Vulcão Dourado de Amor Divino - Cap. 5 - Uma tragédia de Separação



Uma
Tragédia
de Separação

Nimai Pandita foi para Katwa aceitar sannyasa, ordem de vida renunciada, no dia de Makara-sankranti, uma conjunção auspiciosa de estrelas, conforme o cálculo solar. Depois disso, Ele ficou conhecido como Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ele foi a nado pelo Ganges e correu até Katwa com as roupas molhadas. Ele disse a alguns de Seus amigos, Nityananda Prabhu, Gadadhara Pandita, Mukunda e outros: "Chegou a hora em que irei aceitar o hábito de sannyasi".
Um grupo de inimigos se levantou contra Nimai Pandita poucos dias antes disso. Os crentes no princípio de que a natureza material é superior e a consciência é um produto da matéria começaram a insultar Nimai Pandita. Ele pensou: "Vim salvar as pessoas mais baixas, mas se continuarem a Me ofender, não haverá esperanças de elevação para elas". Aí, Ele disse: "Eu trouxe o remédio que proporciona o maior alívio, mas vejo que a doença piora rapidamente e parece não ter mais cura. Ele seguirá seu curso em direção à perdição. Os pacientes cometem ofensas ao insultar seu médico. Eles se organizam para Me insultar. Pensam que sou um chefe de família - sobrinho deles - pensam que sou um deles. Eu trouxe o melhor remédio para a presente era degradada, mas vejo que agora tramam contra Mim. Eles estão perdidos. Pelo menos, devo mostrar a eles que não sou um deles. - Ele pensou: "Vou abandonar a família e aceitar sannyasa, irei de vila em vila, cidade em cidade, para pregar o santo nome de Krishna". Essa foi Sua decisão, poucos dias depois, foi para Katwa aceitar sannyasa de Keshava Bharati Maharaja.
Um dia antes de partir para aceitar sannyasa, do meio dia até à noite, houve um encontro espontâneo de devotos na casa de Nimai Pandita. Esse dia era celebrado todos os anos na Bengala como Lakshmi-puja - adoração à deusa da fortuna - e vários bolos especiais eram preparados e distribuídos. Nimai sabia que partiria de Navadwip na manhã seguinte para aceitar sannyasa, por isso atraiu Seus seguidores de tal forma que quase todos os devotos líderes vieram vê-Lo naquela noite.
O Maha-Mantra Hare Krishna
Eles trouxeram colares de flores e várias oferendas de presentes ao Senhor. Nimai aceitava os colares de flores e depois os colocava de volta no pescoço do devoto que tinha oferecido. Somente quatro de Seus devotos mais íntimos sabiam que Ele estava para partir, os devotos comuns não sabiam que essa seria Sua última noite em Navadwip. Ele punha colares de flores nos devotos com Suas próprias mãos e implorava: "Cante sempre o nome de Krishna. Não abandone krsna-nama em nenhuma circunstância. E não faça mais nada. Enquanto trabalhar, comer, dormir ou andar, dia e noite - em tudo que fizer - aceite o nome de Krishna continuamente. Fale sempre sobre Krishna - e nada mais. Se tem alguma verdadeira atração ou afeição por Mim, não faça nada sem cantar o nome de Krishna".
"Cultive a consciência de Krishna. Krishna é a origem de todos nós. Ele é nosso pai, viemos Dele. O filho que não tem gratidão ao pai, seguramente será punido nascimento após nascimento. Sempre cante esses nomes do Senhor":
Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
"Não é necessário nenhum outro princípio religioso. Cante Hare Krishna. Esse mantra não é comum, é o maha-mantra, o maior de todos os grandes mantras, a essência de todos os mantras conhecidos neste mundo. Valha-se dele apenas, e sempre. Não siga nenhuma outra prescrição".
"Lembre-se de seu Senhor, de seu lar. Esta terra é estranha, não tem nenhuma aspiração aqui. Tente sempre voltar ao lar, de volta ao Supremo". Assim, Nimai Pandita falou, e todos Seus devotos vieram intuitivamente, pois era a última noite de Nimai Pandita em Navadwip.
O Senhor e o Vendedor de Frutas
Um devoto chamado Sridhara Kholavecha chegou tarde à noite. Ele comercializava frutas. Vendia fruta madura ou verde e também folhas grandes para fazer pratos, Nimai costumava pagar menos pelas frutas e às vezes, pegava as melhores sem pagar nada. Sridhara veio tarde na noite para Lhe oferecer urna abóbora especial. Nimai, pensou: "Passei quase que todo tempo a tirar tantas coisas dele, e agora nesta última noite, ele Me trouxe esta excelente abóbora. Não posso resistir". Ele pediu a Shachidevi: "Mãe, Sridhara Me deu esta abóbora. Por favor, pense num jeito de prepará-la". E aí, alguém trouxe leite na hora de dormir. Nimai disse: "Mãe, por favor, prepare arroz-doce com o leite e a abóbora". Assim, Shachidevi preparou arroz-doce com leite, arroz e açúcar cozidos com abóbora. Tarde da noite, lá pelas três horas da madrugada, Nimai partiu, e deixou Vishnupriya-devi que dormia. Sua mãe Shachidevi sentiu o que ia acontecer e ficou acordada a noite toda para vigiar a porta. Nimai prestou-lhe reverências e foi embora. A mãe Shachidevi permaneceu sentada no portão depois que Nimai partiu, imóvel como uma estátua. Ela não conseguia falar nada. Ficou muda com o choque.
Nimai nadou pelo Ganges logo após as três da manhã e foi direto para Katwa com Suas roupas molhadas, numa distância de quarenta quilômetros. Chegou lá entre nove e dez horas. Procurou Keshava Bharati para aceitar sannyasa.
A Tristeza da Mãe Shachi
Os devotos vieram na manhã seguinte para ver Nimai, e encontraram Shachidevi sentada na porta como uma estátua. A porta estava aberta. Tudo estava vazio. Eles perguntaram: "Que aconteceu Shachidevi"? Ela respondeu: "Oh, devotos! Esperava por vocês. Peguem tudo que houver na casa. Irei para outro lugar. Não posso mais entrar nesta casa. São devotos Dele, os verdadeiros herdeiros. Tomem posse". Eles começaram a se aglomerar ao redor dela e a consolá-la. "Vai partir? Que será da jovem esposa que Ele deixou? Ela só tem quatorze anos. Quem a protegerá? Não pode evitar a responsabilidade que lhe foi legada. Está nas suas costas agora". Eles a consolavam desse jeito e tentavam lhe incutir alguma esperança.
Repentinamente, os devotos ouviram que Nimai Pandita, Sri Gauranga, partira de Navadwip. Souberam que Ele foi para Katwa, ao ashrama de Keshava Bharati aceitar sannyasa, e Se despediu para sempre do povo de Navadwip.
Uma nuvem escura desceu. Muitos começaram a lamentar e chorar por Ele. Muitos correram para Katwa. Nimai Pandita era um erudito sem igual com características belíssimas - alto, belo e benevolente. Já tinha deixado as pessoas loucas com o santo nome de Krishna. Liberou os grandes pecadores Jagai e Madhai de suas vidas sórdidas. Coibiu o governador muçulmano, o Kazi, que tinha quebrado um tambor mridanga. Derrotou muitos eruditos que vieram conquistar Navadwip, renomada por sua alta cultura e conhecimento, especialmente lógica, como um pandita famoso.
Lógica (nyaya), adoração à energia material (tantra) e hinduismo oficial (smriti) eram altamente cultivados em Navadwip naquela época. Navadwip tinha alta reputação devido à sua erudição. Um pandita não ficava famoso, se não fosse capaz de derrotar os eruditos de Navadwip. Keshava Kashmiri veio de muito longe, Caxemira, para Navadwip a fim de obter um certificado de pandita. E foi derrotado por Nimai Pandita. Keshava Kashmiri era um pandita tão elevado que havia rumores de que era o filho favorito de Sarasvati, a deusa do conhecimento. Ninguém podia enfrentá-lo. Mesmo assim., foi derrotado por Nimai Pandita.
Adeus para Sempre
Nimai Pandita partiu de Navadwip para sempre e aceitou sannyasa porque o povo de lá não O respeitava. Quando chegou em Katwa, bem na margem do Ganges, havia um sannyasi, Keshava Bharati. Nimai foi até ele, pedir sannyasa. Keshava Bharati percebeu subitamente que seu ashrama brilhava. Primeiro, pensou que o Sol nascia perante ele, mas aí viu que uma pessoa brilhante se aproximava. Ele se levantou e, com os olhos arregalados de espanto, aproximou-se admirado. Pensou: "Que é isso"?
Ele compreendeu que o grande devoto erudito Nimai Pandita havia chegado. Nimai veio perante ele e disse:
"Quero aceitar sannyasa de você". Mas Keshava Bharati não pôde aceitar o pedido de Nimai, e respondeu: "Fiquei atraído por Sua beleza e personalidade. Mas é tão jovem, só tem vinte e quatro anos. Que será da Sua mãe, da esposa e dos guardiões? Não posso me aventurar a Lhe dar o hábito da renúncia sem antes consultá-los".
Era Makara-sankranti, dia santo famoso, e nesse meio tempo, vieram muitas pessoas para se banhar no Ganges. Estavam todos reunidos lá, e os rumores começaram a se espalhar como fogo - "Nimai Pandita de Navadwip veio aceitar sannyasa". As pessoas chegavam, até formar uma grande multidão.
Oposição Afetuosa
Todos ficaram contra o sannyasa de Mahaprabhu. Alguns gritavam em protesto: "Você, Keshava Bharati! Não permitiremos que dê sannyasa a esse jovem. Ele tem família, mãe e esposa. Não permitiremos. Se você der sannyasa a esse jovem atraente e belo, quebraremos seu ashrama imediatamente. Não pode ser"!
Nimai Pandita continuou a insistir. Finalmente, Keshava Bharati perguntou: "Então, é o Nimai Pandita de quem tanto ouvimos falar? Muitos grandes eruditos vieram conquistar Navadwip, o famoso local de conhecimento, e derrotou todos. É esse Nimai Pandita"? Nimai respondeu: "Sim". Keshava Bharati disse: "Eu Lhe darei sannyasa somente se pedir permissão à Sua mãe - senão não posso fazer isso". Nimai começou a correr para Navadwip imediatamente para pedir permissão, mas Keshava Bharati pensou: "Ele tem uma personalidade tão forte que é capaz de fazer qualquer coisa".
Nimai foi chamado de volta e Keshava Bharati disse: "Pode fazer qualquer coisa com Sua personalidade extraordinária. Irá para lá, encantará Seus guardiões, obterá a permissão e voltará. Para Você, nada é impossível".
A multidão estava furiosa e dizia: "Swamiji, não podemos permitir, que dê sannyasa a esse jovem. É impossível! Se fizer isso, destruiremos seu ashrama". Sri Chaitanya Mahaprabhu começou um kirtana, com o canto de Hare Krishna e a dançar loucamente. A multidão furiosa crescia e de vez em quando causava problemas. Assim, o dia passou sem nenhuma decisão. A noite também passou em sankirtana. No dia seguinte, a vontade de Nimai predominou, embora ainda houvesse alguma oposição.
Lágrimas nos Olhos de Milhões
Nityananda Prabhu, Chandrashekhara, tio materno de Nimai, Mukunda Datta e Jagadananda Pandita chegaram gradualmente. A cerimônia de sannyasa começou à tarde. Chandrashekhara foi requisitado para executar a cerimônia em nome de Nimai Pandita, que começou a dançar e cantar, para o encanto da audiência.
laksa locanasru-varsa-harsa-kesa-kartanam
koti-kantha-krsna-kirtanadhya-danda-dharanam
nyasi-vesa-sarva-desa-ha-hutasya-kartaram
prema-dhama-devam eva naumi gaura-sundaram
"Enquanto lágrimas escorriam dos olhos de milhões, Ele se deleitava durante o corte de Seu belo cabelo. Milhões de vozes cantavam as glórias de Krishna, quando Sri Krishna Chaitanya aceitou o bastão da renúncia. Daquele dia em diante, onde quer que fosse, quem quer que O visse no hábito de sannyasi chorava de tristeza. Canto as glórias desse belo Deus Dourado, o doador do amor divino".
(Sri Prema Dhama Deva Stotram, 16)

Sannyasa de Mahaprabhu
O cenário foi Katwa. Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa há quatrocentos e setenta e quatro anos [1510 d.C.]. Ele era jovem e belo, de aparência alta. Tinha apenas vinte e quatro anos e belos cabelos encaracolados. O barbeiro requisitado para raspar Sua cabeça desistiu. Ele não quis arriscar tocar no corpo de Nimai, e começou a chorar: "Como posso raspar um cabelo tão bonito de uma cabeça tão linda"?
Muitas pessoas também choravam alto: "Que coisa terrível acontece aqui! Quem criou o sannyasa? Quem é tão desumano a ponto de ter criado o sannyasa-ashrama, em que é preciso abandonar tudo que é intimo e querido, e ir de porta em porta a mendigar, depois de deixar os próprios amigos e parentes a chorar desesperados? Que é esta criação do Supremo? Será lógica? Será alegre? Não, é terrivelmente cruel"!
Nimai Pandita ria. O barbeiro acabou forçado de todo jeito a raspar a cabeça de Nimai. No inicio, ele não se aventurou a tocar em Seus cabelos, e disse: "Não posso tocá-Lo". Mas no fim, teve que fazer o serviço de raspar os belos cabelos encaracolados do lindo rosto do rapaz genial de vinte e quatro anos. Ele começou a raspar. Algumas pessoas não suportaram a cena. Alguns até enlouqueceram. Tudo foi feito no meio da multidão ameaçadora que chorava, lamentava e gritava.
Nimai permaneceu insensível. Quando estava meio raspado, levantou e começou a cantar e dançar um kirtana com alegria extática. O barbeiro terminou o serviço e prometeu: "Nunca mais rasparei ninguém com estas mãos! Vou viver da mendicância. Esse foi meu último serviço como barbeiro". Depois disso, ele começou a trabalhar como doceiro.
Nimai conseguiu acalmar a multidão, e o inevitável aconteceu um pouco antes do meio dia, a cerimônia de sannyasa foi realizada. O tio materno de Nimai Pandita, Chandrashekhara Acharya, foi nomeado para cuidar dos rituais da cerimônia de sannyasa. Quando chegou a hora de outorgar o mantra, Nimai perguntou a Keshava Bharati: "É esse o mantra que Me dará? Eu o ouvi num sonho". Ele murmurou o mantra no ouvido de Seu guru, que aceitou e disse: "Sim, esse é o mantra que ia Lhe dar". Assim, o mantra foi dado.
O nome de sannyasi também não foi dado normalmente. Keshava Bharati obteve um nome bem peculiar, "Krishna Chaitanya". Nimai não recebeu nenhum dos dez nomes geralmente usados para sannyasis e sim, "Krishna Chaitanya". A multidão começou a gritar: "Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu ki jaya"! - "Todas as glórias a Sri Krishna Chaitanya"!
O pai de Srinivasa Acharya foi colega de classe de Nimai Pandita. Ele ouviu sobre o sannyasa de Nimai Pandita quando ia para a casa do sogro, e correu para lá. Ao ver toda a cena, ficou meio louco. Depois disso, não saía nada de sua boca a não ser "Chaitanya". Após ouvir o nome "Krishna Chaitanya", sempre que alguém lhe dizia isso, ele só falava "Chaitanya". Enlouqueceu. Ele ficou conhecido como Chaitanya Dasa, depois disso. Seu nome anterior foi esquecido, e todos o chamavam de Chaitanya Dasa. Ele não suportou o sannyasa de Nimai Pandita.
Sri Chaitanya Mahaprabhu, vestido em Suas novas roupas vermelhas, abraçou Seu guru, e começaram a dançar e cantar o nome de Krishna. Pouco depois, Keshava Bharati explicou o significado do nome: "Sri Krishna Chaitanya significa que despertou a consciência de Krishna do mundo inteiro. Você descendeu para tornar as pessoas conscientes de Krishna. Portanto, o único nome adequado para Você é Sri Krishna Chaitanya.
O Mundo Nectáreo
Mahaprabhu ficou muito contente, e pensou: "Vou aliviar tantas almas da miséria e aflição eternas. Prometi salvar o mundo inteiro do oceano de miséria e levá-lo ao mundo nectáreo, agora, vou cumprir essa tarefa". Ele estava feliz, mas todos a Seu redor estavam mergulhados no oceano de desespero e pesar.
Alguns eruditos enfatizam o fato de que Chaitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa de Keshava Bharati, que era mayavadi, impersonalista. Embora Keshava Bharati tenha se mostrado dessa forma externamente, parece que se tornou devoto ao entrar em contato com Mahaprabhu. Senão, podemos pensar que ele era um devoto que veio disfarçado como impersonalista para ajudar a pregação de Mahaprabhu, e realizar a formalidade social de Seu sannyasa. Os sannyasis mayavadis eram muito mais respeitados do que os sannyasis vaisnavas naquela época na Índia, e Keshava Bharati estava nessa posição. Mahaprabhu aceitou sannyasa dele de propósito, para ajudar Sua pregação. Esses fatos podem ser explicados de formas diferentes. De todo jeito, Keshava Bharati começou a cantar e dançar com Sri Chaitanya Mahaprabhu depois que Ele aceitou sannyasa. Aderiu ao sankirtana e foi convertido imediatamente.
Conceito de Krishna - União na Separação
E assim, realizou-se o sannyasa de Nimai Pandita. Qual o significado de Seu sannyasa? Redundante, auxiliar ou parte necessária de avanço espiritual? Desejável? Embora aparentemente não desejado, ainda assim tem sua necessidade. Há uma profunda correlação, no conceito teísta de Krishna, entre união com o Senhor e separação Dele. A união não pode ser profunda sem separação. A dor da separação tem muito mais capacidade de entrar no fundo do coração do que a alegria. A apreensão incrementa a satisfação. Quanto maior o desejo, maior a satisfação. Especialmente em casos amorosos. Algo tem valor conforme sua necessidade. Esse princípio é válido para tudo. Um copo de água é comum, mas seu valor aumenta conforme sua necessidade. Por isso, o grau de necessidade é muito importante. Necessidade significa separação. Necessidade independente da satisfação é separação, anseio.
A separação tem o papel mais importante tanto no lila de Navadwip quanto no de Vrindavana. Foram quantos anos de união entre Krishna e as gopis? Krishna ficou em Vrindavana dos sete aos doze anos: cinco anos. Depois, foi para Mathura. É claro que o Padma Purana afirma que em casos extraordinários ou peculiares, deve-se medir o crescimento, ao multiplicar a idade por um e meio. Assim, quando Krishna tinha oito anos, deve ser considerado como doze. Quando tinha doze, deve ser considerado como dezoito. Conforme o crescimento, Krishna permaneceu em Vrindavana dos doze aos dezoito anos, mas de acordo com os anos, dos sete aos doze.
A Profundidade do Amor Divino
Ele permaneceu em Dwaraka por muito tempo. Sua permanência total na Terra foi de cento e vinte e cinco anos. As gopis sentiram as dores da separação pelo resto da vida, após Ele partir de Vrindavana aos doze anos. A longa, longa separação tornou a devoção delas altamente digna; o teste da separação mostra se o amor é verdadeiro. A História nunca viu tão longa separação e tão grande teste; ainda assim, a profundidade do amor delas não diminuiu. Ao contrário, viu-se uma profundidade de amor divino inconcebível e sempre crescente.
O cenário é quase similar em Navadwip e Vrindavana. Mahaprabhu em Navadwip abandonou a vida familiar a fim de vencer Sua oposição. Em Vrindavana-lila é similar. A oposição no Vrindavana-lila veio de Mathura na forma de Agha, Baka, Putana, Trinavarta e outros demônios, enviados pelo rei Kamsa. Krishna teve de ir a Mathura para acabar com a oposição. Ao chegar lá, viu que a oposição tinha se espalhado amplamente. O sogro de Kamsa, Jarasanda, Kalayavana, Shishupala, Dantavakra e vários outros eram inimigos de Krishna. Krishna prometeu para as gopis que após acabar com Seus inimigos, voltaria a Vrindavana para brincar com elas pacificamente. Krishna teve que partir para erradicar a oposição. Ele disse às gopis em Kurukshetra: "Tenho alguns outros inimigos. Depois que acabar com eles, nos reuniremos novamente". Esse tipo de esperança foi dado às gopis em Kurukshetra.
Aqui também, Mahaprabhu teve que partir de Navadwip para conquistar a oposição. Após conquistar todos os eruditos da Índia e religiosos de vários credos e posições, depois de cinco anos, todos estavam mudados quando voltou a Navadwip. A multidão se aproximou Dele loucamente. É difícil conceber o grau de loucura da multidão ao se aproximar de Sri Chaitanya Deva, filho de sua própria vila.
O Ganges - Cheio de Cabeças Humanas
A multidão atravessava o Ganges. O Ganges inteiro estava cheio de cabeças humanas, até onde a visão alcançava. Eles corriam em direção a Ele de todas as direções de tal forma que as florestas eram limpas pelos pés humanos. Sri Chaitanya Mahaprabhu permaneceu alguns dias perto de Vidyanagara, e partiu para Vrindavana, a cantar o santo nome de Krishna. Milhares de devotos corriam atrás Dele, e cavavam a terra para pegar a poeira de Seus pés de lótus, assim surgiram grandes buracos.
Sri Chaitanya Mahaprabhu conduziu uma vida de erudito como Nimai Pandita por volta de dezoito anos. Depois disso, viajou por todo comprimento e extensão da Índia, inclusive Vrindavana, por seis anos aproximadamente. Permaneceu continuamente em Jagannatha Puri nos últimos dezoito anos de vida. Misturou-Se com o público nos seis primeiros anos de Seu sannyasa. Nos últimos doze anos, quase Se retirou de toda sociedade humana e Se ocupou profundamente em saborear união em separação de Radha-Govinda. Expressou muitos sintomas de êxtase extraordinários, que nunca tinham sido experimentados antes em nenhum lugar ou mesmo ouvido falar. Separação pode produzir efeitos maravilhosos no corpo e na mente.
Sri Gauranga-avatara
Sri Gauranga-avatara possui duas características: A razão aparente de Seu aparecimento é liberar as pessoas em geral do pecado, e dar-lhes o maior alcance da vida - levá-las a Vrindavana, vraja-lila, pela distribuição do santo nome de Krishna. Essa é a verdadeira função do yuga-avatara, encarnação do Supremo para esta era. O Senhor vem para distribuir o som divino e para mostrar como se alcança a posição mais elevada através do som divino. Mas também tem um outro propósito a satisfazer. Uma vez por dia de Brahma - numa kali-yuga especial - Krishna vem pessoalmente no humor de Radharani à procura de Si mesmo. Ele quer saborear o humor de Radharani, para compreender a natureza da profunda ânsia por Krishna que Ela sente, como Ela pode saborear a doçura de Krishna através do humor, e qual é a felicidade que Ela obtém.
Krishna queria experimentar por que Radharani é tão louca por Ele. Krishna pensou: "O que há em Mim, que A deixa incomensuravelmente louca por Mim? Que doçura Ela obtém de Mim? Não consigo descobrir". Ele queria Se adaptar ao humor de Sri Radhika e tentar experimentar Seu próprio Eu com esse temperamento. Assim, veio como Sri Chaitanya.
Quando concebeu essa encarnação, e apresentou a idéia a Srimati Radharani, nos disseram que Radharani respondeu: "Às vezes, rolará no chão loucamente, ao dizer Meu nome, mas não serei capaz de suportar. Cobrirei Seu corpo com minha forma dourada. Não permitirei que role no chão. Vou cobri-Lo com Meu abraço". Aqueles que conhecem o aspecto ontológico de Sri Chaitanyadeva dizem: "Ofereço meus respeitos a Sri Chaitanya Mahaprabhu, cujo humor e cor são de Radharani e cujo Eu interior é Krishna à procura de Si mesmo, a saborear a Si próprio, e que tenta entender por que Radharani é louca por saboreá-Lo e que tipo de doçura Ela encontra Nele". (radha bhava dyuti suvalitam naumi krsna svarupam).
Sri Chaitanya Mahaprabhu permaneceu neste mundo por 48 anos. Nos últimos 12 anos de Sua vida, ocupou-Se com profunda dedicação em Se auto-saborear. Assim como todos são loucos para saborear doçura, Krishna, a doçura personificada, também é louco para saborear a Si próprio.
Introspecção significa conhecer-se. Consciência pode conhecer consciência. Assim como se pode perceber o próprio corpo, ou a consciência pode se auto conceber, o êxtase também pode saborear êxtase. Swarupa Damodara Prabhu, secretário pessoal de Sri Chaitanya Mahaprabhu considerado como Lalita-shakhi, a companheira mais íntima de Srimati Radharani nos passatempos de Krishna, confirma essa afirmação. Ele disse o que é Sri Chaitanyadeva:
radha krsna-pranaya-vikrtir hladini saktir asmad
ekatmanav api bhuvi pura deva-bhedam gatau tau
caitanyakhyam prakatam adhuna tad dvayam caikyam aptam
radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krsna svarupam
"Adoro Sri Chaitanya Mahaprabhu, que é o próprio Krishna, enriquecido com as emoções e esplendor de Srimati Radharani. Radha e Krishna são eternamente unos com identidades individuais separadas, como duas partes, predominante e predominada. Agora, Eles Se uniram novamente como Sri Krishna Chaitanya. Essa transformação inconcebível da potência interna geradora de prazer de Krishna surgiu dos casos amorosos entre Radha e Krishna".
Swarupa Damodara afirma nesse verso que os passatempos de Radha-Krishna e de Sri Chaitanya Mahaprabhu são paralelos e eternos. É difícil dizer se o inverno vem antes do verão, ou é o verão que vem antes do inverno. Os passatempos eternos do Senhor são similares, o movimento roda como num circulo. Por isso, Swarupa Damodara diz: "É difícil afirmar se Chaitanya-avatara vem antes de Krishna-avatara, ou se Krishna-avatara vem antes de Chaitanya-avatara - ambos são eternos".
Quem é Sri Radha? Ela é o desenvolvimento da doçura que emana do próprio Krishna. A doçura emana de Krishna numa forma desenvolvida como Radha: Srimati Radharani é uma potência especial que vem de Krishna: hladini-shakti. Portanto, Radha e Krishna não podem ser concebidos como entidades separadas, os dois são unos e iguais. Ainda assim, foi dito que em tempos remotos foram divididos em dois, e novamente Se combinaram como Sri Chaitanya Mahaprabhu, cujo esplendor e humor são de Srimati Radharani, e cuja natureza e realidade interna são de Sri Krishna. Fogo e calor não existem separadamente; sol e luz não podem existir separadamente. Eles são unos. A Verdade Absoluta é uma substância absoluta (advaya-jñana), mas às vezes, Radha e Govinda Se mostram divididos e outra vez, unidos. Quando estão juntos, desfrutam um do outro, e às vezes experimentam separação dolorosa sem possibilidade de união. Essa é a natureza divina Deles.
Sri Rupa Goswami explica:
aher iva gatih premnah
svabhava-kutila bhavet
ato hetor ahetos ca
yunor mana udancati
Ele diz que do mesmo modo como uma serpente se move tortuosa naturalmente, num ziguezague, a característica do amor é naturalmente tortuosa. Não é certa. Assim, as partes envolvidas brigam, às vezes com motivo e outras sem motivo, e aí vem a separação. A separação é necessária nos passatempos transcendentais de Radha e Krishna.
As Dores da Separação
Há quatro tipos de separação: purva-raga, mana, prabasa e prema-vaicittya. Purva-raga quer dizer antes do encontro. Acontece quando Radha e Govinda não Se encontram realmente, mas um entrou em contato remoto com o outro, através do nome, retrato, ou algo desse tipo. Quando Radha ouve o nome de Krishna ou o som de Sua flauta, não aconteceu um encontro real, mas há uma conexão. O som da flauta de Krishna, um retrato de Krishna ou o nome de Krishna podem produzir purva-raga. Krishna pode experimentar algo similar, ao ouvir o som do nome de Srimati Radharani. Há dores de separação, mas não acontece o encontro real. O nome é tão doce que Ele não consegue Se conter; Ela não consegue Se conter.
Quando o santo nome de Krishna penetra nos ouvidos de Srimati Radharani, Ela fica perturbada, e pensa: "Haverá um nome mais doce que esse dentro deste mundo"? É a reação Dela, e também experimenta dor. Ela sente: "Não posso encontrá-Lo". Vem uma dor de separação em Seu coração. Isso é purva-raga: a dor de separação que vem antes do encontro.
Mana é outro tipo de separação. Mana quer dizer que durante um encontro, há algum desentendimento entre Eles devido a frivolidades. Essa é a natureza do amor. Por isso, Srila Rupa Goswami diz que o amor se move tortuoso como uma serpente. Não é defeito, é a própria natureza do caminho do amor. Às vezes, por algum motivo insignificante, ou sem motivo nenhum, vem um sentimento: "Ele Me negligenciou, Ele Me evitou". Assim, Srimati Radharani pensa: "Não quero Sua companhia". Embora haja cem por cento de apreciação, num momento qualquer, surgem sentimentos opostos ocultos: há um conflito nos sentimentos dos dois, e um quer deixar a companhia do outro.
Ciúme Transcendental
No prema-vaicittya, o ciúme cresce tanto que mesmo quando estão juntos, vem um tipo de pensamento interior, que Os faz achar que estão longe um do outro. Esses tipos de separação existem apenas no madhurya-rasa. Prema-vaicittya é uma condição que surge quando Krishna e Radharani estão pertos, mas quando Ela vê Sua própria sombra refletida no corpo de Krishna, fica tão enciumada, a ponto de pensar que é outra mulher. Aí, vêm fortes dores de separação, e Ela pensa: "Que é isso? Tem outra mulher ali"! Ela fica revoltada. Mas, Sua amiga Lalita avisa: "Que disse? É somente Sua imagem refletida. Não consegue ver"? Aí, Radharani volta a Si. Ela própria reconhece: "Oh, sim, é Minha sombra". Então, o sentimento se vai imediatamente. Esse é um exemplo de prema-vaicittya. Esses assuntos são extremamente elevados no plano transcendental, mesmo que não devam ser discutidos em detalhes, essa é a natureza do amor divino em união e separação. Ambos são interdependentes, pois um não permanece sem o outro, e cria-se separação pelo desejo de incrementar a união.
Prabhasa é outro tipo de separação. Há dois tipos de prabhasa: um é quando a separação é por tempo limitado, e o outro, quando alguém parte para um pais distante, como quando Krishna foi para Mathura, cumprir outras obrigações.
Esses são os quatro tipos de dores de separação entre amante e amada.
É claro que esses assuntos são muito elevados, não devemos discuti-los negligentemente, pois projetaremos características mundanas no plano superior e danificaremos nossa realização futura. Nossa experiência mundana tende a nos puxar para baixo, por isso, devemos prosseguir com cuidado. O que concebemos no presente não se encontra no plano dos passatempos de Krishna - plano de existência muito superior ao reino da nossa experiência. Nossa visão é adulterada. Temos apenas um conceito imperfeito do original. Devemos manter essa mentalidade e devemos lidar com esses assuntos com muito cuidado.
É mais seguro lidar com tópicos de separação entre Radha e Govinda do que Sua união. Claro que precisamos entender que a dor de separação experimentada por Radha e Govinda nada tem a ver com este plano. Assim, com essa cautela, podemos conversar um pouco sobre separação; mas é extremamente perigoso discutir ou pensar a respeito de quando Radha e Govinda estão juntos com Seus companheiros íntimos, no desfrute da companhia mútua, pois, se lidarmos com os passatempos de Radha e Krishna com algum conceito mundano, produziremos uma grande ofensa. Por isso, é mais perigoso conceber sobre a união entre Radha e Govinda do que cultivar sentimentos de separação, da mesma forma como Mahaprabhu mostrou com Seu exemplo pessoal.
Sri Chaitanya Mahaprabhu pensava, em separação de Krishna: "Não consigo suportar Minha própria vida sem Krishna! Não posso manter Minha existência indesejável sem Sua graça, sem Sua companhia". Esse tipo de humor nos ajuda, mesmo assim, não devemos imitá-Lo; ao contrário, devemos aceitá-Lo como nosso maior ideal. Isso ajudará a varrer de lado todos nossos maus hábitos imundos indesejados (anarthas). Se vierem algumas lágrimas, não devemos pensar que alcançamos o estágio mais elevado, tal mentalidade deve ser evitada. O próprio Sri Chaitanya Mahaprabhu diz: "Não tenho uma única gota de amor divino dentro de Mim, senão, como poderia manter Minha vida mundana"?
Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa para que os habitantes de Navadwip mergulhassem no estágio sublime de separação através da força da afeição. Sua velha mãe Shachidevi chorava desesperadamente. Sua jovem esposa Vishnupriya-devi vivia desamparada. Mahaprabhu aceitou sannyasa para criar excitação, ao perfurar o coração das pessoas com o amor divino que veio distribuir. Elas pensavam: "Quem era Nimai Pandita? Que grande benefício Ele veio nos trazer"? O fato de ter abandonado tudo, atraiu a simpatia deles. O Senhor foi aceitar sannyasa por todos esses motivos.
"Devo correr para Vrindavana"!
Sri Chaitanya Mahaprabhu ficou louco após a cerimônia de sannyasa, Ele pensou: "Devo correr para Vrindavana. Abandonei toda conexão com este mundo. Não tenho nenhuma atração por ele. Devo correr para Vrindavana a fim de Me ocupar exclusivamente no serviço a Krishna". Começou a cantar um verso do Srimad Bhagavatam em transe, onde Krishna descreve sannyasa para Uddhava. O verso foi dito por um tridandi-bhiksu, um mendicante. Mahaprabhu citou o verso, e pensou: "Aceitei o hábito de sannyasi por ser favorável à Minha vida espiritual. Agora, ninguém mais na sociedade pode reclamar de Mim, estou apto a Me devotar exclusivamente ao serviço de Krishna. Vou para Vrindavana sem nenhuma obrigação ou conexão pessoal". Ele começou a cantar e dançar em loucura extática. Keshava Bharati O abraçou, e discípulo e guru se uniram, a cantar e dançar. Foi aí que Mahaprabhu disse o verso do brahmana que aceitou tridandi-sannyasa nos últimos momentos da vida, e teve de tolerar a tortura da sociedade em várias formas. Ele disse:
etam sa asthaya paratma-nistham
adhyasitam purvatamair maharsibhih
aham tarisami duranta-param
tamo mukundanghri-nisevayaiva
"Os grandes sábios antigos aceitaram e mostraram o caminho de sannyasa. Acabei de aceitar essa forma de vida. Agora, devo correr para Vrindavana, e deixar tudo para trás. Lá, cruzarei o oceano da ignorância, por aceitar o nome de Mukunda, Krishna. Alcançarei Vrindavana e entrarei plenamente no serviço a Krishna, após atravessar esta maya".
A vestimenta de sannyasi se destina apenas a um ajuste externo, o propósito verdadeiro é servir a Mukunda. E assim, partiu repentinamente de Katwa para Vrindavana. Ele entrava na selva nas margens do Ganges, e pensava: "Agora, Meu objetivo é chegar a Vrindavana o mais rápido possível, e lá, num lugar solitário, vou Me sentar, e cantar e recitar o nome de Krishna".
Sri Chaitanya Mahaprabhu correu para Vrindavana e entrou na selva antes do anoitecer. Nityananda Prabhu. Chandrashekhara Acharya, Mukunda Datta, e Jagadananda perseguiram-No selva adentro. Às vezes durante a corrida, Ele caía no chão de repente e começava a gritar: "Krishna, Krishna"! Levantava-Se subitamente e começava a correr sem direção especifica, nem norte, leste, oeste ou sul.
A Vagar em Transe
Às vezes Ele corria tão rápido que os devotos não conseguiam acompanhá-Lo; geralmente O perdiam à noite, na escuridão. Aí, ficavam muito desapontados, e pensavam: "Sri Chaitanya Mahaprabhu, nosso Senhor e mestre, nos abandonou"! Mas inesperadamente, eles O ouviam de longe, a gritar: "Krishna, Krishna, Krishna"! num comovente tom lastimável. Eles corriam naquela direção e O viam caído no chão, a gritar:
kahan mora prana natha murali-vadana
kahan karon kahan pan vrajendra-nandana
"Onde está Meu amado Krishna? Não posso tolerar a separação Dele. Onde está o Senhor da Minha vida, que toca Sua flauta? Que devo fazer? Onde devo ir para encontrar o filho de Nanda Maharaja"? Ele chorava num tom comovente, de derreter o coração. E dizia, totalmente desnorteado, sem consciência de qualquer direção: "Quem é você? Vou para Vrindavana. Por que Me perturba"? Aí novamente, seguiam em direção oeste para Vrindavana, e cuidavam Dele.
Nityananda Prabhu aproveitou o transe de Mahaprabhu e conseguiu convencê-Lo a ir em direção a Shantipura. O Chaitanya Bhagavata menciona que partiram de Katwa em direção oeste até chegarem perto de Vakresvara, cerca de dez quilômetros a nordeste de Dubrarajpura - distrito de Birbhum. Há um lugar em Visramatala, no outro lado do rio Adjat, mencionado como o local de Sri Chaitanya. Foi lá que Sri Chaitanya Mahaprabhu voltou-Se do oeste para o leste, ou de Vrindavana para Shantipura.
Eles andaram por toda noite, e por mais um dia e uma noite. Até que na noite do terceiro dia finalmente voltaram de Kalna para Shantipura, através dos arranjos de Nityananda Prabhu, que apareceu como um renunciante com roupas vermelhas perante Mahaprabhu. Apesar de toda a familiaridade, Sri Chaitanya Mahaprabhu não reconheceu Nityananda. Viu um sannyasi à Sua frente e pensou: "Vou para Vrindavana, e há um sannyasi diante de Mim". Ele disse: "Ó Sripada sannyasi, aonde vai"?
"Irei a Vrindavana com você".
"Falta quanto para Vrindavana"?
Nityananda mostrou-Lhe o Ganges, perto de Kalna, e disse: "Veja só, lá está o Yamuna".
Mahaprabhu disse: "Oh, chegamos tão perto do Yamuna"! Aí, foi tomar banho no Yamuna, a cantar o verso:
cid-ananda-bhanoh sada nanda-sunoh
para-prema-patri drava-brahma-gatri
aghanam lavitri jagat-ksema-dhatri
pavitri-kiryan no vapur mitra-putri
"Ó filha do Sol, apareceu na forma de água, mas é muito querida pelo filho de Nanda, o Sol espiritual. Você dissipa os pecados de todos pecadores. Por favor, purifique este corpo mortal". (Kavi Karnapura, Chaitanya Chandrodaya-nataka, 5.13)
Nityananda Prabhu mandou Chandrashekhara Acharya chamar Adwaita Acharya antes de Sri Chaitanya Mahaprabhu chegar na margem do Ganges. Mahaprabhu perguntou: "É Você, Adwaita? Como sabia que Eu estava em Vrindavana"? Adwaita Acharya disse: "Deve ser algum tipo de brincadeira. Onde quer que esteja é Vrindavana. E para Minha grande alegria, veio aqui, perto do Ganges". "Oh, é o Ganges"?
"Sim".
Mahaprabhu recobrou a consciência externa e disse: "Oh, então é uma conspiração de Nityananda Prabhu. Ele Me trouxe para a margem do Ganges e disse que era o Yamuna. Ele Me pregou uma peça! Caí nessa peça"!
Adwaita Acharya argumentou: "Não, não! Nityananda Prabhu não disse nenhuma mentira. Tomou banho no Yamuna realmente. A confluência do Yamuna com o Ganges começa em Allahabad; o shastra menciona que o lado ocidental é o Yamuna e o oriental, o Ganges. Tomou banho no lado ocidental, portanto, tomou banho no Yamuna, de acordo com as escrituras. Nityananda Prabhu não Lhe disse nenhuma mentira. De qualquer forma, trouxe-Lhe roupas novas; deixe as molhadas e aceite estas novas. Também cozinhei para Você. Jejua há três dias, e hoje deve aceitar caridade em Minha casa como sannyasi, sou um homem pobre". Ele implorou com mãos postas: "Tem de vir". Eles O levaram de barco até Shantipura na casa de Adwaita Acharya. A mãe Shachidevi chegou na manhã seguinte, e Mahaprabhu passou dez ou doze dias em Shantipura, a realizar kirtana.
Que é Vrindavana?
Que é Vrindavana ao certo? É um estágio de consciência. Há diferentes realidades relativas em diferentes estágios de consciência. Tudo emana da força de vontade do Senhor. Ele é o sujeito. Sua potência e livre vontade são subjetivas. O Senhor diz: "Faça-se a luz", e a luz aparece. Ele diz: "Faça-se a água", e a água aparece. Ele diz: "Faça-se a terra", e a terra aparece. É como em hipnotismo, se o sujeito superior desejar que o sujeito inferior veja algo, ele não conseguirá ver nada além daquilo. Todos nós estamos no mundo imaginário subjetivo, mas existe o plano super subjetivo de realidade. Assim, Krishna Se revela àqueles que desenvolveram consciência pura, e no estágio de consciência pura pode-se perceber a verdadeira natureza da realidade subjetiva (sattvam visuddham vasudeva sabditam).
Mahaprabhu corria de lá para cá em êxtase, para nos mostrar que Vrindavana está em toda parte. Adwaita Prabhu disse, quando Se encontraram: "Deve ser brincadeira quando diz que vai para Vrindavana - onde quer que esteja, lá é Vrindavana. Temos essa experiência. O que diz é muito peculiar: 'Vou para Vrindavana'. Age assim apenas para nos ensinar o valor de Vrindavana".
A Terra do Amor
Vrindavana, o plano mais elevado de divindade, é um estado de consciência. Vrindavana, terra da simplicidade e amor divino, está acima do plano de respeito e reverência encontrado em Vaikuntha. A peculiaridade dos habitantes desse plano superior de consciência é que não sentem que estão em Vrindavana. É aprakrta, supramundano.
O conhecimento é classificado em cinco tipos. O inferior é conhecimento adquirido através da experiência dos sentidos, pratyaksa - o que experimentamos com nossos sentidos. Esse é o primeiro estágio. O próximo estágio superior é o conhecimento não adquirido através dos sentidos, mas sim pela experiência de outros (paroksa), os cientistas têm sua experiência, e obtemos algum conhecimento através de suas invenções e descobertas.
O terceiro estágio está acima da experiência humana (aparoksa). É algo parecido com sono profundo. Quando despertamos, dizemos: "Dormi muito bem, tive um sono muito gostoso". Mas no estado de sono profundo sem sonho, não nos conscientizamos dessa condição. Temos alguma consciência dessa experiência quando retornamos de um sono profundo sem sonho, mas é nebulosa. Aparoksa é um tipo de experiência nebulosa indistinta, onde sujeito e objeto material se unem, e o objeto material desaparece no sujeito. Shankaracharya, o grande proponente do impersonalismo, explica o desenvolvimento da consciência até esse ponto.
A Quarta Dimensão
Por outro lado, o grande devoto e erudito Ramanujacharya, bem como outros acharyas Vaishnavas, são da opinião de que existe um quarto estágio além desse. O plano é chamado adoksaja, transcendental, aquilo que está além do alcance dos sentidos, tanto grosseiros quanto sutis. Só podemos experimentar esse plano se ele descender a nosso plano de compreensão por sua livre e espontânea vontade. Se ele se retirar, estaremos perdidos, não poderemos encontrá-lo. Não podemos afirmar que a Verdade Absoluta está sob controle de nosso conhecimento. Não podemos medi-la. Ela é independente. Pode descender por sua livre vontade, e assim poderemos experimentar o reino superior, mas se estiver ausente, estaremos perdidos, não poderemos fazer nada. Podemos chorar ou orar, mas não podemos entrar lá à força pelo nosso próprio esforço. Esse é o quarto plano de consciência, é grandioso, todo-poderoso, e pleno de inspiração. Podemos ter alguma experiência desse plano conhecido como Vaikuntha, região espiritual ilimitada de reverência e poder, somente se ele se revelar para nós. Esse é o plano adhoksaja.
Assim, há pratyaksa - percepção direta através dos sentidos; paroksa - aprendizado através da experiência de outros; aparoksa - plano negativo de consciência indistinta; e a quarta dimensão: adhoksaja.
Estamos no subterrâneo. Verdadeiro conhecimento está acima, na superfície, além de nossa experiência. Se pudermos perfurar as camadas espessas da nossa experiência, poderemos entrar em contato com outro plano de consciência: ou seja, adhoksaja. Adhoksajam indriyanam jñanam: adhoksaja significa conhecimento superior que pode dominar nosso conhecimento da experiência deste mundo. O quarto estágio de conhecimento é o conhecimento transcendental, supramental. É um plano diferente em todos aspectos. Não é similar a este mundo.
Mas, aprendemos através do Srimad Bhagavatam e Sri Chaitanya Mahaprabhu, que há um quinto estágio de conhecimento muito similar a este mundo mundano, mas que não é mundano. É chamado aprakrta. É Goloka, a concepção teísta plena, só encontrada no reino de Krishna. O conhecimento central do Absoluto deve ter uma conexão até mesmo com o nível mais baixo da criação mundana; deve ser capaz de harmonizar a pior parte do mundo ilusório. Isso é aprakrta, supramundano. A entrada nesse reino mais elevado só é possível através do amor divino.
Tudo só pode ser compensado através do amor. Um ditado indiano diz que a mãe afetuosa pensa que seu filho cego tem belos olhos. Ela está cega de afeição. Por isso, o que é mau e inferior só pode ser compensado pelo amor que brilha maravilhosamente. É prema, amor divino. Um rei pode vir a brincar com um menino na rua por misericórdia, por pena, ou por graça. A afeição torna isso possível. A diferença entre superior e inferior desaparece em tal estágio.
A Encantadora Potência Espiritual
Os habitantes de Vrindavana se consideram pessoas comuns. Isso é jñana-sunya-bhakti, amor divino livre de qualquer cálculo, que não considera até mesmo a opulência e o poder do Senhor. Essa devoção está acima de Vaikuntha e funciona sob o encanto de Yogamaya, a potência encantadora espiritual.
A arte especial de Yogamaya faz com que os que estão situados na posição mais elevada se considerem bem insignificantes. O amor remove a diferença entre grande e pequeno, superior e inferior. Vrindavana é esse plano de existência. É onde se encontra a devoção livre de qualquer traço de avaliação (jñana-sunya-bhakti). Mesmo os habitantes de Vrindavana podem não saber sobre sua posição exaltada.
Adwaita Prabhu disse a Sri Chaitanya Mahaprabhu: "Onde quer que esteja, lá está Vrindavana". Narottama Dasa Thakura diz que onde quer que esteja um devoto de Krishna, lá está Vrindavana, (yata vaisnavagana sei sthana vrndavana, Prema-Bhakti-Chandrika). Podemos pensar serem eles aparentemente membros deste mundo ordinário, mas o objeto de toda sua conversa e comportamento é Vrindavana. Mas mesmo quando estão em Vrindavana, não se sentem lá.
Eles não têm consciência de sua posição exaltada. Quando um rei não tem muita consciência de seu poder, se considera uma pessoa comum. É algo assim. Um médico pode ser muito proeminente, mas pela afeição, pode servir como enfermeiro de seu paciente. Ele pode se rebaixar para fazer tal serviço, por amor e afeição pelo paciente, mas mesmo assim, ele é grandioso. Essa é a bela natureza da vida em Vrindavana. É grande sem a atitude, os ares de grandeza. Embora sejam realmente grandiosos, aparentam simplicidade. O poder revestido em afeição e amor, expresso em humildade - isso é Vrindavana. E isso também é Navadwip.
O Srimad Bhagavatam e o Sri Chaitanya Charitamrita dizem que esse é o local mais louvável de se viver. O Senhor Supremo vive lá com as gopis na floresta. Lá não vemos ostentação ou grandes edifícios, mas, se possuirmos verdadeira visão de grandeza, veremos isso em Vrindavana. É uma posição muito elevada se julgarmos os fatos imparcialmente, mas aparenta estar no nosso nível devido à humildade. Encontramos em Vrindavana um estilo de vida doce e belo. Mahaprabhu veio nos mostrar isso, através do Srimad Bhagavatam. Krishna é o Senhor dessa terra, e as vacas, colinas, florestas e o rio Yamuna criam uma atmosfera agradável.
Assim, Mahaprabhu aceitou sannyasa para nos ensinar, para nos elevar e nos tornar habitantes permanentes desse lugar. Ele diz que, na verdade, nosso verdadeiro eu pertence a esse plano, mas infelizmente, nossa consciência se voltou para o exterior. Agora, estamos capturados pelo aspecto mundano da criação e pensamos que sofremos, mas é tudo ilusão! Precisamos nos aliviar dessa mania. Mania significa loucura, e agora estamos possuídos por alguma mania. Do mesmo jeito como um louco saí de casa e vai pelas ruas a catar pedaços de papel ou pano, estamos iludidos neste mundo, mas, quando a loucura passar, acordaremos no nosso lar verdadeiro.
Um Grande Drama
Precisamos voltar ao lar, de volta ao Supremo. Sri Chaitanya Mahaprabhu diz: "Seu lar é uma bela terra. Deve se esforçar por isso. Por que está sempre transtornado com os horrores de guerras, epidemias, terremotos, doenças indesejadas, roubos, assaltos, e brigas com tantos vizinhos? Fundamentando tudo isso, existe o fato de que se identifica com o mundo material e com o corpo de carne e ossos. Tem de retomar o caminho certo e ir para o seu lar". Só isso é necessário. Nossa terra natal é um lugar muito belo, encantador e divino. Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa tão só por nós, com o propósito de nos levar de volta ao lar, onde teremos o conforto do lar... lar doce lar. Se tivermos algum vestígio de consciência de lar, aprovaremos essa proposta: Lar doce lar.
O sannyasa de Sri Chaitanya Mahaprabhu foi aparentemente muito cruel para Seus devotos e membros familiares, mas destinou-se apenas a nos levar de volta ao lar. Foi preciso que Sri Chaitanya Mahaprabhu mostrasse a separação a Seus devotos e parentes, para experimentar o êxtase de união. Separação e união são ambos mutuamente benéficos. O sannyasa de Mahaprabhu, Sua renúncia, é um grande drama de separação.