Vulcão Dourado de Amor Divino - Parte 3 - Epílogo


Epílogo

Uma Gota de Amor Divino
Somente Sri Chaitanya Mahaprabhu pode dar o conceito de teísmo pleno. É Sua graça, Sua doce vontade. É Sua própria riqueza, não é propriedade de muitos. Krishna é um autocrata. Ele é o supremo. Quem quer que Ele escolha para receber Sua própria riqueza vai recebê-la. Ninguém pode levantar a questão de que: "Não há cobrança de impostos sem representação" - não há lugar para tal tipo de propaganda aqui.
Bhaktivinoda Thakur se põe na posição de uma alma caída, a fim de nos ensinar, e diz: "Minha posição é de servo de Krishna, mas sou desprovido de Krishna. O que sou eu? Sou um escravo de Krishna, um escravo do Senhor, mas estou privado do meu Senhor? Que situação irônica". Pode se lamentar, sentir muito, condoer-se, mas todos os direitos pertencem a Ele. Obterá essa riqueza quando despertar para esse estágio elevado de auto-entrega. Ainda assim, temos de nos conscientizar de que Krishna está acima da lei.
Ao analisar as bases fundamentais da rendição, devemos perguntar onde começa a entrega? Não existem direitos na rendição total. A rendição será desnecessária sempre que se estabelecer qualquer direito. Não devemos pensar que: "É preciso lutar por nossos direitos naturais". Neste mundo e até certo ponto, podemos lutar por nossos direitos, mas não há lugar para essa mentalidade nos passatempos de Krishna.
"Todos Direitos Reservados"
Nem mesmo a deusa da fortuna, Lakshmidevi, pode entrar lá, o que dizer de outros. É inconcebível. Krishna não está sujeito a nenhuma lei, nem está sob o controle de ninguém. "Todos os direitos reservados". Tudo é Sua doce vontade. Mas Ele é absolutamente bom, esse é nosso consolo.
Não podemos entrar em Seu domínio como se fosse um direito. Mesmo o senhor Brahma, o Senhor Shiva e Lakshmidevi não podem entrar lá. Ainda assim, se seguirmos o caminho trilhado por Sri Chaitanya Mahaprabhu, poderemos entrar e alcançar uma posição lá.
Isso é tão querido, tão raro, tão valioso e desejável. Devemos procurar pela magnanimidade de Sri Chaitanya Mahaprabhu, desejada pelo senhor Brahma e pelo Senhor Shiva. Eles oram por uma gota de Sua misericórdia, mas Sri Chaitanya Mahaprabhu trouxe uma enchente e inundou todos com esse néctar, cuja uma única gota apenas é raramente obtida ou até mesmo pensada. Temos de nos aproximar de Sua misericórdia com essa atitude de anseio e expectativa. Quem pode compreender Sua misericórdia? Sua dádiva é tão grande e magnânima!
Ele nos leva direto ao lugar mais elevado, e elimina tantas coisas externas, com dois versos do Srimad Bhagavatam, um da boca do próprio Krishna, e o seguinte da boca de Uddhava. Krishna diz:
na tatha me priyatama
atma-yonir na sankarah
na ca sankarsano na srir
naivatma ca yatha bhavan
"Ó Uddhava! Nem Brahma, nem Shiva, nem Baladeva, ou Lakshmi - nem Eu próprio - são tão queridos por Mim como você".
E Uddhava diz:
asam aho carana-renu-jusam aham syam
vrndavane kim api gulma-latausadhinam
ya dustyajam svajanam arya-patham ca hitva
bhejur mukunda-padavim srutibhir vimrgyam
"As gopis de Vrindavana deixaram a companhia de seus maridos, filhos e outros membros familiares, muito difíceis de renunciar, e sacrificaram até mesmo os princípios religiosos para se abrigarem aos pés de lótus de Krishna, que são procurados até pelos Vedas. Oh! Conceda-me a grande sorte de nascer como uma folha de grama em Vrindavana, para que eu possa tomar a poeira dessas grandes almas em minha cabeça".
A Marcha Progressiva para a Divindade
A gradação do teísmo pode ser traçada desde o senhor Brahma, criador do universo, até Uddhava, o amigo íntimo de Krishna em Dwaraka. E Uddhava nos conduz diretamente a Vrindavana para revelar a devoção mais elevada, assim elimina vários planos em nossa marcha progressiva em direção à divindade. Temos de continuar a marcha. E o caminho é o da entrega, da devoção amorosa, e não mera devoção formal.
vaikuntaj janito vara madhu-puri tatrapi rasotsavad
vrndaranyam udara-pani-ramanat tatrapi govardhanah
radha-kundam ihap gokula-pateh premamrtaplavanat
kuryad asya virajato giri-tate sevam viveki na kah
"Mathura, onde Sri Krishna aparece primeiro, é superior ao reino espiritual de Vaikuntha. A floresta de Vrindavana onde Krishna desfruta da dança rasa é superior a Mathura. Melhor ainda é a colina de Govardhana, local de passatempos de amor mais confidenciais. Mas o melhor de todos é Radha-kunda, situado aos pés da colina de Govardhana, que mantém a posição suprema porque é inundado com o néctar de qualidade suprema do amor divino. Quem, familiarizado com a ciência da devoção, não aspira pelo serviço divino à Srimati Radharani no Radha-kunda"?
O Coração de Krishna
Devemos aplicar nossa fé nesses tópicos sutis. Só podemos ser conduzidos a esse local supremo através da fé de melhor qualidade. A concepção mais elevada está no coração de Krishna, não em qualquer outro lugar.
Embora os passatempos conjugais de Krishna com as gopis (madhurya-lila) sejam supremos, eles não podem permanecer sozinhos: Há muitas outras coisas presentes em Seus passatempos. Os passatempos de Krishna com Seus amigos e parentes são essenciais como suporte a Seus passatempos amorosos conjugais. É claro que o amor conjugal é o principal, mas mesmo assim, depende da outra parafernália dos passatempos de Krishna. Tem de haver a família de Krishna e Seus amigos, e todos os diversos grupos de servos. Mesmo o próprio ambiente de Vrindavana tem sua valiosa participação.
E o que é Vrindavana? A areia do rio Yamuna, a selva, os pássaros, pavões, e veados, as vacas, os meninos pastores de vacas, as cavernas da colina de Govardhana, os parentes maternos - tudo lá está, e é bem feito e muito adequado aos passatempos de Sri Krishna.
Vrindavana é necessária para os passatempos de Radha e Govinda. Quando Radharani se encontra com Krishna em Kurukshetra, Sua mente corre para Vrindavana. Ela pensa: "Krishna está aqui, e Eu também", mas Sua mente corre para Vrindavana. Srimati Radharani em Kurukshetra anseia pelo ambiente de Vrindavana; Ela quer ter a companhia de Sri Krishna lá. Todos os associados divinos e parafernália de Krishna têm seu valor único, e não podem ser eliminados.
Radha-Govinda não podem ser retirados de Vrindavana tanto quanto Sri Chaitanya Mahaprabhu não pode ser retirado de Navadwip. A coisa toda é um sistema. Uma parte não pode ser desconectada das outras partes. Todos os devotos têm um papel necessário a fim de criar a harmonia dos passatempos de Krishna. Se não fosse assim, não seria vida, mas morte, artificial, inútil. E isso não se pode nem imaginar. Krishna-lila é um todo orgânico.
Srimati Radharani diz: "Minha mente corre direto para Vrindavana. Tenho o objeto principal de prazer, Krishna em pessoa, mas isso é inútil sem a parafernália favorável de Vrindavana". Assim, a dor de separação de Radharani alcança o ponto máximo em Kurukshetra, onde Ela alcança o objeto de Sua união após uma longa separação. Krishna está bem perto ali, mas Ela não pode aproveitar realmente a união sem estar rodeada pela parafernália favorável de Vrindavana. Desse modo, Bhaktivinoda Thakura explicou o humor de Srimati Radharani em Kurukshetra.
Um Guru Revolucionário
Certa vez, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura revelou a importância de Kurukshetra de forma singular. As palavras de nosso guru maharaja na maioria das vezes eram muito revolucionárias. Quando eu era iniciante com apenas dois anos no Gaudiya Math, era encarregado do templo de Kurukshetra. Certa vez, cheguei no Math de Calcutá, situado numa casa alugada em Ulta Danga para o festival de pregação anual. Após o festival, voltava a Kurukshetra. Srila Prabhupada pensava em abrir uma "Exibição Teísta" em Kurukshetra, com exibições de dioramas (esculturas em barro cru e decoradas), como Krishna e Seus amigos vieram de Dwaraka, e as gopis vieram de Vrindavana.
O Srimad Bhagavatam menciona que durante o eclipse solar, todos eles vieram se banhar no Brahma-kunda, um lago sagrado em Kurukshetra. Srila Prabhupada queria mostrar esse passatempo com um diorama, e, assim, a exibição foi feita. Ele ordenou a impressão de vinte mil panfletos e que esses fossem distribuídos na área, a fim de convidar as pessoas para a exibição.
Vrindavana é para Pensadores Superficiais?
Ele nos disse a esse respeito: "Saibam todos que somente as pessoas falsas e sem valor, e homens de pensamento superficial gostam de Vrindavana". Fiquei muito perplexo ao ouvir isso. Sempre ouvi que Vrindavana é o lugar mais elevado de perfeição espiritual. Ouvi que quem não controlou os sentidos não pode entrar em Vrindavana. Tão só as almas liberadas podem entrar em Vrindavana e têm a oportunidade de discutir krsna-lila. Vrindavana é para as almas liberadas. Quem não se libertou das demandas dos sentidos pode viver em Navadwip, mas as almas liberadas podem viver em Vrindavana. Agora, Prabhupada dizia que pensadores superficiais apreciam Vrindavana, mas pessoas de verdadeiro bhajana, genuína aspiração divina, almejam viver em Kurukshetra.
Senti como se tivesse caído de cima de uma árvore quando ouvi isso. "O que é isso"? - pensei. Sou um ouvinte muito apurado, por isso, fiquei muito atento para compreender o significado de suas palavras. O próximo pensamento que nos deu, foi que Bhaktivinoda Thakura, após visitar muitos locais de peregrinação, afirmou: "Gostaria de passar os últimos dias de minha vida em Kurukshetra. Construirei uma cabana perto do Brahma-kunda e passarei o resto da minha vida lá. Kurukshetra é o verdadeiro local de bhajana".
Comerciantes Astutos
Por quê? O serviço é mais valioso conforme a intensidade da sua necessidade. Comerciantes astutos procuram um mercado em época de guerra porque nessa situação perigosa, o dinheiro é gasto como água, sem preocupação com seu valor. Eles podem ganhar mais dinheiro em época de guerra. Do mesmo modo, quando a necessidade de Srimati Radharani alcança seu auge, o serviço a Ela se torna extremamente valioso. O serviço é avaliado conforme sua necessidade. Srimati Radharani está na mais alta necessidade em Kurukshetra, porque Krishna está tão perto, mas Sua lila de Vrindavana é impossível. Se a bola num jogo de futebol estiver próxima do gol, e recuar em seguida, isso é considerado uma grande perda. Igualmente, Krishna está lá em Kurukshetra, após uma longa separação; assim, o anseio por união que Seus devotos sentem deve chegar ao ponto máximo, mas não podem se unir intimamente, porque Krishna age como rei. As circunstâncias não permitem que aconteça o Vrindavana lila. Nesse momento, Srimati Radharani necessita do serviço mais elevado do Seu grupo, as shakhis.
Bhaktivinoda Thakura diz que, nessa situação, uma gota de serviço concederá a maior quantidade de prema, amor divino. Existem dois aspectos nos passatempos de Radha-Govinda: sambhoga, união divina, e vipralambha, separação divina. Quando Radha e Krishna estão muito pertos um do outro, mas não podem Se unir intimamente, o serviço nesse momento pode conceder o maior ganho aos servos. Portanto, Srila Bhaktivinoda Thakura diz: "Construirei uma cabana na margem do Brahma-kunda em Kurukshetra e aspirarei prestar serviço ao Casal Divino. Aí, não haverá possibilidade de voltar a este plano mundano em nenhum momento, se eu puder alcançar esse padrão onde o prospecto de serviço é tão elevado".
A Quinta Nota
Srimati Radharani disse, ao chegar em Kurukshetra:
pryah so'yam krsnah sahacari kuru-ksetra-militas
tathaham sa radha tad idam ubhayoh sangama-sukham
tathapy antah-khelan-madhura-murali-pancama-juse
mano me kalindi-pulina-vipinaya sprhayati
"Queridas amigas, por fim, agora estou reunida com Meu mais querido Krishna em Kurukshetra. Sou a mesma Radharani, e Ele é o mesmo Krishna. Desfrutamos de Nosso encontro, mas, ainda assim, desejo voltar à margem do Kalindi onde podia ouvir a doce melodia de Sua flauta que soava a quinta nota embaixo das árvores da floresta de Vrindavana" (Padyavali).
Vrindavana é necessária, onde quer que Radharani e Krishna estejam. E Vrindavana significa a parafernália favorável. Assim, Vrindavana é inigualável.
Quando Krishna, após sua longa separação, encontrou-se com os habitantes de Vrindavana em Kurukshetra, primeiro veio ao acampamento de Nanda e Yashoda para lhes mostrar respeito paternal. Eles sentiram, em meio a seu grande desapontamento, que: "Oh! Finalmente nosso filho veio nos ver". Era como se a vida tivesse retornado aos mortos. Krishna cuidou para se encontrar com as gopis, privadamente, após lhes conceder alguma cortesia, e apareceu de súbito no acampamento delas. Krishna era externamente o líder de tantos reis na Índia. E as gopis vieram de um lugar desconhecido, onde viviam na selva, na sociedade dos leiteiros. Elas não tinham nenhuma posição externa, e Krishna tinha a posição mais exaltada na sociedade política e real. Ele era a figura central, como a menina dos olhos de todos. E elas estavam numa situação desamparada, pobre e negligenciada. As gopis apelaram a Krishna e disseram:
ahus ca te nalina-nabha padaravindam
yogesvarair hrdi vicintyam agadha-bodhaih
samsara-kupa-patitottaranavalambam
geham jusam api manasy udiyat sada nah
O grupo das gopis disse a Krishna: "Ó Você que tem umbigo de lótus, sabemos que os grandes mestres yogis que não têm nada a ver com este mundo mundano tentam meditar em Seus pés de lótus. O interesse deles é de realização superior no mundo consciente. É dito que eles concentram sua maior atenção em Seus pés de lótus. E aqueles que estão ocupados em incrementar suas vidas neste mundo de exploração também estão ocupados em adorar Seus pés de lótus para escaparem do emaranhamento da ação e reação. Seus pés de lótus são o centro dos interesses dos elevacionistas (karmis) e dos salvacionistas (jñanis e yogis)".
O Krishna Pastoril
"E o que somos nós? Somos apenas pessoas do campo, e as vacas são nossa riqueza. Somos criadoras de vacas que vivem no campo, do comércio no ramo de gado leiteiro, e da venda de coalhada e leite nos subúrbios da sociedade. Não somos exploradores científicos (karmis), nem o tipo de exploradores que pesquisam o mundo da consciência. Só conhecemos a vida familiar. Não temos outras qualificações.
Estamos ocupadas com nossas vidas familiares nas classes mais baixas da sociedade. Mas em nossa audácia, oramos para que saiba que nos sentiríamos abençoadas, se, em qualquer momento, concordasse bondosamente em estender Seus pés de lótus até nossos corações desprezíveis. Estamos ocupadas em nossos afazeres familiares. Não conhecemos a vida das escrituras ou os métodos dos salvacionistas. Não sabemos nada de yoga, jñana, Vedanta ou dos Vedas. Nossa preocupação principal não é com as escrituras ou padrões morais. Mantemos uma posição insignificante na sociedade e apenas oramos para podermos nos lembrar de Seus pés de lótus em meio a nossa vida doméstica. Por favor, conceda-nos isso. Não podemos esperar mais nada de Você". Assim foi a petição delas.
Krishna respondeu, e disse:
mayi bhaktir hi bhutanam
amrtatvaya kalpate
distya yad asin mat-sneho
bhavatinam mad-apanah
"Sim, Eu sei. As pessoas desejam devoção a Mim para alcançarem a vida eterna. Elas vêm a Mim e Me adoram para atravessarem o limite da mortalidade e obter vida eterna. Elas desejam Meu serviço por essas razões, mas vocês, felizmente, possuem alguma afeição natural por Mim. Isso as trará finalmente a Mim".
Esse é o significado formal e superficial da conversa entre Krishna e as gopis. Mas os grandes preceptores em nossa linha extraíram outro significado dessas preces. Eles são conscientes da verdadeira relação íntima de ambas as partes. Portanto, concederam um outro significado baseado no sentimento divino entre o amante e o amado.
Quando as gopis oraram a Sri Krishna em Kurukshetra, seu verdadeiro propósito era o seguinte: "Oh, lembramos que um dia enviou Uddhava para nos consolar. Ele recitou muitas referências das escrituras sobre como o mundo é mortal, como não é nada, como todos iremos morrer, afeição não tem muito valor, o apego deve ser cortado. Disse que devemos tentar nos livrar de qualquer atração pelo ambiente e alcançar salvação. Queria nos dizer todas essas coisas aparentemente doces através de Uddhava. Agora, pessoalmente nos mostra o mesmo caminho. Diz que é grande e que todos devem tentar pensar em Você, para seu maior interesse". Essa explicação se encontra no Sri Chaitanya Charitamrita. As gopis dizem a Krishna: "Pensa que somos yogis e que ficaremos satisfeitas em meditação abstrata em Você? Poderemos nos satisfazer através da imaginação? Não fazemos parte disso. Nem somos karmis, trabalhadores lucrativos que só incrementam sua grande dívida com a natureza, que vêm à Sua porta para obter alívio, e oram: 'Ó Deus, alivie-nos de nossos pecados prévios'. Não pertencemos a nenhuma dessas duas categorias".
"Quem somos? Queremos viver com Você como Sua família. Não estamos interessadas em coisas abstratas nem em eliminar os erros de karma para anular as atividades pecaminosas. Não queremos usá-Lo para nenhum outro propósito. Queremos ter uma vida familiar direta com Você. Não sabe disso? E ainda assim envia mensagens através de Uddhava, e agora isto! Não tem vergonha"? Esse é o significado interno.
Resposta Íntima de Krishna
A resposta de Krishna também possui um aspecto interno. Ele responde: "Vocês sabem, todos Me querem. Desejam que os ajude a alcançar a posição mais elevada no mundo de benefício eterno através da devoção. Eles se consideram afortunados se possuírem uma conexão Comigo. Mas por outro lado, considero-Me afortunado por ter entrado em contato com a valiosa afeição que encontro em seus corações".
As gopis leram o significado interno dessa forma. E quando Radharani pôde ver o significado interno da resposta de Krishna, ficou satisfeita. Ela pensou: "Onde quer que Ele esteja no sentido físico, Ele é somente Meu de coração". Ela recompôs Seus problemas interiores e voltou a Vrindavana com o pensamento: "Ele não tem saída senão Se juntar novamente a nós muito em breve".
Srila Rupa Goswami Prabhupada revela o significado interno desse verso no Padyavali. Quando Krishna veio ao acampamento das gopis em Kurukshetra, encontrou Srimati Radharani de súbito e curvou-Se como se fosse tocar nos pés Dela. Radharani recuou e disse: "Que faz! Tentou tocar nos Meus pés"? Ela estremeceu: "Não fez nada de errado. É o Meu mestre. Tem liberdade de fazer o que quiser. Sou Sua criada e tenho de tentar satisfazê-Lo com cada nervo. Não cometeu nenhum crime. Eu é que sou a criminosa. Como é isso? Eu ainda mantenho Meu corpo e Minha vida. Esse é o crime - Não pude morrer de saudade de Você! Ainda mostro minha face ao público - sou indigna de Seu afeto divino. Todo o peso de quebrar a lei do amor está sobre Minha cabeça".
Nem uma Gota de Amor Divino
Srimati Radharani falou desse modo. Sri Chaitanya Mahaprabhu diz num verso similar:
na prema-gandho'sti darapi me harau
krandami saubhagya-bharam prakasitum
vamsi-vilasy-anana-lokanam vina
vibharmi yat prana-patangakan vrtha
"Não tenho nem mesmo uma única gota de amor divino por Krishna dentro de Mim. Não se encontra nenhum vestígio de amor por Krishna dentro de Mim. Pode perguntar: 'Então, por que derrama lágrimas profusamente, sem interrupção? Dia e noite, está sempre a derramar lágrimas por Krishna. Como explica isso'? Oh, não sabe! Faço isso só para aparecer e enganar as pessoas em geral para que pensem que tenho amor divino por Krishna. Mas sou um hipócrita. Por que digo isso? A prova positiva é essa: ainda estou vivo. Não pude morrer! Eu teria morrido de separação de Krishna se tivesse algum amor verdadeiro por Ele. Essa é a prova positiva de que não tenho nenhum vestígio de krsna-prema dentro de Mim".
Krishna-prema é tão elevado e atraente que ninguém pode manter a vida sem ele após ter entrado em contato. É tão elevado, tão belo, tão encantador - devora o coração! É impossível até mesmo concebê-lo. O amor divino em tão alto nível é conhecido como prema. Esse amor divino por Krishna não é para ser detectado neste mundo mundano. Se alguém por um acaso experimentar esse tipo elevado e vital de devoção, morrerá instantaneamente se houver qualquer separação dela. É tão bela e magnânima. Nosso propósito é procurar por esse amor divino neste mundo. E Sriman Mahaprabhu veio distribuir isso ao mundo para nosso bem.
"Tomemos Veneno..."
Ouvi dizer que um grupo de pessoas na América do Sul cometeu suicídio coletivo ao sentir que seu modo de vida crente seria destruído pela presente civilização. Eles não puderam suportar isso, e pensaram: "Tomemos veneno e deixemos este mundo para trás. Assim poderemos viver em segurança no mundo de nossa fé. Não temos nenhuma atração por qualquer coisa neste mundo mundano. Vamos em paz. Somos membros do mundo pacífico. Desfrutemos dessa paz que é independente da aquisição material".
Embora concordemos que não há encanto aqui que nos faça hesitar de nos removermos deste mundo, temos de discordar e dizer que nossa vida neste mundo é valiosa. Por quê? Podemos obter uma aspiração superior nesta vida. Temos a chance de adquirir o objetivo aqui neste plano. A vida humana é tão valiosa, pois nela podemos seguir o caminho da concepção divina suprema. Este corpo humano é altamente avaliado e raramente alcançado. O Srimad Bhagavatam (11.9.29) afirma:
labdhva su-durlabham idam bahu-sambhavante
manusyam artha-dam anityam apiha dhirah
turnam yateta na pated anu-mrtyu yavan
nihsreyasaya visayah khalu sarvatah syat
"A forma humana de vida é raramente obtida e, embora temporária, dá a chance de alcançar o objetivo supremo da vida. Portanto, aqueles que são sérios e inteligentes devem se esforçar imediatamente pela perfeição antes que outra morte ocorra. Há tantas formas de vida: aquáticos, reino vegetal, animais, pássaros, fantasmas e outros seres vivos, mas somente na posição humana é que possuímos a chave para completar a solução dos problemas da vida".
Se usarmos a vida humana de forma valiosa, conseguiremos a chave para nos livrarmos da cadeia da vida neste mundo problemático. Podemos nos livrar do cativeiro de todos os tipos de problemas mentais e físicos. A chave está aqui, nesta forma humana de vida. Jiva Goswami diz que formas inferiores de vida possuem compreensão insuficiente para realizar a verdade suprema. E nas formas de vida superiores, como as de semideuses, por terem previamente adquirido energia ou karma acumulado por todos os lados, os elementos de desfrute principais rodeiam os seres vivos. É muito difícil conseguir se livrar do encanto dessas influências e iniciar o prospecto de uma vida nova num plano superior de consciência. Esta forma humana de vida é a posição mais vantajosa para escapar do enredamento e alcançar o objetivo supremo de nossa vida divina.
O Conceito Supremo de Magnanimidade
As pessoas perguntam, às vezes: "Por que Sri Chaitanya Mahaprabhu escolheu a classe mais baixa, as pessoas de kali-yuga, para dar a concepção mais elevada de amor divino - krsna-prema"? Mas essa é a própria natureza de Sri Chaitanya-avatara. Por que as gopis são consideradas como os devotos mais exaltados e provêm de uma posição social desprezível? Qual é o significado do mais alto conceito de magnanimidade? Como deve ser sua natureza? Ajudar os mais necessitados.
Sri Chaitanya Mahaprabhu vem da posição mais elevada, por isso não pode dar coisas comuns; Ele tem de dar as coisas mais valiosas, e Sua atenção é voltada aos mais necessitados. Isso não é natural? A magnanimidade suprema deve atender os mais baixos e necessitados. E se Ele deseja ajudá-los, fará com Sua própria moeda. Ele não pode distribuir somente vidro ou pedras baratas. Por que procuraria por pedras baratas para distribuir ao nível inferior, enquanto possui a opulência de jóias e pedras preciosas? Ele deve estender aos inferiores e pobres o que considera ser verdadeira riqueza.
Mahaprabhu - O Grande Messias
Portanto, todos nós deveríamos cair aos pés do grande Messias, Sri Gauranga Mahaprabhu. Seus devotos dizem: "Se tivéssemos que conceber um lugar onde Gauranga não tivesse aparecido, não poderíamos manter nossas vidas. Nós estremecemos ao pensar em viver sem um amigo tão magnânimo como Sri Gauranga". Como se pode viver a vida sem Gauranga? É impossível. Não vale a pena viver no mundo sem Gauranga.
Sri Gauranga é o mais magnânimo. Sri Chaitanya Mahaprabhu e Seus companheiros do Pañcha-tattva vieram para elevar todas as almas de suas condições caídas. Em geral, somente os merecedores podem adentrar em Vrindavana, em krsna-lila. Mas Krishna em pessoa vem como Sri Chaitanya Mahaprabhu para curar os ofensores de suas ofensas e lhes garantir entrada em Vrindavana. Podemos nos purificar até mesmo da posição mais baixa e nos prepararmos para a participação em Vrindavana lila, simplesmente por cantar os nomes do Pañcha-tattva e lembrar o lila Deles.
Radha-Govinda desfrutam Seus passatempos de amor divino em Seu próprio círculo em Goloka Vrindavana. E existe uma outra região onde Radha-Govinda estão combinados como Sri Chaitanya Mahaprabhu - o próprio Krishna no humor de Radharani saboreia Sua própria doçura com Seu ambiente. Temos de realizar isso através do processo recomendado. Quem é Sri Chaitanya Mahaprabhu? Ele veio aqui para conceder a dádiva que nos promoverá ao objetivo supremo da vida.
Consciência de Gaura
Trazer Sri Gauranga para perto de nossa alma é obter, mesmo inconscientemente, uma garantia de alcance em krsna-lila. É mais útil para a alma caída cultivar devoção a Sri Gauranga. Isso nos dará a completa satisfação da vida com o mínimo de problema. Devoção a Gauranga não nos conduzirá a nenhuma consciência de Krishna casual ou mal concebida, mas sim à verdadeira consciência de Krishna. Podemos ter consciência de Krishna plena com a ajuda da consciência de Gaura. Depois de desenvolver devoção a Sri Gauranga, seremos capazes de sentir que consciência de Sri Gauranga também inclui consciência de Krishna - com algo a mais. O que é isso? A distribuição da consciência de Krishna.
Krishnadasa Kaviraja Goswami, quem nos deu o Sri Chaitanya Charitamrita, a literatura teológica mais valiosa que já viu a luz do dia, escreveu:
krsna-lila amrta-sara, tara sata sata dhara,
dasa-dike vahe yaha haite
se caitanya-lila haya, sarovara aksaya,
mano-hamsa caraha' tahate
"O que é krsna-lila? É a verdadeira essência do néctar. É o âmago da doçura, felicidade, e êxtase. A doçura do que se pode conceber de mais doce é representada em krsna-lila. Então o que é chaitanya-lila? Esse doce néctar de krsna-lila flui nas dez direções em centenas de córregos de uma fonte no chaitanya-lila". Embora chaitanya-lila tenha aparecido depois de krsna-lila, chaitanya-lila é a fonte, o alicerce. Vimos que Krishna apareceu em dwapara-yuga, a era prévia, e depois Sri Chaitanya Mahaprabhu apareceu mais tarde, na kali-yuga. Ainda assim, o lila Deles é eterno. Primeiro vem o doador, depois a dádiva. E a dádiva de Sri Chaitanya Mahaprabhu é que distribui rios ilimitados do doce krsna-lila neste mundo e nas dez direções.
Krishnadasa Kaviraja Goswami conclui: "Ó devotos, venham! Devem nadar no lago dos passatempos de Sri Chaitanya Mahaprabhu como muitos cisnes. Krishna-lila flui desse lago em direção ao mundo em vários córregos. Devotos, como nuvens, pegam o néctar desse lago, e distribuem o néctar gratuitamente às almas afortunadas. Venham e vivam nesse lago. Que esse cisne nade no lago nectáreo da vida e ensinamentos de Sri Chaitanya Mahaprabhu, de onde fluem centenas de córregos em todas as direções. Ó devotos, ofereço-lhes esta humilde prece".
Nitai Gaura Hari Bol!