mathura novamente, o Senhor foi para a Sua morada de Dvaraka. O significado principal é que existem dez tipos de atividades purificatórias, tais como rituais funerários, juntamente com as quatro castas e quatro ordens de vida, o eleva o total para dezoito. Dentre essas, quando a décima oitava, ou sannyasa, captura a morada do conehcimento, então devido ao desejo de liberação, o Senhor desaparece. (28)



Durante a residência de Krsna em Mathura, Ele foi para o gurukula, onde Ele estudou com muita facilidade todas as escrituras. Ele trouxe de volta à vida os filhos do Seu guru que haviam morrido e oferece-lhes para Seu Guru. (29)



Não há necessidade para Krsna, que é perfeito independentemente, se dedicar ao aprendizado, mas quando alguém reside em Mathura, a morada do conhecimento, o conhecimento gradualmente se expande. Isso ficou ilustrado nesse passatempo. (30)



Aqueles que desfrutam os frutos das suas atividades são chamados luxuriosos. O apego que essas pessoas têm por Krsna está contaminado com impurezas, mas se elas cultivam o apego por Krsna por um longo tempo, então surge a devoção pura. (31)



Enquanto residia em Mathura, Krsna teve um relacionamento aparentemente mundano com Kubja. Apesar de existirem desejos luxuriosos no coração de Kubja, esses desejos acabaram se transformando em amor puro. Depois disso Krsna mandou Uddhava a Gokula e ensinou-lhe que os sentimentos amorosos dos residentes de Vraja são os mais elevados que existem. (32)



Nos smtis está declarado que os PaAdavas eram como os ramos da religião e que os Kauravas eram como os ramos da irreligião. Portanto o Senhor Krsna era o amigo e o protetor dos PaAdavas. (33)



O Senhor enviou Akr™ra para Hastinapura como embaixador para estabelecer os princípios religiosos e liberar as pessoas pecaminosas. (34)



Assim termina o quinto capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Passatempos de Krsna.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.



CAPÍTULO 6

OS PASSATEMPOS DO SENHOR KRSNA



Existem dois tipos de atividades: auto-centradas e centradas em Deus. As atividades centradas em Deus são chamadas karma-yoga, porque tais atividades sustêm o conhecimento e esse conhecimento juntamente com essas atividades fazem despertar o apego pelo Senhor. Essa mistura de karma, jnana e bhakti é chamada de karma-yoga por algumas pessoas, de jnana-yoga por outras e de bhakti-yoga por algumas outras. As pessoas de mentalidade semelhante à dos cisnes chamam essas atividades de uma síntese de yoga. As atividades que são auto-centradas são chamadas atividades fruitivas. As atividades fruitivas geralmente criam dúvidas em relação ao Senhor, na forma de Asti e Prapti. As atividades fruitivas então arranjam o seu casamento com o ateísmo (Kaˆsa). Esse Jarasandha, a personificação das atividades fruitivas, obstrui Mathura, a personificação do conhecimento espiritual. (1)



Pela Sua doce vontade, Sri Krsna levou todos os seus amigos, a personificação dos devotos, para Dvaraka, a morada que personifica o serviço devocional regulado. Quem não segue as regras e reguilações do varAasrama é chamado yavana. Quando um yavana realiza atividades ilícitas, ele passa a ser considerado um mleccha. Como o suporte das atividades fruitivas, esse yavana era inimigo do conhecimento. O rei Mucukunda, a personificação do caminho da liberação. Foi chutado por esse yavana, e o malévolo yavana foi morto pelo podoreso olhar de Mucukunda. (2-3)



Residindo em Dvaraka, que está repleta do conhecimento das opulências, o Senhor casou-se com RukimiAi, a personificação da opulência suprema. (4)



Assim que Pradyumna, a personificação de Cupido, nasceu do ventre de RukmiAi, ele foi imediatamente raptado pelo debilóide Sambara, a personificação de maya. (5)



Em uma ocasião remota o copro de Cupido havia sido reduzido a cionzas pelo renunciante seco Mahadeva. Naquela ocasião, Ratidevi, a personificação do desfrute material, se abrigou na natureza demoníaca. Mas quando despertou o serviço devocional regulado, então Cupido nasceu novamente na forma de filho de Krsna. Então ele liberou a sua esposa, Ratidevi, das garras da natureza demoníaca. O significado é que em yukta-vairagya, é aceitável luxúria e apego regulado. Com o auxílio dos ensinamentos de sua esposa, o poderosíssimo Cupido matou Sambara, a personificação do desfrute material e retornou para Dvaraka com a sua esposa. (6)



Depois de recuperar a jóia, o Senhor casou-se com Satyabhama, que personifica uma porção do orgulho ciumento de RadharaAi. (7)



As oito rainhas de Krsna, lideradas por RukmiAi, eram reflexos das opulências do aspecto hladini e eram muito queridas por Krsna. (8)



Os sentimentos do Senhor em Seu aspecto doce são inquebrantáveis, mas os sentimentos do Senhor em Dvaraka, o abrigo do opulento serviço devocional regulado, não são assim tão doces, porque muitos filhos e netos expandem a família dos Seus sentimentos. (9)



Nesse livro, que explica os significados grosseiros, é muito difícil explicar o significado desses filhos e netos. Quem sabe algumas pessoas inteligentes poderão elaborar detalhadamente os significados deles em um livro separado. (10)



A filosofia demoníaca, na forma do monismo, nasceu em Kasi, a morada de Siva, onde uma pessoa malévola declarou ser Vasudeva e pregou essa filosofia demoníaca. O Senhor, que é o esposo de Rama, o matou e incendiou Kasi, o lar dessa filosofia demoníaca. (11)



Narakasura também era chamado Bhauma, porque considerava que a Verdade Absoluta era mundana. O Senhor, que senta-se sobre Garuda, matou Narakasura e depois de liberar as rainhas, casou-se com elas. A concepção da Deidade como sendo um ídolo é abominável, porque é tolice considerar a Verdade Absoluta como sendo mundana. Há uma grande diferença entre servir a Deidade do Senhor e adorar ídolos. A adoração da Deidade é um indicador da Verdade Absoluta, porque por esse processo alcança-se a Verdade Absoluta. Enquanto que a adoração de ídolos significa a aceitação de forma material ou impessoal da Verdade Absoluta, ou seja, aceitar uma forma material como o Senhor Supremo. O Senhor acaba liberando e aceitando as pessoas que são dessa opinião. (12)



O Senhorfez com que Jarasandha fosse morto por Bhima, o irmão de Dharma. Então Ele resgatou inúmeros reis da prisão do karma. (13)



O Senhor aceitou adoração ilimitada no sacrifício de Yudhi˜hira e cortou a cabeça de Sisupala, a personificação da inveja. (14)



O Senhor protegeu a sociedade ao restabelecer os princípios da religião e removeu a carga do mundo ao arranjar a batalha de Kuruketra. (15)



Narada Muni visitou Dvaraka e ficou abismado com a profundidade da Verdade Absoluta quando viu que Krsna estava presente simultaneamente na casa de cada uma das rainhas. É muito maravilhoso que o Senhor Supremo esteja simultânea e completamente presente em todo lugar: dentro do caoração de todas as entidades vivas e ao mesmo tempo dedicando-se a vários passatempos. A qualidade da onipresença é insignificante para o Senhor Todo-poderoso. (16)



Dantavakra, a personificação do homem incivilizado, foi morto pelo Senhor. O Senhor então provindenciou o casamento da Sua irmã, Subhadra, com Arjuna, o irmão de Yudhi˜hira. Para poder estabelecer um relacionamento entre o Senhor e uma entidade viva desfrutada que ainda não desenvolveu a natureza de ser uma consorte do Senhor, o aspecto hladini do humor de amizade seleciona uma devota inconcebível para fazer o papel de Subhadra, que se torna muito próxima ao Senhor como Sua irmã. Subhadra é para ser desfrutada por um devoto como Arjuna. No entanto, esse relacionamento não é tão elevado como o existente em Vraja. (17)



O Senhor protegu Dvaraka ao matar Salva, que possuia poderes místicos. As artes científicas são muito insignificantes diante do Senhor. O rei Nga estava sofrendo os resultados do seu mau karma na forma de um lagarto, mas foi liberado pela misericórdia do Senhor. (18)



Se o artigo mais desfrutável for oferecido por um não-devoto, o Senhor não o aceita. Mas se algo simples for oferecido com amor, o Senhor o aceita. Isso foi demonstrado quando o Senhor comeu o arroz que Sudama ofereceu. (19)



O macaco Dvivida, a personificação da flata de bondade, foi morto por Baladeva, que possuia amor extático por Krsna e que é o reservatório de todas as entidades vivas. (20)



Nas florestas de Vraja, que são criadas pelo aspecto samvit da potência marginal, Srila Baladeva realizou passatempos conjugais com as gopis, as personificações do amor extático. (21)



Todos esses passatempos estão situados nos corações dos devotos, mas quando os devotos abandonam seus corpos materiais, os passatempos desaparecem assim como um ator deixa o palco. (22)



O desejo de Krsna, na forma do tempo, separar os Yadavas, as personificações do amor afetuoso, de Seus passatempos e a inundação da morada de Dvaraka eplas ondas do oceano é inesquecível. O desejo de Krsna é sempre puro e desprovido de toda a inauspiciosidade. Para poder transferir os Seus devotos para VaikuA˜ha, o Senhor os separou dos seus corpos materais. (23)



Esse desejo de Krsna, que concede a felicidade mais elevada, obriga que os devotos abandonem os seus corpos velhos e decrépitos em Prabhasa-ketra, a personificação do conhecimento da Verdade Absoluta. Quando o corpo se torna inútil, então suas partes e membros já não cooperam entre si: eles brigam. Especialmente na hora da morte, quando todas as partes e membros do corpo se tornam sem sentidos; mas no coração dos devotos, a memória nunca se perde. (24)



Na hora de abandonar o corpo, o humor que estiver presente no coração de um devoto acompanha a alma pura até a sua posição gloriosa e o devoto reside eternamente em uma parte de VaikuA˜ha chamada Gokula. (25)



Assim termina o sexto capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Passatempos de Krsna.”



Que o Senhor KrAa fique satisfeito.



CAPÍTULO 7

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PASSATEMPOS DE KRSNA



Já descrevemos como VaikuA˜ha foi criada pelo aspecto sandhini da potência espiritual da energia superior. VaikuA˜ha está dividido em três divisões: a divisão doce, a divisão opulenta e a divisão impessoal. A divisão impessoal é a cobertura de VaikuA˜ha, o apartamento exterior é a morada de NarayaAa e o apartamento interior é chamado Goloka. Os impersonalistas alcançam o Brahma-dhama, a divisão impessoal e se livram das lamentações causadas por maya. Os devotos que adoram o aspecto opulento do Senhor alcançam NarayaAa-dhama e se tornam dessemidos. Os devotos que adoram o aspecto doce do Senhor alcançam o apartamento interior e saboreiam o néctar de Krsna. Liberação da lamentação, temor e néctar são os três-quartos das opulências do Senhor conhecidas como VaikuA˜ha. Quando o Senhor Supremo está dotado de opulência, Ele é conhecido como Vibhu. Esse mundo material é um quarto da opulência de Krsna. Os vários passatempos que começam com o aparecimento do Senhor e continuam até o Seu desaparecimento se manifestam enternamente em Goloka. O humor de Goloka está refletido nos corações das entidades vivas condicionadas, onde os passatempos de Krsna também são eternamente manifestos. Portanto, de acordo com a qualificação dos devotos, em um determinado momento Krsna está nascendo em algum coração de devoto, Ele está roubando as roupas das gopis noutro coração de devoto, Ele está realizando a dança da rasa em outro coração, matando P™tana em outro, está matando Kaˆsa em outro, está tendo um relacionamento com Kubja em outro e encena o Seu desaparecimento do coração de algum devoto que está abandonando o corpo. Assim como as entidades vivas são inúmeras, os planetas também são. Conforme um passatempo ocorre em um planeta, outro passatempo ocorre em outro planeta. Dessa maneira cada passatempo está ocorrendo continuamente. Portanto todos os passatempos do Senhor são eternos; não há interrupção, porque as energias do Senhor estão sempre ativas. Todos esses passatempos são puramente espirituais, sem nenhum traço de contaminação material. Apesar de para as entidades vivas em ilusão esses passatempos parecerem pervertidos, na realidade eles são os mais confidenciais e espirituais. (1)



Esses passatempos são constitucionalmente manifestos em Goloka, mas as entidades vivas condicionadas os percebem de maneira relativa. Um passatempo parece diferente porque a natureza das almas condicionadas varia de acordo com o tempo, lugar e pessoa. Os passatempos do Senhor nunca são contaminados, mas eles podem parecer ser devido à nossa consideração contaminada. Foi descrito anteriormente que as atividades do mundo espiritual não são vistas com clareza pelas almas condicionadas. Apesar de às vezez eles poderem ser realizados através de samadhi, isso também é um meio material pervertido da natureza espiritual original. Os exemplos (*) são vistos no local (**), tempo (***) e pessoas (****) que são mencionados nos passatempos de Vraja. Todos esses exemplos podem ser compreendidos de duas maneiras. Para os kani˜ha-adhikaris esses exemplos só são apreciados através da fé completa. Não há outra possibilidade para o avanço deles. Mas para os uttama-adhikaris esses exemplos são aceitos como indicações da diversidade espiritual. Quando as almas condicionadas ficarem livres da afinidade material, então elas irão perceber os passatempos constitucionais do Senhor. (2)



(*) Um exemplo é um objeto ou atividade que se destina a ilustrar um objeto ou atividade indescritível.

(**) A terra de Vndavana e Mathura.

(***) Como a Dvapara-yuga.

(****) Os descendentes dos Yadus e gopas.



As almas condicionadas percebem naturalmente os passatempos do Senhor em termos da sua afinidade por eles. Essa afinidade é de dois tipos: aquela que é encontrada em um indivíduo e aquela que é encontrada na massa das pessoas em geral. A afinidade encontrada nos corações dos devotos em particular é aquela que é encontrada em um indivíduo. Os corações de Prahlada e Dhruva são os locais de repouso para os passatempos do Senhor como um resultado das suas afinidades individuais. (3)



Assim como um determinado aspecto do Senhor aparece e purifica o coração de uma pessoa de acordo com o despertar do seu conhecimento, se vislumbrarmos de uma maneira semelhante toda a sociedade como um indivíduo e considerarmos a sua infância, juventude e velhice, então o determinado aspecto do Senhor que manifesta se torna propriedade comunitária. Conforme amadurece o conhecimento comunitário, eles primeiro levam às atividades fruitivas, então ao cultivo do conhecimento e finalmente levam às atividades espirituais e se torna purificado. A afinidade que é encontrada na massa das pessoas em geral primeiro apareceu no coração de Narada e Vyasa na Dvapara-yuga e foi sendo propagado progressivamente como pura religião vaisnava. (4)



Essa religião vaisnava na forma dos passatempos do Senhor está dividida em três partes de acordo com o desenvolvimento do conhecimento da sociedade. A primeira parte são os passatempos de Dvaraka, onde o Senhor é opulento, onde Ele é conhecido como Vibhu e onde Ele é adorado através dos princípios regulativos. A segunda parte é vista em volta de Mathura, onde a opulência do Senhor é parcialmente manifesta com uma grande porção de doçura. Mas a terceira parte, os passatempos de Vraja, são os melhores de todos. Os passatempos que contêm mais doçura são superiores e mais íntimos por natureza. Portanto Kna é mais completo nos passatempos de Vraja. Apesar das opulências serem parte do esplendor do Senhor, elas não podem se tornar proeminentes diante de Krsna; porque sempre que as opulências são mais proeminentes a doçura diminui. Isso também ocorre no mundo material. Portanto objetos de doçura como vacas, gopas, gopis, vestes de vaqueiro, manteiga, florestas, folhas frescas, o Yamuna e a flauta são as únicas riquezas de Vraja-Gokula, ou Vndavana. Qual é a necessidade de opulência ali? (5-6)



As rasas supremas sob o abrigo dos quatro relacionamentos: dasya, sakhya, vatsalya e madhurya, estão existindo eternamente nos passatempos de Vraja como ingredientes de todas as atividades espirituais. Dentre essas rasas, os passatempos do Senhor com as gopis são os mais elevados. E dentre eles, os passatempos do Senhor com Srimati RadharaAi, que é a jóia mais valiosa entre as gopis, são ainda mais elevados. (7)



Dizem que aqueles que saboreiam essa mais elevada rasa espiritual aceitaram as suas atividades constitucionais eternas. (8)



Temebdo atravessar o limiar do argumento, alguns madhyama-adhikaris dizem: “Tente apenas explicar esses sentimentos com palavras simples. Não há necessidade de usar os passatempos de Krsna como exemplos.” Mas esses tipos de comentários são falhos, porque a diversidade de VaikuA˜ha não pode ser explicada com palavras simples. Apenas por se dizer: “Há um Senhor. Adore-O”, não se explica apropriadamente qual o dever supremo constitucional das entidades vivas. Estar situado no Brahman depois de abandonar maya não pode ser chamado de adoração, porque nesse processo só se aceita um humor indireto de negação; não há nada de positivo. Mas por dizer: “Veja a forma do Senhor. Abrigue-se nos pés de lótus do Senhor”, a qualidade da diversidade de certa forma é aceita. Nessa conjuntura devemos considerar que se alguém não está completamente satisfeito com a diversidade espiritual, ele ainda pode se dirigir à Verdade Absoluta como “Senhor” ou “Pai.” Apesar desses relacionamentos parecerem mundanos, há no entanto um propósito indescritível por detrás deles. Uma vez que podemos aceitar ingredientes materiais, atividades e todos os reflexos pervertidos mundanos de VaikuA˜ha como exemplos, as pessoas com o comportamento semelhante ao dos cisnes não devem temer extrair deles a compreensão das atividades espirituais e seus ingredientes através da propensão dos cisnes. Por temer que os eruditos estrangeiros não compreederem isso e de nos acusarem de adoradores de ídolos, devemos ocultar a jóia do espiritualismo? Aqueles que deverão criticar por certo serão imaturos em suas conclusões. Por estarmos em uma plataforma mais elevada, por que haveríamos de temer as suas conclusões falaciosas? A ciência da rasa não pode ser explicada completamente através de palavras comuns, portanto poetas como Vyasadeva descreveram elaboradamente os passatempos de Krsna. Esses passatempos maravilhosos do Senhor são o cabedal respeitável tanto para os kani˜ha quanto para os uttama-adhukaris. (9)



A felicidade que o Senhor concede quando servido apropiadamente não é obtida quando Ele é adorado como Yajnesavara através de karma-yoga, como o Brahman impessoal através de jnana-yoga ou como o Paramatma, o companheiro da entidade viva, através de dhyana-yoga. Portanto servir a Krsna é o dever ocupacional supremo para todas as entidades vivas — sejam kani˜ha-adhikaris ou afortunados uttama-adhikaris. (10)



Todos os vaisnavas devem ler esse Krsna-samhita e compreender a ciência de Krsna. Todos os resultados que são alcançados por estudar o Srimad Bhagavatam serão alcançados por estudar esse livro.



Assim termina o sétimo capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Considerações sobre os Passatempos de Krsna.”



Que o Senhor Krsna fique satifeito.



CAPÍTULO 8

CONSIDERAÇÕES DIRETAS E INDIRETAS SOBRE OS SENTIMENTOS DE VRAJA



Nesse livro já descrevemos elaboradamente os sentimentos de Vraja. Os sentimentos de Mathura e Dvaraka sustêm os sentimentos de Vraja. (1)



Agora vou discutir os sentimentos de Vraja para a auspiciosidade das entidades vivas. Por permanecerem apegadas aos sentimentos de Vraja, as entidades vivas alcançam a vida eterna. (2)



Esses sentimentos de Vraja agora serão considerados direta e indiretamente. Através da consideração direta encontramos santa, dasya, sakhya, vatsalya e madhurya. (3)



Alguns alcançam o serviço ao rei de Vraja e devotos como Sridama e Subala servem o Senhor com o sentimento de amizade. (4)



Yasoda, RohiAi e Nanda são exemplos de amor parental e gopis como Sri Radhika estão presentes na rasa-maAdala com sentimento conjugal. (5)



Relacionamentos puros e seus respectivos sentimentos são encontrados apenas em Vndavana. É por isso que as entidades vivas puras têm atração natural por Vndavana-dhama. (6)



Todas as escrituras concordam que o sentimento conjugal de Vndavana é o mais elevado, porque a natureza do Senhor como desfrutador e a natureza das entidades vivas como desfrutadas são encontrados ali na sua forma pura. (7)



Em VaikuA˜ha, não há ansiedade entre Krsna e as entidades vivas, uma vez que ambos estão situados em suas posições constitucionais eternas. Lá está eternamente presente a suprema e perpétua felicidade na forma do amor. (8)



A meta final da vraja-rasa é a felicidade do desfrute entre Krsna e as entidades vivas. O sentimento de separação, na forma de p™rva-raga, mana, prema-vaicitya e pravasa é extremamente essencial para suster essa felicidade. Isso se torna perfeito pela contemplação de Mathura e Dvaraka. Portanto os sentimentos de Mathura e Dvaraka sustêm os sentimentos de Vraja, como já descrevemos. (9)



De acordo com as suas qualificações, as entidades vivas condicionadas primeiro se refugiam no serviço devocional regulado. Mais tarde, quando desperta o apego, desperta o sentimento de Vraja. Quando o devoto externamente segue o processo regulado do serviço devocional e internamente se abriga no apego a Krsna, então surge o relacionamento entre Krsna e o devoto que é conhecido como parakiya-rasa, ou amor de amante. Assim como uma mulher casada fica cativada pela beleza de outro homem e secratamente fica apegada por ele, enquanto que exteriormente respeita o seu esposo, similarmente os amantes de Krsna se refugiam em parakiya-rasa ao cultivarem interiormente esse apego enquanto que exteriormente seguem os princípios regulativos e respeitam o Senhor como o protetor desses princípios. Essa ciência é muito importante para as pessoas na rasa conjugal. Os uttama-adhikaris nunca podem abandonar esse comportamento mesmo que sejam criticados pelos madhyama-adhikaris. Esse livro não se destina aos kani˜ha-adhikaris, portanto aqui não vamos falar sobre os princípios regulativos. Os interessados deverão estudar esses princípios em livros como o Hari-bhakti-vilasa. O principal significado desses princípios regulativos é que quando os deveres constitucionais das entidades vivas estão quase adormecidos, ou refletidos pervertidamente nos objetos materiais, então tudo o que os doutores eruditos prescreverem para curar essa doença são chamados princípios regulativos. Enquanto vaga no mundo material, uma grande personalidade é capaz de despertar seu apego adormecido através de certas atividades. Ele concede sua misericórdia para as entidades vivas estabelecendo essas atividades como uma forma de prática espiritual. As prescrições dadas por essas grandes personalidades devem ser seguidas pelos kani˜ha-adhikariscomo se fossem injunções das escrituras. Os sábios que estabelecem essas prescrições são todos uttama-adhikaris e personalidades de comportamento como o dos cisnes. As pessoas que não conseguem despertar o apego a Krsna pelo seu esforço individual não têm outra alternativa além a de seguirem essas prescrições. No Srimad Bhagavatam essas prescrições são classificadas em nove divisões, iniciando por ouvir e cantar. Essas prescrições posteriormente foram discutidas no Bhakti-rasamta-sindhu como sessenta e quatro divisões. A conclusão é que para aqueles cujo o apego natural está praticamente adormecido o caminho prescrito é vidhi-marga, o caminho dos princípios regulativos; mas assim que o apego é despertado, o caminho dos princípios regulativos se torna secundário. Esses princípios regulativos que são seguidos para despertar o nosso apego enquanto cultivamos consciência de Krsna devem ser seguidos com gratidão mesmo após o apego ter sido despertado, para que as pessoas possam seguir o exemplo. De qualquer maneira, os mahatmas com comportamento semelhante ao dos cisnes se reservam ao direito de seguir ou de abandonar os princípios regulativos. (10)



No upasana-kaAda, ou divisão védica da adoração, o paego é dividido em três categorias: apego puro, apego no humor de VaikuA˜ha e apego baseado em exemplos materiais de relacionamentos espirituais. O apego puro, ou mahabhava, é propriedade de Radhika, que é metade da forma de Krsna. Semelhantes, mas ligeiramente diferentes de mahabhava são os oito sintomas puros de amor extático transcendental, personificados pelas oito sakhis. Semelhantes ao sentimento das sakhis (ver comentário do verso 7.2) são os apegos baseados nos exemplos materiais dos relacionamentos espirituais, personificados pelas manjaris. O adorador primeiro deve se abrigar em uma manjari que tem natureza semelhante a sua. Posteriormente ele deve se abrigar na sakhi que é adorada por essa manjari. Pela misericórdia dessa sakhi, alcançamos abrigo aos pés de lótus de Sri Radhika. A posição do adorador, da manjari, da sakhi e de Srimati RadharaAi no círculo da dança da rasa é similar a de um asteróide, de um planeta, do sol e de Dhruvaloka no mundo material. (11)



Quando as entidades vivas se aproximam de mahabhava com o avanço gradual de suas emoções amorosoas, então é facilmente alcançado o desfrute com Krsna, que concede bem-aventurança ilimitada. (12)



Existem oito obstáculos que poluem o nosso amor extático nos maravilhosos sentimentos de Vraja. Contemplar os nomes desses obstáculos é a consideração indireta do humor de Vraja. (13)



As pessoas que estão no caminho do apego devem evitar o primeiro obstáculo, a aceitação um guru espúrio, por discutirem a chegada de P™tana em Vraja disfarçada de ama de leite (ver apêndice A). Existem dois tipos de gurus: antara‰ga, ou interno e bahira‰ga, ou externo. A entidade viva que está situada em samadhi é o seu próprio antara‰ga-guru (*). Quem aceita a argumentação lógica como seu guru e quem aprende o processo de adoração de um guru assim, na verdade aceitou um falso guru. Quando a argumentação lógica posa como o sustentáculo para os deveres constitucionais das entidades vivas, isso pode ser comparado como a falsidade de P™tana em se apresentar como ama de leite. Os adoradores no caminho do apego devem imergir toda a argumentação lógica em temas espirituais e buscarem abrigo no samadhi. O guru externo é aquele que nos ensina a ciência da adoração. Quem conhece o caminho certo do apego e que instrui os seus discípulos de acordo com a sua qualificação é um sad-guru, ou guru eterno. Quem não conhece o caminho do apego e no entanto instrui os outros nesse caminho, ou quem conhece o caminho e instrui os seus discípulos sem considerar as suas qualificações é um falso guru e deve ser abandonado. O segundo obstáculo é a argumentação falsa. É muito difícil despertar a emoção extática até que TAavarta, na forma de um pé-de-vento, seja morto em Vraja. Os armamentos dos filósosos, budistas e lógicos, na forma de TAavarta, são obstáculos para a emoção extática de Vraja. (14)



Aqueles que não compreendem o propósito dos princípios regulativos e que apenas carregam o peso de segui-los cheios de formalidades são incapazes de desenvolver o apego. Quando Saka˜a, a personificação da carga dos princípios regulativos, é destruido, supera-se o terceiro obstáculo. Os falsos gurus que não consideram a qualificação dos seus discípulos no caminho do apego e assim instruem inúmeras pessoas com o comportamento de Saka˜a a aceitarem serviço devocional com os sentimentos de manjaris e sakhis, cometem ofensas na forma do desrespeito de temas confidenciais e acabam caindo. Aqueles que fazem adoração de acordo com essas instruções também acabam caindo na vida espiritual, porque não alcançam os sintomas de apego profundo por esses tópicos. No entanto, eles ainda podem ser salvos pela associação dos devotos e com instruções apropriadas. Isso é chamado quebrar Saka˜a. As entidades vivas são sóbrias por natureza, mas quando ficam perturbadas por possuirem um corpo feito de sangue e carne isso é chamado bala-doa, ou ofensas juvenis. Esse é o quarto obstáculo, na forma de Vatsasura (veja apêndice B). (15)



O esperto Bakasura, que é a personificação da religião enganosa, é o quinto obstáculo para os vaisnavas. Isso é chamado namaparadha, ofensas contra o santo nome do Senhor. Quem não compreende a sua qualificação mas aceita a instrução de um guru espúrio e dedica ao processo de adoração que se destina aos devotos avançados é uma pessoa de mentalidade asinina e acaba sendo enganada. E aqueles que compreenderam a sua inegibilidade e no entanto com a finalidade de acumular dinheiro e prestígio, seguem o processo de adoração destinado a devotos elevados são chamados enganadores. Até que se destrua essa enganação sob o nome de religião, o apego não é despertado. Essas pessoas enganam o mundo inteiro fazendo um show de formalidades sectárias e de pseudo-renúncia. (16)



Aqueles que vêem e respeitam os show de formalidades externas dessas pessoas orgulhosas não podem alcançar amor por Krsna e são como espinhos em volta do mundo. Devemos deixar claro que não devemos desrespeitar uma pessoa de comportamento semelhante a cisnes só porque ela aceitou as formalidades externas que geralmente são consideradas detestáveis. É dever eterno do vaisnava desenvolver os sintomas de amor, de se associar e de servir os devotos, enquanto se mantém indiferente às formalidades externas. (17)



Aghasura, a personificação da intolerância e da crueldade, é o sexto obstáculo. Devido à falta de compaixão pelas entidades vivas há a possibilidade do nosso apego ir gradualmente diminuindo, porque a compaixão não pode permanecer separada do apego a Krsna. A base da compaixão pelas entidades vivas e a devoção a Krsna é a mesma. (18)



Se alguém absorve sua mente em vários argumentos, opiniões e nas liteturas que lhes dão apoio, então todas as realizações alcançadas através de samadhi são praticamente perdidas. Isso é chamado ilusão provocada pela linguagem florida dos Vedas. Por estar tomado por essa ilusão, Brahma duvidou da supremacia de Krsna. Os vaisnavas devem considerar essa ilusão como sendo o sétimo obstáculo. (19)



A discriminação sutil é extremamente importante para os vaisnavas. Aqueles que inventam discriminações sociais e pregam os princípios inquebrantáveis do vaiAavismo ao mesmo tempo em que quebram esses princípios para suprir suas necessidades são considerados como possuidores de uma disciminação grosseira. Essa discriminação grosseira assume a forma do asno Dhenuka. O asno não pode comer os doces frutos da palmeira e se opõe à teAtativa dos outros em comê-los. O significado é que os acaryas anteriores das saˆpradayas autorizadas têm escrito várias obras de significado espiritual, que as pessoas de discriminação grosseira não compreendem e nem permitem que outros a obtenham. Os devotos asininos que só vivem interessados nos princípio regulativos e que permanecem sob o controle da discriminação grosseira são incapazes de alcançar uma plataforma mais elevada. Os princípios vaisnavas são tão ilimitadamente elevados que aqueles que simplesmente se mantêm enredados pelo processo regulativo sem se esforçarem em compreender a ciência do apego, são comparáveis aos trabalhadores fruitivos comuns. Portanto, até que o asno Dhenuka seja morto, não se pode avançar na ciência do vaiAavismo. (20)



Muitas pessoas malévolas abandonam o caminho dos princípios regulativos e entram no caminho do apego. Quando são incapazes de realizar o apego espiritual das almas, elas se comportam como Vabhasura (Ari˜asura, o demônio touro) cultivando a apego material pervertido. Elas serão mortas pelo poder de Krsna. O exemplo desse obstáculo costuma ser encontrado entre os egoístas dharma-dvajis, devotos de exibição. (21)



A malícia de Kaliya sempre polui a água do Yamuna, que é o líquido espiritual dos vaisnavas. O dever de todos é superar esse décimo obstáculo (ver apêndice C). O décimo primeiro obstáculo dos vaisnavas é o sectarismo, que assume a forma do fogo florestal. Devido ao sectarismo uma pessoa não pode aceitar como vaisnava ninguém que esteja fora do seu próprio grupo e como resultado tem que enfrentar inúmeros obstáculos em encontrar um guru e em se associar com os devotos. Portanto extiguir o fogo florestal é muito importante. (22)



Os impersonalistas desejam imergir a alma no Brahman impessoal. Em outras palavras, procurar a liberação da imersão completa é o defeito de subtrair o eu, porque não há felicidade nesse estado. Nem a entidade viva, nem o Senhor ganham nada com isso. Se alguém acredita na filosofia impersonalista, então deve aceitar o mundo material como sendo falso. Mais tarde ele deduz que o Brahman é indiferente e vai desenvolvendo dúvidas sobre a base do Brahman. Se alguém discute esse assunto com profundidade, então é compelido a aceitar a ignorância sem sentido e a não existência das entidades vivas. Dessa maneira todos os esforços e considerações da humanidade se tornam sem sentido. Às vezes essa filosofia penetra entre os vaisnavas na forma de Pralambasura para difundir anarthas na forma de subtrair o eu. Esse é o décimo segundo obstáculo na ciência vaisnava do amor. (23)



O décimo terceiro obstáculo para os vaisnavas é a adoração de semideuses menores tais como Indra, com o desejo de obter resultados fruitivos mesmo depois de estar situado no processo de serviço devocional. (24)



O décimo quarto obstáculo para se desenvolver amor por Krsna é roubar a propriedade dos outros e falar mentiras. Isso cria perturbações em Vraja na forma de Vyomasura. (25)



A felicidade transcendental das entidades vivas em Vraja é conhecida como nanda. Para alcançar essa felicidade algumas pessoas iludidas tomam vinho e como resultado disso criam o grande anartha de esquecerem-se de si mesmas. O sequestro de Nanda para a morada de VaruAa é o décimo quinto obstáculo para os vaisnavas. As pessoas que estão absortas no humor de Vraja nunca bebem vinho. (26)



O desejo de ganhar fama e gratificação sensorial através de bhakti é chamado Sa‰khac™da. Esse é o décimo sexto obstáculo. Aqueles cujas atividades são motivadas pelo desejo de fama também são orgulhosos, portanto os vaisnavas devem sempre ter cuidado com essas pessoas. (27)



Conforme a felicidade dos vaisnavas vai aumentando continuamente no processo de adoração, eles às vezes perdem a consciência. Nesse momento, o sentimento de imersão se apodera deles. Esse sentimento de imersão no Senhor é a serpente que engoliu Nanda Maharaja. Um praticante que permanece livre dessa serpente se tornará um vaisnava qualificado. (28)



Kesi, um demônio com a forma de cavalo, personifica a concepção que o praticante tem de ser mais perito do que os demais no serviço devocional. Quando esse demônio aparece em Vraja, ele provoca um grande distúrbio. Assim que um vaisnava gradualmente começa a proclamar a sua superioridade, surge uma mentalidade desrespeitosa ao Senhor e o devoto cai da sua posição. Portanto é muito importante prevenir que essa mentalidade malévola penetre no coração. Mesmo que alguém seja perito em serviço devocional, um vaisnava nunca deve abandonar a qualidade da humildade. Se alguém procede com essa mentalidade, então há a necssidade de matar Kesi. Esse é o décimo oitavo obstáculo. (29)



Aqueles que desejam servir a Krsna no alegre humor de Vraja devem ter a cautela de destruir os dezoito obstáculos que citamos. Alguns desses obstáculos devem ser destruídos pelo próprio esforço pessoal e outros devem ser destruídos pela misericórdia de Krsna. Uma entidade viva é capaz de destruir pessoalmente os obstáculos que se encontram recolhidos nos deveres religiosos através do samadhi conhecido como savikalpa. O Srimad Bhagavatam explica que esses obstáculos são na verdade destruídos por Baladeva. Mas também descreve que os obstáculos que são destruídos por se abrigar em Krsna são na verdade destruídos por Ele. As pessoas com comportamento de cisnes, com discriminação sutil, devem discutir cuidadosamente esses tópicos. (30)



Aqueles que estão no caminho de jnana devem abandonar as ofensas encontradas na realidade de Mathura, e aqueles que estão no caminho das atividades fruitivas devem abandonar as ofensas encontradas em Dvaraka. Mas os devotos devem abandonar os obstáculos que poluem o humor de Vraja e estar absortos no amor por Krsna. (31)



Assim termina o oitavo capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Considerações Diretas e Indiretas sobre os Sentimentos de Vraja.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.



CAPÍTULO 9

ALCANÇANDO OS PÉS DE LÓTUS DO SENHOR KRSNA



Sri Vyasa explicou a verdade eterna ao descrever os passatempos de Vraja. Essa verdade eterna está além da plataforma do conhecimento material (ver 2.41-43). (1)



Essa verdade suprema resplandece na existência pura da entidade viva. Essa existência pura é alcançável pelas almas condicionadas através do samadhi puro absoluto, que supera todos os impedimentos. Existem dois tipos de samadhis: artificial e absoluto. Os devotos aceitam o samadhi natural como absoluto e o samadhi fabricado como artificial, a despeito de quaisquer outras explicação que os jnanis possam dar. A alma é espiritual, portanto as qualidades de auto-conhecimento e conhecimento de outros objetos estão presentes nela naturalmente. Pela qualidade do auto-conhecimento, podemos realizar o eu. Pela qualidade do conhecimento de outros objetos, podemos realizar todos os demais objetos. Uma vez que tais qualidades são da natureza constitucional de uma entidade viva, por que duvidar que o samadhi natural é absoluto? Uma entidade viva não precisa se refugiar em nenhum outro instrumento para compreender o objeto supremo. Portanto, esse samadhi é impecável. Mas quando nos refugiamos em Sa‰khya-samadhi, que requer atividades antinaturais ou falhas, isso é conhecido como samadhi artificial. As atividades constitucionais da alma são chamadas samadhi, porque a mente não tem jurisdição nessas atividades. O samadhi natural é fácil e livre de misérias. Se alguém se abriga em samadhi, então a verdade eterna é facilmente realizada. (2)



Os passatempos de Vraja têm sido percebidos e descritos através do processo de samadhi natural, na forma de auto-realização. Apesar dos nomes, formas, qualidades e atividades que são usados para descrever a Vraja-lila parecerem um pouco mundanos, isso é devido apenas a que o mundo material criado por Maya é, em sua origem , semelhante a VaikuA˜ha. Na verdade, o samadhi natural da alma é uma função da potência espiritual. O que quer que seja percebido através de samadhi natural é o exemplo ideal para o mundo material, e não uma imitação. (3)



Por esse motivo os nomes, qualidades e formas de Krsna têm semelhança com nomes, qualidades e formas materiais (4)



A auto-realização passa pela auto-iluminação. Os acadêmicos eruditos chamam auto-realização de samadhi. Isso é muito sutil. Se houver uma sombra de dúvida, é praticamente perdido. Inúmeras verdades tais como a fé que as entidades vivas têm na sua própria existência, a existência eterna da entidade viva e o relacionamento da entidade viva com a Verdade Absoluta são realizadas através de samadhi natural. “Eu existo ou não?” “Existirei depois da morte?” “Eu tenho alguma relação com a Verdade Absoluta? Se alguém desenvolve esse tipo de dúvidas sobre a verdade, então o seu samadhi natural se torna contaminado com preconceitos e acaba sendo gradualmente esquecido. A verdade nunca pode ser perdida; ela só pode ser esquecida. A eternidade da alma e a existência da Verdade Absoluta não podem ser estabelecidas pela argumentação racional, porque a argumentação não vai além da realidade do mundo material. A auto-realização é a única maneira de estabelecer essas verdades. Os devotos de Krsna sempre realizam a sua morada eterna, VaikuA˜ha, e sua ocupação natural, o serviço devocional a Krsna, através do samadhi natural, ou auto-realização. Quando uma alma espiritual pratica o samadhi natural, ela progressivamente realiza os seguintes temas: (1) o seu eu, (2) a insignificância do eu, (3) o abrigo supremo, (4) o relacionamento entre o abrigo e o abrigado, (5) a beleza das qualidades, atividades e forma do abrigo, (6) os relacionamentos entre os abrigados, (7) a morada do abrigo e do abrigado, (8) o fator tempo absoluto, (9) os vários sentimentos do abrigado, (10) os passatempos eternos entre o abrigo e o abrigado, (11) as energias do abrigo, (12) o avanço e a degradação do abrigado pelas energias do abrigo, (13) a identificação errônea do abrigado degradado, (14) o cultivo do serviço devocional para a restauração do abrigado degradado, e (15) a recuperação da posição constitucional do abrigado degradado através do serviço devocional. Esses quinze itens além de outras verdades inconcebíveis são realizadas. Quanto mais o conhecimento material está misturado com o samadhi natural, menos é possível realizar a verdade. Quanto maior o avanço no caminho do samadhi natural através do controle da argumentação racional, que é como um ministro do conhecimento material, mais é possível abrir o cofre e ter posse das verdades espirituais indescritíveis. O cofre de VaikuA˜ha está sempre cheio. O Senhor Krsnacandra, o objeto adorável de todos, está sempre convidando as entidades vivas a abrirem a porta desse cofre. (5)



Destruímos as dúvidas que encobrem o samadhi, e estamos vendo no círculo interior de VaikuA˜ha a maravilhosa forma de Sri Krsna, que é a personalidade mais elevada de Vndavana. Se o nosso samadhi fosse contaminado com conhecimento material e se a propensão de fazer argumentação racional, depois de abandonar todo conhecimento mundano, penetrasse no processo de samadhi, não teríamos a condição de aceitar a qualidade da diversidade do mundo espiritual e nos dirigiríamos apenas até o Brahman impessoal. Mas se o conhecimento material e a argumentação fossem subjugados de alguma maneira e penetrassem apenas em algum grau no processo de samadhi, então aceitaríamos a diferença eterna entre a alma e a Superalma, e mais nada. Mas uma vez que eliminamos completamente essa malévola propensão de duvidar, alcançamos a realização completa da maravilhosa forma do abrigo supremo. (6)



Agora , vamos explicar a forma e a beleza do Senhor, que são realizadas através de samadhi. A maravilhosa forma do Senhor que sustém todos os temas espirituais, é como uma forma humana (ver 2,17-18). Não há diferença entre a energia e o seu efeito na plataforma absoluta, no entanto o aspecto sandhini da potência espiritual com a ajuda da diversidade arranja um efeito tão perfeito que é criada uma cena maravilhosa sem precedentes. Não há nada que se compare a essa beleza, nem nesse mundo e nem no mundo espiritual. Uma vez que não há o predomínio do tempo e do espaço na Verdade Absoluta, o significado ou grandeza da forma do Senhor não aumentam as Suas glórias; isto é, como a Sua forma está além da plataforma material, ela é sempre maravilhosa e completa. Portanto estamos vendo o corpo do Senhor, que é a fonte de toda a beleza, através de samadhi. A forma do Senhor é ainda mais doce. Quanto mais profundamente vermos a forma do Senhor através dos olhos de samadhi, mais vemos uma forma prazeirosa escura indescritível. Talvez essa forma espiritual seja refletida de maneira pervertida como o azul mundano das safiras, que causam alívio aos olhos mundanos, ou nuvens recém formadas mundanas, que aumentam a felicidade dos olhos mundanos ardentes. (7)



As potências sandhini, samvit e hladini imergem maravilhosamente na maravilhosa forma triplamente curva do Senhor. Os olhos sempre prazeirosos do Senhor incrementam a beleza da Sua forma. Talvez as flores de lótus desse mundo tenham modelado os Seus olhos. A coroa na cabeça do Senhor está decorada maravilhosamente. Talvez as penas de pavão desse mundo sejam modestas diante dessas decorações. Uma guirlanda de flores espirituais incrementa a beleza do pescoço do Senhor. Talvez, a guirlanda de flores silvestres desse mundo tenha sido modelada depois dessa guirlanda transcendental. O conhecimento espiritual, que se manifesta do aspecto samvit da potência espiritual, cobre a cintura do Senhor. Talvez o relâmpago de uma nuvem recém formada desse mundo tenha sido modelado depois dessa cobertura. Jóias espirituais como a Kaustubha e outros ornamentos decoram a Sua forma maravilhosamente. O instrumento pelo qual o Senhor convida docemente ou que atrai espiritualmente é conhecido como a Sua flauta. A flauta desse mundo, que cria várias ragas, ou modos musicais, deve ter sido modelada depois dessa flauta. Essa forma inconcebível do Senhor é vista sob uma árvore kadamba, que é a forma dos cabelos arrepiados pelo êxtase, às margens do Yamuna, que é a forma do líquido espiritual. (8-9)



Sri Krsna, o filho de Nanda e Senhor dos mundos espiritual e material, é visto pelos vaisnavas com os sintomas espirituais que citamos, através de samadhi. Uma pessoa com comportamento semelhante a cisnes não deve menosprezar esses aspectos espirituais porque eles têm sombras como formas materias nesse mundo. Todos esses aspectos espirituais se combinam para aumentar o esplendor do Senhor. Quanto mais nos aprofundamos no samadhi, mais aspectos sutis do Senhor são vislumbrados e veremos menos variedade nas qualidades do Senhor em um samadhi mais superficial. As pessoas desafortunadas que estão enamoradas pelo conhecimento material são incapazes de ver a forma espiritual do Senhor e a diversidade do mundo espiritual, mesmo que tentem ver VaikuA˜ha através de samadhi. Por esse motivo o seu cultivo espiritual é limitado e o seu tesouro de amor é muito pobre. (10)



O Senhor Sri Krsnacandra, que é realizado através de samadhi, sequestra os corações das gopis e criadas dos mundos material e espiritual com o som da Sua flauta, que é a forma de toda a atração. (11)



Como esses corações que foram poluídos pelo prestígio social podem alcançar Krsna? O orgulho malevolente desse mundo material tem seis causas: nascimento, beleza, qualidades, conhecimento, opulência e poder. As pessoas que estão tomadas por esses tipos de orgulho não podem aceitar o serviço devocional ao Senhor. Diariamente experimentamos isso em nossas vidas. As pessoas que estão poluídas pelo conhecimento consideram a ciência de Krsna muito insignificante. Ao considerarem a meta da vida, tais pessoas consideram a felicidade do Brahman como sendo superior à felicidade do serviço devocional. As pessoas que estão desprovidas de orgulho alcançam os sentimentos das gopis e gopas para desfrutar com Krsna. As gopas e gopis são autoridades na ciência de Krsna. A razão para usar a palavra gopi nesse verso é que nesse livro estamos discutindo a rasa mais elevada de amor conjugal. As pessoas que estão situadas em santa, dasya, sakhya e vatsalya rasas também estão no humor de Vraja e elas vivenciam as doçuras transcendentais do relacionamento com Krsna de acordo com os seus respectivos sentimentos. Não vamos nos alongar sobre eles nesse livro. Na verdade todas as entidades vivas são elegíveis para o humor de Vraja. Quando o nosso coração está cheio de sentimentos de madhurya, alcançamos Vraja com toda a perfeição. Dentro das cinco rasas, uma pessoa é naturalmente atraída pela rasa que ela possui no relacionamento constitucional com o Senhor e portanto deve adorar o Senhor nesse humor em particular. Mas nesse livro só descrevemos o mais elevado humor de amor conjugal da entidade viva. (12)



Aqueles que alcançaram os sentimentos das gopis são chamados seres perfeitos e aqueles que os imitam são chamados praticantes. Portanto os eruditos, que conhecem a Verdade Absoluta, aceitam dois tipos de sadhus: seres perfeitos e praticantes (13)



Agora vamos explicar o processo gradual de sadhana para aqueles que estão no humor das gopis. Quando o som da flauta de Krsna entra no coração de uma entidade viva que está vagando no mundo material, ela é atraída pelo doce som e se torna altamente qualificada. (14)



Gratificação dos sentidos é o principal anartha do materialista. Quando o abrigado abandona o abrigo, então ele se considera o desfrutador de maya. Se a propensão do praticante pelo desfrute for rapidamente destruída, então ele pode alcançar abrigo nas pessoas que estão apegadas à rasa conjugal e passar a se considerar uma mulher transcendental, para ser desfrutada pelo Senhor. Essas pessoas desaenvolvem p™rva-raga gradualmente e em tamanha intensidade que acabam ficando quase loucas. (15)



Por ver imagens de Krsna ou por ouvir repetidamente descrições de Krsna das pessoas que O viram, a nossa ansiedade em alcançar Krsna aumenta ilimitadamente. (16)



Quando uma entidade viva experimenta atração pelo Senhor através do conhecimento natural, isso é conhecido como ouvir canções de Krsna. Vivenciar Krsna depois de estudar minuciosamente as descrições de Sua forma narrada nas escrituras por pessoas que O viram é chamado ouvir as qualidades de Krsna. Ver o talento artístico de Krsna nesse mundo é chamado ver a imagem de KrAa. Esse mundo material é uma sombra da diversidade do mundo espiritual. Quem quer que tenha percebido isso viu a imagem de Krsna. Em outras palavras, uma pessoa se torna um vaisnava por três processos: vendo o Senhor através do conhecimento natural, realizando o Senhor através do estudo das escrituras e vendo o Senhor através do Seu talento artístico. (17)



A fé pura em Krsna, que é o abrigo dos sentimentos de Vraja, é chamada p™rva-raga ou prag-bhava. Quando essa fé desperta, a pessoa alcança a associação de um devoto residente em Vraja. A associação com os devotos é a causa da realização de Krsna. (18)



Essas pessoas afortunadas estabelecem um relacionamento amoroso com Krsna e gradualmente avançam para a margem do líquido espiritual conhecido como Yamuna, onde elas se encontram com o seu amado. (19)



Pela associação com Krsna, elas experimentam naturalmente tamanha felicidade transcendental que a felicidade do Brahman é considerada insignificante perto dela. Nessa ocasião a felicidade da vida familiar material se torna comparável à água contina nas pegadas de um bezerro em relação ao oceano. (20)



Depois disso, o Senhor e alma de todas as almas, em Sua forma sempre nova, aumenta ilimitadamente esse oceano de bem-aventurança. O Senhor, que é o abrigo de todas as rasas, sempre aparece maravilhosamente sempre-vicejante. Em outras palavras, a sede de rasa das pessoas abrigadas sempre aumenta e nunca fica satisfeita. Através de samadhi, os grandes devotos têm visto cinco rasas diretas no mundo espirtual, começando com santa, e sete rasas indiretas, começando com heroismo e compaixão. Uma vez que o mundo material é comparado a uma sombra do mundo espiritual, todas as rasas de imitação que existem no mundo material devem certamente estar presentes em suas formas puras em VaikuA˜ha. (21)



Agora iremos discutir com profundidade a ciência de rati, ou atração, que já explicamos anteriormente. A atração é a semente do amor e o principal fator que habilita o candidato à execução do serviço devocional. O apego perfeito auto-iluminado de uma entidade viva pelo aspecto sat-cid-ananda do Senhor é chamado atração. A propensão naturalmente perfeita de apego entre identidades espirituais é muito forte entre Krsna e as entidades vivas. Esse estágio é chamado sthayi-bhava, sentimentos extáticos permanentes, que é a meta do Srimad Bhagavatam, a literatura que serve de ornamento para os paramahaˆsas. (22)



Essa atração é a origem sutil da rasa. Assim como o número “um” é a origem para o processo de contagem dos números e no entanto permanece presente nos números subsequentes, analogamente, no estado maduro de priti — quando há prema, sneha, mana e raga — a atração (rati) permanece presente como a origem. A atração é tida como a causa de todas as atividades de priti, enquanto bhava e os outros vários ingredientes são tidos como ramos e sub-ramos. Portanto, a atração aumenta continuamente sob o abrigo de rasa. Há doze rasas diretas e indiretas. (23)



Santa, dasya, sakhya, vatsalya e madhurya são as cinco rasas diretas. Além das cinco doçuras diretas, existem sete indiretas: hasya (riso), adbhuta (maravilhamento), vira (cavalheirismo), karuAa (compaixão), raudra ( Ira), bibhatsa (desastre), e bhaya (medo). Essas sete rasas indiretas derivam das cinco rasas diretas. Até que a atração se misture com um certo relacionamento, ela permanece em um estado neutro e não pode agir. Mas quando a atração se junta a um relacionamento em particular, ela começa a se manifestar. As emoções que são produzidas por essa manifestação são as rasas indiretas. (24)



Quando rati, atração, assume a forma de rasa, ela vai se tornando cada vez mais luminosa ao se misturar com quatro outros ingredientes. Apesar da atração estar presente sob o abrigo da rasa, ela não pode se manifestar sem os ingredientes. Esses ingredientes são de quatro tipos — vibhava (êxtase especial), anubhava (êxtase subordinado), sattvika (êxtase natural), e vyabhicari (êxtase transitório). Vibhava é dividido em duas categorias: alambana (o suporte) e uddipana (estímulo). Alambaba pode ser dividos em dois: Krsna e os Seus devotos. As qualidades e características de Krsna e dos Seus devotos são chamadas uddipana. Anubhava está dividida em três: ala‰kara (ornamentos do amor emocional), udbhasvara (manifestações externas do amor emocional), e vacika (manifestações verbais do amor emocional). Os doze tipos de ala‰karas, tais como bhava (êxtase) e hava (gestos), são categorizados em três: a‰gaja (em relação com o corpo), ayatnaja (em relação com o eu), e svabhavaja (em relação com a natureza). Atividades físicas como jmbha (bocejar), ntya (dançar) e luA˜hana (espoliar) são conhecidas como udbhasvaras (manifestações externas do amor emocional). Existem doze vacika anubhavas, tais como alapa e vilapa. Existem oito sattvika-vikaras, tais como stambha (estar atônito), e sveda (perspirar). E existem trinta e três vyabhicari-bhavas, tais como nirveda (indiferença). A atração requer suporte constante de rasa e desses ingredientes para sustentar o relacionamento até mahabhava. (25)



Essa atração por Krsna também é conhecida como sthayi-bhava e bhakti-rasa. Devido ao relacionamento das almas condicionadas com o mundo material, a atração delas assume a forma do serviço devocional. Nas almas liberadas de VaikuA˜ha, a atração é eternamente presente na forma de priti, ou amor. (26)



Os estágios graduais do desenvolvimento da atração até mahabhava, a manifestação da atração sob o abrigo da rasa direta e indireta e o ilimitado oceano de doçura criado pela maravilhosa mistura da atração com os ingredientes mencionados são a riqueza eterna das almas liberadas e a meta das almas condicionadas. Vocês podem indagar qual é a necessidade de praticar o serviço devocional se essa bem-aventurança espiritual (rasa) é eterna. A resposta é que a atração das entidades vivas se tornou pervertida e mundana. Portanto , temos que fazer despertar a atração pura no coração praticando serviço devocional. (27)



Personalidades eruditas como Vyasadeva e nós mesmos, temos visto através de samadhi que a ciência da atração é muito saborosa para as entidades vivas. As qualidades da origem são de alguma maneira refletidas em sua sombra. É por isso que os relacionamentos amorosos desse mundo material são a forma mais agradável de desfrute material. Mas a atração entre o macho e a fêmea nessa mundo material é insignificante e abominável quando comparado com a atração espiritual. Como declara o Srimad Bhagavatam:

“Quem quer que ouça ou descreva com fé os relacionamentos amorosos do Senhor com as jovens gopis de Vndavana, alcançará o serviço devocional puro ao Senhor. Dessa maneira ele logo se torna sóbrio e conquista a luxúria, a doença do coração.” (Bh. 10.33.39) (28)



Dessa maneira, descrevemos as atividades até a dança da rasa e os sentimentos até mahabhava, que são desfrutados pelo Senhor Supremo e as entidades vivas eternamente liberadas. (29)



Devido à associação com a matéria, esse é o limite até onde as nossas palavras podem descrever. Tudo que está além disso só pode ser conhecido através de samadhi. (30)



Assim termina o nono capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “Alcançando os Pés de Lótus de Sri Krsna.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.







CAPÍTULO 10

CARACTERÍSTICAS DOS ASSOCIADOS DO SENHOR KRSNA

Agora vamos descrever as características dos devotos de Krsna que estão no humor de Vraja. As carecterísticas daqueles que despertaram raga, ou fé na forma de p™rva-raga, é sempre pura e impecável. Nessa conjuntura necessitamos considerar a ciência da raga, ou apego. O elo de ligação entre o coração e o seu repositório é chamado priti. A parte desse elo que se liga ao repositório é chamado prazer sensorial. A parte que se liga ao coração é chamada raga. Os sintomas do puro apego espiritual de uma entidade viva e os de uma entidade viva com apego mental impuro são semelhantes, em termos de relacionamento, ao coração e o seu repositório. Quando o apego começa a se manifestar, ele é conhecido como fé. As características tanto das pessoas com fé quanto das pessoas com apego são puras. (1)



Alguém pode indagar: “Qual a razão para isso?” A resposta é a seguinte: A ciência do apego das entidades vivas é única. O apego está presente quer o repositório seja o Senhor, quer seja algo mundano, a única diferença está no repositório. Quando o apego se volta a VaikuA˜ha, então não permanece o apego pelo mundo material; a pessoa só passa a aceitar o necessário para a sua manutenção. Até mesmo os objetos que são aceitos para isso se tornam transcendentais. Portanto, todos os apegos se tornam espiritualizados. Assim que há uma falta de raga, asakti também diminui. Devido à aceitação de objetos materiais com motivos impuros, a pessoa vai gradativamente desenvolvendo a falta de fé. Portanto, é quase impossível que um devoto aja pecaminosamente. E se ele age de maneira impura em alguma ocasião, não é preciso que haja expiação. O significado principal é que o pecado é cometido pelas atividades ou desejos. Atividades pecaminosas são chamadas pecado e os desejos pecaminosos são considerados as sementes dos pecados. As atividades pecaminosas não são pecaminosas por constituição, porque de acordo com o desejo da pessoa, às vezes ela pode ser pecaminosa, outras vezes não. Se tentarmos investigar a causa primitiva do desejo pecaminoso, ou a semente do pecado, então poderemos determinar que a identificação do corpo com o eu é a causa primitiva dos desejos pecaminosos da entidade viva. Devido a essa identificação errônea do corpo como sendo o eu, surge tanto o pecado quanto a piedade. Portanto tanto o pecado quanto a piedade são relativos, e não constitucionais. As atividades ou desejos que de maneira relativa ajudam a alma a alcançar a sua posição constitucional são chamados piedade. O oposto disso é chamado pecado. Uma vez que o serviço devocional a Krsna é a nossa posição constitucional, quando cultivamos esse serviço, então a ignorância, que a causa que determina as situações relativas na forma de pecado e piedade, vai se desfazendo gradualmente e por fim acaba. Apesar do desejo em se dedicar a atividades pecaminosas possa surgir de repente, ele é logo dominado através do processo de serviço devocional. Nesse ponto o esforço pela expiação é inútil. Existem três tipos de expiação: expiação através de karma, expiação através de jnana e expiação através de bhakti. Lembrar de Krsna é a expiação através de bhakti. Portanto, o serviço devocional é uma expiação através de bhakti. Não há necessidade dos devotos se dedicarem a um esforço expiatório separado. A expiação em jnana é através do arrependimento. Pela expiação de jnana são destruídos os pecados e as sementes dos pecados, ou desejos, mas a ignorância não é destruída sem bhakti. Pela expiação através de karma, tal como o processo de candrayaAa (jejuns progressivos conforme a quinzena lunar), os pecados são eliminados, mas as sementes dos desejos pecaminosos e a ignorância, a causa primitiva dos pecados e do desejo de pecar, permanece inalterada. Devemos considerar essa ciência da expiação com muito cuidado. A prática do arrependimento é observada em alguns processos devocionais estrangeiros baseados na rasa paternal, e uma vez que essa rasa paternal é misturada com jnana e opulência, isso é razoável. No entato, no serviço devocional imotivado ao doce Senhor,não há rasas opostas como medo, arrependimento ou liberação. A realização da nossa posição constitucional e a eliminação de todos os pecados anteriores, tanto os frutificados quanto os não-frutificados, são frutos irrelevantes de bhakti e portanto são facilmente alcançados pelos devotos. Quanto aos jnanis, eles destroem seus pecados não-frutificados pelo processo indireto do arrependimento e desfrutam dos resultados dos seus pecados frutificados na vida atual. Quanto para os karmis, seus pecados serão destruídos ao desfrutarem os frutos, na forma de punição. Portanto na ciência da expiação é extremamente importante considerar a qualificação do praticante. (2)



Da vida animal para a vida humana e dos princípios regulativos ao apego existem muitos níveis de qualificação. A realização dos deveres que uma pessoa tem de acordo com a sua qualificação é chamada piedade e os desvios dessas qualificações é chamado impiedade. Se considerarmos todas as atividades de acordo com esse princípio, então qual é a necessidade de calcular separadamente a nossa piedade ou impiedade? De acordo com a qualificação, a piedade de uma pessoa pode ser impiedade para a outra. Quando os cães e chacais roubam e quando as cabras têm sexo ilícito, isso pode ser considerado pecaminoso? Essas atividades são certamente consideradas pecaminosas quando praticadas por seres humanos. Aqueles que são muito apegados aos objetos materiais devem se associar com mulheres através do casamento e para essas pessoas isso é considerado piedade. Mas para aqueles cujo apego pelos objetos materiais foi totalmente direcionado para o Senhor Supremo, os relacionamentos amorosos através do casamento são proibidos; porque por uma grande fortuna eles alcançaram amor por Krsna. Divergir esse amor pelo Senhor para os objetos materiais é certamente um ato de degradação. Por outro lado, as pessoas que são como animais podem ter a necessidade de se associar com mais de uma mulher através do casamento para se tornarem piedosas. Do início do processo de adoração do Senhor até se alcançar o humor de Vraja existem diferentes modos, tais como ignorância, paixão, bondade e transcendência. De acordo com a natureza do praticante, avanço do conhecimento, e absorção no espírito de VaikuA˜ha, são vistas inúmeras qualificações. De acordo com essas qualificações, são vistos diferentes formas de karma e jnana. Não vamos aumentar o volume desse livro mencionando exemplos, porque uma pessoa meditativa pode compreender isso por si só. Todas as dualidades como pecado e virtude, religião e irreligião, atividades apropriadas e impróprias, céu e inferno, conhecimento e ignorância são temas para discussão entre pessoas que têm apego pervertido. Na verdade, elas não são piedosas e nem impiedosas. Só as explicamos como piedosas ou impiedosas devido a uma consideração relativa. Se formos considerar independentemente, então poderemos compreender que a perversividade do apego da alma é impiedade e permanecer na posição constitucional de apego da alma é chamado piedade. As pessoas com comportamento de cisnes aceitam as atividades que sustêm, a piedade como piedosas e as que sustêm a impiedade como ímpias. Não há necessidade de se abrigar na especulação seca ou concordar com argumentos tendenciosos. (3)



Desenvolver o amor é a meta da entidade viva. Sabendo disso, os devotos de Krsna não apreciam nem rejeitam as formalidades externas e conflitos sectários. Eles permanecem indiferentes a todas as formas de dualidades insignificantes. (4)



Os eruditos devotos de Hari conhecem perfeitamente bem que as atividades que dão prazer ao Senhor Krsna são chamadas karma e as atividades que atraem a nossa mente para Krsna são chamadas conhecimento. Tendo isso em mente, eles se dedicam apenas a atividades e no cultivo de conhecimento que desenvolvem as suas vidas espirituais. Eles compreendem que todas as outras atividades e conhecimento são inúteis. (5)



Eles são naturalmente humildes, fixos em conhecimento e sempre preocupados com o bem-estar dos outros. Suas inteligências são tão fixas que mesmo ao sofrerem dores severas nas vidas atuais e futuras, eles jamais se desviam da vida espiritual. (6)



Quer suas mentes e corpos mudem naturalmente pelo despertar do apego, quer eles cultivem conhecimento para realizar a ciência do apego, os devotos de Krsna que estão no humor de Vraja chegam a uma conclusão natural. A conclusão é que a alma é pura por natureza e desprovida de qualidades materais. O que chamamos de mente não tem existência própria, porque é apenas uma perversão do contato da alma com a matéria para aumentar o conhecimento da alma condicionada. As propensões originais da alma são exibidas no mundo relativo através das propensões da mente. Na realidade de VaikuA˜ha, uma alma age de acordo com as suas propensões constitucionais — não há existência da mente. Quando a alma entra em contato com a matéria, o seu conhecimento puro se torna quase dormente e ela aceita o conhecimento pervertido como real. Esse conhecimento é adquirido pela interação da mente com a matéria. Isso é chamado conhecimento material. O nosso corpo atual é material e relacionado com a alma apenas enquanto a alma é condicionada. Apenas o Senhor Supremo conhece o relacionamento entre uma alma pura e os seus corpos sutis e grosseiro; os seres humanos são incapazes de saber isso. No processo do serviço devocional um devoto deve aceitar tudo o que seja necessário para manter o corpo a alma juntos por tanto tempo quanto Krsna desejar. A entidade viva é natural por natureza. Ela é uma serva eterna de Krsna e o seu único dever constitucional é o de amar a Krsna. Na hora de abandonar o corpo, alcançamos, pela vontade do Senhor, um destino de acordo com o estado dos nossos corações. Portanto uma pessoa que deseje auspiciosidade deve aceitar o processo de serviço devocional. Quando a misericórdia do Senhor é concedida a um devoto que está seguindo o processo de serviço devocional, então a conexão do devoto com o mundo material é destruída facilmente. Isso nunca é possível com o esforço individual — quer por se abandonar o corpo, quer por se renunciar às atividades ou por se opor ao Senhor. Essa verdade suprema foi obtida através de samadhi. A vida humana está baseada em karma e jnana, mas quando nos abrigamos em bhakti, então a nossa devoção por Krsna desperta. (8)



As pessoas que realizaram essa verdade e que estão absortas no humor de Vraja adoram Krsna, que é eternamente pleno de conhecimento e de bem-aventurança, através de samadhi. (9)



Quando o amor que a entidade viva sente por Krsna aumenta, então ondas desse amor se espalham pelo seu corpo sutil mental e criam várias emoções misturadas. Nesse momento, há um despertar do pensamento, da lembrança, meditação, concentração e consideração de como se purificar — tudo isso nos ajuda a adorar com a mente. Não devemos abandonar o processo de adoração com a mente devido a emoções misturadas, pois essas emoções misturadas permanecerão naturalmente até que haja a destruição do corpo sutil. As atividades mentais que se acumulam através do contato com a matéria demonstram o conceito de idolatria mundana, mas as emoções que se manifestam e que gradualmente se difundem pela mente e pelo corpo no esforço que a alma faz pelo samadhi são verdades espirituais refletidas. (10)



Dessa maneira, para as almas condicionadas, as trocas amorosas assumem a forma de atividades mentais. Essas atividades mentais, que são reflexos das trocas espirituais, vão aumentando e se espalhando pelo corpo. Elas aparecem na ponta da língua e glorificam os nomes e qualidades do Senhor espiritualmente refletidos. Elas aparecem nos ouvidos e ouvem os nomes e qualidades do Senhor. Elas aparecem nos olhos e vêem o reflexo espiritual sat-cit-ananda da forma de Deidade do Senhor nesse mundo material. Os suddha-sattvika-bhavas, transformações corpóreas, vão aumentando no corpo e se manifestam na forma de arrepios, choro, perspiração, calafrios, dança, oferecimento de reverências, queda ao solo, abraço amoroso e peregrinação aos locais sagrados. As emoções inerentes da alma devem continuar a permanecer ativas com a alma, mas no mundo material a misericórdia do Senhor é a força principal para o despertar de emoções espirituais e nos situar na posição constitucional. Com o desejo de converter o apego material em epego espiritual, todas as emoções espirituais estão misturadas com emoções materiais. Por se abandonar parag-gati e se praticar pratyag-gati. Quando essa corrente flui novamente na morada da alma, ela é chamada pratyag-gati. O pratyag-dharma de estar ansioso em comer preparações palatáveis é comer maha-prasada. O pratyag-dharma dos ouvidos é ouvir os passatempos de Hari e canções devocionais. O pratyag-dharma do nariz foi exemplificado pelos quatro Kumaras, quando eles cheiraram a tulasi e a pasta de sândalo que foi oferecida aos pés do Senhor. A pratyag-dharma da associação com o sexo oposto através do casamento para a prosperidade da família vaisnava foi exemplificado por Manu, Janaka, Jayadeva e Pipaji. O pratyag-dharma dos festivais é visto nos festivais que comemoram os passatempos do Senhor Hari. Essas características humanas, repletas de emoções de pratyag-dharma, são vistas nas vidas das personalidades puras de comportamento de cisnes. (11)



Isso quer dizer que as pessoas de comportamento de cisnes só se dedicam às atividades espirituais e negligenciam as atividades materiais? Não. Essas pessoas adoram Krsna no humor que mais desfrutam e assumem os cuidados com o corpo valentemente. Comendo, desfrutando, fazendo exercícios, atividades industriais, andando ao ar livre, dormindo, conduzindo veículos, protegendo o corpo, protegendo a sociedade e viajando. É assim que se comportam as pessoas de comportamento semelhante a cisnes. (12)



Esses vaisnavas atuam valentemente e trabalham entre os homens. Eles são o abrigo das mulheres e são respeitados por elas. Eles tomam parte das atividades sociais e vão obtendo experiência de vida. Eles ensinam às suas crianças o artha-sastra e dessa maneira se tornam líderes entre os mestres. (13)



Livros sobre a ciência física e mental, livros sobre indústria, sobre a ciência da linguagem, sobre gramática e livros sobre a ornamentação da linguagem são conhecidos como artha-sastras. Obtêm-se alguns tipos de benefícios físicos, mentais, familiares e sociais através dessa literatura. O nome desses benefícios é artha. A vantagem dessa literatura é que por estudar os livros de medicina, pode-se alcançar o benefício da cura. Por estudar livros sobre música, pode-se obter a felicidade da mente e dos ouvidos. Pelo conhecimento científico material são criados maquinários maravilhosos. Por estudar livros de astrologia, pode-se obter o benefício de determinar as ocasiões próprias e as impróprias para determinadas atividades. Aqueles que estudam esses artha-satras são também conhecidos como eruditos artha-vits, porque o principal propósito de seus deveres ocupacionais é o de proteger a sociedade. No entanto, os eruditos espirituais praticam a vida espiritual com esses arthas. Os vaisnavas que têm comportamento semelhante a cisnes nunca são contrários a discutir essas escrituras. Eles abstraem a meta suprema da vida espiritual desses artha-sastras e se tornam adoráveis entre os eruditos artha-vit. Os eruditos artha-vit ficam felizes em assisti-los em determinar a Verdade Absoluta. Eles não odeiam ou rejeitam as várias pessoas pecaminosas. Os vaisnavas com o comportamento semelhante a cisnes estão sempre se dedicando em purificar os corações das pessoas pecaminosas através de instruções confidenciais, conferências públicas, conselho amigo, castigando, estabelecendo exemplo e às vezes até punindo os pecadores. (14)



Apesar das características dos vaisnavas de comportamento de cisnes ser maravilhoso, às vezes eles não manifestam as atividades que mencionamos por estarem cativados pelos crescentes sentimentos de amor. Esses vaisnavas, que são queridos por todos, às vezes vivem em locais solitários e se dedicam à mais confidencial adoração introspectiva do Senhor. (15)



Ao descrever as glórias de Vraja, despertou no autor uma intensa ambição pelo amor a Deus e portanto ele diz: “Quando serei afortunado para poder adorar o Supremo Senhor sat-cid-ananda na associação de vaisnavas de comportamento semelhante a cisnes na floresta de Vndavana às margens do Yamuna?” (16)



Que a minha ocupação eterna seja buscar abrigo aos pés de lótus dos vaisnavas de comportamento de cisnes. Eles são capitães do barco para a travessia do oceano material e apenas por sua misericórdia os karmis e o jnanis se tornam vaisnavas puros como eles. (17)



Existem três tipos de vaisnavas — kani˜ha-adhikaris, cuja fé é muito tênue; madhyama-adhikaris e uttama-adhikaris. Aqueles que consideram karma-kaAda e os seus resultados como permanentes e que são contrários à Verdade Absoluta são denominados trabalhadores fruitivos mundanos. Aqueles que desejam estabelecer a liberação na imersão no Brahman impessoal são estremamente secos e desprovidos de rasa. Eles são queimados pelo conhecimento por não compreenderem a diversidade eterna. Os vaisnavas são aqueles que aceitaram a diversidade espiritual eterna do destino supremo das entidades vivas. Eles estão convencidos que a posição eterna das entidades vivas é adorar o Senhor, que é misericordioso, cheio de doçuras e opulências, a morada da felicidade e que é sempre diferente das entidades vivas. Os trabalhadores fruitivos e os especuladores mentais podem se transformar em vaisnavas e viverem como seres humanos puros devido à influência da boa associação e por boa fortuna. A contaminação que é encontrada na vida dos vaisnavas kani˜ha-adhikaris e madhyama-adhikaris é encontrada com muito mais abundância entre os trabalhadores fruitivos e os especuladores mentais. Mesmo se os trabalhadores fruitivos e especuladores mentais se tornarem vaisnavas, os resíduos de suas concepções materiais e argumentos continuarão como maus hábitos. Esses maus hábitos são as contaminações encontradas nos vaisnavas kani˜ha e madhyama-adhikaris. De qualquer maneira, essas contaminações são certamente o resultado da ignorância e do preconceito. Dentre os três tipos de vaisnavas, os uttama-adhikaris não têm preconceitos ou concepções materiais. Eles podem não ter o conhecimento dos vários tema materiais, mas os vaisnavas que têm comportamento semelhante a cisnes destróem com vigor todo tipo de preconceitos. Os vaisnavas madhyama-adhikaris não desejam ser vaisnavas asininos, mas a tendência de se comportarem como cisnes ainda não despertou neles completamente. Eles ainda guardam algumas dúvidas em seus corações devido ao preconceito anterior. Apesar dessas pessoas aceitarem a diversidade espiritual e o samadhi natural, elas não podem realizar apropriadamente a ciência de VaikuA˜ha devido à sua natureza argumentativa. Apesar dos kani˜ha-adhikaris serem considerados vaisnavas, eles estão completamente sob o controle do preconceito. Eles se asociam com os trabalhadores fruitivos sob a jurisdição dos princípios regulativos. Apesar de não serem os candidatos apropriados para estudar esse livro, se eles o discutirem com a assistência dos uttama-adhikaris, eles logo se tornarão uttama-adhikaris. Portanto, os três tipos de vaisnavas devem estudar esse livro para poderem aumentar o seu amor por Krsna e alcançarem a felicidade transcendental. (18)



Nesse livro discutimos a Verdade Absoluta, portanto tenham a bondade de perdoar a minha gramática ou defeitos de linguagem. As pessoas de comportamento de cisnes não perdem tempo com essas coisas. Quem critica esses defeitos externos ao estudar esse livro obstruirá o seu propósito principal — aceitar a essência da Verdade Absoluta — e não é elegível para estudar esse livro. Os argumentos nascem da educação infantil e são desprezíveis em assuntos sérios. (19)



Esse livro, que é querido pelos devotos, foi compilado por Kedaranatha, que pertence à comunidade kayastha de Bharadvaja da família Datta e que reside em Ha˜˜a Khola, Calcutá. Esse livro foi escrito no ano de 1879 durante a minha estadia na vila de Bhadraka, Orissa, com propósitos oficiais. (20)



Assim termina o décimo capítulo do Sri Krsna-samhita, intitulado “As Características dos Associados do Senhor Krsna.”



Que o Senhor Krsna fique satisfeito.



Hari Hari bol!



CONCLUSÃO



O propósito principal e a necessidade de escrever esse Sri Krsna-samhita já foi descrito na introdução. Abrangemos todos os tópicos relevantes nos versos desse saˆhita, mas não usamos o método que os acadêmicos modernos costumam usar quando consideram esses tópicos. Portanto, temo que muitas pessoas irão rejeitar o Sri Krsna-samhita considerando-o um livro fora de moda. Estou em um dilema. Se tivesse usado a metodologia moderna ao compor os versos, então os acadêmicos da antiga tradição teriam certamente desconsiderado esse livro. Por essa razão, compus a parte principal do livro de acordo com a tradição antiga, e escrevi a Introdução e a Conclusão de acordo com a tendência moderna. Dessa maneira, tentei satisfazer os dois grupos e acabei sendo compelido a aceitar a falha da repetição. Nessa conclusão irei considerar todos os tópicos resumidamente.

O vaisnava-dharma de comportamento de cisnes é o dever constitucional eterno da alma. Ele não foi criado por nenhuma seita ou pessoa. No devido curso de tempo iremos gradativamente realizando a pureza desse dever. Qual é a dúvida? A progressão do esclarecimento depende da pessoa e não do tema. O sol é sempre igual para todos, mas devido à percepção do observador ele pode parecer mais quente ao meio-dia. Analogamente, os deveres constitucionais puros são compreendidos progressivamente como superiores, à medida em que as pessoas progridem, apesar de que na verdade os deveres constitucionais permanecem os mesmos o tempo todo. Agora vou começar a discutir a ciência desses deveres constitucionais.

O inaugurador da fé vaisnava de corportamento de cisnes, Sri Caitanya Mahaprabhu, disse: “Como todas as pessoas são condicionadas, somos compelidos a considerar os seus deveres eternos em três categorias diferentes: sambhanda, o relacionamento da alma com o Senhor; abhideya, as atividades reguladas para reviver esse relacionamento; e prayojana, a meta definitiva da vida.” De acordo com as instruções do Senhor, agora iremos discutir separadamente esses três temas.

Primeiro iremos discutir sambhanda. Quem é meditativo deve primeiro examinar a si mesmo. A partir da existência do nosso próprio eu é que determinamos a existência dos outros objetos. Uma pessoa meditativa pode dizer: “Se eu não existo, então mais nada existe; porque sem mim como é possível realizar as outras coisas?” Pela tendência de acreditar no próprio eu, uma pessoa meditativa estabelece a sua própria existência e então observa a insignificância e dependência da alma. Assim que observamos o nosso próprio eu, imediatamente observamos o suporte da Superalma. O sentimento de existência do atma e do Paramatma deve ser o primeiro passo na crença da nossa própria existência. Quando uma pessoa meditativa olha para o mundo material, ela pode ver facilmente três coisas: o atma, o Paramatma e o mundo material. Aqueles que não podem realizar a alma consideram-se matéria inerte. Na sua estimativa a matéria é eterna. Eles também chegam à conclusão de que os elementos materiais criam consciência através do processo de evolução e que quando os elementos materiais se separam da sua posição natural então a consciência regride à matéria inconsciente. Pessoas meditativas pensam dessa maneira porque estão mais sob o controle das propensões materais do que sob propensões espirituais e portanto estão mais inclinadas a matéria do que ao conhecimento. É por isso que suas esperanças, fé, entusiasmo, consideração e amor são todos materiais. Infelizmente o relacionamento que essas pessoas têm com as que se encontram em samadhi é um tanto doloroso. Não há possibilidade de reconciliação entre a opinião delas e a nossa, porque não aceitamos o método que elas determinam para alcançar a Verdade Absoluta. Elas estão sob as garras da argumentação lógica e esses armamentos nunca serão capazes de estabelecer a existência do eu. Qual é a utilidade de se colocar um telescópio no ouvido? Alguém é capaz de ver imagens com um microfone? Analogamente, como alguém pode ver VaikuA˜ha com o instrumento da argumentação? Todos os assuntos desse mundo material estão sob a jurisdição da argumentação, mas a alma não pode ser vista por nenhum outro método além da auto-realização. Se a argumentação aceita o caminho apropriado, então podemos compreender rapidamente que ela é incompetente para elucidar os assuntos relacionados com a alma. A alma é conhecimento puro, e portanto é auto-iluminada e a iluminadora da matéria. Mas a propensão para a argumentação lógica, nascida da matéria, nunca pode iluminar a alma. Portanto, não sendo obrigados a aceitar a conclusão materialista daqueles que argumentam, iremos considerar e perceber a alma e a Superalma através do processo de auto-realização e com o instrumento temporário do argumento, que está situado entre a matéria e o espírito, iremos enumerar as verdades desse mundo material.

Precisamos discutir separadamente atma, Paramatma e mundo material. Sri Ramanujacarya explicou elaboramente esses três temas como espiritual, material e o Senhor. Na discussão sobre sambhanda, devemos considerar e determinar o relacionamento entre esses três temas. Acarya Kapila, o proponente da filosofia Sa‰khya, enumerou vinte e quatro elementos no mundo material. Se desejarmos discutir o mundo material, deveremos ter em conta os vinte e quatro elementos de Kapila. Os acadêmicos modernos que são peritos nas ciências materiais estão tentando a duras penas descobrir os nomes, qualidades e características dos elementos originais através das máquinas recém-inventadas. Dessa maneira, eles incrementam o conhecimento material das pessoas. As suas descobertas são muito respeitadas porque elas são úteis no progresso da vida espiritual. No entanto, mesmo respeitando as suas descobertas, isso não quer dizer que devemos desrespeitar a filosofia Sa‰khya de Kapila. Podem haver sessenta, sessenta e cinto, ou setenta elementos originais, mas isso não abala o sistema Sa‰khya de contar os elementos grosseiros como terra, água e fogo. Portanto as discussões de Kapila sobre o mundo material — que consiste dos elementos materiais, suas qualidades, os sentidos, a mente, a inteligência e o falso ego — não são inúteis. Ou melhor, as divisões de Kapila parecem até mais científicas. No Bhagavad-gita (7.4), que é uma compilação do Vedanta, são enumerados os seguites elementos:



“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego — juntos, todos esses oito elementos formam as Minhas energias materiais separadas.”



Nesse contexto, as qualidades dos elementos estão incluídas nos elementos e todos os sentidos estão imersos nos elementos materiais sutis, que consistem de mente, inteligência e falso ego. Portanto, no que se refere à contagem dos elementos materiais, as filosofias SaAkhya e Vedanta são da mesma opinião.

Nesse ponto, devemos considerar se a mente, a inteligência e o falso ego são elementos materiais ou se são características da alma. Quanto a isso, alguns acadêmicos europeus concluíram que a mente, inteligência e falso ego são compostos de elementos materiais e que a alma está além deles. Acadêmicos modernos costumam aceitar a mente e a alma como sendo a mesma coisa. Tenho discutido com inúmeros acadêmicos ingleses e reparei que eles consideram a alma como sendo diferente da mente, mas devido a uma linguagem pouco especializada, eles costumam usar a palavra “mente” quando se referem à alma. No Bhagavad-gita (7.5) está declarado:



“Além dessas, Ó Arjuna de braços poderosos, existe outra energia, Minha energia superior, que consiste nas entidades vivas que exploram os recursos dessa natureza material inferior.”



Ao estudarmos esse verso fica muito claro que as entidades vivas são diferentes dos elementos materiais mencionados anteriormente — mente, inteligência e falso ego. Essa conclusão é própria das pessoas de comportamento de cisnes.

Nesse mundo visível de diversidade, são encontrados dois temas: espírito e matéria, ou a entidade viva e os elementos materiais. Os vaisnavas aceitam esses dois temas como efeitos da potência inconcebível do Senhor Supremo. Agora, vamos padronizar as definições dos elementos materiais e das entidades vivas. As entidades vivas são conscientes e podem agir independentemente. A matéria é inerte e está sob o controle da consciência. Se considerarmos a existência de um ser humano em seu estado condicionado atual, então, indubitavelmente deveremos considerar a sua consciência e os elementos materiais, porque pela doce vontade do Senhor as almas condicionadas estão conduzindo uma máquina feita de elementos materiais.

O corpo material feito de sete constituintes fluídos (pus, sangue, carne, gordura, medula e sêmem), os sentidos, bem como a mente, inteligência e falso ego (que são as fontes de conhecimento material), o lugar, o fator tempo e a consciência estão todos presentes no ser humano. O corpo é completamente material, porque ele é feito de elementos materais e suas características. Os elementos materiais não são capazes de vivenciar o espírito, mas podemos perceber alguma evidências de existência espiritual em instrumentos maravilhosos como os olhos, ouvidos e sistema nervoso no corpo de um ser humano. Os instrumentos pelos quais o conhecimento material tem acesso ao corpo material são chamados sentidos. Depois de entrar no corpo material, o conhecimento material se mistura com um instrumento interno que interpreta os elementos materiais. Esse instrumento é denominado mente. A mente vivencia o conhecimento material por meio do coração e acumula conhecimento por meio da lembrança. O aspecto do conhecimento material muda por meio da imaginação. Os objetos materiais são considerados o suporte de dois meios: a inteligência desenvolvida e a não-desenvolvida. Além disso, na existência de um ser humano, uma indacação do espírito (cidabhasa) é encontrada na forma de ego, que penetra a inteligência, a mente e o corpo. A partir desses sintomas surge o forte sentimento de “eu” e “meu” que tem sido aceito como parte da existência dos seres humanos. Isso é conhecido como “falso ego.” Devemos compreender que o conhecimento desses assuntos até o falso ego é chamado conhecimento material. E também que falso ego, inteligência, mente e a atividade sensorial não são totalmente materiais. Em outra palavras, eles não consistem inteiramente de elementos materiais, mas a sua existência está fundamentada em elementos materiais. Ou seja, a menos que eles estejam relacionados com elementos materiais a sua existência é incompleta. Até certo ponto eles estão sob o amparo do espírito, porque o ato de revelação é a própria vida deles e o conhecimento material é o resultado. De onde vem essa consciência? A alma é pura e é a base da consciência. Não é fácil uma alma ficar sob a sujeição da matéria. Pela vontade do Senhor Supremo — certamente por alguma razão — uma alma espiritual pura entra em contato com a matéria. Apesar de no nosso estado condicionado ser muito difícil de se apurar essa causa, se considerarmos a falta de felicidade no nosso estado condicionado, podemos com certeza ter a percepção de que a nossa condição atual é uma degradação da nossa consciência original. Apesar dos acadêmicos modernos pensarem que: “As entidades vivas foram criadas nessa condição e através das atividades fruitivas elas avançam gradualmente,” de acordo com o processo de auto-realização isso não pode ser aceito como um fato. Não há outro argumento em relação a isso, porque o argumento é um produto dos elementos materiais e não é admitido na ciência da auto-realização ou os passatempos do Senhor Supremo. É nosso dever estabelecer que uma indicação do espírito, na forma do falso ego, inteligência, mente e sentidos, tem se manifestado devido ao contado da alma pura com a matéria. Essa indicação do espírito não existirá mais quando a alma for liberada. Portanto, três itens são encontrados na existência de um ser humano: a alma, o instrumento que indica a presença da alma e a conecta à matéria, e o corpo material. De acordo com o Vedanta, a alma é chamada jiva, ou entidade viva, o instrumento que indica a presença da alma é chamado o corpo sutil e o corpo material é chamado corpo grosseiro. Depois da morte o corpo grosseiro é deixado para trás, mas o corpo sutil continua a existir por se refugiar em atividades fruitivas e nos seus resultados até que ocorra a liberação. O instrumento para indicar a presença do espírito permanece por quanto tempo a alma for condicionada, mas ele não tem uma verdadeira conexão com a a alma espiritual pura. A alma espiritual pura é plena de bem-aventuança espiritual. A alma espiritual pura está a parte da existência material, que se inicia a partir do falso ego e desce até o corpo grosseiro. Se desejarmos realizar a existência da alma espiritual pura, devemos abandonar os pensamentos materiais; mas na presença do falso ego, todos os pensamentos são materiais. Os pensamentos não podem deixar a associação com a matéria, porque eles são gerados como uma indicação do espírito. Portanto, só quem controla as atividades da mente e cultiva a auto-realização através de samadhi pode realizar a alma sem dúvida. Porém, aqueles que submetem a sua independência ao falso ego não têm vigor suficiente para atravessar a fronteira do argumento e portanto são totalmente incapazes de realizar a presença da alma. Aqueles que argumentam com base na filosofia Vaiseika nunca podem realizar a existência da alma pura. É por isso que eles aceitam a mente como sendo eterna.

No sétimo canto do Srimad Bhagavatam (7.19.20), Prahlada Maharaja descreve os doze sintomas da alma espiritual pura:



atma nittyo ‘vyayaha suddha ekaƒ ketra-jAa asrayaƒ

avikriyaƒ sva-dg heur vyapako ‘sa‰gy anavtaƒ



eair dvadasabhir vidvan atmano lakaAaiƒ paraiƒ

ahaˆ mamety asad-bhavaˆ dehadau mohajaˆ tyajet



A alma é nitya, ou eterna, porque ela não é temporária como o corpo grosseiro e os corpos sutis. Avyaya significa que a alma não é destruída quando o corpo grosseiro e os corpos sutis são destruídos. Suddha se refere àquilo que está livre da contaminação material. Eka quer dizer que a alma é desprovida de dualidades como qualidades e o possuidor de qualidades, princípios religiosos e o seguidor dos princípios religiosos, os as partes e o possuidor das partes. Ketra-jna significa o vidente. Asraya significa que a a alma não está sob o controle dos corpos grosseiro e sutis, e sim que os objetos grosseiros e sutis estão sob o controle da alma. Avikriya significa que a alma não é afetada pelas transformações do corpo material. As seis transformações do corpo são o nascimento, crescimento, manutenção, sub-produtos, degeneração e morte. Sva-dk se refere a que percebe a si mesmo, mas não como um objeto de visão material. Hetu significa que apesar da alma não ser material, ela é a causa primordial da existência, natureza e atividades do corpo material. Anavta significa que a alma não é coberta pela matéria. As pessoas eruditas devem distinguir a alma através desses doze sintomas espirituais e abandonar a ilusão na forma de “eu” e “meu.”

Existe muita argumentação sobre se uma entidade viva tem alguma existência no tempo e no espaço. Mas a argumentação é desnecessária no que se refere à Verdade Absoluta e portanto é condenada. A argumentação lógica só pode revelar indicações do espírito; ela nunca pode revelar completamente os assuntos espirituais. A alma espiritual é transcendental, ou além de tudo o que é material. A palavra “material” nesse caso não se refere apenas aos elementos materais, mas se refere à característica desses elementos, a indicação do espírito e as atividades dos sentidos, mente, inteligência e falso ego. Uma vez qua a indicação do espírito está sob a jurisdição da matéria, muitas situações materiais são confundidas com atividades espirituais. Apesar do tempo e do espaço serem contabilizados entre os elementos materais, eles, no entanto, têm a sua existência espiritual pura. Se estudarmos cuidadosamente o primeiro e segundo capítulos do Sri Krsna-samhita, iremos compreender que apesar das ciências material e espiritual parecerem contraditórias, elas não são. Toda a existência espiritual é pura e impecável. Todavia, quando essa existência espiritual se manifesta no mundo material, ela fica cheia de defeitos. Portanto, o tempo e o espaço puros serão vistos no estado puro da entidade viva e o tempo e o espaço contaminados serão vistos no mundo material contaminado. Essa é apenas uma consideração científica de tempo e espaço. No seu estado puro, a entidade viva é um ser espiritual puro, mas no estado condicionado há três tipos de existência: existência pura, ou existência espiritual; uma indicação da existência espiritual, ou existência sutil; e a existência material, ou existência grosseira. A lei natural é que os elementos grosseiros encobrem os elementos sutis. Como a indicação da existência espiritual é mais grosseira, ela encobre a existência da alma espiritual pura. E como a existência material é a mais grosseira, ela encobre tanto a existência espiritual pura quanto a indicação da existência espiritual. No entanto, essas três existências se manifestam, porque apesar de estarem encobertas, elas não estão perdidas. A existência espiritual pura da alma está situada apropriadamente no tempo e no espaço puros. Uma vez que a alma tem a sua morada própria, podemos aceitar que ela tenha um lugar fixo. Uma vez que a alma tem um espaço fixo, também podemos aceitar que a alma tem uma forma e um corpo puros. Então devemos aceitar que essa forma tem qualidades espirituais como beleza, força de vontade, sentimentos e atividades. Essa forma não pode ser vista através da indicação do espírito, porque ela está além da matéria. Assim como todos os membros do corpo material agem em harmonia e exibem assim a beleza dessa forma, todos os componentes necessários também se fazem presentes no corpo espiritual, que é o modelo ideal do corpo grosseiro. Portanto, o corpo e o seu possuidor são diferentes. Porém, no corpo espiritual não há diferença entre o seu possuidor e o corpo. Cada objeto pode ser identificado de duas maneiras: pela forma e pela atividade. A consciência ou conhecimento, é a identificação de uma alma liberada. A entidade viva é a personificação do conhecimento; isto é, o seu corpo é feito de conhecimento puro. A bem-aventurança é uma indicação das suas atividades. Portanto, a existência de uma alma liberada é de completa felicidade espiritual. O ego, o coração, a mente e os sentidos são não-diferentes da consciência no estado puro da entidade viva. Mas no estado condicionado uma entidade viva é vista como uma indicação do espírito e a felicidade e sofrimento materiais, que são reflexos pervertidos da bem-aventurança transcendental, são indicações das suas atividades.

A Superalma onisciente é eterna, plena de conhecimento e bem-aventurança. Outro nome da Superalma onisciente é Bhagavan. O mundo material e as entidades vivas são produtos da Sua energia superior. Analogamente, quando falamos sobre o Senhor, nos referimos a uma personalidade espiritual extraordinária. Essa personalidade é vista pelas entidades vivas como plena de todas as boas qualidades, a mais bela e encantadora. Dotado com qualidades doces indescritíveis, o maravilhoso Krsnacandra manifesta bem-aventurança eterna e incrementa a beleza de VaikuA˜ha. As entidades vivas puras estão eternamente absortas em Sua beleza e as entidades vivas condicionadas estão buscando a Sua beleza nos passatempos de Vraja. Isso foi explicado no Bhakti-rasamta-sindhu de Srila R™pa Gosvami, onde está declarado que as entidades vivas possuem cinquenta qualidades em quantidade diminuta. No Senhor NarayaAa essas cinquenta qualidades estão presentes em sua plenitude, além de dez outras qualidades. Sri Krsnacandra, possui sessenta e quatro qualidades em sua plenitude. Portanto, os devotos aceitam o Senhor Krsna como a corporificação mais elevada da manifestação das energias do Senhor Supremo.

Sambandha significa determinar o relacionamento entre esses três objetos. Isso já foi descrito nos seguintes versos do Bhagavad-gita (7.4-7):

“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego — constituem as Minhas energias materiais separadas.”

“Além dessas, ó Arjuna de braços poderosos, existe outra energia, Minha energia superior, que consiste nas entidades vivas que exploram os recursos dessa minha natureza inferior.”

“Todos os seres criados têm sua origem nessas duas naturezas. Fica sabendo com toda certeza que Eu sou a origem e a dissolução de tudo o que é material e de tudo o que é espiritual nesse mundo.”

“Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim, como pérolas ensartadas em um cordão.”

A verdade principal é uma só: o Senhor. As entidades vivas e o mundo material se manifestaram de aspectos e potências da energia superior e portanto todo o Universo é efeito da Sua energia (*).

(*) A energia espiritual tem três aspectos — sandhini, samvit e hladhini - e três potências — espiritual, marginal e externa. O Universo inteiro se manifestou pela interação desses três aspectos e potências. Verifique o segundo capítulo desse livro

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Por essa conclusão as teorias filosóficas de vivarta, a teoria Mayavada da ilusão e a brahma-pariAama, ou teoria da transformação do Supremo, são derrotadas. Não podemos aceitar vivarta ou pariAama do Senhor Supremo, é mais proveitoso compreender que tudo é possível pelas atividades e efeitos da energia superior. Uma vez que as entidades vivas e o mundo material são manifestos a partir da energia do Senhor Supremo, eles são considerados separados do Senhor, mas não têm poder independente. Eles não podem fazer absolutamente nada sem a misericórdia do Senhor. Isso está claramente descrito no primeiro e segundo capítulos desse livro. Para resumir podemos dizer que o Senhor é o único abrigo deles e a sua existência, portanto eles estão sob o Seu controle total. O aspecto especial das entidades vivas é que elas são conscientes por natureza, portanto o Senhor, a consciência suprema, é o seu único refúgio. O mundo material é estranho para as entidades vivas e portanto não é capaz de lhes dar refúgio. Os deveres constitucionais das entidades vivas atualmente estão transformados em atividades materiais, e os seus sentimentos amorosos em relação ao Senhor perverteram-se em apegos materiais. Portanto, minimizar esse apego pervertido e incrementar o verdadeiro apego se denomina sreyaƒ, ou benefício último, porque não há relacionamento permanente entre as entidades vivas e o mundo material. Qualquer pequeno relacionamento que exista é meramente transitório. No entanto, até que sejamos liberados pela misericórdia do Senhor, devemos aceitar essa conexão material como inevitável para mantermos a vida. Ninguém pode alcançar a liberação através da pesquisa, mas ela pode ser alcançada pela misericórdia do Senhor. Portanto, devemos abandonar os desejos de liberação e de desfrute material. O único dever da entidade viva é se dedicar à sua única ocupação constitucional praticando yukta-vairagya sem qualquer desejo de desfrute material ou de liberação. Esse mundo material é um produto da energia externa, que é uma sombra da energia superior, que é uma serva do Senhor. Portanto, deve-se compreender que a energia externa, é uma criada do Senhor. Esse mundo material é o local de desfrute das entidades vivas que são contrárias ao Senhor. A única maneira de escapar do aprisionamento de maya é o serviço devocional ao Senhor, como declarado no Bhagavad-gita (7.14):

“Essa Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la.”

Consideramos o relacionamento, or sambandha, entre os três temas, agora iremos tentar explicar resumidamente abhideya e prayojana. O processo para se alcançar prayojana é chamado abhideya. Portanto, primeiro vou considerar prayojana.

A condição da entidade viva é muito patética, pois apesar de ser espírito puro, ela se tornou serva da matéria. Ela mesma se considera um produto da matéria e fica aflita com a escassez material. Às vezes ela chora devido à escassez de alimento, às vezes se lamenta por estar sendo atacada pela febre e outras vezes se dedica a atividades abomináveis para poder despertar a atenção das mulheres. Às vezes ela exclama: “Estou morrendo!” e às vezes diz: “Fui salvo por esse remédio.” Às vezes está absorta em um formidável oceano de lamentação devido à morte do seu filho. Às vezes constrói um grande palácio, mora nele e pensa: “Agora me tornei um rei.” Com inveja de outras pessoas, ela pensa: “Sou um grande herói.” Às vezes fica maravilhada ao mandar uma mensagem pelo telegrama (ou internet), às vezes escreve um livro sobre medicina e aumenta o seu título acadêmico, às vezes constrói um trem e se considera um grande erudito, e às vezes determina os movimentos dos astros e se proclama um grande astrólogo. Às vezes ensina física, medicina e agronomia e pensa: “Alcancei tanto mérito piedoso!” Porém, na verdade essas pessoas poluem seus corações com inveja, violência, luxúria e ira. Ora! Por acaso essas atividades são dignas de uma alma espiritual pura?

Essas propensões insignificantes são sem sentido para quem viveu em VaikuA˜ha e desfrutou de amor puro por Deus. Qual a felicidade no relacionamento com uma mulher quando comparado com o néctar do amor a Hari? Que comparação pode ser feita entre a disposição de lutar, que perturba o nosso coração, e a associação com devotos, que satisfaz o nosso coração? Ora! Se formos considerar cuidadosamente o que somos na realidade e no que nos transformamos, então poderemos compreender o quanto caímos e nos tornamos vítimas das três classes de misérias — aquelas causadas pelos semideuses, as causadas pelas outras entidades vivas e as causadas pelo nosso próprio corpo e mente. Por que nos desviamos tanto? Certamente nos tornamos ofensores ao Senhor Supremo. É por isso que nos tornamos caídos; não há dúvidas quanto a isso. Nossas ofensas são uma discrepância na ocupação constitucional da alma espiritual. Já salientamos que a entidade viva é plena de bem-aventurança espiritual. A alma é conhecimento puro e sua constituição é de bem-aventurança. O elo de ligação entre a entidade viva e a Verdade Absoluta, que é eternamente plena de bem-aventurança e de conhecimento é chamado priti, ou amor. Esse elo de amor conecta eternamente a felicidade das entidades vivas com a felicidade do Senhor. A qualidade desse amor é mutuamente atrativa. Ela é a mais prazerosa, sutil e pura. No entanto, quando uma entidade viva cai na rede de ilusão, despreza o serviço amoroso ao Senhor e sai a procura de desfrute no mundo material. Ao notar que essa entidade viva é uma ofensora, Maya, a criada de Krsna, a aprisiona. Estamos sofrendo nesse mundo material devido a essas ofensas. Nosso dever constitucional, que é amar a Deus, tornou-se pervertida como apego pelos objetos materiais, o que faz incrementar a nossa inauspiciosidade. Nessa conjuntura, o cultivo de nosso dever constitucional é a nossa única prayojana, ou meta de vida. Enquanto formos condicionados, não podemos praticar nosso dever constitucional puramente. Nossas propensões constitucionais não estão perdidas e nem podem se perder; elas estão simplesmente em um estado dormente. Assim que começamos a cultivar essas propensões, elas despertam do estado dormente e voltam a resplandecer. Então, a liberação e o acesso a VaikuA˜ha ocorrerá automaticamente. Uma vez que a liberação não é a meta da nossa vida, ela não é a nossa prayojana. A nossa meta é priti, e portanto essa é a nossa única prayojana.

As pessoas que estão no caminho do conhecimento e que vivem sendo perturbadas pelas misérias materiais estão em busca da liberação; mas os esforços de quem busca metas indesejáveis não são bem-sucedidos, portanto esses esforços não garantem nenhum benefício. Aqueles que cultivam priti podem alcançar facilmente o conhecimento completo e a liberação. Portanto priti é a única prayojana.

Os sintomas de priti estão descritos no meu livro Datta-kaustubha, da seguinte maneira:

akarsa-sannidhau lauhaƒ pravtto dsyate yatha

aAor mahati caitanye pravttiƒ priti-lakaAam

“Assim como um fragmento de ferro é atraído naturalmente por um imã, a alma espiritual atômica é atraída naturalmente pela consciência suprema da Personalidade de Deus.”



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Essa tendência natural é chamada priti. Assim como a alma e a Superalma são desprovidas de designações materiais, a trocas de priti entre elas são similarmente puras e sem qualquer mácula de contaminação material. A nossa prayojana é despertar esse priti puro.

Se desejamos alcançar a meta, então devemos seguir o método apropriado. De acordo com as suas qualificações, as grandes almas que nos antecederam introduziram vários métodos para alcançar o sucesso em suas respectivas metas. Agora vamos discutir abhidheya, que é o método de se alcançar prayojana.



Todos os métodos que foram legados para se alcançar o sucesso na vida espiritual estão divididos em três classes. Essas três classes são karma, jnana e bhakti.

Manter a vida realizando os deveres prescritos é o que se denomina karma. O karma tem dois aspectos: prescrições e proibições. Akarma, ou inatividade, e vikarma, ou atividades pecaminosas, são ambas proibidas. O prescrito é karma. Existem três tipos de karma: constitucional, condicional e desejoso. As atividades que são sempre necessárias se realizar são chamadas constitucionais. Manter o corpo e a família, realizar atividades beneficentes, gratificantes e adorar o Senhor são as chamadas atividades constitucionais. O que se torna um dever devido às circunstâncias é chamado atividade condicional. A tentativa de se evitar a morte ao ver a morte do próprio pai é um exemplo de atividade condicional. As atividades que são realizadas com desejo são chamadas de atividades desejosas. Um exemplo disso é a realização de um sacrifício para se obter um filho.

Se desejarmos realizar os nossos deveres adequadamente, então precisamos relacionar as prescrições para as atividades corpóreas, os códigos morais, punições, heranças, governo de um reino, divisões do trabalho, guerra, alianças, casamentos, tempo e expiações com o serviço devocional ao Senhor e dessa maneira nos situarmos apropriadamente no mundo. Isso tem sido praticado pelas diversas castas de uma maneira ou de outra. A terra de Bharata está povoada pelos arianos, portanto ela é um exemplo para todas as castas, porque todas as atividades citadas atualmente embelezam essa terra na maravilhosa forma de varAasrama-dharma. Nenhuma outra raça foi capaz de fazer um arranjo tão perfeito. Nas outras raças as atividades são realizadas de acordo com a natureza das pessoas e as prescrições citadas são arranjadas de maneira caótica; mas entre os arianos da Índia, essas prescrições estão arranjadas de tal maneira que elas se tornam favoráveis para o serviço devocional. Que inteligência maravilhosa possuíam os is indianos! Até mesmo no passado mais remoto eles fizeram um arranjo extraordinário sem a ajuda de nenhuma outra raça. Quando nos referimos à Índia como a terra do karma e um exemplo para os outros países, isso não é um exagero.

Os sábios perceberam que a elegibilidade das pessoas para executar os seus deveres nasce da sua natureza. Se prescrevermos deveres sem considerarmos a qualificação das pessoas, essas atividades nunca serão realizadas de maneira satisfatória. Portanto os sábios determinaram os deveres das pessoas depois de considerarem a sua natureza. A natureza humana é divida em quatro categorias: bramaAa, katriya, vaisya e s™dra. Dessa maneira os sábios estabeleceram o varna das pessoas de acordo com as suas naturezas. No último capítulo do Bhagavad-gita (18. 41-45) está declarado:



“Os brahmaAas, os katriyas, os vaisyas e os s™dras distinguem-se pelas qualidades que, de acordo com os modos materiais, são nascidos de sua própria natureza, ó castigador do inimigo.” “Tranqüilidade, autocontrole, austeridade, pureza, tolerância, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade — são essas as qualidades naturais com as quais os brahmaAas agem.”

“Heroísmo, poder, determinação, destreza, coragem na batalha, generosidade e liderança são as qualidades naturais das atividades dos katriyas.”

“A agricultura, a proteção às vacas e o comércio são as atividades naturais dos vaisyas, e os s™dras devem executar trabalho e serviço para os outros.”



Depois de dividir os varAas de acordo com as qualidades das pessoas, que são gerados da sua natureza individual, os sábios consideraram que havia uma necessidade de se estabelecer a sua posição no asrama. Dessa maneira eles designaram os casados como ghasthas, os estudantes itinerantes como brahmacaris, as pessoas idosas aposentadas como vanaprasthas e aqueles que renunciaram a tudo como sannyasis. Eles também concluíram que mulheres e s™dras se destinam a ser ghasthas. Ninguém além dos brahmaAas pode aceitar sannyasa. Esse arranjo é uma clara indicação da inteligência dos sábios. Todas as prescrições e proibições que são geradas do sastra e o argumento estão sob a jurisdição do varAasrama-dharma. É difícil discutir todas as prescrições nesse pequeno capítulo conclusivo, portanto vou encerrar dizendo que o sistema de varAasrama é uma prescrição maravilhosa para a vida material das pessoas. Esse sistema de varAasrama é certamente o mais respeitado de todos os arranjos que tem se manifestado da inteligência dos arianos.

Devido à consideração indevida e inveja, as pessoas dos países estrangeiros criticam esse arranjo. Alguns tolos do nosso país também. Isso se deve principalmente à animosidade contra o nosso país. A compreensão inadequada do seu significado e a imitação do comportamento dos estrangeiros também devem ser consideradas as razões principais.

Além disso, não há dúvida de que esse arranjo tem sido poluído. Ele tem funcionado inadequadamente devido a falta de acadêmicos que saibam o propósito desse sistema. É por isso que atualmente as pessoas criticam o sistema de varAasrama. Na verdade o arranjo de varAasrama é impecável. Porém, como ele pode permanecer impecável quando empregado de maneira imprópria? A posição do indivíduo no varAasrama, que é gerada da sua natureza pessoal, agora está sendo designada de acordo com o nascimento. Isso leva a um resultado oposto. O filho desqualificado de um brâmane será tido como brâmane e um pacífico e erudito filho de um s™dra será considerado s™dra. Esse arranjo é completamente contrário ao sistema de varAasrama original. O costume antigo era que quando um menino alcançasse a maturidade, os membros mais velhos da família, o sacerdote da família, o acarya da família, o proprietário da terra e os líderes da vila deveriam avaliar a natureza do jovem e determinar o seu varAa. A consideração principal para determinar o varAa do jovem era analisar se ele estava qualificado a aceitar o mesmo varAa do pai. Devido à sua natureza inerente e ao trabalho despendido para alcançar uma posição elevada, as crianças das classes mais elevadas costumavam ser aceitas como pertencentes à mesma casta do pai. No entanto, devido à sua falta de habilitação, alguns meninos poderiam ser aceitos como de casta inferior. E da mesma maneira, meninos de casta inferior poderiam ser aceitos como pertencentes a castas superiores na hora do exame. Se formos verificar as histórias dos puranas, encontraremos inúmeros exemplos assim. Uma vez que passou a haver uma contínua liderança cega e os exame passou a ser mera formalidade, as pessoas qualificadas não alcançavam postos qualificados e dessa maneira o sol da fama dos arianos chegou ao poente. Ao explicar os códigos religiosos, Sri Narada Muni declarou no Srimad Bhagavatam (7.11.35):



“Se alguém exibe os sintomas de ser um brahmaAa, katriya, vaisya ou s™dra, como os que descrevemos, mesmo que tenha surgido em uma classe diferente, deve ser aceito de acordo com esses sintomas de classificação.”



Os sábios de outrora não pensavam nem em sonhos que a ocupação natural das pessoas pudesse gradativamente ir sendo considerada apenas pelo nascimento. Até certo ponto é natural que o filho de uma grande personalidade se torne grandioso, mas não há garantia quanto a isso. O sistema natural de varAasrama foi estabelecido para poder livrar o mundo da liderança sucessória de líderes cegos, mas infelizmente as escrituras caíram nas mãos de algumas pessoas egoístas e smartas tolos, ou brahmaAas ritualísticos. O perigo que esse sistema procurava evitar acabou se voltando contra ele mesmo. Isso é motivo de grande lamentação. Quem tenta remover a contaminação que penetrou no sistema está se dedicando ao bem-estar da nação. Uma pessoa inteligente não deve tentar remover todo o sistema porque uma parte dele está contaminada. Portanto, ó grandes almas! Se vocês desejam se dedicar ao bem-estar do seu país, por favor restabeleçam esse sistema impecável que lhes foi legado pelos ancestrais depois de refiná-lo coletivamente! Não tentem abandonar o sistema apropriado para o seu país seguindo o mau conselho de estrangeiros. Será que aqueles que vivem na Índia como gloriosos descendentes de grandes personalidades como Brahma, Manu, Daka, Marici, Parasara, Vyasa, Janaka, Bhima e Bharadvaja deverão aprender e seguir os arranjos para vida material das raças modernas? Ora! Seria muito vergonhoso! Se o sistema de varAasrama for restabelecido de forma impecável, então a Índia avançará em todos os aspectos. Não vou comentar muito sobre isso. O principal propósito do sistema de varAasrama é o de ajudar as pessoas a irem avançando gradualmente ao realizarem os deveres prescritos tendo o Senhor como centro.

Dessa maneira as pessoas poderão gradualmente alcançar a vida espiritual realizando os seus deveres prescritos de acordo com o sistema varAasrama. Portanto, na avaliação dos acadêmicos karma-kaAda sobre abhidheya, as atividades fruitivas devem ser aceitas como a única maneira de se alcançar prayojana. Uma alma condicionada não pode viver sequer um instante sem atividade. Ela deve ao menos trabalhar para manter a vida. A menos que mantenhamos as nossas vidas, não poderemos praticar os meios de se alcançar prayojana. Portanto, as atividades são inevitáveis. Uma vez que não podemos nos manter sem atividades, todas as atividades devem ter como objetivo a satisfação do Senhor, de outra maneira essas atividades se transformarão em atividades ateístas. Como declara o Srimad Bhagavatam (1.5.32):



“Ó brahmaAa Vyasadeva, os eruditos decidiram que o melhor remédio para eliminar todas os problemas e misérias é dedicar todas as nossas atividades ao serviço da Suprema Personalidade de Deus (Sri Krsna).”



As atividades fruitivas são simplesmente uma perturbação, mesmo quando realizadas sem motivo. Portanto, a menos que essas atividades sejam realizadas de acordo com a nossa qualificação, sejam oferecidas quer ao Brahman através do conhecimento, à Superalma através dos resultados, ou à Suprema Personalidade de Deus através do caminho do apego, tais atividades jamais conferirão qualquer auspiciosidade. Descreveremos o caminho do apego no momento adequado. As atividades que realizamos para alcançar a meta suprema devem ser direcionadas para a adoração da Superalma, o Senhor dos sacrifícios. A adoração ao Senhor não pode ser abandonada quer se desempenhem as atividades constitucionais, quer se desempenhem as atividades condicionais, porque devemos realizar os deveres prescritos com um senso de gratidão ao Senhor Supremo, e isso é chamado de adoração ao Senhor. As atividades desejosas estão destinadas às pessoas de classe baixa, no entanto há um arranjo para se dedicar essas atividades ao Senhor. Como declara o Srimad Bhagavatam (2.3.10):



“Uma pessoa inteligente, mesmo que esteja repleta de desejos materiais, ou que não tenha desejos materiais, ou que deseje a liberação, qualquer que seja o caso, deve adorar o todo supremo, a Personalidade de Deus.”



Jnana, ou conhecimento, também é considerado um meio de se alcançar a perfeição espiritual. O Brahman supremo e as entidades vivas estão além da criação material. Os jnanis concluem que determinadas atividades transcendentais são a única maneira de se alcançar o Brahman Supremo, que é a meta da vida espiritual. Apesar de karma ser suficiente para manter o corpo e a vida familiar, ele é gerado de atividades materiais e não tem potência para nos liberar da matéria. Através de karma a nossa mente é treinada para se concentrar no Senhor Supremo, mas não é possível alcançar o benefício eterno até que se acabe com as atividades materiais. Só se alcançam resultados espirituais com atividades espirituais. Uma entidade viva deve primeiro discutir o mundo material e depois de subjugar todas as atividades materiais e a existência ela deve se ater ao samadhi para alcançar o Brahman. Enquanto permanecermos no corpo material, devemos aceitar as atividades corpóreas. Existem dois tipos de jnana: o conhecimento do Brahman e o conhecimento do Senhor Supremo. Através do conhecimento do Brahman uma alma alcança o resultado da imersão no Brahman. Tais brahma-jnanis não aceitam a existência independente de uma alma depois da imersão no Brahman. O Brahman é impessoal e quando a alma é liberada , ela também se torna impessoal e imerge no Brahman. Esse tipo de prática é um estímulo para o cultivo do conhecimento do Senhor Supremo. Como o próprio Senhor diz no Bhagavad-gita (12.3-5), ao se referir ao serviço devocional:



“Mas aqueles que adoram plenamente o imanifesto, aquilo que está além da percepção dos sentidos, o onipenetrante, inconcebível, imutável, fixo e imóvel — a concepção impessoal sobre a Verdade Absoluta —, controlando os vários sentidos e sendo equânimes para com todos, tais pessoas, ocupadas em prol do bem-estar de todos, acabarão me alcançando. Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto impessoal e imanifesto do Supremo, o progresso é muito problemático. Progredir nessa disciplina é sempre difícil para aqueles que estão corporificados.”



O significado principal desses três versos é que quando a concepção material de uma entidade viva é destruída pelo cultivo de brahma-jnana, o conhecimento impessoal, então pela misericórdia do Senhor e pela associação com os devotos, ela alcança o Senhor Supremo espiritualmente diversificado. A contaminação desse mundo material polui tanto a concentração, ou samadhi, da entidade viva que depois de abandonar os elementos materiais, dos cinco elementos grosseiros até o falso ego, é necessário que se concentre no Brahman impessoal no início do samadhi. Porém, quando a alma espiritual transcende as dores materiais e alcança a unidade com o Brahman, então com a inteligência fixa através de samadhi ela logo vê a diversidade de VaikuA˜ha. Então, ela não mais será impedida de ver o Senhor e a beleza de VaikuA˜há que gradualmente se manifesta e satisfaz os olhos transcendentais do devoto. Nesse ponto, brahma-jnana se transforma em bhagavad-jnana, conhecimento da Personalidade de Deus. Quando o conhecimento sobre o Senhor Supremo é despertado, compreende-se automaticamente todos os mistérios relativos ao Senhor. Portanto, jnana, que é um meio de se alcançar a Verdade Absoluta, também é recomendada como abhidheya, ou meio para se alcançar a meta definitiva. Se cultivarmos conhecimento sobre o Senhor Supremo, então haverá uma boa possibilidade de despertar o amor puro, que é a prayojana da entidade viva.

É preciso que se diga alguma coisa sobre jnana. O conhecimento sobre o Senhor Supremo é um conhecimento natural, enquanto que ignorância e muito conhecimento mundano são conhecimentos não-naturais. A ignorância resulta da adoração da matéria e muito conhecimento resulta em ateísmo e monismo. A adoração à matéria tem dois aspectos: a adoração positiva é aceitar as características materiais como conhecimento do Senhor Supremo e a adoração negativa é aceitar as características materiais como o Supremo. Aqueles que se dedicam à adoração positiva aceitam e adoram uma imagem material como o Supremo. Aqueles que se dedicam à adoração negativa aceitam os aspectos negativos das características materiais como Brahman. Tais pessoas concluem que o Supremo é impessoal, sem forma, sem atividades e sem sentidos. Levando em conta essas duas classes, o Srimad Bhagavatam (2.10.33-35) declara:



“Dessa maneira por tudo isso, o aspecto externo da Personalidade de Deus é coberta por formas grosseiras tais como as dos planetas, que eu te expliquei. Portanto, além dessa (manifestação grosseira) há uma manifestação transcendental mais sutil do que a forma mais sutil. Ela não tem início, nem estado intermediário e nem fim; portanto, está além dos limites de expressão ou de especulação mental e é distinta da concepção material. Nenhuma das formas do Senhor citadas, como acabei de descrever sob a perspectiva material, é aceita pelos devotos puros do Senhor que O conhecem bem.”



Ambos os aspectos citados do Senhor são materiais. Os acadêmicos de comportamento de cisnes devem desconsiderar os aspectos grosseiro e sutil do Senhor e concentrar-se eternamente na Sua forma transcendental. Portanto, a aceitação da forma grosseira do Supremo, bem como a aceitação da forma impessoal são produtos da ignorância e são sempre contraditórias. Quando o raciocínio supera o conhecimento e fica estabelecido como argumento, então a pessoa passa a não aceitar a alma como sendo eterna. É nessa situação que nasce a filosofia do ateísmo. Quando o conhecimento fica sob a subordinação do raciocínio e abandona a sua natureza, então a pessoa anseia em imergir no Brahman impessoal. Essa aspiração é gerada de muito conhecimento e não beneficia a entidade viva. Como está declarado o Srimad Bhagavatam (10.2.32):



“Ó pessoa de olhos de lótus, aqueles que pensam que são liberados nessa vida, mas que não prestam serviço devocional a Você, devem ter a inteligência impura. Apesar deles aceitarem austeridades severas, penitências e se elevarem à realização espiritual, à realização do Brahman impessoal, eles caem novamente porque negligenciam a adoração a Seus pés de lótus.”



Mesmo com um raciocínio apropriado, conhecimento excessivo não pode ser benéfico. Agora vamos tecer algumas considerações a respeito disso:

1. Se a imersão no Brahman Supremo fosse a meta definitiva das entidades vivas, então deveríamos imaginar que as entidades vivas foram criadas pelo Senhor por conta de Sua crueldade. Se não apresentarmos uma existência tão imprópria, não sentiríamos nenhuma dificuldade. Se aceitarmos Maya como a única criadora para atestar que o Brahman é imaculado, então seremos levados a aceitar que existe uma verdade independente, separada do Brahman.

2. Quando uma alma imerge no Brahman ninguém é beneficiado.

3. Nos passatempos eternos da Verdade Absoluta não há necessidade das almas imergirem no Brahman.

4. Se não aceitarmos completamente a qualidade da diversidade, que é uma manifestação das energias do Senhor, então não há possibilidade de existência, conhecimento ou felicidade, e como resultado, o Brahman Supremo passa a ser considerado impessoal e sem base existencial. Podemos até passar a duvidar da existência do Brahman. Mas, se aceitarmos a qualidade da diversidade como sendo eterna, então a alma não pode imergir no Brahman.

Por favor, consultem o Mayavada-sata-d™aAi para maior esclarecimentos sobre esse tema.

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Se pudermos compreender a relação entre o conhecimento e o amor, então veremos que não há discordância entre eles. Os sentimentos originais de uma alma são os seus deveres constitucionais. Esses sentimentos originais se expandem de duas maneiras: (1) eles se expandem na forma do conhecimento de um objeto e suas características, e (2) eles se expandem através da realização da rasa. Um outro nome para o primeiro caminho é jnana, ou conhecimento especulativo, que é naturalmente insípido e problemático. Um outro nome para o segundo é priti, ou amor. No momento de vivenciar um objeto e as suas características, há um extraordinário sentimento de rasa entre o sujeito e o objeto. Isso é chamado priti. No relacionamento entre jnana e priti, observamos um aumento proporcional de um deles assim que ocorre a diminuição do outro. Conforme jnana aumenta, priti diminui, e conforme priti aumenta, jnana diminui. Quando jnana atinge a sua plataforma mais elevada, então os sentimentos originais da alma se unificam. Essa plataforma é insípida e completamente desprovida de felicidade. Quando priti atinge a plataforma mais elevada, os sentimentos originais da alma não se perdem; ou seja, eles se tornam vívidos em temas de sambandha, abhidheya e prayojana e eles expandem a rasa de amor. Portanto, expandir o amor é a única prayojana para a entidade viva.

No que se refere a abhidheya, o serviço devocional é considerado a prática principal. SaAdilya ¬i declarou em seu livro chamado Bhakti-mimaˆsa: bhaktiƒ pranuraktir isvare — “Apego puro ao Senhor Supremo é chamado bhakti.”

Bhakti, ou serviço devocional, é definido como sendo as atividades que a alma condicionada realiza por apego à Superalma. Algumas dessas atividades se assemelham a karma e outras a jnana. As atividades realizadas com o corpo grosseiro são chamadas karma e as atividades realizadas com o corpo sutil são chamadas jnana. O serviço devocional é a prática que se destina às almas condicionadas, portanto ele não pode ser chamado priti, ou amor. Quando priti é despertado deve-se compreender que o serviço devocional atingiu plena maturidade. Não é possível descrever minuciosamente cada estágio do serviço devocional, portanto só irei descrever os estágios principais. Se depois de compreender a ciência básica de bhakti o estimado leitor for estudar as escrituras devocionais tais como os SaAdilya-s™tras e o Bhakti-rasamta-sindhu, então todos os tópicos relativos aos serviço devocional serão compreendidos.

Bhakti, assim como priti, tem duas naturezas: opulenta (baseada em aisvarya) e doce (baseada em madhurya). Quando bhakti é atraído pelas glórias e opulências do Senhor, ele é chamado aisvarya-bhakti. O humor de servidão surge do sentimento de insignificância do praticante. O Senhor é conhecido como um amo extraordinário devido ao Seu aspecto extremamente opulento. Então, o Senhor, que é supremamente opulento, aparece como o Rei dos reis, NarayaAa, e concede auspiciosidade para as entidades vivas. Isso não é temporário, é eterno e sempre permanente. O Senhor Supremo é pleno de todas as opulências naturalmente. Não podemos separar as opulências do Senhor. Todavia, Ele também possui um aspecto maravilhosamente doce, que é superior ao de opulência. Quando a natureza doce de bhakti se torna proeminente, então o aspecto doce do Senhor se manifesta e a natureza opulenta de bhakti se torna invisível, assim como a lua se torna invisível na presença do sol. Quando a natureza de opulência se torna invisível, então o Senhor se torna o sujeito das rasas mais elevadas. Então, o coração do praticante se abriga nas diversas rasas como sakhya, vatsalya e madhurya. O Senhor então manifesta Krsna, a personificação da compaixão pelos Seus devotos, a morada da bem-aventurança suprema e o sedutor dos corações de todos. Não que Krsna se manifestou de NarayaAa, Eles são eternamente maravilhosos e sempre permanentes. As diferentes formas do Senhor se manifestam de acordo com a natureza e qualificação dos devotos. A personalidade de Krsna é o refúgio do que há de mais elevado dentro das cinco rasas primárias das entidades vivas, portanto o Senhor Sri Krsna é aceito como a personalidade mais elevada na ciência de bhakti e priti. Esse assunto já foi bem explicado no Sri Krsna-samhita.

Se formos nos aprofundar mais, compreenderemos que devem ser discutidos apenas os assuntos relacionados com o Senhor. Para compreender a verdade não-dual, devemos compreender os três aspectos da Verdade Absoluta descritas no Srimad Bhagavatam (1.2.11):



vadanti tat tattva-vidas tattvam yaj jnanam advayam

brahmeti paramatmeti bhagavan iti sabdyate



“ Os transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não-dual de Brahman, Paramatma ou Bhagavan.”

De início, devido à percepção indireta, a Verdade Absoluta é conhecida como Brahman. A forma direta do Brahman não é visível; apenas uma forma indireta da Verdade Absoluta é realizada através de jnana. Alcançar conhecimento é a mais elevada habilitação para se indagar sobre o Brahman. No entanto, no Brahman não se pode desfrutar do conhecimento, porque no Brahman não existe diferença entre o desfrutador e o desfrutado. No segundo caso, com a ajuda do aspecto direto e indireto, a alma individual chega ao conhecimento de Paramatma ou Superalma. Apesar de nesse casa existir uma alusão de diferença entre a alma e a Superalma, devido à ausência da forma completa do Senhor, o aspecto de Paramatma só é conhecido através do samadhi artificial. Nessa situação, o devoto e o Senhor não podem manifestar completamente as trocas diversificadas. O Senhor, ou Bhagavan, é a única verdade adorável. Portanto, Ele é mencionado na conclusão do verso citado. Dentre as inúmeras qualidades do Senhor, Ele é manifesto como Brahman por uma dessas qualidades e como Paramatma por outra dessas qualidades. Mas, quando se reúnem todas as qualidades, o aspecto do Senhor é descrito no Srimad Bhagavatam (2.9.35) como: yatha mahanti bh™tani — “assim como os elementos universais,” se manifestam no coração das entidades vivas através de samadhi. De todas as formas e nomes (*) do Senhor correntes pelo mundo, a forma de Bhagavan mencionada no Srimad Bhagavatam é a mais pura.



(*) (A) Deus, divino, fama; (B) Alá, grandeza, opulência; (C) Superalma, espiritualidade, renúncia; e (D) Brahma, unidade espiritual, e jnana, são diferentes nomes e qualidades do Senhor como encontradas em diferentes países.



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É por isso que o Paramahaˆsa-saˆhita é conhecido como Bhagavata. A Verdade Absoluta, Bhagavan, é a fonte de todas as qualidades. A palavra Bhagavan se refere às seis qualidades principais mencionadas no Visnu PuraAa (6.5.47):



“Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus, é quem é pleno nas seis opulências. Ele possui todo poder, fama, riqueza, conhecimento, beleza e renúncia.”

Nesse ponto devemos compreender que o Senhor não é apenas uma coleção de qualidades, e sim que as qualidades estão manifestas naturalmente em uma determinada forma. Dentre as seis qualidades do Senhor, opulência e beleza são vistas como unidas em Sua forma. As outras quatro qualidades resplandecem como Suas características. Na forma opulenta do Senhor a qualidade de desfrute é menor, enquanto na forma doce do Senhor o desfrute é mais deleitoso, pois só se experimenta doçura. Opulência e as cinco outras qualidades são identificadas como características dessa forma. Há naturalmente uma proporção inversa entre doçura e opulência. A opulência decresce na proporção que a doçura aumenta e vice-versa. O aspecto maravilhoso da doçura do Senhor é exibido pela independência e qualidade entre o devoto e o Senhor. Nessa posição, o Senhor mantém o Seu aspecto como o controlador Supremo, como Brahman e como Paramatma, porque a Verdade Absoluta mantém-se naturalmente não-dual, apesar que, de acordo com a qualificação dos devotos, Ele aparenta ser diferente. A forma de Sri Krsna, que é a doce flor de kadamba da madhurya-rasa, é o único objeto independente de cultivo espiritual.

Quando Sukadeva Gosvami descreveu a rasa-lila, Maharaja Parikit duvidou como poderia ser viável cultivar a consciência de Deus sem uma mácula de opulência, e portanto ele perguntou:



“Ó sábio, as gopis conheciam Krsna como amante delas, não como a Verdade Absoluta. Portanto, como essas meninas, com suas mentes sujeitas às ondas dos modos da natureza, poderiam se liberar do apego material? (Bh. 10.29.12)”

Para responder a essa pergunta Sukadeva Gosvami disse:



“Já lhe expliquei esse ponto anteriormente. Uma vez que Sisupala, que odiava Krsna, alcançou a perfeição, então o que dizer de Seus devotos queridos. Ó rei, o Senhor Supremo é inexaurível e imensurável, e Ele não é tocado pelos modos da natureza material porque é Ele quem os controla. O Seu aparecimento pessoal nesse mundo se destina a conceder o benefício mais elevado para a humanidade.” (Bh. 10.29.13-14)

Dentre as seis qualidades, lideradas pela opulência, a qualidade da beleza é a melhor. Isso foi concluído por Sukadeva Gosvami. Portanto, todo aquele que sustentar isso - seja kani˜ha ou uttama-adhikari — alcançará a meta suprema. Pelo poder do seu sadhana, os kani˜ha-adhikaris abandonarão os vínculos materiais, que são gerados das atividades fruitivas piedosas e impiedosas e se tornarão uttama-adhikaris e dessa maneira alcançarão Krsna, enquanto que os uttama-adhikaris receberão alguma uddipana, ou instigação e entrarão na dança da rasa.

Os principais sintomas de bhakti estão descritos no Bhakti-rasamta-sindhu (P™rva-vibhaga, 1.9), da seguinte maneira:



“Devemos prestar transcendental serviço amoroso ao Supremo Senhor Krsna favoravelmente e sem o desejo de lucro material, ou de atividades fruitivas ou de especulação filosófica. Isso é chamado serviço devocional puro.”

O sintoma de bhakti puro é o serviço amoroso favorável. Porém, serviço amoroso favorável a quem? Brahman, Paramatma, ou NarayaAa? Não, ele não pode ser prestado a Brahman, porque Brahman é um objeto impessoal de meditação. A devoção não encontra abrigo no Brahman. Nem o serviço amoroso pode ser oferecido a Paramatma, porque Paramatma é conhecido através do caminho de yoga. Portanto, o Paramatma não é o objeto da devoção. Nem o serviço devocional significa exatamente servir a NarayaAa, porque NarayaAa não pode dar abrigo a todas as propensões de bhakti. Quando a entidade viva abandona o conhecimento especulativo e a sede de alcançar o Brahman, então surge o conhecimento do Senhor Supremo juntamente com santa-rasa. Essa rasa está voltada para NarayaAa. Mas essa rasa tem um humor indiferente. Quando surge a afeição por NarayaAa, então é despertado o relacionamento entre servo e amo. No entanto quando o amo tem o aspecto de NarayaAa, esse relacionamento não pode avançar mais, porque a forma de NarayaAa nunca pode ser a meta para sakhya, vatsalya ou madhurya-rasas. Quem teria a coragem de colocar o braço em torno do pescoço de NarayaAa de dizer: “Ó meu amigo, eu trouxe um presente para Você. Por favor aceite-o.” Qual a entidade viva que seria capaz de colocar NarayaAa em seu colo e beijá-lO em um humor paternal? Quem pode dizer: “Ó meu querido, Você é o Senhor da minha vida, Sou Sua esposa.” Como o Senhor NarayaAa é grande, o Senhor de imensa opulência e Rei dos reis, e como a entidade viva é insignificante, incapaz, pobre e caída! Para essas entidades vivas é extremamente difícil abandonar o medo e respeito na adoração a NarayaAa. Mas o Senhor adorável é o mais misericordioso e vive absorto em passatempos amorosos. Quando o Senhor vê o avanço de uma entidade viva e o despertar de rasas como sakhya, então o Senhor misericordiosamente se torna o objeto dessas rasas avançadas e desfruta de passatempos transcendentais com a entidade viva. Sri Krsnacandra é o objeto ideal para as propensões de bhakti. Portanto, o cultivo da consciência de Krsna é o método ideal para o serviço devocional puro. Nesse cultivo de consciência de Krsna não devemos manter nenhum outro desejo além do de avançar em nossos deveres constitucionais. Se cultivamos o desejo de liberação ou de gratificação dos sentidos, então a rasa não se desenvolverá e o resultado será jnana ou karma. Devemos ser cuidadosos para que as atividades fruitivas e o conhecimento especulativo não encubram essa maravilhosa propensão sutil. Se jnana encobrir essa propensão, então seremos atraídos pelo Brahman e perderemos a nossa identidade. Se karma encobrir essa propensão, então nosso coração ficará atraído pelas tediosas atividades fruitivas como um smarta comum e acabaremos por abandonar Krsna e iremos nos dedicar a atividades ateístas. Qualidades como a ira também são um tipo de cultivo, mas cultivando a consciência de Krsna em um humor assim, iremos saborear a rasa inversa, como a desfrutada por Kamsa. Portanto, esse tipo de cultivo é desfavorável. Nessa conjuntura alguém pode argumentar que se bhakti fosse igual a karma e jnana, então os nomes “karma” e “jnana” já seriam suficientes. Qual a necessidade de ficar denominando algumas práticas de bhakti? A resposta a essa questão é que a ciência de bhakti não pode ser explicada com o nome de karma e jnana. Existem resultados diferentes nas atividades constitucionais, condicionais e desejosas. A meta principal de todas as atividades é alcançar a nossa ocupação constitucional — quanto a isso não resta dúvida. Mas, todas as atividades têm os seus frutos irrelevantes. Por exemplo, os frutos irrelevantes das atividades corpóreas são sustentar o corpo e o prazer sensorial. Ninguém pode negar isso. Os frutos irrelevantes das atividades mentais são a felicidade do coração e a inteligência aguçada. Ninguém pode superar esses frutos irrelevantes e a busca pelo fruto principal pode desenvolver um humor devocional em nossas atividades. É por isso que atividades com frutos irrelevantes são conhecidas como karma-kaAda. Karma e bhakti foram separados cientificamente para poder incorporar os frutos favoráveis de karma em bhakti. Analogamente, jnana que simplesmente visa a liberação, é chamado de jnana-kaAda, enquanto que os frutos favoráveis de jnana que nos ajudam a progredir rumo à meta da vida foram incorporados em bhakti. Há algo mais a ser dito em relação a isso. Se todo karma e jnana visam alcançar o fruto principal, então eles podem ser considerados bhakti. Mas apenas pouco karma visa alcançar o fruto principal. Essas atividades são identificadas como serviço devocional direto. Alguns exemplos são a adoração do Senhor, o canto de japa, seguir votos devocionais, visitar locais sagrados, estudar escrituras devocionais e servir aos devotos. Quando os outros karmas e seus frutos irrelevantes visam o fruto principal, então eles podem ser chamados de serviço devocional indireto. Analogamente, o conhecimento do Senhor Supremo está mais próximo de bhakti do que o conhecimento do Brahman ou sentimentos de renúncia. Se a renúncia e o conhecimento do Brahman, juntamente com o seu fruto irrelevante, a liberação de maya, nos ajuda a obter a atração pelo Senhor, então eles também estão incluídos em bhakti.

Outro nome de karma-kaAda é karma-yoga, e outro nome de jnana-kaAda é jnana-yoga ou saAkhya-yoga. O principal propósito do sadhana é despertar a nossa atração pelo Senhor Supremo. Quando karma e jnana favoráveis estão vinculados a bhakti, eles se chamam bhakti-yoga. Aqueles que não podem compreender essa síntese estão se dedicando inadequadamente quer em atividades fruitivas, quer em conhecimento especulativo, ou à adoração de semideuses. O Bhagavad-gita indica que (5.4, 5,7):



“Só os ignorantes dizem que o serviço devocional (karma-yoga) é diferente do estudo analítico do mundo material (sa‰khya). Aqueles que são eruditos de verdade afirmam que quem segue um desses caminhos consegue os resultados de ambos.”

“Aqueles que sabe que a posição alcançada por meio do estudo analítico também pode ser conseguida através do serviço devocional, e que portanto vê o estudo analítico e o serviço devocional como estando no mesmo nível, vê as coisas como elas são.”

“Aquele que trabalha com devoção, que é uma alma pura e que controla a mente e os sentidos, é querido por todos, e todos lhe são queridos. Embora sempre trabalhe, essa pessoa nunca se enreda.”

Em outras palavras, essa pessoa realiza atividades físicas, mentais e como chefe de família até o final da vida sem aceitar os frutos irrelevantes das suas atividades, porque todas essas atividades e seus frutos irrelevantes se destinam simplesmente a sustentar a atração pelo Senhor Supremo, que é o fruto principal. O significado é que o yogi que possa sintetizar suas várias atividades é adorável e superior aos karma-yogis que alcançaram perfeições domo aAima e laghima, ou aos jnana-yogis que estão apegados pela liberação. O maravilhoso processo de bhakti-yoga tem três fases: sadhana, bhava e prema.

Devido ao esquecimento da sua identidade, a entidade viva condicionada fica sob a influência do falso ego e se identifica com o corpo. Priti, que é a natureza constitucional de uma entidade viva está presente de uma forma pervertida e transformado em priti pelos objetos dos sentidos. Nessa condição devemos nos esforçar em seguir pratyag-gati para alcançarmos os nossos deveres constitucionais. Sob a influência do falso ego, a entidade viva aceita uma forma feita de elementos materiais e suas qualidades e com uma mentalidade irreligiosa, com a ajuda dos sentidos experimenta alegria e sofrimento. Esse apego material é chamado a corrente de parag. Em outras palavras os nossos sentimentos internos estão fluindo externamente de maneira imprópria. Quando essa corrente é retraída dos objetos externos, ela é chamada de corrente de pratyak. O método pelo qual isso é obtido é chamado de sadhana-bhakti. Quando as nossas propensões naturais são desviadas pela corrente pervertida e pelos instrumentos dos sentidos, então nos tornamos absortos em objetos materiais. Essas propensões então ficam absortas nos objetos materiais, nos objetos dos sentidos materiais — sabor com a língua, olfato com as narinas, visão com os olhos, audição com os ouvidos, sentir com o tato. Essa corrente é tão poderosa que não é possível que a mente a detenha. O processo para se deter essa corrente é mencionado no Bhagavad-gita (2.59) da seguinte maneira:



“A alma corporificada pode restringir-se do gozo dos sentidos, embora permaneça o gosto pelos objetos dos sentidos. Porém, interrompendo tais ocupações ao experimentar um gosto superior, ele se fixa em consciência.”

Existem duas maneiras de se interromper essa corrente. Se uma alma corporificada fica privada do desfrute sensorial, o seu gosto pelos objetos dos sentidos certamente é interrompido. Mas é impossível para uma alma corporificada permanecer sem desfrutar dos objetos dos sentidos. Assim se houver outro processo de se interromper essa corrente, então o nosso dever é seguir esse processo. Há um processo definitivo para divergir a corrente do apego pelos objetos dos sentidos. Quando a corrente do apego encontra rasa, ela fica encantada. Portanto se a corrente o apego for divergida para uma rasa que seja superior à rasa material, ela naturalmente aceita a rasa superior. Como está declarado no Srimad Bhagavatam (1.5.34):



“Dessa maneira quando todas as atividades de um homem estão dedicadas ao serviço do Senhor, essas mesmas atividades que causam a sua prisão material perpétua transformam-se em destruidoras da árvore do trabalho.”

Essa é a principal verdade de sadhana no processo de raga. Toda a vida de um sadhana no caminho de raga está dedicada ao cultivo da consciência de Krsna. Esse cultivo está dividido em sete categorias (*):



(*) Essas sete categorias de cultivo de consciência de Krsna são naturalmente práticas recíprocas. Se formos incapazes de sintetizar essas práticas, então devemos buscar abrigo em um acarya qualificado. Quem consegue sintetizar essas práticas no comportamento cotidiano vive como um vaisnava, sua vida familiar é centrada em Deus, e a sua existência é divina. Quando nos liberamos da vida material, então começamos a praticar o serviço devocional imotivado. Até que sejamos liberados necessitamos cultivar todos os sete itens mencionados a seguir.

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CATEGORIA DESCRIÇÃO (*)



1. Cultivo espiritual — (1) priti e (2) realização de sambandha, abhidheya e prayojana.

2. Cultivo mental — (1) lembrança, (2) pensar, (3) meditação, (4) meditação concentrada, (5) samadhi, (6) consideração da ciência de sambandha, (7) arrependimento, (8) yama (**), e (9) purificação do coração.

3. Cultivo corporal — (1) niyamas (***), (2) servir aos outros, (3) ver e tocar os devotos e o Srimad Bhagavatam, (4) orar, (5) ouvir, (6) dedicar os sentidos ao serviço devocional, (7) transformações de amor extático, e (8) desenvolver um humor de servidão em relação ao Senhor.

4. Cultivo da fala — (1) cantar hinos, (2) estudar, (3) kirtana, (4) ensinar, (5) orar, e (6) pregar.

5. Cultivo do relacionamento — (1) santa, (2) dasya, (3) sakhya, (4) vatsalya, e (5) kanta. Existem dois tipos de relacionamentos: como o Senhor e com os associados do Senhor.

6. Cultivo social — (1) varAa: brahmaAa, katriya, vaisya e s™dra — ocupações e posições que estão fundamentadas na natureza da pessoa; (2) asrama: ghastha, brahmacarya, e sannyasa — divisões conforme a situação social da pessoa, (4) festivais gerais, e (5) atividades como sacrifício.

7. Cultivo dos objetos dos sentidos — os seguintes objetos dos sentidos nos ajudam a desenvolver a consciência de Krsna: (1) os objetos para os olhos são as Deidades, os templos, as escrituras, os locais sagrados, os dramas espirituais e os festivais espirituais; (2) os objetos para os ouvidos são as escrituras, as canções, as conferências e conversas; (3) os objetos para o nariz são tulasi, flores, pasta de sândalo e outros itens aromáticos oferecidos ao Senhor; (4) os objetos para a língua são o kirtana e o voto de só aceitar os comestíveis e bebidas que foram oferecidos ao Senhor; (5) os objetos para o toque são o ar dos locais sagrados, a água pura, o corpo de um vaisnava, a cama macia oferecida a Krsna e a associação com uma esposa casta para propagar uma família centrada em Deus; (6) ocasiões como Hari-vasara (ekadasi) e dias festivos; e (7) os locais como Vndavana, Navadvipa, Jagannatha Puri e NaimiaraAya.



(*) É dever de todos seguir essas sete categorias de cultivo. Mas todas essas descrições não são seguidas por todo mundo, porque há a necessidade de considerar a qualificação de cada um.

(**) Veracidade, evitar de roubar, abandonar a má associação, inteligência, não acumular mais do que o necessário, religiosidade, celibato, evitar conversas desnecessárias, determinação, destemor e clemência.

(***) Limpeza, japa, austeridade, sacrifício, fé, hospitalidade, adoração, peregrinação, trabalho beneficente, comportamento adequado e serviço ao mestre espiritual.

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Se o nosso apego experimenta o sabor mais elevado da consciência de Krsna, então esse apego naturalmente irá fazer com que nos desapeguemos dos objetos materiais e ficaremos absortos com esse gosto superior. Quando o apego está absorto em objetos materiais, como experimentar um gosto superior? Portanto, os vaisnavas, que são os bem-querentes de todas as entidades vivas, engendraram um processo para dedicar os objetos materiais à consciência de Krsna. Apesar da criação de Maya ser um aspecto pervertido da Verdade Absoluta pura, ela é uma criada do Senhor e está sempre dedicada a Seu serviço. Portanto, se alguém desejar adorar a Krsna através de Maya, ela abandona o seu aspecto adverso e aceita essa adoração com respeito como uma devota. Esse é o grande mistério da fé vaisnava. Para estabelecer a família vaisnava para o bem-estar das entidades vivas, Sri Narada Muni deu a seguinte indicação a Vyasadeva no Srimad Bhagavatam (1.5.20):



“Tenha como certo que esse mundo material é não-diferente do Senhor, porque ele é criado, mantido e aniquilado por Ele. O mundo espiritual, VaikuA˜ha, é a morada eterna do Senhor. Esse mundo material visível é apenas um reflexo de VaikuA˜ha. Os ingredientes, a existência e natureza desse mundo material são portanto simples imitações de VaikuA˜ha. As entidades vivas condicionadas são as desfrutadoras desse mundo material. A falha do mundo material é que as entidades vivas têm natureza rebelde. Ó Vyasadeva, não tenha medo de descrever os passatempos do Senhor por meio desse mundo material, porque, na verdade, descrever o mundo material é o mesmo que descrever VaikuA˜ha, pois eles são considerados material ou espiritual unicamente devido à convicção pessoal. Se você descrever esse mundo material em termos do seu relacionamento com o Senhor Supremo, então o seu apego por Vaikuntha será despertado automaticamente. Você já conhece esse fato devido à sua auto-realização. Uma vez que você me perguntou, estou lhe dando uma sinopse. Portanto, por favor, descreva os passatempos do Senhor através do processo de samadhi natural e dirija as entidades vivas para VaikuA˜ha. Você já descreveu anteriormente os princípios da religiosidade mundana e o processo de pseudo-samadhi, que nem sempre são benéficos.”



As pessoas que seguem a corrente de pratyak têm estabelecido o mundo todo como uma família vaisnava por dedicarem todos os objetos materiais à consciência de Deus. As pessoas que desfrutam comer grãos podem comer a maha-prasada que foi oferecida ao Senhor, e dessa maneira praticar a corrente de pratyag com a língua. Analogamente, aquelas que são apegadas em ouvir, podem ouvir os nomes e passatempos do Senhor e praticar essa corrente de pratyag com os ouvidos. Dessa maneira elas acabam gradualmente dedicando os seus sentidos e objeto dos sentidos ao Serviço do Senhor e dessa maneira incrementam a sua corrente interna de raga ao proverem os seus sentidos com um gosto superior. Isso é chamado sadhana-bhakti. Para poder liberar as entidades vivas da mentalidade ateísta de: “Eu sou o desfrutador,” Sri Mahadeva, que é adorado por todos os vaisnavas, estabeleceu nos tantras diversos métodos tais como lata-sadhana, vamacara, viracara e pasvacara. Definitivamente, Sri Mahadeva estabeleceu o Senhor Supremo como desfrutador e as entidades vivas como desfrutadas e criou uma plataforma de onde podemos alcançar um gosto superior ao obtido pelo desfrute dos objetos dos sentidos materiais. Não existe contradição entre os tantra-sastras e os vaisnavas-sastras. Eles são unicamente diferentes provisões para o caminho de raga para as pessoas de diferentes qualificações. Sadhana-bhakti é dividido em nove processos como estão descritos no Srimad Bhagavatam (7.9.23):



“Ouvir e cantar sobre os transcendentais santo nome, forma, qualidades, parafernália e passatempos do Senhor Visnu, lembrá-los, servir aos pés de lótus do Senhor, oferecer ao Senhor adoração respeitosa, tornar-se Seu servo, considerar o Senhor como o melhor amigo e entregar tudo a Ele (em outras palavras servi-lO com o corpo, a mente e as palavras): Esses são os nove processos de sadhana-bhakti. “



Alguns is dividiram esses nove processos em sessenta e quatro processos. Inúmeras pessoas têm alcançado a perfeição por seguir qualquer um dos processos, alguns deles ou todos eles.

Existem dois tipos de sadhana-bhakti: Vaidhi e raganuga. Os praticantes que ainda não tiveram a sua raga despertada são elegíveis para Vaidhi-bhakti, na forma das injunções das escrituras. Eles são seguidores dos devotos puros. Os praticantes que ainda não tiveram raga despertada mas que tentam imitar a raga de um acarya e se dedicam ao sadhana dessa maneira são denominados raganuga-sadhakas. Essa também é uma forma de serviço devocional regulado. Mas em seu estado maduro, raganuga-sadhana já não é mais controlado por regulações.

Quando sadhana-bhakti amadurece, ou quando desperta um pouco de raga devido à associação com os devotos, atravessamos a jurisdição de Vaidhi-bhakti. Os sintomas dos nove processos de serviço devocional são encontrados igualmente tanto em sadhana-bhakti quanto em bhava-bhakti, mas em bhava-bhakti eles são mais profundos. Em bhava-bhakti o sentimento interior de servo, amigo ou de alma rendida se torna mais proeminente. Em sadhana-bhakti as atividades corpóreas grosseiras são mais proeminentes. Mas em bhava-bhakti as atividades do corpo sutil espiritualizado, por serem mais próximas da existência sutil da alma, são mais proeminentes do que as atividades grosseiras. Nessa situação as necessidades corpóreas diminuem e o desejo e esforço de alcançar prayojana tornam-se muito intensos. Nessa ocasião, dentre os membros de sadhana-bhakti, desenvolvemos um gosto especial em cantar os santos nomes.

Quando bhava amadurece, então ocorre o despertar de prema-bhakti. Enquanto estivermos ligados ao mundo material, prema-bhakti não pode alcançar o priti puro, mas permanece uma réplica do priti puro. As pessoas que atingiram o estágio de prema-bhakti alcançam todos os puruarthas. Sua existência pura poderosa desperta as suas existências grosseira e espiritualmente refletida, ou sutil. Não há na vida estágio superior a esse.

Podemos encontrar muitas contradições aparentes nas características das pessoas em prema-bhakti. No entanto, as suas características são na verdade as mais puras e independentes. As regulações e o racionalismo não pode controlá-las. Elas não estão sob a jurisdição de nenhuma escritura e nem de preceitos sectários. Suas atividades emanam da compaixão, e o seu conhecimento é naturalmente puro. Elas estão além das dualidades de piedade e de impiedade, ou de religião ou irreligião. Elas vivem sempre situadas no eu, e sempre estão vendo VaikuA˜ha, mesmo enquanto habitam o corpo material.

As pessoas comuns não lhes dão muito respeito, porque o kani˜ha e o madhyama-adhikaris são incapazes de compreender a sua qualificação e portanto as criticam. Mas esses devotos que estão no estágio de prema conhecem muito bem o significado de todas as escrituras e conforme a situação às vezes eles agem de modo contrário ao das injunções das escrituras. Ao verem isso as pessoas asininas podem julgá-los malcomportados. As pessoas sectárias que vêem que eles não estão decorados com os sinais de uma seita concluem que eles são irreligiosos. Os lógicos que vêem as suas trocas amorosas podem julgá-los irracionais. Os renunciantes secos que vêem as suas atividades físicas e familiares podem equivocadamente julgá-los apegados às suas famílias e ao corpo. As pessoas apegadas aos desfrutes materiais que vêem o desapego que os devotos que estão no estágio de prema têm pelo mundo podem suspeitar que eles sejam incapazes. Os jnanis que vêem a sua indiferença pelo impersonalismo podem considerá-los irracionais. Os materialistas podem considerá-los loucos. Mas realmente eles são completamente independentes e situados espiritualmente. Para essas pessoas os prema-bhaktas são incompreensíveis e sem propósito de vida.

Apesar do serviço devocional elevado dos prema-bhaktas às vezes parecerem atividades fruitivas, na verdade essas atividades jamais são maculadas pelo karma, porque todas as atividades que eles realizam visam exclusivamente a liberação das atividades fruitivas e não o enredamento. Apesar de às vezes o serviço devocional deles parecer conhecimento especulativo, na verdade ele jamais está maculado com jnana, porque o conhecimento puro que eles possuem nunca é contaminado com impersonalismo ou a teoria budista da anulação da alma. Apesar do conhecimento e da renuncia serem a sua riqueza, eles não os consideram como parte do seu serviço devocional, porque concluíram que bhakti é diferente do conhecimento e da renúncia.

Os devotos que estão no estágio de prema, que têm comportamento de cisnes, são exemplos adoráveis para todos os devotos, mesmo que ajam como fazendeiros entre os fazendeiros, como negociantes entre os negociantes, como servos entre os serviçais, como um general entre os soldados, como um esposo com sua esposa, como uma criança com os seus pais, como um irmão com os seus irmãos, como um castigador entre os criminosos, como um rei e seus súditos, como um súdito e seu rei, como um pensador entre os eruditos, como um médico e seu paciente, ou como um paciente e seu médico. Pela misericórdia dos devotos puros, estamos sempre desejando com a atenção indesviável o abrigo aos pés de lótus do casal divino, que é a sua única riqueza. Ó prema-bhaktas mahajanas! Por favor, despejem a chuva da sua misericórdia, na forma da sua associação e reguem esse coração seco, que vive apegado ao argumento lógico e esmagado pelo desfrute material. Permita que a maravilhosa verdade transcendental do casal divino, que é a Verdade Absoluta inigualável, seja refletida nesse coração purificado e derretido.



Oˆ Hari

sri Krsnarpanam astu



Final da conclusão.



APÊNDICE A
PUTANA
PUTANA



Esse ensaio foi publicado na edição de janeiro de 1932 no The Harmonist, ou Sree Sajjanatoshani.





A primeira atividade do recém-nascido Krsna registrada no Bhagavatam é a matança da demônia Putana.

A demônia P™tana foi designada pelo rei Kamsa para matar todos os bebês recém-nascidos em Vraja, porque foi informado pelo sábio divino Narada que quem deveria matá-lo acabara de nascer. Enquanto isso Sri Krsna nascera na prisão de Kamsa e havia sido levado pelo Seu pai Vasudeva para a casa de Seus pais adotivos Nanda e Yasoda, em Vraja, durante a noite do Seu advento. Os guardas da prisão não conseguiram detectar os movimentos de Vasudeva, que havia regressado para sua prisão com a filha recém-nascida de Yasoda, por quem ele havia trocado o seu bebê, sem que nem a própria Yasoda percebesse. Vasudeva havia carregado Krsna em seus braços atravessando o Yamuna durante a inundação, agitado pelo tempo tempestuoso em uma noite sem luar. Ele havia transposto a pé as águas profundas que haviam se transformado em rodamoinhos terríveis devido à fúria da tempestade. As algemas de ferro, travas e trancas que barravam as celas da prisão abriram-se por si só quando Vasudeva se aproximou levando Krsna para a casa de Seus pais adotivos. A filha de Yasoda foi então denunciada ao rei Kamsa como sendo a temível recém-nascida de Devaki. O rei correu até a cela ao receber a notícia que vinha aguardando e que há anos lhe tirava o sono. No início ele pensou em poupar a vida do bebê, pois a profecia dizia que ele seria morto por um bebê do sexo masculino, o oitavo filho de Devaki e Vasudeva. Mas por via das dúvidas, ele achou melhor matar aquela menina recém-nascida. No entanto, quando o rei kamsa estava para esmagar o bebê contra um bloco de pedra, ela escapou-lhe das mãos e se revelou como a Energia Ilusória do Senhor Supremo, e assim se manteve por um breve tempo visível no meio do céu, assegurando ao rei que seu futuro algoz já havia nascido, tentando dissuadi-lo de continuar matando cruelmente crianças inocentes, pois o seu destino já estava traçado. Ao dizer isso Mahamaya desapareceu da visão do rei atônito. Logo a seguir kamsa foi informado pelo sábio Narada que o seu futuro algoz deveria ter nascido entre os cidadãos de Vraja e se ele estivesse preocupado com a sua segurança não deveria perder tempo e tratar de adotar medidas drásticas para eliminar o mal pela raiz. Esse conselho deixou o covarde sanguinário muito satisfeito, e sem perda de tempo ele delegou à demônia P™tana a missão de matar todos os recém-nascidos do território vizinho usando um método acima de suspeita.

A demônia P™tana então fez sua aparição em Vraja e se apresentou na casa de Yasoda na ausência de Nanda Maharaja, que havia ido para Mathura pagar o tributo devido a Kamsa. A demônia assumiu a forma de uma matrona maravilhosa, com o aspecto mais benevolente, e se aproximou do berço onde mãe Yasoda havia posto o bebê Krsna para dormir. Yasoda notou aquela senhora desconhecida assim que ela entrou na casa, mas não suspeitou da sua intenção sórdida. Ela observou a recém-chegada sem nenhuma ansiedade, e nisso a demônia foi até o berço do Bebê, O pegou no colo e ofereceu o seu seio para o Ele mamar. Mas o bico dos seios de P™tana haviam sido untados com um veneno letal.

O bebê Krsna sabia da intenção da demônia e segurou o seio da monstra com os Seus bracinhos delicados. O agarrar do bebê foi tão terrível que fez com que a demônia entrasse em pânico, temendo por sua vida e ela começou a convulsionar em uma agonia mortal devido à pressão das mãozinhas de Krsna. Então o bebê colocou os Seus lábios no seio de P™tana e em um instante sugou a vida dela. A monstra terrível urrando de dor foi compelida a revelar a sua feiura e a sua forma demoníaca enorme ao cair morta no chão. Sua carcaça hedionda cobriu uma longa distância e o bebê Krsna ainda estava agarrado aos seus seios venenosos.

A primeira atitude das vaqueirinhas de Vraja, que correram com Yasoda até o local, foi o de retirar Krsna do peito daquela demônia terrível. Então todas ficaram maravilhadas ao ver como o menino pôde escapar sem nenhum ferimento das garras daquela demônia. Elas atribuíram a imunidade do bebê à misericórdia dos semideuses, que são especialmente bondosos como os desamparados. As vaqueirinhas aflitas invocaram a ajuda de todos os semideuses e semideusas para que continuassem a proteger a criança.

Enquanto isso, P™tana foi salva devido ao seu serviço a Krsna, por ter-Lhe oferecido o seio envenenado para que Ele mamasse. O autor do Bhagavatam é cuidadoso em mencionar que a boa fortuna da demônia eqüivaleu à de Yasoda no sentido em que o seu seio foi sugado por Krsna. Portanto, P™tana, alcançou a posição eterna de mãe adotiva do Senhor Supremo na plataforma do Absoluto.

A narrativa do Bhagavatam citada encerra uma moral muito importante para os aspirantes à Verdade Absoluta. Mas antes de oferecer as interpretações dos textos que foram dadas pelos acaryas anteriores, gostaria de despertar a atenção do leitor para certos possíveis equívocos sobre a natureza das interpretações a serem oferecidas.

Existe uma classe de pessoas que insistem que os textos devem ser apreciados no seu sentido literal. Tem sido usada muita ingenuidade para extrair significados que podem ser satisfatórios para o julgamento empírico dos intérpretes que trabalham com esse método literal. O argumento deles é ininteligível. Como as escrituras reveladas devem ser consideradas como portadoras de informações sobre o Absoluto a linguagem deve ser considerada como parte integrante do significado do texto. A partir dessa conclusão os intérpretes literais saltam para a inferência errada de que deve ser possível que uma alma condicionada determine o significado verdadeiro das escrituras atribuindo um sentido lexicográfico ao seu palavreado verdadeiro. Essa argumentação moderna é inaplicável ao tema transcendental. As palavras possuem um duplo significado. O significado lexicográfico se refere às entidades vivas desse mundo e portanto, ele não se aplica nesse caso. O significado esotérico não é acessível aos sentidos grosseiros e à mente da alma condicionada. Essa é a grande e insuperável dificuldade. Os intérpretes literais, que seguem o significado lexicográfico das palavras, cometem erros graves por não considerarem esse aspecto de suma importância.

O significado transcendental das palavras não pode ser transferido para os sentidos da alma condicionada enquanto ela não concordar em seguir o método de ouvir submissamente o som transcendental que surge dos lábios de um devoto puro. Há uma linha bem definida de sucessão de mestres fidedignos da verdade. O mestre fidedigno deve ser encontrado pelo verdadeiro aspirante da Verdade, mais cedo ou mais tarde. O acarya fidedigno não é reconhecível para os hipócritas e ateístas que na verdade não têm desejo de servir ao Supremo. Enquanto o mestre fidedigno não manifestar o seu aparecimento para a essência cognitiva pura do aspirante pela Verdade Absoluta é necessário que o candidato à iluminação espiritual se concentre na auto-realização para que ele seja capaz de evitar de dar abrigo a qualquer traço de insinceridade. As palavras do sadhu também estão disponíveis, por sua misericórdia sem causa, para dar sustentação aos esforços desses candidatos, para que eles avaliem a sua falta de sinceridade.

É por desconsiderar ou negligenciar deliberadamente a submeterem-se a esse treinamento preliminar para obterem acesso ao significado transcendental de todas as palavras, que os intérpretes literais, que seguem o significado lexicográfico comum das palavras das escrituras, não conseguem compreender a necessidade de jamais se desviarem das interpretações dadas pelas almas auto-realizadas, que conhecem o significado transcendental das palavras. Esses empíricos que, ao seguirem o método lexicográfico e sintático dos intérpretes literais, não têm escrúpulo de ler o significado próprio dos textos, julgando equivocadamente que as escrituras e os produtos do cérebro humano estão sujeitos ao mesmo tipo de erro e, que portanto, tornam-se vítimas dos mesmos erros cometidos pelos pensadores hipotéticos sob a alegação de que o erro não pode ser provado, ficam predispostos a imaginar que as interpretações oferecidas pelos acaryas não são escrupulosamente fiéis aos texto e oferecem explicações alegóricas para suportar os seus pontos de vista sectários.

Salientamos esses possíveis equívocos para despertar a atenção do leitor, para que ele seja capaz de compreender a interpretação da narrativa de P™taAa baseada na exposição dos acaryas anteriores e para que ele a ouça dos lábios de um mestre fidedigno do Absoluto. A interpretação não é oferecida como uma explicação literal lexicográfica, nem é uma alegoria forjada sob a luz do conhecimento empírico da história passada da raça e portanto deve ser aceita como ela é.

Sri Krsna manifesta o Seu nascimento eterno na essência cognitiva pura da alma servil que está situada acima de todos as limitações mundanas. O rei kamsa é o típico empírico agressivo. Ele está sempre de olho no aparecimento da Verdade com o propósito de suprimi-lA antes que Ela se desenvolva. Isso não é um exagero da verdadeira conotação da posição empírica consistente. O materialista tem uma repugnância natural por tudo aquilo que é transcendental. Ele está disposto a pensar que essa fé no incompreensível é parente do dogmatismo e da hipocrisia sob o disfarce de religião. Ele também está sob a ilusão de que não há e nem pode haver uma linha divisória entre o material e o espiritual. Sua ilusão é reforçada pelas interpretações das escrituras dadas por pessoas que têm a mesma mentalidade. Isso inclui todos os intérpretes lexicográficos. A interpretação lexicográfica é mantida por kamsa como a explicação científica verdadeira das escrituras e essa interpretação mantém-se estritamente contrária ao transcendental. Esses intérpretes lexicográficos são empregados por kamsa para eliminarem qualquer indício do aparecimento de uma fé genuína no transcendental.

O rei kamsa sabe muito bem que se permitir que se cresça a fé no transcendental, todos os seus prospectos empíricos estarão liquidados. Existe um campo histórico para essa apreensão. Se o domínio empírico deve ser preservado intato é necessário não perder nenhum instante para eliminar a heresia transcendental no instante em ela tenta fazer sua aparição com seriedade. O rei kamsa agindo com o seu medo tradicional nunca tarda em tomar a precaução científica de lançar mestres empíricos das escrituras apoiados pelas fontes do dicionário e da gramática e de todas as sutilezas empíricas para derrotar a verdadeira interpretação da religião eterna revelada pelas escrituras, através de uma exibição de extensos argumentos baseados em princípios hipotéticos. kamsa está fortemente persuadido de que a fé no transcendental pode ser derrotada pelo empirismo se for pronta e decididamente combatida com medidas a serem adotas assim que ela surja. Ele atribui às falhas do ateísmo no passado em negligenciar a adoção de tais medidas antes que a falácia teísta tivesse tempo de se espalhar entre as massas fanatizadas.

Mas kamsa não pôde contar com a sua legião. Quando Krsna nasce Ele se mostra capaz de eliminar todos os desígnios sinistros daqueles que foram avisados por Ele mesmo do Seu advento. A aparente fé imotivada exibida por pessoas a despeito da idade, sexo e condição de vida podem confundir todos os empíricos radicais que a princípio são contrários à Verdade Absoluta, cuja aparição é altamente incompatível com o domínio do empirismo. Mas nenhum esforço contrário dos empíricos, cuja supremacia parece tão bem estabelecida sobre as mentes das almas iludidas desse mundo, pode dissuadir qualquer pessoa de seguir exclusivamente a Verdade quando ela realmente manifesta o Seu nascimento na essência cognitiva pura da Sua alma.

P™tana é a algoz de todas as crianças. O bebê, menino ou menina, quando sai do ventre materno, cai nas garras dos pseudo-mestres religiosos. Esses professores são bem sucedidos em inibir todas as tentativas de um bom mestre cuja a ajuda nunca é solicitada pelos ateístas desse mundo ao batizarem as suas crianças. Isso é garantido pelos arranjos de todas as igrejas estabelecidas do mundo. Elas têm sido bem sucedidas apenas por suprirem atentas P™tanas para efetivarem a destruição espiritual das pessoas no momento do seu nascimento com a cooperação dos seus pais mundanos. Nenhum artifício humano pode prevenir que essas P™tanas tomem posse de seus pupilos. Isso se deve à prevalência geral da disposição ateísta das pessoas nesse mundo. A igreja que tem a melhor chance de sobrevivência nesse mundo condenado é aquela que advoga o ateísmo disfarçado de teísmo. As igrejas sempre têm provado ser as maiores defensoras das mais grosseiras formas de mundanismo, superando até os piores criminosos não-eclesiásticos.

Essas observações não visam qualquer oposição deliberada ao clero organizado. O propósito original das igrejas estabelecidas no mundo não podem ser sempre contestado. Mas nenhum arranjo religioso estabelecido para instruir as massas ainda foi bem sucedido. O Senhor Supremo Sri Krsna Cheitanya com o propósito de ensinar as escrituras estimula a completa ausência de convencionalismo para os pregadores da religião eterna. Isso não quer dizer que a adoção mecânica de uma vida não-convencional por parte de qualquer pessoa a tornará capacitada para ensinar religião. A regulação é necessária para o controle do mundanismo inerente das almas condicionadas. Nenhuma regulação mecânica tem qualquer valor para esse propósito. O mestre fidedigno de religião não é nenhum produto nem o favorecido de nenhum sistema mecânico. Em suas mãos nenhum sistema tem a chance de degenerar para um arranjo sem vida. O simples seguimento de doutrinas fixas e de liturgias fixas não podem elevar uma pessoa ao verdadeiro espírito da doutrina ou da liturgia.

A idéia de uma igreja organizada em uma forma inteligível, na verdade marca o encerramento de um movimento espiritual vivo. Os grandes estabelecimentos eclesiásticos são como diques ou represas para reter uma corrente que não pode ser interrompida por nenhum desses dispositivos. Na verdade eles indicam um desejo por parte das massas de explorar um movimento espiritual para benefício próprio. Eles também indicam inequivocamente o fim do da direção de um mestre fidedigno absoluto e não-convencional. As pessoas desse mundo compreendem os sistemas preventivos, elas não podem ter idéia da vida eterna positiva sem impedimentos. Nem pode haver nenhum artifício terreno para preservar permanentemente a vida eterna nesse plano mundano em uma escala popular.

Portanto, as pessoas que estão dispostas a vislumbrar uma grande melhoria das condições mundanas em qualquer sentido mundano acreditando no sucesso mundano de qualquer movimento espiritual verdadeiro, estão completamente equivocadas. São esses esperançosos mundanos que se tornam os patronos da malévola raça de pseudo-mestres religiosos, as P™tanas, cuja função adequada é suprimir a disposição teísta no exato momento em que suspeitam do seu aparecimento. Mas a verdadeira disposição teísta nunca pode ser suprimida pelos esforços dessas P™tanas. As P™tanas só têm poder sobre os ateístas. É uma tarefa ingrata mas salutar que elas realizam para o benefício das suas vítimas condescendentes.

Mas logo que a disposição teísta apropriada faz o seu aparecimento na essência cognitiva pura das almas despertas, as P™tanas são silenciadas decisivamente assim que elas se defrontam com o recém-nascido Krsna. Mas a suposta algoz acaba sendo morta. Essa é a recompensa dos serviços negativos que as Putanas involuntariamente prestam para a causa do teísmo ao sufocar todas as demonstrações hipócritas contra sua própria hipocrisia. Mas P™tana não deseja nem um pouco receber a sua recompensa na forma que envolve a completa destruição da sua personalidade errônea. O rei kamsa também não deseja perder o serviço dos seus agentes mais confiáveis. O silêncio definitivo de toda a raça de pseudo-mestres de religião é a primeira indicação clara do aparecimento do Absoluto no plano mundano. O mestre fidedigno do Absoluto anuncia o advento de Krsna com a sua campanha sem compromisso contra os pseudo-mestres de religião.



APÊNDICE B

BATASURA



Esse ensaio foi impresso na edição de fevereiro de 1932 do The Harmonist, ou Sree Sajjanatoshani.



Batasura é um dos demônios mortos pelo menino Krsna. Ele representa os males que são peculiares da infância. O neófito é extremamente susceptível a tais males. Ele não pode se livrar deles a não ser pela misericórdia de Krsna. Se alguém se dedica ao serviço a Krsna os vícios juvenis são completamente erradicados em um estágio precoce.

Há um provérbio inglês que diz que plantar aveia selvagem (que é muito amarga) é inevitável durante a juventude. O termo “puritanismo” foi originalmente usado para expressar o protesto dos meninos e jovens contra qualquer restrição indevida da propensão de desfrutar que eles considerassem ser-lhes permissível. Meninos e jovens acham que é direito deles serem divertidos e brincalhões. Não há nenhuma objeção quanto a isso e isso é considerada uma qualidade positiva, de exibição de qualidades juvenis. Se for feita uma tentativa de suprimir essas atividades inocentes da natureza juvenil sob a impressão de que isso é uma exibição de sensualidade e por essa razão, tão prejudicial quanto uma conduta similar por parte das pessoas maduras, o resultado não é o encorajamento mas o desencorajamento, da inocência juvenil.

Na verdade, existem ovelhas negras e elas não devem ser encorajadas a macular todo o rebanho, para esse propósito são necessários guardiães com plena convicção de sua delicada responsabilidade para manterem-se vigilantes, cuidando que a inocência juvenil não seja causa de infelicidade. Mas com toda a precaução verifica-se ser impossível alcançar esse duplo propósito.

As escrituras dizem que não está sob o poder humano garantir aos meninos e meninas a imunidade contra a cegueira da sensualidade precoce exceto por meio do serviço a Krsna. Isto está declarado como sendo o único método natural eficiente. Permitam que os meninos fiquem expostos à atração do vaqueirinho de Vraja. Logo eles aprenderão a adotar a Sua companhia. Eles realizarão facilmente que só o menino Krsna pode salvá-los de todas as formas de perigo a que eles estão expostos pelo ”direito” da sua natureza juvenil.

Por que isso deve ser assim? Há uma razão muito simples. Krsna não limita o Seu serviço apenas para as pessoas de meia-idade e para os velhos. O ideal puritano do Supremo é uma concepção que remonta a sua origem a pessoas que são mais velhas apesar de honestas o bastante para viverem ansiosas em estabelecer o “Reino de Deus” nessa terra. Mas se você remover a fina película da superfície do seu esquema sábio e sóbrio que cai bem na sua idade, você só vai detectar o arranjo podre para assegurar-lhes o máximo de desfrute sensorial até mesmo para as próprias crianças que forem levadas para o seu caminho “virtuoso”. Se permitirem às crianças gastar a sua riqueza na juventude, pensam essas pessoas direitas, mais tarde elas não estarão em condições de desfrutar os prazeres legítimos de uma pessoa madura. A menos que os jovens poupem seus recursos de capacidade sensorial, eles também serão vítimas da velhice prematura. A política de expediente é a de proporcionar um pequeno desfrute no presente para mais tarde colher um desfrute muito maior através dos longos anos que virão.

O espúrio ideal de brahmacarya como tem sido deturpado pelos seus proponentes mundanos corporifica esse panorama dos puranas. As escrituras, na verdade, incentivam que todo mundo deve servir ao Supremo desde o ventre. Esse é o verdadeiro significado de brahmacarya. As práticas de ascetismo que os levam a ter essa concepção foram interpoladas nas escrituras para poder assegurar valores mundanos por essa forma de método empírico. O esquema requer que as leis do desenvolvimento dos corpos físico e mental devam ser observados e seguidos. A natureza é considerada como o tipo de mãe que só favorece aos filhos que cultivam o hábito filial de inquirir sobre seus segredos. A natureza é tida como incapaz de evitar de divulgar os seus segredos para seus filhos inquisitivos apesar dela estar bem ciente de que seus filhos irão explorar esse conhecimento aproveitando para colocá-la ao seu serviço. Em outras palavras também se presume ser o dever de uma mãe bondosa consentir ser posta no jugo para poder satisfazer os apetites sensoriais de seus filhos valorosos. Presume-se que a natureza seja capaz de fazer o bem para os seus filhos apenas ao permitir que eles sejam vítimas da sua luxúria.

As práticas de ascetismo estão realmente idealizadas no espírito adepto do epicurismo. O asceta sonha em poder se assenhorar da natureza pelo método do controle dos sentidos. Se os sentidos se desenvolverem empedernidos às tentações do mundo o asceta julga que terá menos oportunidade de cair sob o poder da natureza. Ele tem a idéia de que quando se tornar perfeito com esses arranjos defensivos, será o verdadeiro dono da situação. O brahmacari-asrama, segundo o ponto de vista do asceta, é passar por um período de treinamento com abstinência severa junto de seu Guru para poder ser capaz de desempenhar os deveres de cidadão, que exigirão grande desempenho nervoso e muscular e grande aptidão. Não há nenhuma referência ao serviço ao Supremo ou a nenhum tema espiritual.

Já explicamos inúmeras vezes que o espiritual é transcendental. Nenhum tipo de consideração mundana pode fazer parte do treinamento ou da conduta espiritual. Não é uma atividade espiritual que deve ser capaz de controlar os desejos carnais. Na verdade esse autocontrole é automaticamente produzido pelo despertar da alma. A alma nada tem a ver com os sentidos. A alma não deseja nem a sensualidade e nem a pureza sexual. A alma não é um mero ser moral. Se brahmacariya significa um método de aquisição de poder moral ele passa a ser simplesmente uma atividade mundana e como tal nada tem a ver com a alma e é positivamente pernicioso para o bem-estar espiritual.

Isso é assim porque sob o ponto de vista da alma ela é todo-penetrante. A alma não rejeita nada. Ela não considera nada como redundante ou inútil. A alma tem um uso para tudo. Mas a alma vê tudo como se fosse realmente relacionada com ela e com as outras entidades. Portanto não há espaço para nenhum tipo de moralidade nos seus relacionamentos com as outras entidades. Tudo é absolutamente bom no plano da alma. A instituição de brahmacharya das escrituras literalmente quer dizer serviço ao Brahman; isto é, à realidade que é sempre grande e é sempre a ajuda. O servo do Absoluto está livre de toda a ilusão.

Moralidade é um artigo que só é válido no plano da ilusão. Mas ela não tem direito de petição no plano onde as condições de existência são perfeitas.

Até que o serviço ao Supremo seja realizado é impossível ser realmente moral no sentido de ser necessária e perfeitamente virtuoso.

Se uma pessoa é imotivadamente virtuosa no sentido mundano ela estará sujeita a ser explorada por todos os tipos de patifes desse mundo. Isso ocorre devido à moralidade ser estabelecida pelos empíricos, com referência ao corpo físico e à mente mutável e é portanto, sujeita a mudanças enquanto que as condições não são radicalmente alteradas.

O plano empírico do bem-estar juvenil se empenha em produzir condições que favoreçam o desenvolvimento e a continuação da atitude moral empírica. Essas condições artificiais são confiáveis o suficiente para que delas se espere um benefício permanente aos jovens que estejam mantidos nessas condições artificiais. Mas o tipo de mentalidade que tem que ser produzido pela manipulação artificial do meio ambiente mostra ser de pouco valor quando as escoras são retiradas. A analogia com as escoras que protegem o crescimento das plantas delicadas não se aplicam a essas plantas que são sempre esotéricas. A moralidade caseira é assim um equívoco e uma ilusão em relação a alma.

O brahmacariya asrama corporifica o ideal substantivo de pureza espiritual refletido distorcidamente no conceito de ética empírica. Brahmacariya significa serviço ao Absoluto. A inocência juvenil não é um monopólio das pessoas jovens, mais do que seja a malcriação juvenil. Elas são as porções animais que correspondem às qualidades espirituais análogas. As atividades espirituais são perfeitamente saudáveis. Elas incluem todos os valores e harmonizam todos os efeitos disjuntivos, os quais são extremamente raros em seus aspectos mundanos pervertidos para serem encontrados nesse mundo.

Não é de se supor que tudo seja feito por Krsna e que não haja nada a ser feito por nós em qualquer situação. Na verdade existe uma divisão de papéis a serem assumidos no que se refere a nós mesmos e entre nós e Krsna. Certos deveres são nossos. Outras funções são reservadas a Krsna. Batasura não pode ser morto por nós. Ele é mais forte do que nós. Isso pode ser avaliado pela experiência da maioria dos educadores. A inocência juvenil é uma necessidade tanto para os jovem quanto para o velho. Ela não pode ser adquirida por nenhum processo artificial. Também nenhuma pessoa comum pode retê-la depois da meninice e da juventude. Essa é uma verdadeira tragédia da vida humana.

A inocência juvenil é desejada devido ao desfrute que ela proporciona. Mas ela só pode ser desejada apropriadamente para o serviço a Krsna. (O pai não tem dever mais elevado do que empregar o menino a serviço de Krsna ao colocá-lo sob a tutela de um mestre apropriado, ou seja de um devoto de KrAa. Nenhum pai está habilitado para se encarregar do treinamento espiritual do próprio filho. Ele é inapto para a tarefa devido ao seu relacionamento mundano. Uma vez que relacionamento é considerado um obstáculo no caminho do treinamento juvenil a necessidade de se enviar o menino o mais breve possível a um mestre adequado se torna evidente. Se o pai continua a manter o seu interesse paternal no menino depois dele ter sido posto na escola para o propósito citado ele só estará impedindo o progresso do menino. O treinamento não é apenas para o filho, mas para os pais também.)

A malcriação infantil deve ser desconsiderada, mas não encorajada, sob a impressão de que é da sua natureza ser malcriado. Essa opinião desconsidera o aspecto de suma importância de que o treinamento visa o bem-estar da alma do menino e não o seu corpo e mente juvenis. A alma não precisa ser tratada com indulgência. Ela não é nem jovem nem velha no sentido mundano. O corpo e a mente do menino devem ser empregados no interesse da alma. É necessário que a alma se livre da forma e do mundanismo. A natureza mundana do menino não é senão um obstáculo para o progresso espiritual, tanto quanto a natureza cada vez mais ligada ao mundo do adulto. O processo de treinamento é idêntico nos dois casos, pois a alma não é nem velha nem nova.

Muita piedade irracional é perdida com meninos que desde a tenra infância estão empregados o tempo todo a serviço de Krsna, nos mesmo termos que as pessoas crescidas. As pessoas que dedicam boa vontade com a fragilidade dos jovens professam serem incapazes de compreender porque as ofensas juvenis são levadas tão a sério no treinamento espiritual, tanto quanto as dos adultos.

Mas o mestre encarregado do treinamento espiritual dos meninos podem realizar seus deveres apenas como agente especial de Krsna. Se esse mestre prefere confiar em sua própria engenhosidade ele acaba se frustando a cada passo. O que ele realmente tem que fazer é usar o menino constantemente a serviço de Krsna. Para esse propósito é necessário que o mestre também esteja integralmente dedicado a Krsna. É apenas por se abster de fazer qualquer coisa que não seja diretamente ordenada por Krsna ou pelo Seu verdadeiro agente, ou seja, o Sat-guru que o mestre espiritual do meninos pode ter esperança de ser útil aos seus pupilos.

A assim chamada ciência da pedagogia deve ser completamente revista para poder permitir que o devoto fidedigno de Kna tenha plena liberdade de tutelar pessoas jovens. Os arranjos atuais baseados na experiência desse mundo e na hipótese de um relacionamento casual relacionando cada fenômeno com o resto, por abandonar a reverência a Krsna, só pode fazer o papel de um curandeiro que administra todo tipo de drogas erradas a um paciente portador de doença mortal.

kamsa, o rei dos ateístas, está sempre enviando o demônio Batasura para corromper e destruir os meninos. O mestre do jovem empregado pela sociedade ateísta é na verdade um agente do rei kamsa. O ateísta tem medo que os meninos sejam usados no serviço a Krsna. Ele está naturalmente ansioso em evitar qualquer relacionamento dos meninos com Krsna. Mas se um menino está realmente apegado a Krsna as tentativas nefastas do mestre empíricos não têm poder para destruir a sua inocência. Se tal mestre persevera na inútil tentativa, acabará rapidamente acarretando a sua própria degradação moral e toda a sua triste trama também acabará completamente exposta. Porque nesse caso é o próprio Krsna quem se opõe a essa atividade maléfica estendendo a Sua proteção ao jovem.

Na realidade o interesse que os educadores empíricos têm em assegurar aos meninos a imunidade contra os efeitos perniciosos da precocidade é uma total hipocrisia. O pedante empirismo só deseja que o menino desenvolva um corpo e uma mente que assegurará um maior apego pelo seu uso mundano. Ele não deseja que o uso mundano de seu corpo e de sua mente seja reduzido em hipótese alguma. Em outras palavras ele é a princípio contrário ao emprego de um corpo saudável e de uma mente sadia a qualquer propósito espiritual. Mas por que ele deseja um corpo sadio para um propósito nefasto? Apenas para poder ser capaz de ter o prazer de um desperdício mais prolongado e o progresso da libertinagem em total determinação? Um corpo doentio na verdade não é prejudicial para uma pessoa que não tem nenhum objetivo em vista além de permanecer iludida com a auto-gratificação.





APÊNDICE C



A SERPENTE KALIYA



Esse ensaio foi publicado na edição de maio de 1932 do The Harmonist, ou Sree Sajjanatoshani.



Existe um lago maravilhoso de água muito fresca no Yamuna que possui o nome de Kaliya. Esse lago foi infestado pela serpente mais venenosa, de quem o lago recebe o seu nome. Em um certo dia, enquanto os vaqueirinhos de Vraja saíram para pastorear seus bezerros nas frondosas margens do Yamuna, eles ficaram com sede e não sabendo que as águas do lago estavam envenenadas por Kaliya, beberam aquela água e tiveram morte instantânea. Ao ser informado da situação, Krsna foi até o local e restaurou-lhes a vida.

Depois disso, Krsna entrou no lago com a intenção de brincar na água. Ele enfureceu o monstro hediondo que imediatamente saiu das profundezas do lago em companhia de seus adeptos e partiu para cima de Krsna envolvendo-O com os seus capelos, pois Kaliya era uma serpente com mil capelos e a sua laia era igualmente formidável.

Sendo assim atacado por Kaliya e por todos os seus seguidores Krsna pareceu desfalecer sob o seu ataque mortífero. Ao vê-lO aparentemente derrotado pelos Seus inimigos os vaqueirinhos e todos os habitantes de Vraja começaram a se lamentar profundamente. Mas Krsna logo mostrou que Ele estava a salvo, subiu sobre os capelos de Kaliya e começou a dançar sobre os mil capelos. Ele dançou em uma infinita variedade de formas maravilhosas. A pressão dos pés de Krsna esmagaram o orgulho monumental do monstro de mil cabeças. Kaliya baixou os seus capelos e vomitou sangue. Mas a dança de Krsna não cessou. Kaliya estava quase morrendo quando vieram as suas esposas e com as mãos postas começaram a orar implorando para Krsna que poupasse a vida do esposo delas. As orações das esposas de Kaliya, que tinham fé em Krsna, comoveram o filho de Nanda e Ele teve misericórdia por Kaliya. Krsna então parou a Sua dança terrível, com a condição de que Kaliya deveria se retirar do lago imediatamente e ir viver em seu lar original na ilha de Ramanaka. Krsna lhe deu a Sua garantia de que Garuda não iria molestá-lo, porque respeitaria a marca dos Seus pés sobre os capelos de Kaliya. A água do lago então ficou imune do veneno e se tornou fresca como antes do advento de Kaliya.

A submissão de Kaliya é um dos passatempos de Vndavana do menino Krsna. Kaliya é o caráter de astúcia e malícia. Ele é a corporificação da crueldade em compaixão. Não há lugar para Kaliya na realidade feliz de Vraja. Falsidade e crueldade agem como veneno na natureza sincera dos cidadãos de Vraja. Imagina-se que os amigos íntimos e confidenciais de Krsna não guardem nenhuma suspeita quanto a intenção maliciosa de pessoas cruéis e falsas cujo propósito é o de envenená-los contra Krsna. Eles podem até cair involuntariamente no conselho dessas pessoas maléficas, mas Krsna certamente os resgatará das garras do inimigo.

Krsna também não pretende curar a propensão maléfica de Kaliya. O processo consiste em fazê-lo sentir o toque da dança dos Seus pés. Mas Kaliya tenta suportar toda a tentativa de castigo curativo. Ao invés de sentir alegria ao receber os pés de lótus de Krsna em seus capelos repulsivos o monstro sente que é impossível suportar essa boa-fortuna sem se submeter às dores de uma verdadeira morte. As leais esposas de Kaliya, que desejam a reforma do monstro, que desejam o seu bem-estar e que são a causa da misericórdia de Krsna por ele, por fim são obrigadas a interceder com uma oração para que ele seja banido da realidade de Vraja. Mas o orgulho de Kaliya recebe um golpe mortal.

O banimento de Kaliya do lago do Yamuna tem um significado espiritual importante. Aqueles que têm intenção de criar problemas para os devotos puros de Krsna, infectando a natureza deles com as sua disposição maléfica, no início encontram um certo grau de sucesso em suas atividades nefastas. Isso os compele a fazer um ataque direto a Krsna. Krsna então aparece na cena das atividades depravadas do monstro e restaura a fé dos Seus associados.

Aqueles que não são extremamente inteligentes jamais podem ser servos de Krsna. Mas o serviço a Krsna também jamais estará disponível para quem utiliza a inteligência para privar Krsna da plenitude do Seu desfrute. Kaliya e todos aqueles que atuam com uma natureza maliciosa também podem ser considerados inteligentes segundo a fraseologia comum desse mundo condenado. Esses patifes também podem ter a audácia de assumirem as suas posições apoiados nos textos das escrituras, usando a sua inteligência e habilidade na malfadada tentativa de privar Krsna do serviço dos Seus associados. Mas Krsna acaba certamente expondo a natureza maliciosa desses indivíduos bem no momento em que aparentemente eles alcançam a realização de seus propósitos, desencaminhando os Seus entes mais queridos.

Na verdade é muito difícil compreender os caminhos de Krsna. Krsna aparentemente permite que sejam perpetradas quase todas as formas de ofensas contra os Seus entes mais queridos com impunidade. Isso tem o efeito de dar uma oportunidade aos Seus associados de aumentarem o seu amor por Ele por meio dessa exibição singular do Seu amor ao derrotar de uma maneira bastante frutífera as maquinações dos Seus piores inimigos. Os amigos e companheiros íntimos de Krsna ficam sujeitos à malevolência de brutos maléficos e traiçoeiros para poder mostrar a diferença entre os dois e dessa maneira capacitar os inimigos de acabar desistindo de aborrecer os devotos.

Mas esses brutos nunca recebem a permissão de associarem com os servos de Krsna, mesmo depois que abandonam a sua malícia contra eles. Eles são eternamente barrados de prestar serviço a Krsna em Vraja. Mas o toque dos pés de lótus de Krsna faz a verdadeira diferença entre o recipiente da Sua misericórdia e dos demais brutos. Kaliya já não é considerada por Garuda como um inimigo de Krsna. Portanto, Kaliya alcança a posição de um dos protegidos de Krsna.

Isso não quer dizer que seja um bom negócio envenenar os corações dos servos de Krsna, e que mais tarde a proteção de Krsna estará assegurada. É certo que isso ocorre depois do orgulho do descrente ter sido espezinhado por Krsna. O descrente fica inspirado por uma saudável veneração, que efetivamente o impede de tentar molestar os devotos fieis, ao alcançarem uma involuntária sujeição a Krsna e ao conquistarem um emblema da Sua condição de servos, ganhando em suas cabeças os pés de lótus de Krsna.

A misericórdia exibida a Kaliya é tão obvia e desproporcionalmente grande em sua magnitude devido à extrema gravidade da ofensa, que nenhuma explicação racional pode fazer justiça ao seu pleno significado benéfico.





ANEXO INSERIDO NESSA TRADUÇÃO





COMO KRSNA DESTRÓI NOSSAS IMPUREZAS: SEUS PASSATEMPOS DE MATAR DEMÔNIOS





Extraído do Sri Cheitanya Sikamta (Os Nectáreos Ensinamentos de Sri Cheitanya) por Srila Thakura Bhaktivinoda



Da Sexta Chuva, Sexta Corrente: Sri Krsna Nitya-lila e Naimitika-lila





"...As atividades de Sri Krsna são de dois tipos diferentes; as chamadas nitya (eternas) e as naimittika (ocasionais). Em Goloka Vndavana, a nitya-lila de Krsna ou passatempos eternos são conduzidos em oito períodos do dia, e eles estão em constante movimento. Mas na Bhauma-Vndavana, a Vndavana da superfície da Terra, essa ata-kaliya-lila está misturada com a naimittika-lila ou passatempos ocasionais. Alguns passatempos ocasionais incluindo a saída de Krsna de Vraja para viver em Mathura e Dvaraka, Seu retorno a Vraja, Sua matança de vários tipos de demônios, etc. Esses passatempos são muito úteis para inspirar o devoto que está atado a esse mundo material. Os naimittika-lila, ou passatempos ocasionais de deixar Vraja e matar demônios realmente existem em Goloka Vndavana, mas de maneira proeminentemente ausente; eles se manifestam de verdade somente no mundo material. Os devotos praticantes (sadhakas) compreendem esses passatempos ocasionais como sendo opostos aos nitya-lila (passatempos eternos), porque os passatempos ocasionais são como reflexos em negativo dos passatempos eternos. E tais devotos sinceros esperam que pela influência do conhecimento o propósito das atividades de Krsna em diferentes passatempos ocasionais, seus vários anarthas ou contaminações materiais indesejáveis sejam destruídos.



Alguns passatempos ocasionais são descritos da seguinte maneira:



1) P™tana-vadha (a morte de P™tana): A demônia chamada P™tana representa a falsidade do assim chamado "Guru" que prega o afastamento da gratificação materialista dos sentidos, bem como da liberação impessoal. Pessoas enganosas que se fazem passar por santas e que estão apegadas a coisas temporárias expressam o princípio de P™tana. Mostrando misericórdia para com os Seus devotos puros, o bebê Krsna mata P™tana (sugando sua vida através do seio) para proteger Seu próprio êxtase inocente que acaba de despertar no coração de seus novos devotos.



2) Shakata-bhanjana (a destruição do carro): Esse passatempo denota a mentalidade pesada que envolve o problema dos hábitos que surgem do mau karma, gerado em vidas prévias bem como na presente vida. Isso resulta em estupidez e falsa vaidade. O humor de Krsna bebê quebrando o demônio carro chutando-o, faz com que essas contaminações sejam chutadas para longe.



3) Trinavarta-vadha (a morte do demônio rodamoinho de vento): Esse passatempo indica a falsa vaidade produzida pela escolaridade inútil, que dá origem a discussões acirradas, raciocínio estéril e indulgências lógicas inúteis em companhia daqueles que são apegados a essas coisas. Esse é um campo fértil para filosofias diabólicas pecaminosas. O sentimento da criança Krsna se torna misericordiosamente inclinado ao ver a humildade de Seus devotos (que não exibem esse tipo de escolaridade com ostentação), e Ele estrangula esse demônio rodamoinho de vento chamado Trinavarta. Ao fazer isso, Ele remove o espinho que aflige a atividade devocional de adoração (bhajana).



4) Yamalarjuna-bha‰ga (a derrubada das árvores Arjuna gêmeas): Esse passatempo representa a vaidade arrogante que se origina da aristocracia inflada com base na loucura pelas riquezas. Essa loucura por dinheiro da alta sociedade dá origem à matança de animais, luxúria por mulheres, indulgência com o álcool e tudo mais. E tudo isso provoca toda sorte de descontroles da língua (hábitos descontrolados em comer, bem como linguajar permissivo), e mais a crueldade com os outros devido a dureza do coração, falta de vergonha e muitos outros problemas degradantes. Krsna muito misericordiosamente derruba as duas árvores gêmeas enquanto está atado ao pilão (e dessa maneira libera os dois semideuses arrependidos que estavam presos a elas) para destruir todas essas faltas citadas.



5) Vatsasura-vadha (a morte do demônio bezerro): Uma mentalidade infantil dá origem a um tipo de ganância resultando em atividades perversas; e também favorece uma tendência de ser muito influenciado pelos outros. Essa é uma contaminação indesejável conhecida como Vatsasura, ou demônio bezerro. Krsna muito misericordiosamente põe um fim nessa dificuldade.



6) Bakasura-vadha (a morte do demônio cegonha): Duplicidade astuciosa, comportamento enganoso e hipocrisia caracterizam um falso estilo de vida de atividades enganosas; isso necessita que Krsna mate o demônio cegonha (cujo bico Ele separou em dois). Sem destruir essa tendência, um devoto nunca pode alcançar o serviço devocional puro a Krsna.



7) Aghasura-vadha (a morte do demônio serpente): A destruição desse demônio elimina a mentalidade pecaminosa da crueldade contra os outros, bem como todas as tendências violentas causadas pela inveja. Essa mentalidade também é uma ofensa contra o cantar dos santos nomes do Senhor.



8) Brahma-mohana (a ilusão do Senhor Brahma): Esse passatempo purifica o cultivo de atividades fruitivas e conhecimento especulativo, que acabam levando a uma mentalidade céptica. Esse passatempo também retifica a ofensa de desrespeitar a qualidade superior de doçura transcendental do Senhor (madhurya) em favor de Suas opulências majestáticas inferiores (aisvarya).



9) Dhenuka-vadha (a morte do demônio asno): Esse demônio representa a inteligência grotescamente materialista, a ignorância do puro conhecimento espiritual e a cegueira diante de todas as obvias verdades devidas a uma pura tolice asinina. Essa mentalidade é um grande bloqueio para o conhecimento puro do verdadeiro eu.



10) Kaliya-damana (o castigo da serpente Kaliya): O castigo que Krsna dá a Kaliya remove a falsa vaidade, a inveja, o fazer mal para os outros, a desonestidade como a das serpentes e a falta de misericórdia.



11) Davagni-nastha (extinção do incêndio na floresta): O fogo na floresta representa os argumentos mútuos, o ódio entre diferentes grupos, organizações e religiões, o ódio pelos deuses adorados pelos outros, guerra e todos os tipos de conflitos.



12) Pralambha-vadha (a morte do demônio Pralambha pelo Senhor Balarama): Balarama mata esse demônio para poder remover a excessiva luxúria por mulheres, bem como o desejo de lucro, adoração e distinção.



13) Davanala-pana (devorando o incêndio na floresta, a segunda vez): Krsna fez isso para parar com o desrespeito aos princípios religiosos e com o ateísmo de pessoas religiosa e outras filosofias antagônicas.



14) Yajnika-vipra-tadana (a correção dos brâmanes que faziam sacrifícios): Esse passatempo ilustra a insensibilidade em relação a Krsna, devido a estar-se inflado por falso prestígio pela nossa suposta posição elevada no varnasram-dharma, ou estrutura social. Também indica a estupidez devida a total absorção em atividades fruitivas.



15) Indra-p™ja-varana (proibição de adorar Indra, o deus da chuva): Krsna fez isso para eliminar a idéia de adorar a muitos semideuses para obter benefícios materiais. Também fez isso para retificar o engano de uma alma inflada que pensa: "Eu sou o Supremo, eu sou adorável".



16) Varuna Hoite Nandoddhara (a liberação de Nanda Maharaja da morada do deus do oceano, Varuna): Por esse passatempo, Krsna conserta o falso conceito de que a bem aventurança de bhajana é alcançada por se beber vinho ou indulgenciar com outros tipos de intoxicantes.



17) Sarpa Hoite Nanda-mochana (a liberação de Nanda Maharaja das mandíbulas da serpente): Isto representa como Krsna salva o verdadeiro serviço devocional, que foi engolido pelos impersonalistas mayavadis e outros. Também é uma instrução de como abandonar a companhia de impersonalistas que são como serpentes.



18) Shankhach™da-vadha, MaAi-mochana (a morte do demônio concha e a recuperação da jóia roubada por ele): É assim que Krsna mata o desejo de nome e fama, bem como o desejo da associação imprópria com mulheres.



19) Aristasura-vrisa-vadha (a morte do demônio touro): Algumas pessoas ficam muito infladas com o falso prestígio por se permitirem a religiões fraudulentas inventadas por charlatães; isto faz com que eles desrespeitem o serviço devocional puro. Krsna destrói essa tendência quando Ele mata esse demônio touro chamado Aristasura.



20) Kesi-vadha (a morte do demônio cavalo): Isto representa a destruição da vaidade de pensar: "Sou um devoto muito avançado e Guru." Aqui Krsna também manda para longe o falso ego do apego às ricas opulências que acompanham a educação mundana.



21) Vyomasura-vadha (a morte do demônio do céu): Krsna mata esse demônio para poder instruir Seus devotos a abandonarem a companhia de larápios e de outros patifes, bem como de quaisquer impostores que se disfarçam de devotos do Senhor Krsna.





Princípios Opostos a Vraja-bhajana





Srila Bhaktivinoda continua: "...Em meu outro livro denominado Sri Krsna-samhita, oitavo capítulo, do verso 13 até o fim do capítulo, descrevi dezoito anarthas específicos, ou contaminações materiais indesejáveis que são obstáculos para a execução de Vraja-bhajana (a adoração em Vndavana). Acrescentando a essa lista o passatempo de Krsna derrubando as árvores Arjuna gêmeas, mais a correção do mal comportamento dos inflados brâmanes que realizavam sacrifícios, temos o total de 20 obstáculos. Todas essas coisas são certamente avessas a Vraja-bhajana. (nota: a listas acima de 21 obstáculos se tornam 20 se tomarmos os de número 11 e 13, a extinção de dois diferentes incêndios na floresta, como sendo um).

O devoto que adora o santo nome deve primeiro pedir ao Senhor que elimine todas essas tendências desfavoráveis — e deve orar diariamente diante do Senhor Hari com essa disposição. Fazendo isso regularmente, o coração do devoto irá se purificando. Sri Krsna matou inúmeros demônios que podem surgir no reino do coração — assim, para destruir esses problemas, um devoto deve chorar muito humildemente diante do Senhor e admitir sua desanimada derrota — e então, o Senhor irá anular todas essas contaminações.





Como Sri Baladeva Misericordiosamente Destrói Os Anarthas

Simbolizados em Matar Demônios como Dhenuka, Pralambha e Outros.





Além desses, há inúmeros demônios que Sri Baladeva matou - mas todos esses demônios são contaminações que devem ser removidas do coração do devoto às custas do próprio esforço do devoto. Esse é um dos misteriosos segredos de Vraja-bhajana.

O demônio asno chamado Dhenukasura representa a má mentalidade de se andar com cargas desnecessárias. O demônio chamado Pralambhasura representa a luxúria pela companhia de mulheres, bem como pelo desejo de lucro, adoração e distinção. Quando um devoto se esforça com entusiasmo para remover essas contaminações, então a misericórdia do Senhor as manda para longe. O demônio asno ou Dhenukasura causa uma total e completa ignorância de nossa identidade eterna; também estimula o tolo equívoco sobre a natureza eterna do santo nome do Senhor e também nos desvia em desilusões sobre o que é realmente adorável. Essas impurezas devem ser eliminadas do coração do devoto com grande esforço da parte dele.

A luxúria por associação imprópria tanto com mulheres quanto com homens, a ansiedade por dinheiro, os esforços pela gratificação dos sentidos, as ambiciosas tentativas de aumentar a própria honra e o falso prestígio, demandando a atenção adorável dos outros, o alcance de imagem social realçada — tudo isso são certamente grandes obstáculos e os mais difíceis de serem superados. Mas o conhecimento deles é extremamente favorável à realização de nama-bhajana, e devemos nos esforçar com muito entusiasmo para eliminar essas coisas indesejáveis. Se nossa humildade se tornar intensa, Krsna certamente mostrará a Sua misericórdia. Então, pelo despertar do humor do Senhor Baladeva no coração do devoto, as contaminações aqui descritas serão instantaneamente destruídas. A assim, por cultivar gradualmente esse processo purificatório, o avanço espiritual será grandemente acelerado.

Os métodos particulares desse processo são naturalmente muito profundos e misteriosos, e sendo assim, é necessário aprendê-los diretamente de um mestre espiritual fidedigno.



tradução

Satyaraja dasa.

revisão

Phanibhusan das