Vulcão Dourado de Amor Divino - União na Separação


União
na
Separação

aslisya va pada-ratam pinastu mam
adarsanam marma-hatam karotu va
yatha tatha va vidadhatu lampato
mat-prana-nathas tu sa eva naparah
Tradução
"Krishna pode me abraçar com amor
ou me esmagar sob Seus pés.
Ele pode partir meu coração
ao Se esconder de mim.
Que esse sedutor faça o que quiser,
mas será sempre o único
Senhor da minha vida".
Iluminação
Esse é o melhor remédio para os devotos. Chegamos no ponto de medir o incomensurável, mas sempre temos de abraçar esse princípio. Devemos lembrar que Ele é infinito ao tentarmos a conexão com o infinito Senhor de amor e beleza. Ele é único para nós, mas há tantos devotos como nós com quem tem de lidar. Ele pode nos abraçar com afeição e adoração, mas temos de estar preparados para o oposto. Podemos nos agarrar a Seus pés, e Ele pode cruelmente pisar em cima de nós. Agarramo-nos a Seus pés de lótus com muita esperança, com todo o coração; ainda assim, vemos que Ele pisa em nós e nem liga para todo nosso esforço e afeto.
Pode ser que nos esforçamos ao máximo e descobrimos que nossa oferenda foi desonrada cruelmente. Ele pode nos abraçar, mas ao mesmo tempo, temos de estar preparados, pois Suas ações podem ser extremamente cruéis. Ele pode esmagar todas as nossas oferendas com Seus pés. Temos de estar preparados tanto para Sua adoração como para Sua negligência cruel. Temos de nos preparar para todas as circunstâncias adversas.
Krishna pode ser indiferente; pode nem ligar. Está perto quando nos pune, mas Sua indiferença é mais intolerável do que punição. O devoto pensa que: "Krishna me ignora e negligencia tanto que não gosta de manter qualquer conexão comigo. Será que Ele me conhece? Será que sou um estranho, um desconhecido para Ele"? Podemos aceitar punição como benefício, mas indiferença é muito mais penosa.
A dor de separação sentida por um devoto pode subir mais um degrau ainda. Krishna pode abraçar outro afetuosamente bem na nossa frente, cara a cara, sem ligar a mínima para nós. Podemos pensar: "Isso é meu clamor, meu direito", mas pode dar a outro bem na nossa cara. Isso nos causará mais problema.
A lei do afeto é assim. A lei do amor não tolera indiferença. É demais para tolerar, mas temos de estar preparados para isso. Precisamos nos preparar desde o início, pois esse é o significado de krsna-prema, o amor divino por Krishna - porque Ele é um autocrata, Ele é amor. Amor divino quer dizer misericórdia, e, não justiça. Não possui leis. E escolhemos amor divino como nossa fortuna máxima, temos de estar preparados para sermos tratados injustamente. Não há justiça no amor divino; este é livre. Pode fluir onde quer que deseje. Assim é a natureza do amor divino, não podemos reclamar - não temos direitos.
Assim é a natureza da coisa suprema, e é extremamente rara. Apego a esse princípio sem hesitação é fundamental para nós. É o amor verdadeiro, e deve estar preparado para ele. A natureza verdadeira de krsna-prema é o morrer para viver em todas as circunstâncias adversas. Se puder conciliar todos os diferentes estágios - bom ou mau - poderá entrar nesse plano exaltado.
Amor Acima da Lei
Justiça está dentro da lei; misericórdia está acima da lei. Prema, amor divino, também está acima da lei, mas possui sua própria lei. Srila Rupa Goswami Prabhupada concedeu-nos outro verso cujo significado corre em paralelo a esse:
viracaya mayi dandam dinabandho dayam va
gatir iha na bhavatah kacid anya mamasti
nipatatu sata-koti nirbharam va navambhas
tad api kila payodah stuyate catakena
Existe um tipo de pássaro pequeno chamado chataka que só bebe água da chuva. Ele nunca bebe água da terra, mesmo de rios, fontes ou lagos. Naturalmente, ele fica com o bico para cima, e anseia pela água da chuva. Srila Rupa Goswami Prabhupada dá esse exemplo para mostrar como o devoto deve agir sempre na expectativa da "água de chuva" do amor de Krishna, e de nenhum outro amor.
O devoto ora ao Senhor: "É o amigo dos caídos, por isso ainda tenho alguma esperança. Pode me conceder Sua graça, ou me punir severamente - em ambos os casos, não tenho alternativa senão me render plenamente a Seus pés de lótus".
Nossa atitude de entrega deve ser como a do pássaro chataka, que está sempre com os olhos para cima, a suplicar por água de chuva. A água da chuva pode vir profusamente - não só o suficiente para encher seu pequeno estômago, mas o bastante para afogar todo o seu corpo. Poderão surgir trovões; poderá cair um raio do céu e acabar com seu pequeno corpo, e mandá-lo à região de inexistência, mesmo assim, a natureza do pássaro faz com que suplique exclusivamente pela água da chuva. Ele não tomará água de nenhum outro lugar em nenhuma circunstância. Nossa atitude com Krishna deve ser assim: se Ele estender ou não Sua mão graciosa para nós, nosso dever é de nos rendermos a Ele.
Veio-me à memória um verso a esse respeito. Quando Sri Krishna se encontrou com Srimati Radharani e as gopis em Kurukshetra, após uma longa separação de talvez cem anos, sentiu que havia cometido um grande crime por Se separar delas. Ao Se aproximar das gopis, especialmente Srimati Radharani, e ao lembrar Suas qualidades de amor e rendição, sentiu-Se o maior dos criminosos, ao ponto de Se curvar para tocar os pés de lótus de Radharani.
Um poeta representou a cena dessa forma, e o poema foi coletado por Rupa Goswami em seu Padyavali. Krishna era o rei supremo da Índia naquela época. Mas quando entrou em contato com as gopis e a atmosfera de Vrindavana, sentiu-Se como um criminoso, e Se prostrou para tocar os pés de lótus de Radharani, quando Radharani, recuou e disse: "Que está fazendo? Por que quer tocar nos Meus pés? É espantoso. Será que perdeu a cabeça?
"Eu sou a Verdadeira Criminosa"
"É o mestre de tudo. Ninguém pode questioná-Lo. É swami. É Meu esposo e mestre, e sou Sua serva. É certo que estava ocupado em alguma outra parte, mas qual é o problema? Qual foi a falta que cometeu? Isso não importa, pois as escrituras e a sociedade Lhe concedem esse direito. Não foi nenhum crime e nenhum pecado de Sua parte. Não fez nada de errado".
"Eu sou a verdadeira criminosa. A maldade é Minha, o defeito é todo Meu. Não é responsável por Nossa separação, então porque Se considera culpado, ou como que cometeu algum erro? A prova positiva de que Eu sou a verdadeira criminosa é que, mantenho Minha vida, não morri por causa das dores da Sua saudade".
"Mostro Minha face ao mundo, mas não sou fiel a Você. Não consegui Me aproximar do padrão de fé que deveria ter mantido para o Seu amor, por isso a criminosa sou Eu, não Você. Está escrito nas escrituras dos santos que a esposa deve ser grata e exclusivamente devotada ao marido. As escrituras nos dão essa ordem. Uma mulher deve se devotar exclusivamente ao esposo, seu senhor. Portanto, devo cair a Seus pés neste encontro e implorar por Seu perdão, por Sua clemência, pois não tenho verdadeiro amor por Você. Mantenho este corpo, e apareço para a sociedade; não sou uma parceira digna de Você, por isso, por favor, perdoe-Me. Pede meu perdão? É o oposto de como as coisas deveriam acontecer. O que é isso? Por favor, não faça isso".
Nosso ideal de afeição por Krishna deve ser assim. Nós, o finito, devemos ter essa atitude para com o infinito. Ele pode nos dar um pouco de atenção a qualquer momento, mas devemos estar sempre totalmente atentos a Ele. Não há outra alternativa. Sri Chaitanya Mahaprabhu nos aconselha a nos devotarmos exclusivamente a Krishna, e porque somos insignificantes, nossa atitude tem de ser desse tipo.
Se queremos algo tão grandioso, não é nenhuma injustiça sermos tratados tão hostilmente. Nosso prospecto, compreensão, e adaptação devem ser de auto-sacrifício e auto-esquecimento, do mesmo modo quando alguém vai lutar por seu país na guerra, não há lugar para luxo ou desejos supérfluos.
Tenho uma lembrança a esse respeito de quando Gandhi reuniu seu exército de não-violência, um dos soldados voluntários perguntou: "Por favor nos consiga chá". Gandhi disse a ele: "Podemos lhe dar a água do rio, mas nenhum chá. Se está pronto para isso então siga em frente". Se queremos nos conectar com Vrindavana-lila de Krishna, não podemos impor nenhuma condição. Aí sim compreenderemos o método recomendado por Sriman Mahaprabhu: humildade maior do que a da folha de grama. Somente assim não haverá reclamação de nossa parte. Qualquer reclamação nossa, não somente na posição externa da presente vida, mas mesmo na vida eterna, deve ser examinada cuidadosamente e devemos aceitar plenamente os caminhos do Senhor. Krishna pode nos aceitar ou nos rejeitar; temos de correr esse risco. Só assim progrediremos.
Se de alguma forma pudermos entrar no grupo dos servos de Krishna, veremos que cada um tem a natureza de se consolarem mutuamente, quando estão reunidos em seus grupos respectivos. Existem diferentes relações de serviço e várias seções de servos de natureza similar, e eles se consolam mutuamente com conversas sobre Krishna (krsna-katha).
Krishna diz no Bhagavad-gita (10.9 e 12):
mac-citta mad-gata prana
bodhayantah parasparam
kathayantas ca mam nityam
tusyanti ca ramanti ca
"Meus devotos se reúnem, falam de Mim, e compartilham seus pensamentos que consolam seus corações. E eles vivem como se essa conversa sobre Mim fosse seu alimento. Ela lhes dá um tipo elevado de prazer, e descobrem que, quando falam de Mim entre si, sentem como se desfrutassem da Minha presença".
tesam evanukampartham
aham ajnana-jam tamah
nasayamy atma-bhavastho
jnana-dipena bhasvata
"Às vezes, quando o sentimento de saudades de Mim é muito intenso em Meus devotos, apareço de repente perante eles e sacio sua sede por Minha companhia".
Doçura com Dor
Sri Chaitanya Mahaprabhu deu um outro tipo elevado de consolo ultra refinado no último verso do Seu Shikshastakam. Este foi confirmado por Krishnadasa Kaviraja Goswami, que escreveu:
bahye visa-jvala haya bhitare anandamaya
krsna-premara adbhuta carita
"Não tema. Pode sentir uma dor horrível de saudade externamente, mas, internamente, sentirá um tipo de rasa sem igual, o mais agradável sentimento de paz, alegria ou êxtase".
Externamente, há muitas dores de separação, mas internamente, a maior satisfação.
As escrituras nos aconselham desse modo, e nossa experiência prática confirma nossa fé nesse particular. O poeta inglês Shelley escreveu:
"Nosso riso sincero
É fértil de alguma dor;
Nossas canções mais doces são aquelas
Que contam o mais triste do amor".
Quando lemos um épico em que há uma separação cruel do herói e da heroína, isso é tão doce que não conseguimos largar o livro, mesmo com derramamento de lágrimas. É muito doloroso quando ouvimos a respeito do sofrimento de Sita-devi, de como Ela foi banida por Ramachandra e abandonada na floresta mesmo quando era criança. Derramamos lágrimas, mas continuamos a ler. Existe doçura na dor. Isso é possível.
A separação de Krishna é assim. Essa é a característica especial de krsna-prema: sentimos externamente dor extrema como fogo da lava, mas nosso coração é saturado com uma extraordinária alegria extática. Foi isso que Sri Chaitanya Mahaprabhu nos deu. Estaremos preparados para esse tipo de vida, na medida em que capturarmos o significado de Suas instruções. Essa é a tarifa que se paga para ir a Vrindavana, e, quando formos apresentados a tantos outros como nós, nossa alegria não terá limite. Obtemos consolo quando nos encontramos com outros de mesma natureza e mentalidade. Não precisamos temer. Devemos pensar convictamente que aquele é nosso lar e, apesar de tudo, devemos desejar voltar ao lar, de volta ao Supremo.
Lá não somos estrangeiros. Somos estrangeiros aqui: cada pessoa me trata do jeito que quiser. Mas Vrindavana é auspiciosíssima e plena do mais elevado prospecto. É o lugar da satisfação interna. Ansiamos por isso; não podemos deixar de ansiar por nosso verdadeiro lar. Qual é a verdadeira alegria e êxtase? Não temos ciência disso. Esse é nosso problema atual. Mesmo assim, vamos nos conscientizar sobre um sentimento prático de verdadeira alegria e êxtase, beleza e encanto, à medida que progredimos na consciência de Krishna, e, dessa forma, iremos nos encorajar cada vez mais.
Yamunacharya diz:
yad-avadhi mama cetah krsna padaravinde
nava-nava-rasa-dhamany udyatam rantum asit
tad-avadhi bata nari-sangame smaryamane
bhavati mukha-vikarah susthu nisthivanam ca
"O prazer mundano era o mais importante para mim antes de entrar em contato com o amor de Krishna em Vrindavana; mas agora, se vier algum sabor mundano em minha memória, minha face se desfigura, e cuspo no meu pensamento".
Se obtivermos um mínimo de gosto por esse êxtase, concluiremos imediatamente que não pode haver comparação entre ele e qualquer paz ou prazer aqui deste mundo mundano. Ao mesmo tempo, quando nos estabelecemos nessa atmosfera, nenhuma dor poderá nos perturbar ou afetar de jeito nenhum.
Existe um outro lado também: apesar de recebermos o conselho de nos prepararmos para a separação dolorosa, o fato não é assim tão cruel na realidade. Krishna diz, mayi te tesu capy aham: "Estou sempre com Meus devotos". Onde quer que haja um devoto exclusivo, Krishna está lá como sua sombra, sempre a Se mover invisível atrás dele. Assim é a natureza do Senhor:
aham bhakta-parardhino
hy asvatantra iva dvija
sadhubhir grasta-hrdayo
bhaktair bhakta-jana-priyah
O Senhor disse a Durvasa: "Sou escravo de Meus devotos; não tenho liberdade separada do desejo deles. Meu coração é controlado por eles, e moro sempre em seus corações, porque são completamente puros e devotados a Mim. Não dependo apenas de Meus devotos, mas até dos servos de Meus devotos. Mesmo os servos de Meus devotos são queridos por Mim".
Krishna não é um Doce
Devemos estar preparados para qualquer circunstância desfavorável, mas não devemos nos desencorajar. Krishna é muito afetuoso; Sua preocupação conosco é a mais intensa e sincera. Sua afeição por nós não tem rival. Mesmo assim, Sriman Mahaprabhu nos deu um aviso nesse verso: "Começou a busca de Krishna? Krishna não é um doce que se compra no mercado e se consome facilmente. Ao tentar obter o mais elevado do Supremo, deve estar preparado para tudo".
Ao mesmo tempo, os devotos virão e dirão: "Não tenha medo. Somos como você. Vamos caminhar juntos numa linha reta. Não tema - estamos aqui". Disseram-nos que os devotos de Krishna são mais complacentes do que o próprio Krishna. O consolo de nossas vidas e nossa fortuna são Seus devotos, e Krishna diz: mad bhaktanam ca ye bhakta: "Aquele que é servo do Meu servo é Meu verdadeiro servo". Sadhu-sanga, associação com santos, é o que há de mais importante e valioso para nós. Nossa associação é nossa guia para avançar e progredir em direção ao infinito; é o mais importante. Devemos nos agarrar ao infinito; é o mais importante. Devemos nos agarrar a essa conclusão:
'sadhu sanga', 'sadhu sanga', - sarva sastre kaya
lava-matra sadhu-sange sarva-siddhi haya
As escrituras concluem que toda perfeição pode ser alcançada com a ajuda dos santos. Nossa maior riqueza para alcançar o objetivo supremo é a boa associação.