Siga os Anjos é uma publicação oportuna que
certamente irá entusiasmar todos os seres sinceros que estão na busca
pelo plano superior da verdade. O Srimad Bhagavatam, a escritura
sublime jamais vista, confirma que para avançar na vida espiritual é
necessário seguir os passos dos devotos do Supremo Senhor.
bhavanti purusa loke mad-bhaktas tvam anuvratah
bhavan
me khalu bhaktanam sarvesam pratirupa-dhrk
"Aqueles que seguem o seu exemplo certamente vão se
tornar Meus devotos puros. Você é o melhor exemplo como Meu devoto, e os
outros devem seguir seus passos" (Bhag. 7.10.21).
Siga os Anjos
O
Caminho da Dedicação
Swami B. R. Sridhara
Mandala
Publishing Group
Editores Seniores
Tridandi Gosvami Sri Sripada Bhakti Gaurava
Narasingha Maharaja
e
Tridandi Gosvami Sri Sripada Bhakti Bhavana Visnu
Maharaja
Com a ajuda de inúmeros eternos aspirantes a servos
de Sri Sri Guru e Gauranga
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Primeira impressão: 2001 edição limitada 3.000
cópias
© Direitos Autorais 2001 de Gosai Publishers
Impresso por Srinivas Fine Arts (P) Ltd.,
Bangalore, Índia
para o Mandala Publishing Group
ISBN 1-886069-30-1
Sumário
Prefácio
Introdução
Sobre o Autor
Parte Um
O Conceito de Krsna
Parte Dois
Siga os Anjos
Parte Três
Altas Conversas
Índice
Prefácio
Nossa maior boa sorte é ter até mesmo o menor toque
da Divindade. Isso se torna possível quando, pela vontade do Supremo, a
pessoa é posta em conexão com o agente do Senhor, o mestre espiritual
autêntico.
O ser finito jiva encontrará tudo que é
necessário para a nutrição de seu anseio espiritual interior no agente
do Supremo Senhor. A pessoa progride facilmente no caminho da dedicação
com o entusiasmo que vem das palavras e do contato com o mestre
espiritual.
Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami Maharaja,
em Siga os Anjos, ilumina o caminho da dedicação com a descrição
em detalhes dos tópicos mais refinados para o entendimento necessário ao
nosso avanço na vida espiritual.
Srila Sridhara Maharaja fala aos seus leitores do
fundo de sua experiência subjetiva sobre a Verdade Absoluta. A
orientação que recebemos em Siga os Anjos é de valor incalculável
na marcha do ser em direção à Eternidade. Nós portanto rogamos a todos
que tiveram a extrema boa sorte de ler este livro, que ouçam Sua Divina
Graça com o maior cuidado e atenção, pois como se diz nos círculos
eruditos, "Quando sábios falam, sábios escutam".
Introdução
Siga os Anjos é uma publicação oportuna que
certamente irá entusiasmar todos os seres sinceros que estão na busca
pelo plano superior da verdade. O Srimad Bhagavatam, a escritura
sublime jamais vista, confirma que para avançar na vida espiritual é
necessário seguir os passos dos devotos do Supremo Senhor.
bhavanti purusa loke mad-bhaktas tvam anuvratah
bhavan
me khalu bhaktanam sarvesam pratirupa-dhrk
"Aqueles que seguem o seu exemplo certamente vão se
tornar Meus devotos puros. Você é o melhor exemplo como Meu devoto, e os
outros devem seguir seus passos" (Bhag. 7.10.21).
O autor Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami
Maharaja, o ilustre Guardião da Devoção, em Siga os Anjos, guia
os leitores no cainho da dedicação como nossos acaryas anteriores
mostraram, tais como Srila Bhaktivinoda Thakura e Srila Bhaktisiddhanta
Sarasvati Thakura Prabhupada. Seguir os passos dos acaryas
prévios é de fato o caminho do sucesso na vida espiritual, enquanto
obscurecer o caminho dos acaryas prévios ou criar um método de
prática espiritual por conta própria certamente resulta em falha.
Na parte um de Siga os Anjos, Srila Sridhara
Maharaja discute o Conceito de Krsna como o plano mais elevado da
verdade que um ser vivo atinge. A base desse conceito é que beleza,
afeição, amor e harmonia Absolutos são os objetivos mais elevados já
descobertos e que existem em Krsna no grau pleno. Só Krsna pode
satisfazer o anseio mais íntimo da alma. "Desperte, levante! Busque a
sua fortuna"!
Srila Sridhara Maharaja explica que isso exige uma
conexão apropriada com um agente ou guru verdadeiro que tem uma
conexão direta com Krsna. O guru assegura nosso futuro na vida
espiritual. O guru e Vaisnavas são os agentes do Supremo Senhor e
Srila Sridhara Maharaja explica que esses agentes são superiores às
escrituras e que se alcança todo sucesso com o serviço a esses agentes
superiores.
Deve-se adquirir um desejo intenso para conhecer a
verdade, que no decorrer do tempo, amadurece em atração espiritual pura.
Assim, o verdadeiro gosto pela verdade se manifesta, vai despertar
dentro de nosso coração. E toda atração por prazer sensual, fama, nome e
dinheiro vai sumir. Quando esse gosto espontâneo pela verdade desperta
dentro de nós, estamos salvos, mas não antes disso.
Recomenda-se especialmente em Kali-yuga o serviço
ao Santo Nome, mas primeiro, deve-se receber o Nome de um guru
autêntico, e deve-se cantá-Lo em companhia de sadhu ou santo. Só
existe amor no acme da dedicação, Vraja Vrndavana bhava. E há
pregação, pregação é sankirtana, o modo de cantar mais efetivo.
Pregação é o verdadeiro serviço ao Santo Nome, não apenas contar nas
contas. A parte um de Siga os Anjos revela esta e muitas outras
iluminações sobre o conceito de Krsna.
Extraímos o título do livro da parte dois de
Siga os Anjos. Descobrimos aqui que conseguimos satisfazer nossa
demanda mais íntima, mas temos um alerta de cautela. "Tolos se apressam
onde anjos temem pisar". Na parte dois, Srila Sridhara Maharaja avisa
que devemos seguir os anjos e não cometer ofensas ao se apressar onde
não é realmente qualificado.
"Deve-se seguir passo a passo. Se omitirmos um
passo, vamos nos perder. Devemos ser atentos em cada passo, assim nos
conduziremos automaticamente à direção certa. Nunca tente correr com
muita pressa. Tente ficar um pouco abaixo e atrás. Assim você vai ser
levado a força para seu objetivo, naturalmente. Os Vaisnavas superiores
vão levar você até lá. Você nunca vai conseguir chegar lá por conta
própria".
A atitude adequada na relatividade da Verdade
Absoluta é necessária para o maior sucesso na vida espiritual. Não tente
se apressar, não se torne um ofensor. Fique um pouco distante e abaixo.
Assim você vai obter a maior boa sorte. Pujala raga-patha
gaurava-bhange, tente manter uma distância respeitosa. Mantenha
sempre o objetivo mais elevado em cima da sua cabeça. Não avance
apressado para essa posição. Isso não é barato.
Srila Sridhara Maharaja diz, "Srila Bhaktisiddhanta
Sarasvati Thakura Prabhupada deu esse alerta com muita ênfase, pujala
raga-patha gaurava-bhange. Sri Caitanya Mahaprabhu distribuiu o que
Ele experimentou em Seu transe profundo, mas nós temos que estar prontos
para pagar por isso. Sarasvati Thakura veio com esse propósito.
Pujala raga-patha gaurava-bhange, não vá com pressa. Tolos se
apressam onde anjos temem pisar. Não cometa ofensas. Esse é o horizonte
mais sublime da sua vida depois de muitos nascimentos. Devemos nos mover
expressamente em direção ao objetivo de ter o temperamento de um servo.
Não devemos nos aventurar a pisar no plano mais elevado. Tolos se
apressam onde anjos temem pisar. Não seja tolo; seja anjo. Tente seguir
os anjos". Este é um fragmento do conselho valioso de Srila Sridhara
Maharaja na parte dois de Siga os Anjos.
Na parte três, Altas Conversas, Srila Sridhara
Maharaja revela o verdadeiro ideal de guru-tattva:
Gaura-Gadadhara em madhurya-rasa, e Radharani em Krsna-lila.
Se levantarmos nossas cabeças um pouco mais alto, encontraremos
Radharani e Gurudeva. É Radharani quem assiste por trás o sucesso da
função de Gurudeva. A fonte da graça do guru é a fonte original
do serviço e amor.
Srila Sridhara Maharaja diz, "Nós somos solicitados
a ver o guru como não limitado à sua personificação ordinária,
mas como o mediador transparente da função mais elevada em sua linha.
Somente quando nossa visão se aprofundar, veremos que de acordo com a
profundidade de nosso sraddha, nossa visão, guru-tattva é
muito peculiar, muito nobre, muito amplo e muito profundo".
Como exemplo de visualização elevada do guru,
Srila Sridhara Maharaja relata como seu guru (Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura) via Gadadhara Pandita e Svarupa
Damodara em Bhaktivinoda Thakura e Gaura Kisora dasa Babaji
respectivamente. Srila Sridhara Maharaja então leva seus leitores
através da descrição de Gadadhara Pandita como uma sombra de Mahaprabhu,
que corria atrás Dele como se Seu coração tivesse sido roubado. Ele se
move como a sombra de Mahaprabhu. Srila Sridhara Maharaja compara
Gadadhara Pandita a Rukmini. "Assim, quando Mahaprabhu rouba o humor de
Radharani, a natureza vama rebelde que permanece se compara à de
Rukmini, um observador passivo, sem nenhuma força para pensar, só um
espectador. Um espectador, que tolera tudo, uma situação lastimável que
desperta a bondade e simpatia de todos". Esta é uma outra alta conversa
que você vai encontrar na parte três de Siga os Anjos.
É com muita alegria que a Gosai Publishers
apresenta esta edição e confiamos que será bem recebida pela comunidade
devocional pois contém a sabedoria mais valiosa para o progresso em
nossas vidas espirituais.
Srila Sridhara Maharaja é renomado no mundo inteiro
como um santo e devoto puro auto-realizado do Supremo Senhor, nós
portanto nos prostramos a seus pés de lótus e imploramos perdão por
qualquer erro que tenhamos cometido em nossa tentativa de servi-lo.
Swami B. G. Narasingha
Terminado em 13 de outubro de 2000
Primeiro dia de Karttika Masa, Saradiya Purnima,
Gaurabda 514
Sri Narasingha Caitanya Matha
Sobre o
Autor
Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami Maharaja
nasceu em Hapaniya, Bengala Ocidental, Índia em 1895. Seus passatempos
de juventude eram o aprendizado, e ele excedia naturalmente toda matéria
que estudava. Desde a infância, sua tendência foi em direção à seita
ortodoxa, os Vedas, Upanisads, etc., fé em Deus e esse
tipo de coisas. Ele recebeu o cordão sagrado na tradição familiar aos
quatorze anos de idade, e sua afinidade com o mundo divino só aumentava.
Em seus primeiros anos, ele tinha atração especial pelo Senhor
Ramacandra. Depois, quando começou a entrar em contato com a doutrina de
Sri Caitanya Mahaprabhu, começou a ler o Bhagavad-gita e
desenvolveu atração pelo Senhor Krsna.
Após completar a educação primária e secundária,
Srila Sridhara Maharaja entrou na Faculdade Krishnanath em Baharampur
[Distrito de Mushirabad], Bengala. No quarto ano, graduou-se como
Bacharel em filosofia. Há algum tempo, Srila Sridhara Maharaja procurava
por um guru para receber a iniciação, mas não encontrava ninguém
do seu agrado. Até que pela graça do Todo-poderoso, ele se encontrou com
seu guia e preceptor eterno, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura e
tornou-se um discípulo iniciado em 1927.
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura concedeu
sannyasa a Srila Sridhara Maharaja em 1930, e deu-lhe o nome Bhakti
Raksaka que significa "Guardião da Devoção". Srila Bhaktisiddhanta
Sarasvati Thakura viu em Srila Sridhara Maharaja a habilidade de
proteger perfeitamente a linha Gaudiya Vaisnava de má representação e má
interpretação. Quando leu as composições em sânscrito de Srila Sridhara
Maharaja que glorificam Srila Bhaktivinoda Thakura, Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura declarou, "Agora estou satisfeito,
pois após minha partida, há pelo menos uma pessoa que pode representar
minhas conclusões (bhakti-siddhanta)".
Algum tempo após a ida de Srila Bhaktisiddhanta
Sarasvati Thakura, Srila Sridhara Maharaja estabeleceu seu próprio
templo em 1936, Sri Caitanya Sarasvata Matha, na margem do Ganges
sagrado em Navadvipa-dhama, a terra sagrada de Sri Caitanya Mahaprabhu.
Após assimilar profundamente os ensinamentos do Senhor Caitanya, Srila
Sridhara Maharaja começou a compor seus próprios textos. Sua primeira
obra, Sri Sri Prapanna-jivanamrta, é um estudo escritural
intuitivo sobre saranagati (rendição). Srila Sridhara Maharaja
compôs várias canções, preces e comentários em bengali e sânscrito.
Entre essas obras importantes estão seus comentários sobre Saranagati
de Srila Bhaktivinoda Thakura, tradução bengali do Bhagavad-gita
e Bhakti-rasamrta-sindhuh, e seu poema épico original com o
sumário de Caitanya-lila, Prema-dhama-deva Stotram. Uma
das contribuições de destaque de Srila Sridhara Maharaja à Rupanuga
Gaudiya Sampradaya é seu comentário sobre o gayatri mantra na
linha do Srimad Bhagavatam.
Com idade avançada, no estágio de realização
plenamente maduro, Srila Sridhara Maharaja falou extensivamente sobre os
ensinamentos de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, e dos grandes
acaryas prévios. Essas palestras estão gravadas em áudio e vídeo
e continuam a serem publicadas pelo Sri Caitanya Sarasvata Matha e pelos
muitos seguidores e admiradores de Srila Sridhara Maharaja.
Durante os últimos dias de seus passatempos
manifestos, Srila Sridhara Maharaja permaneceu sempre absorto nos
humores profundos da separação devocional e no anseio pelo serviço
divino a Sri Sri Radha-Govinda. Em 1988, em Amavasya (noite de lua
nova), no mês de julho, Srila Sridhara Maharaja retirou sua presença
manifesta do plano terrestre e entrou em nitya-lila (passatempos
eternos) do Supremo Senhor.
O
Caminho da Dedicação
Sua
Divina Graça Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami Maharaja
"Fools rush in where angels
fear to tread"
Tolos correm onde anjos temem andar
Tolos se apressam onde anjos temem pisar
Tolos investem com pressa onde anjos hesitam entrar
Início da tradução terça-feira, 6 de novembro de
2001
(Visvavandya das - São Paulo - SP) - interrompida
em 03/02/2002.
Continuação Sripad Krishna Kumar Prabhu
Parte
Um
O
Conceito de Krsna
O
Conceito de Krsna
O tom formidável, o tom divino, o chamado vem da
região mais elevada, a região divina: "Acorde, levante! Busque por sua
fortuna"! Você não deve ter mais nada além disso; é seu direito de
nascença, é a riqueza da sua própria alma. A relação com a Divindade
Suprema está aí. Não está em nenhum outro lugar além de dentro de você
mesmo! Você é Sua criatura; você existe em conexão e relação a Ele. Você
deve ter alguma conexão dentro de si mesmo. Não tenha medo da sua
posição presente; não fique desapontado. Assim, você deve pregar ao
mundo amplamente: "Venham todos! Vocês querem rasam anandam, a
delícia do deleite, a personificação diferenciada de Krsna em Vrndavana,
e que tem alta distribuição magnânima em Navadvipa, a terra natal de Sri
Caitanya Mahaprabhu".
O conceito da consciência de Krsna é o conceito
mais elevado: O bom Absoluto, o belo Absoluto, o autocrata Absoluto, o
Infinito. Vaikuntha em seu conceito pleno é Goloka. Vaikuntha não tem
kuntha, ou seja, sem limitação. Assim é Vaikuntha, o conceito do
Infinito. Quando está de acordo com o conceito da consciência de Krsna,
é considerado o objetivo mais elevado, o Absoluto, o autocrata, e o
belo. O bom, o belo, raso vai sah. Akhila rasamrta murti.
Todos conceitos de rasa são harmonizados. O conceito de Krsna
sobre o Absoluto harmoniza diferentes variedades de rasa. Raso
vai sah. Akhila rasamrta murti. Isso não é compreensível para
nossos sentidos presentes.
O Infinito está mais perto do finito na proposta de
Vrndavana; aprakrta. Aprakrta é onde o Infinito chega mais
perto dos seres finitos, bem como de um deles. Quando Ele está tão
perto, tão próximo, ninguém pode reconhecer se Ele é infinito ou não.
Mahaprabhu nos deu a seguinte sugestão: "Tente a sorte em Vrndavana.
Acontece um processo tão maravilhoso: Nanda e Yasoda, pai e mãe de Krsna,
capturaram o Absoluto e Ele agora engatinha no quintal deles (aham
iha nandam vande yasyalinde param brahma). Tente assegurar uma
posição lá, por mais insignificante que seja. Tente a sua sorte". Nós
buscamos por essa fortuna, onde todas as propostas se eliminam.
kam
prati kathayitum ise samprati ko va pratitim ayatu
go-pati-tanaya-kuñje gopa-vadhuti-vitam brahma
"Para quem posso contar isso, e quem vai acreditar
nisso, o Absoluto Supremo, Param Brahman, o amante das donzelas de Vraja,
diverte-Se nos bosques às margens do Yamuna"? (Padyavali, 98).
É inconcebível que o Brahman, o maior, o Absoluto,
desceu para procurar o amor das donzelas gopis da classe baixa
dos pastores de vacas. Ele Se aproximou de uma forma tão próxima e tão
perto, e num estilo rural tão comum. Tente a sorte aí.
Estamos aí só para isso, sob a guia de Sri
Caitanyadeva, que é conhecido como a combinação dos aspectos positivo e
negativo do Absoluto. O positivo está ocupado em distribuir-Se a Si
próprio para outros. Mahaprabhu é esse aspecto infinita e
inconcebivelmente generoso do Supremo. Sri Caitanyadeva é Radha e Krsna
combinados. Ele é Krsna no humor de Radha, na busca por Si mesmo. Ele é
os dois aspectos positivo e negativo do Absoluto.
A escola de Sankara e outros impersonalistas alegam
que quando positivo e negativo se combinam, o resultado é algum tipo de
equilíbrio. Mas segundo à filosofia Vaisnava, a combinação é dinâmica. A
natureza Dele se transforma na busca por Si mesmo, busca pelo Seu
próprio eu positivo, no humor do negativo. Ele Se distribui a Si mesmo a
outros. O negativo atrai o positivo, assim o positivo se distribui ao
público. Assim é a essência de Sri Caitanya Mahaprabhu. Os companheiros
íntimos do Senhor revelaram esse conceito, seremos capazes de concebê-lo
conforme a intensidade e grau da nossa fé.
Necessidade de um Agente Verdadeiro
É preciso um agente verdadeiro de Krsna para nos
salvar, e também para ajudar outros. Hegel, o filósofo alemão, disse que
a idéia vem primeiro, depois os movimentos da mente e do corpo em
seguida. Essa filosofia se chama Realismo Ideal. Primeiro concebemos
sobre fazer alguma coisa, e depois começam os movimentos da mente e do
corpo, assim a idéia nos conduz. A idéia é o mais importante. Qualquer
idéia que possamos seguir, então a mente, o corpo, tudo mais vai seguir.
Divya darsana, divanbhuti, deve-se fazer um
acordo divino, e nós temos que ter a ajuda dos sadhus, os santos,
que são Seus agentes autênticos. Pode haver muitos agentes impostores
também, pseudo agentes, agentes sahajiya, imitadores. Nós temos
que ir ao agente verdadeiro. E com a ajuda dele, por sua graça, nós
vamos alcançar nosso destino gradualmente. Naisam matis tavad
urukramanghrim, sprsaty anarthapagamayad arthah, Prahlada Maharaja
diz: Enquanto a mente da pessoa não entrar em contato com os pés de
lótus divinos do Senhor, é indispensável conseguir a ajuda de Seus
devotos, Seus agentes, para a eliminação dos elementos indesejáveis
dentro de nós.
Anarthapagamayad arthah. Mahiyasam pada
rajo'bhisekam, niskiñcanam na vrnita yavat. Nossa vida divina não
começa realmente até que cheguemos aos pés de lótus do mestre
verdadeiro. Aí sim começa: Nosso verdadeiro progresso, vida verdadeira.
Nosso verdadeiro avanço em direção à divindade começa quando conseguimos
o reconhecimento do agente do Senhor. Alguns podem dizer, "Isso é
monopólio, é um sistema despótico. Deus é para todos, por que tem essa
necessidade de um mediador? Ele está aberto a todos, Ele conhece todos
nós. Se O desejarmos com sinceridade, Ele virá diretamente". A concepção
deles pode ser assim.
Um Guardião Apropriado Assegura Nosso Futuro
Nós somos inconstantes, corremos de lá para cá sem
nenhum princípio em nossa vida, e nossa situação é muito triste. Este
tipo de vida é muito problemática. Pensar, "Não posso pôr minha fé em
nada", significa que não posso encontrar um amigo em parte alguma. Estou
sem amigos, ando no meio de estranhos e talvez até de inimigos.
Mas eu preciso de um amigo, ou em último caso,
alguma atmosfera amigável. Eu tenho que encontrar essa companhia em quem
eu possa depositar toda minha fé, em quem eu possa acreditar e confiar.
Sem isso, minha vida é miserável. Pela graça infinita de Deus, deve
surgir algum sraddha (fé) em nós: "Eu não vou só confiar e
acreditar, mas é o seguinte: Eu não farei nada além de expressar minha
consideração a uma personalidade da posição mais elevada, gurum
evabhigacet".
Quando sofremos de incerteza ao extremo, devemos
desejar a conexão com o guru, o mestre espiritual. Nós não
podemos simplesmente interrogá-lo com fé e confiança, pois o guru
é um guardião que é o nosso benquerente, mais do que nós próprios. Ele
sabe mais sobre nosso bem-estar do que nós mesmos. Assim que é ter um
guardião, um amigo, um guru. Se a pessoa cometer
Vaisnava-aparadha ou Nama-aparadha, ofensas contra o Vaisnava
ou o Santo Nome, vai se atrasar repetidamente. Não é algo fácil. Ainda
assim, há a possibilidade de uma alma digna alcançar a posição mais
elevada por meio da orientação adequada, em uma única vida. Isso não é
impossível.
Narottama Dasa Thakura diz, asraya laña bhaje
tare krsna nahi tyaje: "Se pudermos conseguir um guardião
verdadeiro, nosso futuro na vida espiritual está assegurado". Krsna não
pode despedir o guardião com muita facilidade, pois o guardião tem uma
posição sólida na relação com o Senhor. Se entrarmos no domínio cuidado
pelo guardião, nossa posição está segura. Nosso único consolo é que
vamos junto com Seu agente. Ele é tão bom e benevolente que enviou Seu
agente para nos resgatar, e essa é a nossa esperança. Devemos ser gratos
por isso, e não nos tornarmos traidores de Seu agente. Devemos ter muito
cuidado em ver se não traímos o Seu agente, pois senão trairemos a nós
próprios.
Ana saba mare akarana. Outros, que ainda não
foram capazes de se renderem aos pés de lótus do guardião ou guru,
estão em uma posição incerta, e podem ser desviados por qualquer outro
agente. Seu futuro é deplorável. Eles não têm refúgio, nenhum asraya.
Se pudermos ter um ideal verdadeiro na vida por meio de nosso sraddha
e obter um guardião verdadeiro, aí certamente nosso futuro está
praticamente assegurado. Nosso único dever será com o nosso guardião,
nosso Gurudeva, nosso asraya, e todos outros deveres serão
imediata e automaticamente realizados plenamente, e completos
prontamente.
Atravessar o comprimento e largura deste mundo,
onde não existe nada mais além da exploração de vários planos, é como
navegar em um barco sem leme que pode ser arrastado por tempestades
marítimas, incessantemente e sem propósito ou objetivo. É por meio de
sraddha que podemos nos conectar ao nosso objetivo superior de
realização e satisfação.
Primeiro, deve-se resolver esse problema - depois,
pode-se começar a vida verdadeira.
Como Medir o Infinito
A fé é o único instrumento que o finito tem para
medir o Infinito. Para fazer o levantamento do Infinito, todos os outros
métodos são inúteis. A fé é a substância mais espaçosa dentro de nós.
Ela pode cobrir uma longa, bem longa distância. No Infinito, que fé
podemos ter na fé? Nós tememos a fé cega. Entretanto, no Infinito, o
impossível se torna possível. Tudo é possível, mas só a fé tem a
possibilidade de nos conectar ao Infinito, enquanto todos os outros
métodos são inúteis.
A fé é a única ligação efetiva. Nós devemos nos
aproximar do objeto de nossa busca por meio de um plano similar. Nós
podemos nos aproximar do Infinito só com a ajuda de sraddha. Não
podemos pretender possuir uma conexão com o plano mais refinado de
existência fundamental com a ajuda do olho, do nariz ou ouvido, ou mesmo
da inteligência ou raciocínio. Se quisermos ter qualquer conexão com o
plano mais refinado que comanda toda a criação, só é possível por meio
da fé (sraddha-mayo 'yam purusah).
Sraddha, fé, pode ir a longas distâncias.
Nós temos que ser capazes de sentir e conceber que a fé não é só
imaginária; ela tem sua posição tangível, a posição mais eficiente
dentro de nós. Quando pudermos nos desconectar de todas as fases da
experiência perceptível, poderemos viver só com fé. Quando toda a
riqueza de nossa experiência nos engana e nos trai, nossa fé vai nos
salvar.
No tipo de devoção mais elevada, nunca há o desejo
de que Krsna e Seus companheiros venham para nos servir ou nos suprir
alguma coisa, ou de que Ele Se mostre a nós. Impor nossa vontade a Ele
não é serviço de verdade. Qualquer coisa que Ele quiser fazer, Ele pode
fazer. E qualquer coisa que Ele solicite de nós, devemos nos considerar
com muita boa sorte se tivermos a chance de fornecê-la. Devemos eliminar
nossos desejos exaustivamente, e devemos nos colocar inteiramente à
disposição do Supremo Senhor, que nunca deve cumprir nenhuma ordem ou
desejo de outros.
Krsna por natureza é muito ansioso em fornecer tudo
para Seus devotos (yoga-ksemam vahamy-aham, Gita 9.22).
Mas os devotos mais elevados, não gostam que Ele forneça nada a eles, ou
que Ele tenha que servi-los. Assim é a pureza da devoção deles. Com sua
fé, eles pensam, "Ele é meu Senhor. Não quero ter Seu darsana
meramente para satisfazer minha faculdade inferior de perceber que Ele
existe". É um padrão muito baixo de fé considerar que só ficaremos
satisfeitos se Ele existe, somente se pudermos vê-Lo. Não temos
capacidade para vê-Lo. Torná-Lo nosso objeto, e ficar como o sujeito, é
um padrão inferior de fé. Mas a fé superior e intensa comprova
plenamente que Ele é a causa milagrosa de tudo. Ele está presente.
Desejo Sincero é o Único Preço
Mahaprabhu diz, naham vipro na ca nara-patir
napi vaisyo na sudro... gopi-bartuh pada-kamalayor dasa-dasanudasah.
No começo é varnasrama dharma, vida regulada. Isso é só o começo,
depois gradualmente há a melhora e nós vamos ao serviço absoluto a Krsna.
Krsna é independente de qualquer forma de vida, sem consideração a
qualquer lei ou qualquer forma; só serviço, krsna santus. Yat
karosi yad-asnasi. Qualquer coisa que façamos, pensar, falar, tudo
deve ser para o serviço a Krsna. Assim é o padrão da devoção.
O mero formalismo pode ser favorável, mas não
sempre. O mais importante é o espírito, mesmo quando transgredir toda
formalidade. O que se exige de nós é a atração absoluta pelo serviço,
pelo belo. A lei não tem posição aí. No começo tem algum pouco de
utilidade, mas quando a pessoa avança um pouco, não deve se importar com
isso, com nada. Somente buscar sadhu-sanga, apego aos santos de
tipo similar, um pouco melhor que nós, nossos guias em raga-bhajana,
aqueles que estão no caminho do amor divino e da atração.
Esse é o único caminho. Essa é a única coisa que
pode nos guiar. Laulyam, o único preço é nosso laul,
desejo intenso, nada mais. Krsna bhakti rasa bhavita matih.
Ramananda Raya diz a Mahaprabhu que se encontrarmos isso em algum lugar,
temos que tentar comprar. O que é isso? A inclinação pura em direção ao
serviço a Krsna. A tendência mais íntima para querer Krsna, para
obtê-Lo, para tê-Lo; o desejo mais intenso para tê-Lo. Onde quer que
encontre esse desejo, uma gota dessa atração divina, tente comprá-lo por
qualquer preço. Adquira-o! Ele pode ser obtido em qualquer lugar por
qualquer um, não importa. Kiba vipra kiba nyasi sudra kene naya, yei
krsna tattva vetta sei guru haya. Um brahmana, um sannyasi,
ou um sudra que conhece Krsna, ele é guru.
Onde quer que haja uma gota desse amor divino,
tente obtê-la. E qual é o preço? O desejo intenso por ela. Laulyam
api mulyam ekalam. O único preço é desejo intenso. Não pode ser
comprada com nenhum tipo de moeda, nem é algo que pode ser alcançado por
meio de muitas práticas formais em milhões de nascimentos. A substância
é necessária, e não a forma. A forma só é necessária enquanto fizer a
nossa conexão com a substância real, senão não é necessária. Sarva
dharman parityajya, abandone todas as fases de dever que você
percebe e se aperfeiçoa. Tente mergulhar no oceano de néctar
imediatamente. Esse é o ensinamento desejado. Desejo intenso, isso que
deve ser adquirido; assim é bhakti correta.
Há um tipo de pessoa que quer saber sobre Krsna
somente pelo sastra, escritura. O almanaque fala que vai chover
tanto em tal época. Mas se espremermos o almanaque, será que sai alguma
gota d'água? O sastra é assim também, parecido com isso. O
sastra nos diz, faça isso, mas a escritura não pode nos dar Krsna.
Primeiro obtemos a orientação, depois praticamos; devemos fazer assim.
Ficamos desamparados quando procuramos com esse método ou com aquele
método.
Vaisnava é Superior a Sastra
Na prática, temos que entrar em contato com o
serviço a um Vaisnava. Mas onde, quem servir? Não posso entrar em
contato direto com Ele. Quem posso servir? A forma do Senhor como
Deidade, o vigraha está aí, o sastra está aí; mas essas
coisas são superficiais num sentido. Encontramos a substância real em um
Vaisnava, em seu coração. Dharmasya tattvam nihitam guhayam. O
conceito de Krsna, Krsna como Ele é, conhecimento e amor, nós
encontramos ao vivo dentro do coração de um Vaisnava que direciona todas
atividades para Ele, para Seu serviço.
A fé nos devotos e nos Vaisnavas nos concede a
ajuda mais substancial. Essa posição não é oscilante, mas firme. Quem
tem fé nos Vaisnavas, alcança a devoção de caráter tangível. De outro
modo, só com a fé abstrata no Senhor, sem fé nos devotos, somos apenas
principiantes no estágio de kanistha-adhikari. Essa é uma
plataforma insegura. Nossa devoção alcança um padrão seguro quando
conseguimos desenvolver fé nos devotos, e reconhecer sua importância. Os
devotos estão acima até mesmo do sastra,
as escrituras. O estágio tangível quando se desenvolve nossa fé real nos
devotos é o estágio intermediário, madhyama-adhikari.
No Vaisnava, a verdade está mais animada do que no
vigraha (Deidade), no tirtha (lugar sagrado de
peregrinação) ou no sastra (escritura). Nós encontramos uma
conexão direta com Krsna na consciência de um Vaisnava. Nós encontramos
o que regula todas suas atividades e o que o tira da atração mundana, e
assim o guia em direção a algum destino desconhecido e o mais desejável.
O Senhor o faz mover-se em uma direção específica que não pode ser
traçada por nenhuma perda ou ganho deste mundo. O que é isso? "Eu estou
aí. Não estou nem mesmo em Vaikuntha, nem nos corações dos yogis.
Mas onde Meus devotos cantam com prazer sobre Mim, lá que Eu estou". (Mac
citta mad gata prana bodhayantah parasparam kathayantas ca mam nityam
tusyanti ca ramanti ca). "Os pensamentos de Meus devotos puros
habitam em Mim, suas vidas estão plenamente absortas em Meu serviço, e
eles sentem grande satisfação e bem-aventurança sempre a se iluminarem
reciprocamente e conversarem sobre Mim" (Gita 10.9).
Atração Espiritual Pura
Há uma história na Ramanuja sampradaya sobre
três devotos que chegaram em seu templo para um evento. Eles não se
conheciam. Durante a escuridão da noite, um falava e o outro ouvia. Sua
conversa era muito atraente. Aí o terceiro devoto se juntou a eles e
conversaram juntos, apesar de não se conhecerem. Eles ouviram o nome
deste devoto, daquele devoto. Depois de conversarem por algum tempo,
surgiu a questão. "Nós estamos aqui em três, mas vocês sentem a presença
de uma quarta pessoa"? "Sim, eu sinto a presença de uma quarta pessoa, e
é a Pessoa sobre quem falamos; o Senhor apareceu aqui. Em nossa
conversa, Ele apareceu em nossa conversação". Desenvolva essa atração,
atração espiritual pura, até que nada mais seja agradável para nós além
de Krsna, Radharani e as gopis. É isso que é necessário, que
Krsna e Seu grupo tomem posse da parte mais íntima de nossos corações,
por meio do pensamento em Seu lila, Seu Nome e Sua parafernália.
manmana bhava mad bhakto mad yaji mam namaskuru
mam
evaisyasi satyam te pratijane priyo 'si me
Krsna diz para Arjuna que ele é Seu devoto
favorito. "Eu prometo a você que nunca irei enganá-lo nem ao mínimo. Eu
afirmo que sou tudo e Eu não vou enganá-lo. Manmana bhava,
lembre-se sempre de Mim, mad bhakto, seja Meu devoto, sirva-Me.
Manmana bhava mad bhakto, mad yaji, qualquer sacrifício
que fizer, faça-o por Mim. Mad yaji mam namaskuru, ou pelo menos
mostre respeito a Mim. Tenha certeza que você vai entrar em Mim, vir a
Mim. Mam evaisyasi, você virá a Mim exclusivamente; satyam te,
isso é a verdade, pratijane, Eu prometo a você. Priyo 'si me,
você é Meu favorito. A verdade é a seguinte: Faça tudo para Mim,
sirva-Me, pense sempre em Mim e com certeza você virá a Mim. Esta é a
simples verdade".
Essa mentalidade, a vida de compromisso, é a
atração por Ele. Como desenvolvemos a atração por Krsna? Nós a obtemos
do devoto. Podemos obtê-la superficialmente das escrituras, mas
substancialmente só do devoto.
Há uma atração específica dentro do coração deles,
dentro do esforço deles, que penetra em todas as atividades deles, e
isso é algo divino. É isso o que nós queremos. É o sutil do mais sutil,
a estrutura nervosa interna. Ela pode mover o corpo. Pode ajudar o corpo
a funcionar. Nós ficamos atraídos à energia interior do devoto; aquilo
que faz ele fazer o que não se encontra neste mundo; nenhuma atração por
prazer sensual, nenhuma atração por fama, nome, ou dinheiro.
Tem algo aí; atração por Krsna. Nós devemos seguir
a sua orientação. "Aquele que vem a Me servir diretamente, ele não é Meu
devoto verdadeiro. Mas aquele que tem devoção por Meu devoto, ele é Meu
devoto verdadeiro". O que significa? Vaisnava-seva, guru-seva,
nama-seva; serviço aos devotos, ao mestre espiritual, e ao Santo
Nome. "Seu amor por Mim é tão intenso que onde quer que ele ache
qualquer conexão externa Comigo, ocupa-se totalmente aí".
O Gosto Real pela Verdade
Até que, e a menos que, encontremos em nossos
corações um gosto verdadeiro pela verdade, não estaremos a salvo.
Primeiro, na superfície, a vida espiritual começa com sraddha,
fé, e abaixo com sukrti, ou mérito especial. O próximo é
sadhu-sanga, ou a companhia de santos. Aí dentro está nossa rendição
ao guru. Depois começa bhajana, nossa vida de serviço em
várias formas, como sravana, kirtana, prasada-seva,
ou ouvir, cantar, e respeitar os restos do Senhor. Então,
anartha-nivrtti, nossa atração por objetos além de Krsna, objetos
que não sejam Deus, diminui. Depois, nistha, esforço contínuo no
serviço devocional, e em nada mais. Aí, ruci, gosto,
desenvolve-se.
O verdadeiro gosto pela verdade despertará em nosso
coração. Aí estaremos salvos, mas não antes disso. Quando o gosto
espontâneo pela verdade desperta dentro de nós, nós estamos salvos. Nós
poderemos fazer um bom progresso a partir daí. O gosto vai nos levar.
Quando despertamos o gosto por doce, corremos automaticamente atrás de
tudo o que for muito doce. Antes disso, devemos permanecer sob o
guardião. Até que, e a menos que, descubramos que a verdade é doce, que
Krsna é doce, não estamos a salvo em nossa aproximação em direção a Ele.
Pois muitas distrações poderão nos desviar de cá para lá.
Nama-Seva
Recomenda-se especialmente em Kali-yuga o serviço
ao Santo Nome de forma geral. Sadhu-sanga krsna nama ei, a pessoa
tem que se elevar ao plano real onde pode adotar o Nome propriamente,
acima até Vaikuntha, para adotar vaikuntha-nama, o Nome
ilimitado. É verdade que uma magnitude infinita de pecado pode ser
removida, dispersada, rejeitada com a pronúncia do Nome. Mas esse Nome
não pode ser só o som físico. Ele precisa ter as Suas características de
Vaikuntha; ilimitado, eterno, a partir do plano da eternidade.
Sadhu-sanga, o Nome deve ser recebido de Gurudeva, e deve ser
cantado em companhia de sadhu.
Nama-sankirtana é pregar o Santo Nome. Mas o
que é o Nome? As dez ofensas contra o Nome devem ser compreendidas e
evitadas. A expressão externa inferior do Nome deve ser eliminada, e o
Nome real que é uno e igual ao Senhor, esse Nome deve ser adotado. Isso
é nama-bhajana, isso é kirtana, iluminar a grandeza e
magnanimidade do Santo Nome. O Nome em Si é tão encantador; o Nome é o
Próprio Senhor. Assim que se pratica nama-kirtana. Desse modo,
poderemos ser salvos da contaminação externa das forças de karma
e jñana, trabalho lucrativo e conhecimento teórico.
Nama: Mais que Som Mundano
Se adotarmos o Nome, então tem de haver serviço.
Sat-sanga. Sadhu-sanga krsna nama. Serviço significa
dedicar-se completamente àquilo que se serve. Desse jeito, devemos
adotar o Nome. Qual é o propósito de adotarmos o Nome do Senhor?
Kanaka, kamini, pratistha; não por dinheiro, não por
prazer sensual, nem para conseguir popularidade. Nós estamos prontos a
nos sacrificar completamente por Ele, por Seu Nome. Devemos adotar o
Nome com essa atitude. Não é limitado. Todo sopro de vida que tivermos,
devemos dar para a Sua satisfação. Toda a nossa energia, nós devemos
arriscar para a satisfação do Santo Nome. Devemos nos aproximar com essa
atitude. É garantida. A procura, a tentativa fica com o apoio de toda
nossa energia, toda nossa vida, todo prospecto, tudo.
É com essa atitude que devemos procurar por uma
gota do néctar de Vaikuntha. Senão é inútil. Morra para viver. Seva
quer dizer morte; morte do ego material. Seva quer dizer dar o
próprio eu para um propósito específico. O seva de Krsna
significa abandonar este eu enlouquecido, este eu mundano e forjado.
Tente se salvar desta posição atual. Não é nada louvável; nossa posição
atual; é algo mortal, o resultado de muitas reações. Portanto, livre-se
deste abrigo. Saia daqui, o mais rápido possível. E entre na terra da
confiança e bondade e justiça e doçura. Tente entrar lá.
Não é Muito Barato
Devemos ser sinceros e benéficos, sem hesitação.
Nossa campanha tem que ser completa, não parcial, como se andasse um
passo para frente e três passos para trás. Senão, nós somos o finito e
queremos levar vantagem sobre o Infinito. Somos muito pequenos, mas nós
queremos sacrificar apenas uma parte desse pequeno. Nós aspiramos obter
o Todo. Meu bom amigo, isso não é tão fácil. Atah sri krsna namadi,
na bhaved grahyam indriyaih. Somente os nossos sentidos superficiais
estão ocupados no cultivo a Krsna. Sevonmukhe hi jihvadau, svayam eva
spuraty-adah, esse não é o Santo Nome, é só um som mundano.
Para que o Nome seja Krsna, Krsna tem que descer
Nele. Não engane a si mesmo; não pense que ao adotar o Nome nos tornamos
grandes sadhus. Não é assim. Krsna tem que descer na forma de som
até nós. Ele é espiritual; Ele é transcendental. Sevonmukhe,
nossa rendição completa a Ele irá atraí-Lo, e Ele virá com benevolência
para nos agraciar na forma do Nome, em nossas ações, na realização de
nossos deveres. Ele virá a cada passo.
Quando nos entregarmos a Ele, Ele vai nos aceitar.
Ele vai nos abraçar. Ele vai estar dentro e fora de nós. Ele está em
toda parte, mas só aqueles com os olhos limpos podem vê-Lo, não aqueles
que estão capturados por qualquer preconceito com fins egoístas ou
coisas ordinárias. Não seja capturado pelo preconceito. Quando limpar
todo preconceito, verá diretamente o princípio supremo que domina tudo.
A tendência à exploração e renúncia cegou nossos olhos e não podemos
vê-Lo.
As pessoas sensuais procuram por um corpo bonito.
Outras pensam apenas em negócios pois adoram a riqueza acima de tudo.
Estão sempre ocupadas ou em sensualidade ou em dinheiro; o mundo de seu
conhecimento se revela a elas. Há esse nível. Elas podem se gabar: Eu
tenho muito poder, eu tenho beleza, eu tenho riqueza. Tudo é falso.
O verdadeiro suporte do espírito é Narayana, o
princípio onipresente, onisciente, benevolente. Esses outros pensamentos
são temporários. Nossos preconceitos de tantos tipos nos capturaram.
Aqueles que se liberaram dessas influências vão descobrir que esse é o
reino de Narayana, que é o suporte e o guardião do mundo inteiro. Nós
vemos Sua mão em toda parte. Nada pode se mover sem Sua direção.
Sirva ao Nome por meio de um Agente Genuíno
Se quisermos uma garantia de que Krsna vai ficar
satisfeito com qualquer processo que adotemos, o dogma mais importante
de nosso movimento é que devemos agir sob Seu agente. A satisfação Dele
depende disso. Se o agente for uma pessoa falsa, então todo nosso
esforço será desperdiçado. Se ele for um agente verdadeiro, devemos
progredir pelo seu intermédio. Se nos conectarmos a Vaikuntha devido à
nossa conexão com ele, aí nossas ações terão valor. De outra forma,
vamos nos perder, e cometer ofensas: nama-aparadha,
seva-aparadha, arcana-aparadha, ofensas contra o Santo Nome,
contra o serviço devocional, e contra a adoração correta ao Senhor.
Isso está escrito nas escrituras. Se o serviço não
for feito corretamente, com certeza iremos cometer algumas ofensas
contra a Deidade. Ou nós damos prazer a Ele ou, algum transtorno. Essa é
uma forma intolerável de condução do processo sagrado. Devemos tomar
cuidado com nama-aparadha e seva-aparadha. Não devemos ter
confiança demais em nossa conquista prévia. Podemos ter conquistado
tanto, nosso progresso pode ser grande, mas não devemos ficar
orgulhosos. Não devemos ficar satisfeitos com nós próprios.
O próprio Mahaprabhu diz: "Eu adotei o Nome,
demonstro tanta paz, derramo tantas lágrimas, no Nome de Krsna. Mas por
quê? É tudo falso. Minhas lágrimas são só para exibição, para convencer
os outros de que Eu sou um grande devoto". Desse jeito, devemos
desacreditar que somos devotos. Devemos ter muito cuidado, muito, muito
cuidado. Kaviraja Gosvami e Narottama Thakura escreveram assim.
"Sou desprezado, sou deixado para trás, sou
excluído. Sou tão baixo; sou tão contaminado. Sou rejeitado pelo lila
Infinito. Eu não consegui aproveitar essa grande onda da fortuna". Assim
é o verdadeiro sentimento de um Vaisnava que tem uma relação real com o
Infinito. À medida em que o finito entra em contato com o Infinito, a
disposição só pode ficar afetada. Não é imitação; só pode ser a coisa
real.
"Eu estou vazio. Eu não consigo nada". Esse deve
ser o nosso humor. "Sinto um vazio dentro de mim. Não consigo nada,
minha vida está frustrada. Minha vida vai ser frustrada. Eu não consigo
nem uma gota da graça do Senhor; e eu abandonei o mundo; tudo se foi. Se
Você não me aceitar, estou perdido. Por favor, faça-me um servo do servo
do servo do servo. Dê-me a conexão mais remota. Bondosamente, dê-me
alguma conexão bem remota com Você. Não vou conseguir suportar de outra
forma". Essa prece sincera, do fundo do coração, deve vir dos devotos do
Senhor, então encontraremos a nossa fortuna. A atração pelo mundo
exterior deve ser eliminada completamente do coração, totalmente
esvaziada. E o futuro próximo será repleto de néctar pela graça de Krsna.
Bhukti e mukti, os desejos por prazer
e renúncia se comparam a fantasmas. Esses dois tipos de fantasmas moram
dentro do coração. Portanto, como ousamos expressar que bhakti
vive em nosso coração? A nobre dama da devoção, será que ela entra aí,
deita-se na mesma cama junto com esses fantasmas? Como podemos pretender
isso? Será que já nos livramos dessas coisas sórdidas, como ousamos
convidar a dama de Krsna-bhakti para vir aqui?
Necessidade da Verdadeira Humildade
Nossa modéstia não será aceita de modo ignorante
como falta de qualificação; não tenha medo disso.
trnad
api sunicena taror api sahisnuna
amanina manadena kirtaniyah sada harih
"Aquele que é mais humilde que uma folha de grama e
mais tolerante que uma árvore, e que respeita a todos devidamente sem
desejar isso para si, é qualificado para cantar sempre o Santo Nome de
Krsna" (Siksastaka 3).
Significado e prospecto infinitos, assim se dá a
direção geral. Adotamos o processo do som divino, para alcançar essa
meta pelo som divino? Para chegar nesse nível, teremos que aceitar uma
atitude de humildade assim. Aí sentiremos que há um nível muito, muito
refinado o qual podemos alcançar. O nível mais refinado existe. Mas nós
temos que adotar esse tipo de atitude aqui, assim vai ser possível, mas
não à força. Não há necessidade de mover
uma montanha, ou nadar contra a correnteza do rio; não há necessidade de
grandes coisas. Somente pelo cultivo do som espiritual é que vamos poder
alcançar o objetivo.
Mas temos que ter essa atitude, e sentiremos que
chegamos em um nível especial muito, muito sutil. Nós só podemos chegar
lá por meio do som. Nossa alma só vai se atrair e se conectar com ele
somente se pudermos nos saturar com esse trnad api sunicena taror api
sahisnuna.
Isso quer dizer muito, não é uma afirmação externa.
Se adotarmos esse tipo de humor, teremos que atravessar muitos oceanos.
Teremos que atravessar muitos oceanos, para experimentar. Em nossa
posição presente de ostentação egoísta, temos que ir ao nível mais baixo
da folha de grama. Temos que ir de país em país, plano após plano.
Taror api sahisnuna, para chegar nesse tipo de atitude, vamos passar
em nosso caminho por muitos sóis, luas e terras. Temos que dizer adeus a
essas coisas concretas.
Temos que abandonar muitos pensamentos básicos do
concreto; deixá-los para trás para alcançar essa atitude corretamente.
Amanina manadena. Nossa conexão com as coisas sutis e superiores
exige que ignoremos o concreto, amanina manadena. O plano de vida
vai mudar. O plano vai mudar para onde a atividade deveria estar, onde a
energia deveria ser investida; não neste plano, este que vemos em
relação a nós como concreto.
Mahaprabhu diz; não insista, desista de resistir,
ao invés, se vier qualquer resistência, contenha com o máximo da sua
energia. Não tente se intrometer nos projetos físicos de outros.
Manadena, não faça nenhuma oposição a eles. Se pudermos fazer isso,
somos conduzidos automaticamente a um plano especial. Encontraremos
harmonia além de nossa expectativa e de nosso conceito. É algo
milagroso! Só com o Santo Nome descobriremos que Krsna é transbordante,
onipresente.
Sri Caitanya Mahaprabhu instruiu Raghunatha Dasa
Gosvami para ser sempre meigo e humilde, e para cantar sempre o Santo
Nome.
gramya-katha na sunibe, gramya-varta na karibe
bhala
na khaibe ara bhala na paribe
amani
manada haña krsna-nama sada la'be
vraje
radha-krsna-seva manase karibe
"Não fale como as pessoas comuns ou ouça o que elas
dizem. Você não deve comer comidas muito saborosas, nem se vestir muito
bem. Não espere por respeito, mas ofereça todo respeito aos outros.
Cante sempre o Santo Nome de Krsna, e dentro de sua mente, preste
serviço a Radha e Krsna em Vrndavana" (C.c. Antya-lila
6.236-237).
Não devemos prestar atenção em conversas mundanas,
nem devemos nos ocupar nisso. Bhala na khaibe ara bhala na paribe,
não procure a satisfação da sua língua e estômago, não tente usar roupas
elegantes para ser admirado pelas pessoas. Amani manada haña
krsna-nama sada la'be, mostre respeito a todos, mas não espere pelo
respeito de ninguém. Assim nós vamos tomar o Nome de Krsna sempre,
continuamente.
Vraje radha-krsna-seva manase karibe,
devemos tentar servir a Radha e Govinda em Vrndavana internamente em
nossas mentes. Servimos a Radha e Govinda como se estivéssemos em
Vrndavana. Essa será nossa aspiração mental. Continuamos externamente a
viver uma vida simples dessa forma; sem roupas elegantes, sem boa
comida, sem se entregar a tópicos mundanos, nem falar e nem ouvir,
sempre respeitar a todos, sem esperar o respeito de ninguém. Nós devemos
continuar desse modo, kirtaniyah sada harih.
Potência Dentro do Nome
O verdadeiro Nome tem que ser vaikuntha nama
grahanam. Aquele com característica Infinita, que é Vaikuntha; não é
neste plano mundano ou mensurável. Mede-se Maya, ilusão, com o
interesse local ou provincial, não com o interesse Absoluto. Nama
não deve ter raízes aqui, mas tem que ter sua conexão com o plano
Absoluto. Assim Ele virá e vai nos transformar e preparar. Ele vai nos
deixar em forma para o serviço a esse plano Absoluto. Krsna está lá; não
é algo forjado ou imaginado. É a Realidade, e o que pensamos ser real no
presente é irreal.
O som tem que ter a característica divina. Krsna,
Hari, esses sons são nirguna, além de todas qualidades materiais,
e divinos. Sabdha brahma nama-krsna: vaikuntha nama grahanam asesagha
haram viduh (Bhag. 6.2.14). O Nome tem que ser de
característica divina, aquela que pode mandar embora tudo que é
indesejável de nós. O Nome tem que ter um conceito espiritual. Não pode
ser somente uma mera imitação física, que pode ser produzida apenas
pelos lábios e língua.
Krsna, Hari, Visnu, Narayana, todos esses são
nama de Vaikuntha. É preciso que tenham existência espiritual, que é
o principal. Eles têm que ter profundidade espiritual, não imitação.
Imitação física não é o Nome correto. Não é sabdha-brahma; é só a
imitação do som que sai para fora, mas não a profundidade real.
Portanto, Nome significa Nama-brahma, Nama-Krsna.
O Nome tem que ter alguma base espiritual ou
verdade que é distribuída por intermédio do som físico. O som não é
Krsna, mas Krsna está dentro do som. O Nome deve ser saturado com o
espírito, e esse espírito não tem caráter mundano. Não se encontra na
escola de Sankara ou Mayavadi (impersonalista). A crença deles é que
apesar do Nome não estar confinado na jurisdição do físico, ainda assim
é apenas mental, sattva-guna, a qualidade material da pureza.
Isso também é um produto desta maya, equívoco. É o equívoco
deles.
A potência está dentro. O tipo de pensamento ou
sentimento produzido pelo som que é o mais importante. Os Mayavadis têm
o mesmo mantra, eles também cantam o Nome, mas esse tipo de Nome
vai sumir em Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado no universo
material. Eles não vão conseguir atravessar o rio Viraja entre os mundos
material e espiritual.
O Nama Mayavada é como Trovão
Quando o impersonalista Mayavadi canta o Nome de
Krsna, nosso Vrndavana Dasa Thakura diz que sua prece, seu uso do Nome,
e suas características devocionais são como um trovão contra o corpo de
Krsna. Não há nenhum efeito de alívio com esse canto.
No Gaudiya Matha (sociedade espiritual
fundada por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada), estamos
interessados na Realidade, não em aparências. Queremos somente o que é
real do mundo da realização, o passo a passo das práticas espirituais,
os ajustes necessários.
Nós não nos encantamos com a forma externa; a forma
externa não nos atrai. Estamos interessados na idéia e no
desenvolvimento gradual passo a passo no conceito: O que é Viraja, o que
é Brahmaloka paravyoma? O que é Goloka Vrndavana? Tudo isso:
karmibhyah parito hareh priyatayavyaktim yayur jñaninas, tebhyo jñana
vimukha bhakti paramah premaika nisthas tatah. O sastra
afirma que entre todos os tipos de trabalhadores lucrativos, o Supremo
Senhor Hari favorece um que for avançado no conhecimento dos valores
superiores da vida. Entre muitas pessoas desse tipo que são avançadas em
conhecimento, uma que esteja praticamente liberada em virtude de seu
conhecimento pode adotar o serviço devocional. Essa é superior às
outras. Entretanto, aquela que realmente obteve prema, amor puro
por Krsna, é superior a ela (Upadesamrta 10).
É preciso entender essa graduação: O que é Viraja
ao certo, o que é Brahmaloka, o que é brahmajyoti ou brilho
espiritual, o que é Sivaloka, o que é Vaikuntha-loka, e depois o que é
Ayodhya, o que é Dvaraka, o que é Mathura, o que é Vrndavana; a
visualização realista de toda a graduação. Na tatha me priyatama atma
yonir na sankarah. "Ó Uddhava! Nem Brahma, nem Sankara, nem
Sankarsana, nem Laksmi, ou até mesmo Eu próprio, ninguém é tão querido
por Mim como você" (Bhag. 11.14.15). Naivatma (nem mesmo
Eu próprio), "você é Meu favorito, Uddhava". Como isso é possível?
Nós temos que seguir o espírito. Nós somos escravos
da verdade, mendigos do que flui de cima para nós em baixo, a corrente
espiritual, a corrente pura. A forma externa não nos atrai.
Graduações do Santo Nome
Existem os que acreditam que Hari-nama,
Krsna-nama e Siva-nama são unos e iguais, como os seguidores
da Missão Ramakrishna ou da escola de Sankara. Eles ensinam isso, mas
essa idéia se origina no plano do equívoco. Suddha-nama, o Nome
puro, tem que ter sua origem em nirguna-bhumila, muito além do
engano de maya. A influência de maya chega até o Viraja;
depois vem Brahmaloka, e Paravyoma em seguida. O Nome real precisa ter
sua origem no Paravyoma, e Krsna-nama se origina em Goloka, o
plano mais original de toda a existência. Para ser Krsna-nama de
verdade, precisa ter sua origem no plano mais elevado de Vrndavana.
Nama-akara, o simples som físico, não é o
Nome correto. O Nome verdadeiro é necessário não apenas para sairmos
deste mundo de maya, ou engano, mas para conseguir o serviço a
Krsna em Vrndavana. O Nome tem Sua origem no plano de Vrndavana, somente
isso pode nos levar lá. Senão, se o espírito dentro do Nome, do som, for
de qualquer outro tipo, só pode nos levar a este local mundano.
Isso é bem científico, não é irracional. Uma
simples palavra não é o Nome. O significado e a essência do significado,
o conceito profundo do significado, que é tudo; é a soma total. É o mais
importante para servir ao nosso propósito.
Nome Correto de um Guru Autêntico
Devemos receber upadesaka, instrução, de uma
fonte verdadeira, não simplesmente de qualquer um. Asat sangete krsna
nama nahi haya: Não podemos encontrar o verdadeiro Krsna-nama
na companhia dos que não O possuem. O som externo, o som superficial
pode vir para fora, mas não a substância. A cobertura externa do som, o
som ordinário, esse não pode ser Krsna. Nama-aparadha,
nama-bhasa. É som ordinário, não é som de Vaikuntha, não é som
espiritual.
Krsna-nama está onde o som é saturado de
conhecimento espiritual, com sentimento, esse é Krsna. A imitação
superficial de Krsna-nama não é Krsna; é som mundano. Essa é a
diferença entre som mundano e som espiritual. Quando temos vida
espiritual dentro de nós e falamos sobre Krsna, nossas palavras estão
carregadas de substância espiritual.
Tem uma anedota sobre um médico que tinha um
dispensário onde atendia muitos pacientes e receitava muitos remédios.
Um dia, as portas do dispensário estavam abertas mas o médico não
estava. Aí, entrou um macaco, os macacos são bons imitadores. O macaco
entrou e sentou-se na cadeira do médico, ele começou a imitar o médico e
distribuía vários remédios para cá e para lá. Mas o tratamento do macaco
não é igual ao do médico. O aspecto externo está aí, imitação, mas o
aspecto interno está ausente. Similarmente, a compreensão espiritual
precisa estar dentro das ações físicas.
Krsna-nama não é só som mundano; é algo
mais. É preciso receber o som de um guru autêntico que tem
realização espiritual, cujas palavras estão saturadas com substância
espiritual. É necessário. Senão, tudo vai ser em vão; vai ser só cultivo
de som mundano. Vaikuntha nama grahanam asesa. O sastra
afirma que você deve aceitar o Nome identificado com o Infinito;
Vaikuntha-nama; aquele som que tem uma conexão com o Infinito, não o
som mundano limitado, conectado ao mundo limitado. Uma pessoa comum, um
estudante, deve procurar um professor de verdade que poderá oferecer uma
educação verdadeira, não qualquer um ou todos. Essa é a norma.
Uma pessoa com inteligência superior pode descobrir
algo em eventos ordinários. Um especialista pode encontrar a verdade
superior em incidentes ordinários, como Newton. Quando a maçã caiu da
árvore, a realização veio até ele: "Ó! A Terra é que puxa, atrai".
Pessoas comuns vêem uma maçã cair, mas não vem nenhuma realização de que
a Terra é quem a puxa, atrai. Newton descobriu a gravidade. A observação
do ordinário dá nova luz a um especialista, uma pessoa com um cérebro
superior. Do mesmo modo, o espiritualista superior pode obter
realizações profundas do aparente lugar comum. Mas isso não é possível
para as pessoas comuns. Elas devem ir a uma fonte real.
Menciona-se nos Upanisads, no Bhagavatam,
Bhagavad-gita, como e com qual atitude o discípulo deve se
aproximar do acarya, o preceptor espiritual. Se o acarya
possui conhecimento prático e teórico da verdade, se tem mesmo
qualificação, ele não é falso, mas um verdadeiro acarya.
Precisamos procurar por um médico autêntico para
curar a doença, não um macaco que imita médico. Por bom senso. Se temos
sede por conhecimento espiritual, devemos ir a um espiritualista
correto, não um que irá nos prejudicar, avaisnava mukhod girnam,
um acarya de imitação. O bom senso diz, progresso é possível
quando se faz uma transação verdadeira. Às vezes isso é muito difícil. É
necessário um bom professor, mas se o aluno não estiver à altura, o
professor não pode fazer nada. Os dois têm de ser qualificados, aluno e
professor; só assim a educação pode ser dada.
A Vantagem de Kali-yuga
Nesta Kali-yuga, há uma distribuição especial.
Kirtanad eva krsnasya mukta-sangah param vrajet. Mahaprabhu em
Pessoa vem para distribuir isso. É uma situação melhor do que em outras
eras. O sastra diz: yatra sankirtanenaiva sarva-svarto 'bhilabhyate,
na Era Dourada, as pessoas que são arya guna jñah sara bhaginah,
que podem julgar as coisas de acordo com a qualidade por meio da
compreensão inteligente, vão sentir, "eu quero dançar em Kali-yuga.
Acontece uma distribuição especial do mais elevado". Yatra
sankirtanenaiva. "Bem-vindo a Kali-yuga, a Era do Ferro".
Aqueles sadhus que têm uma compreensão mais
profunda anseiam por cantar em Kali-yuga. "Eu não quero nascer na Era do
Ouro, mas na Era do Ferro, yatra sankirtanenaiva. Somente pelo
método de cantar o Nome de Hari, pode-se obter tudo, sarva-svarto 'bhilabhyate.
O que acontece é uma distribuição especial de Deus. Por isso, Kali-yuga
é especial e eu quero nascer nesta Kali-yuga".
Sukadeva Gosvami também declara na assembléia com
os sábios verdadeiros, kaler dosa-nidhe rajan. Esta Era do Ferro
é cheia de defeitos, mas tem uma grande vantagem, asti hy-eko mahan
gunah: simplesmente adotar a pregação sobre Krsna, faz a pessoa se
livrar de todas coisas indesejáveis e obter o objetivo supremo,
kirtanad eva krsnasya mukta-sanga param vrajet. O que é Krsna
sankirtana, essa pregação sobre Krsna? Tem que ser muito especial,
aquilo que pode nos dar tanto benefício. O que é isso? Devemos inquirir
com muita atenção. Não é algo maquinado, algo enganoso. É um fato, um
fato ontológico.
Sem a ajuda de mais nada, só com o cantar de
Krsna-nama, pregar sobre Krsna, vamos desfazer todas as coisas
indesejáveis e alcançar o objetivo mais elevado da vida. O que é isso?
Como se experimenta isso? Devemos inquirir sobre isso com essa atenção
profunda. Não atropele. Não é algo insignificante. Descreve-se que isso
tem tanto horizonte; mergulhe fundo para tentar entender isso. Precisa
ser feito com esse tipo de sentimento. Temos que "morrer para viver" com
toda a seriedade. Morrer para viver; com essa seriedade poderemos
alcançar o objetivo.
O que é kirtana? É distribuição para o
ambiente. Kirtana é aceitar tudo do plano mais elevado e
distribuir às pessoas comuns. Isso deve ser feito em um humor sério.
Isso é krsna-katha; isso é consciência de Krsna, consciência de
Krsna da fonte certa. Receba da fonte original e distribua em grande
escala.
Pregar não é algo fácil em Kali-yuga, pois o
ambiente é muito negativo. Kala significa disputa; há tantas
opiniões. Todos estão a disputar para estabelecer sua própria
superioridade. Todos lutam duro para estabelecerem seus diferentes tipos
de mentalidades. Temos que fazer a distribuição no meio de todos eles,
temos que fazer isso com afinco. Temos que fazer algo efetivo. Essa
dedicação tem que vir do coração com muita energia com toda sinceridade.
Assim vamos obter a realização suprema. Não é algo ordinário, mas uma
realidade.
Sraddha é a Exigência Mínima
Consciência de Krsna é sem causa; ou seja, não tem
começo, e apratihata, não tem fim. Sem começo, sem fim. É o fluxo
ou vibração ou onda central. Qualquer interesse separado, consciência
separada é anartha. Artha quer dizer necessidade; tudo que
não for uma necessidade, mas atua como uma necessidade com base em
interesse separado, é anartha. O que é necessário é evitar essa
trilha de interesses separados que nos desvia, e aprender a ter a
leitura Infinita, a leitura do Infinito; para a identificação com o
fluxo universal, a onda universal.
Ao sermos levados por diferentes ondas de
consciência, isso é anartha, aquilo que não é necessário. A única
necessidade é mergulhar na onda do interesse universal. É para Ele
Próprio. Aham hi sarva yajñanam bhokta ca prabhur eva ca. "Eu sou
o único aproveitador e tudo pertence a Mim, incondicionalmente". Assim é
a posição de Deus. Ele é o ponto máximo, o centro de harmonia mais alto.
E nós temos que nos submeter cem por cento a Ele. Qualquer desvio disso
é anartha.
Anartha significa sem sentido, aquilo que
não tem sentido. Sentido, servir a um propósito, é pegar essa onda
universal, para ter conexão somente com o movimento universal. Tudo que
não for isso é anartha, indesejável, desnecessário. Não serve a
nenhum propósito. Estamos em contato com anartha, as coisas
indesejáveis que não servirão a nenhum propósito.
Nossa causa verdadeira, o propósito de nossas
vidas, nossa satisfação, e nossa existência será encontrada dentro da
onda universal do Absoluto. Isso é consciência de Krsna, a onda mais
universal e mais fundamental. Nós temos que pegar essa onda. Nosso
objetivo, nossa satisfação, a realização de nossa vida só se encontra
lá, nesse plano, não neste plano superficial de nacionalidade ou
interesse familiar ou serviço social. Todos esses são interesses
provinciais.
Mas para parar os movimentos pessoais de vez, para
eliminar a própria existência, para obter samadhi, cessação de
toda atividade; isso é suicídio. Nós temos que abandonar o prazer bem
como a renúncia; abandonar as más ações e também a abstenção de toda
ação. Numa nação, muitos trabalhadores podem falhar em seguir as regras
corretas de produção, e isso é ruim, é desordem. O produto vai ser ruim.
Porém, entrar em grave também não produz bons resultados. Nenhum
trabalho, isso também é ruim. A única coisa boa é trabalhar para o
interesse da nação.
Temos que ir de nosso interesse local, separado,
para o interesse universal, para o interesse do Absoluto. Evitar todo
interesse local, por maior que pareça, seja auto-centrado, centrado na
família, centrado na vila, centrado na província ou centrado na
humanidade.
Mahaprabhu aconselha a nos purificarmos com a ajuda
do som divino. Mas o som precisa ser genuíno, transcendental,
consciência de Krsna, a onda real. Só há uma exigência mínima para nossa
purificação nesta era de controvérsia. Kali quer dizer disputa,
controvérsia. Tudo gera alguma dúvida; tudo precisa de alguma prova;
todos têm uma mentalidade muito desconfiada.
Aproveite a vantagem desse som. Exige-se o mínimo
de nós, a taxa mínima de admissão é sraddha, fé. Se fizermos
isso, se realizarmos esse sankirtana, tudo será realizado. Essa
fé básica tem que estar aí. Essa atitude vai nos ajudar. Precisa haver
cooperação sincera, cooperação franca com os agentes da consciência de
Krsna. Isso pode nos purificar com muita facilidade.
A exigência mínima para nós é ter fé que esse
movimento da consciência de Krsna irá nos purificar. Se participarmos
desse movimento, tudo será realizado. Essa convicção generosa e ampla, e
a cooperação sincera com os agentes podem nos ajudar num curto espaço de
tempo. A cooperação com o som divino, o aspecto sonoro do Supremo, é de
fácil aproximação para os iniciantes. A partir daí, virá a compreensão
sobre vários outros aspectos do Infinito.
Comece com o aspecto sonoro da consciência
universal. O aspecto sonoro é facilmente alcançável; outros virão
gradualmente. Nossa aproximação precisa ser sincera, franca. Estamos com
problema, e precisamos disso. Isso vai nos dar o verdadeiro alívio de
todos os problemas. Vai pôr um fim em todos os problemas que
experimentamos agora, e também todos aqueles que possamos experimentar
no futuro.
Qualificações para Cantar o Nome
"Ó Govinda! Que posso fazer? Não há um único
ofensor como eu. Meu Senhor, tenho vergonha de levar minhas ofensas
perante Você e tê-las perdoadas. É vergonhoso até mesmo indicar perante
Você que sou tão atroz, que sou tão grande ofensor. Sinto-me
envergonhado de recordar minhas próprias más ações. Sinto-me
envergonhado de levá-las a Você e rogar pelo perdão delas. Estou
envergonhado. Sou um tipo tão grande de pecador. Que mais posso dizer a
Você, meu Senhor? Sou um grande pecador".
Assim é a natureza dos devotos mais elevados; eles
se consideram incapazes para o serviço. Qual é o caminho? Qual é o nosso
destino? Progresso para esse lado, o lado negativo, o lado submisso.
Nosso lugar é lá, no fim mais longínquo do lado negativo, o mais pequeno
dos pequenos, o mais baixo dos baixos.
Para onde devemos focalizar nosso olhar, nossa
visão? Nossa meta é essa, alcançar o lado negativo, sinceramente;
abnegação pessoal ao extremo. Essa é a medida, tornar-se o mais baixo
dos baixos. Será que é possível? Será que é imaginação, uma quantidade
imaginária? Devemos aspirar por qual purificação? Abnegação pessoal.
Analise, analise, e descarte. Analise e descarte
todas tendências egoístas e convencidas: "Eu sou isso, eu sou aquilo. Eu
tenho muito do que me orgulhar". Isso tem de ser eliminado, e eliminado
completamente. Não é algo fácil. Tornar-se grande é fácil, mas é falso,
como extorsão. Dizer, "sou um grande homem", é muito fácil. Mas dizer,
"não sou nada", aceitar esse credo com sua cor verdadeira, sua
verdadeira natureza, é muito difícil. "Eu não sou ninguém, não sou
nada"! É muito difícil.
Vaisnava haite bara mane jiru sadha, trnad-api
sloke tripure gelo bara. Tem um ditado popular em bengali: "Eu tinha
a grande aspiração de me tornar um Vaisnava, mas ao me deparar com o
verso que descreve as qualificações do Vaisnava, trnad api sunicena,
taror api sahisnuna, fiquei desapontado. Não é possível ser mais
humilde que uma folha de grama, e mais tolerante do que uma árvore".
Amanina manadena. Respeite a todos, mas não
espere nenhum respeito. Podemos aceitar o Nome do Senhor, de Krsna, com
essa atitude. Assim nosso desejo será satisfeito. Temos que aceitar o
Nome de Krsna com essa atitude. Temos que ser mais humildes que uma
folha de grama e mais tolerante que uma árvore. Mesmo ao ser cortada, a
árvore continua a dar sombra ao madeireiro. E ela não pede água a
ninguém. É muita abstinência! Assim é que devemos adotar o Nome de Krsna,
e vamos encontrar Sua ajuda imediatamente, prontamente. O padrão, a
qualificação para adotar o Santo Nome, assim se estabelece.
trnad
api sunicena taror api sahisnuna
amanina manadena kirtaniyah sada harih
"Pode-se cantar o Santo Nome do Senhor em um estado
mental humilde, ao considerar-se inferior a uma palha na rua. Deve-se
ser mais tolerante que uma árvore, sem nenhum senso de prestígio falso e
pronto a oferecer todo respeito aos outros. Nesse estado mental, pode-se
cantar o Santo Nome do Senhor constantemente" (Siksastaka 3).
Srila Bhaktivinoda Thakura explicou que somos de
fato inferiores à palha na rua, pois em nossa existência presente somos
vikrta, ou desordenados. Mas a palha é pelo menos passiva e
mantém sua posição natural. Nós perdemos nossa função correta e nos
tornamos de valor negativo; falta-nos o valor positivo da palha pois
somos adversos à nossa posição natural.
Vamos contra nosso próprio interesse com nossa
inteligência. Nós temos inteligência, mas está desencaminhada, oposta à
própria ordem das coisas. A palha está em equilíbrio; não pode se mover
por vontade própria. Mas nós podemos nos mover para a direção errada,
portanto, estamos em uma posição muito pior do que a palha. Usamos
nossos recursos com desejo de nos desencaminhar, mas a palha mantém a
sua posição fixa sem desvio.
No sentido mundano, podemos ter uma posição
superior à da folha de grama ou da árvore, mas para que isso? Fazemos
mal uso de todos nossos créditos para nosso egocentrismo. Portanto somos
inferiores à palha. Nós estamos armados, mas armados para o suicídio. Um
louco não deve ter uma adaga. Ele é perigoso. Ele pode se apunhalar a
qualquer momento. Ele é louco.
Krsna está em Toda Parte
Krsna, Krsna, Krsna. Onde está Krsna? Chegue nesse
nível, chegue nesse plano, e vamos ver que Krsna está em toda parte. Mas
nossos olhos e nossos sentidos se atraem pelos encantos de diferentes
lugares, e não temos tempo de olhar em direção a Krsna. Sabatha krsne
mukti kari janma. A percepção de Krsna está em toda parte, mas nossa
visão se atrai, fica capturada, por tantos encantos flutuantes, que não
podemos ver Krsna.
Nosso preconceito com o mundo externo cobriu nossos
olhos, e arrastou todos nossos sentidos a ele, e não podemos ver Krsna.
Não podemos ver o verdadeiro benquerente, o verdadeiro guardião, o
verdadeiro amigo, o verdadeiro amante. Estamos tão ocupados com nossas
transações com coisas externas que não temos tempo de jeito nenhum para
olhar em direção a Ele. Nós ignoramos nosso melhor amigo.
Esta transação com o ambiente externo continua
devido a nosso ego falso, a personalidade falsa. Essa é a posição de uma
pessoa em cativeiro, um ser caído. Nosso eu verdadeiro não está
representado na transação que acontece em nosso nome. Os sentidos, a
mente e a inteligência estão saturados com outros interesses, e conduzem
uma transação falsa. É uma situação desesperada. Sarvopadhi
vinir-muktam tat-paratvena nirmalam.
Anyata rupam, aquilo que é como uma doença,
indesejável, coisas estranhas indesejáveis, veio para nos cobrir. Isso é
upadhi, um elemento estranho e indesejável. Portanto, precisamos
repudiar nossos disfarces estranhos, todas essas identificações falsas
com a vestimenta externa. Rejeitar todas; livrar-se de todas. Elas não
são necessárias. Nós achamos que eram amigas, mas são nossas inimigas.
Devemos nos preocupar com a pessoa dentro, a alma, e que não é ilusão,
mas a verdade correta. Isso é anyata rupam. Após a eliminação com
sucesso desses inimigos, devemos chegar em nossa posição positiva certa
no mundo de amor e beleza.
Anseio com Rendição é Nossa Riqueza
Quando chegamos no ponto mais alto do
desapontamento, às vezes, de algum jeito, no fundo de nosso coração,
rezamos, "Ó Senhor, estou perdido, salve-me! Estou sob o controle de
tantos inimigos na forma de amigos. Mantenho uma posição tão
desesperada, meu Senhor. Desde tempo imemorável, sirvo a todos esses
mestres, mas eles nunca ficam satisfeitos com meu serviço. Agora me
encontro nesta posição desesperada, meu Senhor. O Senhor só deve vir por
decisão própria, e Se declarar. Assim eles correrão de medo de Você.
Senão, não tenho mais esperança". Esse tipo de prece ardente do fundo do
coração para o Salvador, é o que é necessário para nós.
Podemos aspirar por essa misericórdia com nossa fé
e determinação. Se incrementarmos a qualidade de nossa negatividade, o
sentimento de que sou muito baixo, o positivo vai se atrair
automaticamente. Nós precisamos incrementar o poder de nossa posição
como uma unidade negativa.
Trnad api sunicena (sentir-se inferior à
grama), dainyam (humildade), atmanivedana (rendição).
Ansiar com rendição é nossa riqueza. Nós somos a sakti, a
potência, e potência se refere à unidade negativa do Positivo, o
Potente. Devemos incrementar nosso lado negativo, nosso anseio. O
Positivo vai ficar automaticamente atraído por nós.
Qualquer coisa mais bela e valiosa que nos
deparamos, podemos apenas nos render a ela. Esse é o critério. Se
encontrarmos algo mais elevado em nossa vizinhança, nossa apreciação
significa se render a isso. Temos que medir o grau de qualidade da
verdade que encontramos conforme o grau de rendição. Isso só pode ser
medido conforme o grau e intensidade da rendição, o quanto podemos nos
render ao que encontramos, ao ponto de não ter volta. E os devotos
verdadeiros não sabem o que é satisfação ou saciação. Eles não sentem
nenhum traço de satisfação e que nunca conseguem nada. Nunca. A doçura
interior da verdade e a sua característica infinita são assim. A verdade
atrai. Ela pode atrair para o grau e magnitude mais altos.
Aceitar a Escravidão Perfeitamente
A melhor qualificação dentro de nós é nossa
aceitação da mentalidade escrava em relação ao Absoluto. Essa é a única
forma de ansiar pela companhia da existência mais elevada. Devemos estar
prontos para aceitar a escravidão até sua perfeição, e aí vamos ter
permissão para entrar nesse domínio. Senão, não temos esperança. Não é
muito fácil abraçar a mentalidade de escravo, escravidão eterna.
A escravidão é nosso prospecto futuro. Será que
estamos prontos a pensar dessa forma? Temos que ser tão sinceros e
confiantes de que existe tal entidade mais alta. Nossa esperança e fé
têm que ter uma natureza tão magnânima para entrar nessa terra. Será que
assinamos o contrato, o compromisso para aceitar a escravidão eterna!
Queremos entrar nessa terra! Temos que procurar por nossa fortuna, e
assinar o contrato de escravidão. A companhia lá é tão elevada que
desejamos essa companhia mesmo como escravos. Nós ansiamos sinceramente
por essa doce terra onde nossas insignificantes pessoas podem se tornar
escravas. Essa fé intensa é necessária, onde toda outra experiência,
mesmo o conhecimento, falha. Só a fé pode nos levar até lá.
A consciência de interesse separado (dvityabhinivesatah)
nos desviou de Krsna. O interesse comum é só Nele. Somente assim nosso
serviço será bhakti. Sem isso, tudo se perde. Saranagati,
rendição, precisa estar presente para poder existir devoção viva, senão
ouvir e cantar são só formas, não vida. Portanto, saranagati
significa conexão e identificação exclusivas com o interesse de Krsna.
Como não podemos ver Krsna diretamente, servimos ao guru e ao
Vaisnava que é querido por Ele. Conforme o grau de nossa abnegação
pessoal em rendição pessoal, seremos beneficiados, e desenvolveremos as
características específicas de santa, dasya, sakhya,
vaysalya, ou madhurya-rasa.
Nós temos que admitir o direito de nosso Mestre,
para pegar ou largar. Nós somos escravos. Mahaprabhu diz, jivera
svarupa haya - krsnera nitya-dasa: A natureza eterna do ser é a
servidão a Krsna. Essa é a nossa posição constitucional. Será que temos
coragem suficiente para admitir isso? Será que podemos admitir que nosso
mestre tem direitos totais sobre nós? "Sim, meu Mestre tem plenos
poderes sobre mim. Estou pronta para ir ao inferno caso necessário para
a mínima satisfação de Seu prazer". Nós ouvimos quando as gopis
estavam prontas para oferecer a poeira de seus pés como "remédio" para
aliviar a "dor de cabeça" de Krsna, mesmo se tivessem que ir para as
regiões inferiores do inferno por causa dessa transgressão. Podemos
achar essas narrações muito agradáveis, mas aceitá-las é horripilante.
Jivera svarupa haya - krsnera nitya-dasa; sem risco: sem ganho.
Risco total, ganho total. Essa confiança é necessária. Uma escolha
livre, clara e arrojada; estamos prontos para isso?
Queremos morar na terra da imortalidade? Queremos
janma, mrtyu, jara e vyadhi (nascimento,
morte, velhice e doença), ou imortalidade? Se queremos imortalidade,
temos que pagar a passagem. E temos que tirar o visto. Temos que nos
preparar para tal começo categórico. E o contrato que temos de assinar é
escravidão a Krsna. Jivera svarupa haya - krsnera nitya-dasa. Se
quisermos ir para essa terra mística, a terra da esperança, prosperidade
e prospecto infinitos, temos que ir como escravos, pois esse plano é
feito de uma substância superior a nós.
O Poder do Santo Nome
Srila Jiva Gosvami escreveu que os sadhus,
os yogis, os brahmanas, os seguidores de Sankara e os de
outras escolas, todos eles concluíram que se pode destruir os resultados
de todas ações prévias por meio do conhecimento individual, yoga
individual, ou da devoção individual. Todas, ou seja, salvo e exceto
parabdha-karma, aquelas ações que determinaram o corpo atual e já
estavam atadas ao corpo antes do nascimento.
A escola de Bhakti discorda. Nós afirmamos
que com o poder de Krsna-nama, mesmo as impurezas adicionadas ao
nascimento, raça, credo, casta, ou qualquer outra coisa, podem ser
eliminadas por completo. Isso não é possível com yoga, jñana,
ou qualquer outra coisa, mas com Krsna-nama, todas as impurezas
podem ser totalmente removidas, mesmo parabdha-karma. Quando todo
parabdha-karma se purifica, a pessoa alcança a posição de
nascimento superior, à do brahmana.
Jiva Gosvami diz, é nesse ponto que a pessoa chega
ao status de criança brahmana. Uma criança brahmana não é
considerada apta ao trabalho de um brahmana, até que e a menos
que receba o cordão sagrado e o mantra. Quando possuir
upanayana-samskara, só então estará apta para adorar Narayana,
realizar sacrifício, e executar outros deveres reservados a brahmanas.
Ao aceitar o Santo Nome, estamos purificados e
alcançamos a posição de uma criança brahmana. Mas, Srila Jiva
Gosvami observa que devido a não se encontrar nenhum sistema para dar o
cordão sagrado para aqueles não nascidos em família brahmana,
talvez tenhamos que esperar até nosso próximo nascimento para executar
adoração brâmane. O Gosvami admite que sem levar em conta a casta da
pessoa, se adotarmos o Santo Nome de Krsna, descartamos qualquer defeito
de nascimento, e alcançamos a posição de um jovem brahmana.
Quem é um Brâmane
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada,
para continuar essa linha de pensamento, disse que não há nenhum mal em
dar o cordão sagrado a pessoas não nascidas em famílias brâmanes. Nosso
Guru Maharaja veio para introduzir isso. Ele disse que há duas falhas em
não introduzir a iniciação do cordão sagrado. Primeira, aqueles que
recebem iniciação Vaisnava podem achar que estão situados abaixo dos
brahmanas. Ao contrário, eles devem entender que não estão mais em
uma posição inferior e estão aptos para executar todos os vários
serviços. Segunda, os brahmanas de aparência, que se orgulham de
sua consciência corpórea, podem considerar os que receberam diksa
Vaisnava como situados abaixo. Assim, cometem ofensas contra os
Vaisnavas.
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada
adiantou-se com audácia na introdução desse sistema de
upanayana-samskara para que brahmanas e outras ditas castas
superiores não cometam vaisnava-aparadha, e para os que receberam
o mantra Vaisnava não se considerem inferiores ou inaptos à
adoração brâmane. Não há contradições nas regras do sastra. Não é
errado conceder o cordão sagrado a um Vaisnava segundo o siddhanta,
mas não havia nenhum sistema estabelecido anteriormente. Nosso Guru
Maharaja foi quem estabeleceu.
brahmananam sahasrebhyah satrayaji visisyate
satra-yaji-sahasrebhyah sarva-vedanta-paragah
sarva-vedanta-vit-kotya visnu-bhakto visisyate
vaisnavanam sahasrebhya ekantyeko visisyate
"O verdadeiro devoto de Visnu é superior a milhões
de brahmanas vaidantika comuns. Um brahmana que
pratica é melhor que um brahmana de nascimento. Prática significa
executar sacrifícios e adoração a Krsna. Aqueles que adoram Krsna com a
ajuda de sua consciência são superiores àqueles que adoram com coisas
materiais. Aqueles que são vedanta-vit acham que seu objetivo é a
consciência não diferenciada, mas se alguém puder obter consciência
diferenciada, vai estar em uma posição superior a milhões de
brahmanas vaidantika. Eles sofrem da doença mental de achar
que espiritualidade significa Brahman não diferenciado. Os bhaktas
de Visnu, que podem ver a personalidade na consciência, são muito
superiores. Entre os devotos, aqueles que se governam segundo as
escrituras são da ordem de Vaikuntha, e aqueles que se rendem com
exclusividade ao serviço da Entidade Absoluta com amor e fé mais
profundos são da ordem mais elevada" (Garuda-Purana).
Como o Som entra no Coração do Discípulo
Realização divina não é algo que se adquire; ela
vem para baixo por seleção de cima. Vem para baixo em continuação da
linha discipular. O Senhor a distribui por meio de Seu agente. Ela vem
até nós em baixo pois Ele a fornece. O Senhor deseja propagar Seu Santo
Nome; se propagar Sua graça abaixo é Seu prazer; é por causa dessa
necessidade que ela descende Dele por meio de Seu agente. A qualificação
do agente é sua fé. Ele tem que ter fé especialmente em seu Gurudeva, o
próximo centro superior. Ele precisa experimentar todas suas atividades
por meio do próximo centro superior e provar seu fervor nele. Só então e
dessa forma que o fornecimento vai descer.
Nós somos solicitados a não ver o guru em
sua personalidade ordinária, mas como o mediador transparente com a
função mais elevada em sua linha. Nós só vamos poder ver assim se nossa
visão for profunda. O discípulo vai ver o Senhor presente em seu
Gurudeva de acordo com a intensidade de seu sraddha. O princípio
do guru, guru-tattva, é muito especial, muito nobre, muito
amplo e muito profundo.
Estranhamente, o agente às vezes pode não saber as
coisas que passam por ele com esse plano.
aham
vedmi suko vetti vyaso vetti na vetti va
bhaktya bhagavatam grahyam na buddhya na ca tikaya
O Senhor Siva diz, "Eu sei o significado do
Bhagavatam e Sukadeva também sabe. No caso de Vyasadeva, pode ser
que ele saiba ou não saiba. O Bhagavatam só pode ser conhecido
por meio de bhakti, não com inteligência mundana ou com a leitura
de vários comentários".
Vyaso vetti na vetti va: Pode ser que Vyasa
saiba ou não saiba o significado do Bhagavatam, mas o
Bhagavatam passa através de Vyasa. Isso é tatastha-vicara, um
julgamento imparcial. A partir do ponto de vista absoluto, foi dito que
mesmo Vyasa pode não saber as coisas que vêm através dele para o
benefício de outros. Apesar disso acontecer às vezes, ainda assim não
devemos admitir facilmente que Vyasa não sabe.
Uma vez eu disse isso a meu Guru Maharaja. Nós
estávamos em Darjeeling e eu havia composto um sloka em sânscrito
sobre Srila Bhaktivinoda Thakura. Mostrei o poema a ele, que o agradou
muito. Havia um discípulo nessa época que era seu secretário; Prabhupada
ditava e um discípulo escrevia as cartas para ele. Nesse dia, chegou uma
carta de Vana Maharaja da Inglaterra que demonstrava conhecimento sobre
informação confidencial. Prabhupada perguntou quem tinha dado essa
informação a Vana Maharaja. Seu secretário respondeu, "Prabhupada, o
senhor mesmo escreveu essa notícia para ele". Prabhupada respondeu,
"Não, não, não. Eu não escrevi isso para Vana Maharaja". O secretário
respondeu humildemente, "Mas Prabhupada, o senhor ditou a carta e eu
escrevi. Eu me lembro. O senhor deu essa notícia a ele". Prabhupada
disse novamente, "Não, eu não me lembro". Ao ouvir isso, eu comentei, "vyaso
vetti na vetti va", e Prabhupada riu.
Paramananda Brahmacari, um dos discípulos mais
íntimos de Prabhupada, também estava lá, e o servia como assistente
pessoal. Ele disse, "Sridharah sakalam vetti - mas Sridhara
Maharaja sabe tudo". Então eu respondi, "Sri-nrsimha-paramananda-prasadatah
- pela misericórdia de Paramananda".
Dessa forma, as coisas podem descer através do
acarya para beneficiar outros. Mahaprabhu disse a Sanatana Gosvami,
"Eu sinto a graça de Krsna fluir através de Mim para você. Eu não
conheço todas essas coisas, elas não são Minhas". Por isso se diz,
vyaso vetti na vetti va. O Vyasa que escreveu o Bhagavatam
pode ser que saiba ou não saiba o seu significado. Vem de outros através
dele. Isso é algo possível, mas nem sempre. Krsna é muito independente.
Todas as glórias à Sua independência!
Nós somos Seus servos. Qual é nossa
responsabilidade, Seus instrumentos? Ele pode agir de qualquer forma que
desejar. Tudo acontece de acordo com o Seu desejo; e se Ele desejar ao
contrário, as coisas podem acontecer de outro modo. Tudo faz parte de
Seu lila, Seu divertimento. O Absoluto é lilamaya. Lila
é o fluxo contínuo e irresistível de ananda, bem-aventurança
suprema.
Certa vez, a cerimônia de Vyasa Puja de nosso Guru
Maharaja foi celebrada no Matha de Cuttack. Vários cidadãos importantes
foram convidados, como Janaki Bose, pai de Netaji Subhash Chandra Bose,
que era o procurador geral de Cuttack na época. Todas essas pessoas
sentaram em um tapete no chão, enquanto ofereceu-se um trono para
Prabhupada sentar.
Em sua palestra, Prabhupada disse, "Recebi tanta
honra, vestimentas, adoração, sândalo e flores. Leram tantas coisas boas
sobre mim, aqui na minha presença. E eu aceito essa adoração perante
tantos membros da elite da cidade. Mesmo uma fera no zoológico sentiria
vergonha de aceitar tantas honras, tanto respeito, na frente de tantos
cavalheiros. Será que eu não deveria ter vergonha também? Por que então
aceito tudo isso? De fato, eu aceito tudo em benefício de meu guru
e eu aceito isso unicamente para enviar para ele. Eu não sou nada sem
meu guru. Eu sou adorado pois recebi
suas palavras, seu conselho. Eu sou honrado pois segui suas
orientações, senão eu não seria capaz. Por isso, apesar de ser
humilhante e me causar muita dor de cabeça, mesmo assim aceito essas
honras para demonstrar sua posição exaltada".
Bhakti Só Sob o Agente Superior
Quando entrei na missão, eu queria ler os livros da
missão, inclusive o Bhagavatam, mas não tive nenhum encorajamento
de nenhuma autoridade. A coisa real, a solicitação real é usar nossa
energia para o serviço ao Senhor. É só por esse processo que podemos
subir, não com a satisfação de nossas necessidades intelectuais.
Jñana-sunya-bhakti, uma pessoa não letrada pode alcançar uma posição
mais elevada no reino da devoção do que outra pessoa letrada. Nós
podemos nos ocupar em cultura literária com a ordem do agente do Senhor,
como o próprio Mahaprabhu instruiu a Rupa e Sanatana Gosvamis. É claro
que eles obtiveram seu conhecimento para utilizar no serviço à
sampradaya, a sucessão discipular Gaudiya. Ele também pediu a
Raghunatha Bhatta para ouvir o Bhagavatam de alguém que soubesse
o significado verdadeiro.
Jiva Gosvami foi a única exceção. Mahaprabhu pediu
que ele estudasse independentemente antes de se juntar ao grupo de
Vrndavana. Ele deixou o lar e foi para Benares, o centro de todos os
tipos de aprendizado da época. Ele estudou vários sastras e se
juntou aos outros em Vrndavana depois. Lá, sob a orientação de Rupa e
Sanatana, ele utilizou seu conhecimento previamente adquirido no serviço
à sampradaya. Quando recebemos a inspiração de cima para estudar,
esse estudo é devoção. De outra forma, o desejo de estudar, de ser
instruído, pode não ser próprio à bhakti, suddha-bhakti.
O agente superior, o Vaisnava, tem que utilizar
minha energia. Essa energia tem que ser gasta na satisfação do mundo
superior. Aí vai ser bhakti, vai ser devoção. Minha imaginação
mental pode trazer sukrti, mas não vai ser suddha-bhakti
se eu tiver mentalidade para ajudar a sampradaya de forma
acadêmica. Eu tenho que continuar meu estudo por conta própria.
Aceita-se isso quando a pessoa está conectada com o agente superior, aí
poderá ser considerado devoção; de outra forma, não. É uma tentativa
empírica com algum tipo de boa imaginação. Mas não é bhakti pura,
devoção pura. Devoção pura é cumprir as ordens que vêm de cima, do
agente superior. As ondas chegam em baixo; pegue-as e então aja de
acordo.
Nosso irmão espiritual Nisikant Sanyal disse que
quando alguém recebe a solicitação de um Vaisnava para escrever ou ler
qualquer livro, nesse caso é devoção. Mas quando lemos algum livro
devocional por decisão própria, isso não vai nos dar devoção. Isso vai
ser karma ou jñana. Render-se incondicionalmente à
instrução que vem até nós em baixo, isso é bhakti. Tudo mais é
imitação. Encontramos esse aviso em toda parte. É isso que temos de
entender.
Até mesmo a leitura das escrituras não é devoção a
menos que seja sob a ordem de um Vaisnava. Leitura independente é apenas
busca por conhecimento. A obediência ao Vaisnava garante nosso vínculo
com o Senhor. Sadhu-sange krsna-nama; cantar o Nome ou qualquer
serviço que prestamos na companhia de devotos tem a garantia de que vai
alcançá-Lo. E o quê garante isso? A resposta será, "Seu agente foi quem
disse, por isso estou ocupado. Eu não sou meu senhor; eu sou servo
dele". Essa consciência tem que ser genuína, na medida do possível. O
sucesso depende desse princípio.
Se recebermos a solicitação para pregar, para fazer
trabalho de alívio aqui, nós executaremos esse dever unicamente por
indicação de, no interesse de, desse plano superior, sem nenhuma
vaidade. Nós devemos pensar, "Eu tenho que me colocar totalmente à
disposição do plano superior, e não devo ficar ansioso para me tornar um
acarya, um mestre espiritual. Senão, há o perigo de cometer
nama-aparadha, ofensa contra o Santo Nome do Senhor".
Asraddadhane vimukhe 'py asrnvati, yas copadesah,
siva-namaparadhah. Dar o Santo Nome a quem não tem fé é uma ofensa.
Revela a motivação para ganhar uma posição na esfera superior. Isso é um
tipo de apego mundano, um comércio espiritual, como é o hábito da casta
gosvamis e outras linhas espúrias. Ao invés, a atitude saudável
seria, "Se eu for indicado por cima, aí vou servir conforme designado, e
isso também, só para o interesse daqueles que me apontaram. Eu vou
entrar nesse posto somente pelo interesse dessa terra superior". Assim é
a aproximação pura e perfeita.
Srila Sridhara Svami, o famoso comentarista do
Srimad Bhagavatam, afirmou, sa carpitaiva sati yadi kriyeta, na
tu krta sati pascad arpyeta: "O serviço devocional tem que ser
oferecido ao Senhor primeiro, depois executado; não executado e depois
oferecido". Nós já devemos estar comprometidos quando começamos a
servir. Nós não devemos coletar capital e tentar utilizá-lo
posteriormente no serviço ao Senhor. O compromisso é com Ele, com Krsna.
Nós viemos a saber sobre Ele para Ele, não para o
nosso benefício ou de ninguém mais. Nós só pregamos por causa da
instrução que vem de cima. Só se recebermos uma instrução dessa região
superior, "Vá e pregue", que deveremos fazer isso. Só assim a nossa
pregação vai ser serviço, e nunca se for feita por nome e fama. Nós
devemos ser designados pelo comando superior, e devemos pregar somente
em nome dele; só assim vai ser pregação autêntica. De outro modo, vai
ser comércio. Na sa bhrtyah sa vai vanik: Prahlada Maharaja nos
avisou contra essa mentalidade comercial em nome da verdade espiritual.
A devoção é um plano separado e distinto onde nós
vivemos somente para o centro. Nós aspiramos viver e nos mover somente
como agentes do centro, nunca desconectados do centro. Isso é
consciência de Krsna. A Realidade é para Si mesma, e nós temos que nos
governar por essa regra estritamente. Ele é para Ele mesmo, tudo é para
Ele, nós somos para Ele. Tudo que fazemos também tem que ser para Ele.
Temos que aderir estritamente a esse conceito, e sempre examinar se o
que vamos fazer é para Ele ou para qualquer outro partido, por mais
importante que possamos achar que seja.
Conexão com a Divindade
Srila Bhaktivinoda Thakura diz que no grupo de
sankirtana, quando cantamos o Santo Nome, tem que ter pelo menos um
suddha-bhakta, um devoto puro. Pelo menos um suddha-bhakta
tem que estar presente e liderar o grupo de sankirtana. De outro
modo, o canto vai ser nama-aparadha, ofensivo. A conexão com a
divindade é necessária, que descende pelo agente, o agente autêntico.
Ele pode receber em seu coração muitas ondas de desejos do Senhor; os
desejos do Senhor atingem seu coração.
Temos que nos conectar com esse centro e só assim
vamos obter bhakti. De outro modo, vai ser bhakti de
imitação, não devoção. Muitos desejos fugazes podem torná-la impura;
nossa atração por conhecimento, satisfação da nossa curiosidade intensa
sobre bhakti antes de aceitar o processo; ou o desejo por fama ao
dar uma palestra. Nós temos que nos render e receber a ordem do agente.
Nós temos que admitir que não sabemos o que é bom e o que é ruim, e que
precisamos ter uma ordem direta de cima.
Quando o guru mora muito longe e não há
tempo de consultá-lo, e nós precisamos tomar alguma decisão imediata,
devemos tentar pensar em como nos direcionar nessa posição e atuar de
acordo. Devemos compreender o que nosso Gurudeva nos pediria para fazer
nessa situação. Temos que tentar conseguir algum tipo de ordem dele. Ele
já pode ter dito algo em uma situação similar, e na medida da nossa
compreensão, devemos seguir assim.
O critério de bhakti é que qualquer coisa
que façamos, a idéia inicial tem que vir de cima, independente da ação.
Seja ir para o templo ou fazer qualquer outra coisa, não importa. Nossa
ação tem que ter a conexão superior. Isso é bhakti. É
independente dos três gunas: sattva, rajas e
tamas. Ahimsa, não prejudicar - sattva-guna; himsa,
violência - raja-guna; sonolência e preguiça - tama-guna.
As escrituras e os mahajanas vêm para nos
ajudar. No presente, podemos pensar que a independência vai nos dar
satisfação adequada, mas na real isso é incorreto. Ao contrário, ela é
nossa inimiga. Nós queremos sair de qualquer constrangimento
circunstancial, e se ficarmos livres, seremos felizes. Isso é errado. Ao
invés, o oposto é verdade; nós devemos tentar viver em uma família
unida. Nós precisamos ser acomodados; precisamos corrigir nossa
natureza. Nossa independência é nossa inimiga.
Visão Subjetiva
Aqueles que estão em contato com a Divindade são
onividentes, oniscientes, subjetivos. Pessoas ignorantes atribuem visão
objetiva a esse plano superior. É difícil de conceber. Se estivermos
perante a Deidade, não devemos nos entregar à nossa visão ou qualquer
outro sentido para experimentar a Deidade. Quando achamos que Ele é um
objeto dos nossos sentidos, estamos enganados. Devemos estar treinados
para ver o Vidente na visão. Drastari drsyatvam; tente ver a
existência subjetiva.
A Deidade é existência subjetiva. Nós somos o
objeto da Sua visão. Ele é onividente, magnânimo, onisciente. O
Bhagavatam diz que essa é a visão correta. Assim estamos na posição
para ver a Realidade; nós temos que entrar em contato com a Realidade.
Tudo é supersubjetivo. Aí vamos viver no dhama, o reino sagrado.
Isso que é dhama, a área divina, onde se pode sentir que todo o
ambiente é superior, feito de existência subjetiva. Tudo deve ser
respeitado; nada é para nos servir, para o nosso prazer. Tudo deve ser
aproximado com veneração e consideração. Nós somos seus servos. O Senhor
e Seu reino são veneráveis, supersubjetivos. Assim nós entramos em
contato com Vaikuntha, a entidade superior.
A entidade objetiva é maya total, bhoga
total. O que vemos como objeto de nosso prazer é ilusão e imaginação,
maya. Quando tudo é reverenciado, adorado e tratado com respeito, aí
estamos em Vaikuntha, em Vrndavana. O Caitanya Caritamrta
menciona; vaikunthera prthivy-adi sakala cinmaya (C.c.
Adi-lila 5.53); tudo é feito de substância espiritual superior a
nós. Abaixo existe Maya e acima existe Yogamaya, a terra do Senhor. Nós
queremos nos livrar deste embaraço, este interesse separado. O que é
superior, imaginamos que é inferior a nós e queremos usar para nosso
próprio objetivo e prazer. O mundo do prazer é um mundo imaginário.
Devemos aprender que tudo deve ser tratado com
reverência e com uma atitude de servidão, tudo. Assim vamos poder entrar
em contato com o dhama, a terra do Senhor, onde cada partícula
tem que ser adorada. Tudo tem uma posição superior. O que é realmente
supernatural, tratamos como se fosse parte naturalmente da experiência
sensual. Não. Só tente, bhidyate hrdaya-granthis cidyante
sarva-samsayah, ksiyante casya karmani mayi drste 'khilatmani (Bhag.
11.20.30). Desassocie o ego de existência separada totalmente do prazer.
Abole a tendência por prazer, de utilizar tudo que encontramos para a
satisfação dos sentidos. Este ângulo de visão, esta maya, este
ego, o centro desta experiência tem que ser totalmente abolido.
Dissolvido. E todas as dúvidas vão ser iluminadas quando nos acharmos
nesse plano.
Quando estivermos livres das garras do interesse
separado, toda a suspeita e dúvida será iluminada. Nós vamos sentir isso
pela experiência direta da alma, a experiência dos sentidos internos que
possuímos. Depois não vai haver mais necessidade de todas nossas
tentativas e esforços; tudo isso vai parar. Não é preciso fazer nenhum
esforço especial para o nosso propósito pois não temos existência
separada. Nós somos partículas do Infinito e aquilo que nutre o Infinito
vai nos nutrir também.
Vamos encontrar o interesse geral em toda parte.
Nós não somos separados, portanto não há necessidade de atuar por nosso
interesse especial. Nós devemos ver o plano divino para todos, inclusive
cada grão de areia. Nós somos um no todo e a corrente principal faz
tudo, portanto nenhum karma, não é necessária nenhuma ação de
nossa parte.
Aí vai ficar muito claro que temos o nosso dever
dentro desse fluxo universal, e somos um deles. Nós somos partículas lá.
A força universal nos guia automaticamente dessa forma. Isso é Yogamaya,
a potência interna do Senhor, não Mahamaya, a controladora do universo
material. A ação do interesse separado nunca atua nesse plano, mas
influenciado pelo interesse geral do todo. Nós temos nosso momento lá, e
isso é serviço, não prazer.
Ocupação Intensa em Serviço Responsável
O serviço responsável pode nos ajudar a não sermos
vítimas da luxúria, ira e outros inimigos da devoção. O mais destacado
entre nossos protetores é a fé, sraddha. Depois vem
sadhu-sanga, companhia dos devotos puros, e bhajana-kriya,
ocupação intensa em deveres prescritos pelo mestre divino. A ocupação
intensa é necessária, especialmente para a mente, não meramente para o
corpo.
A ocupação mental só se consegue com
responsabilidade. Dá-se algum serviço responsável ao discípulo. Nós
sentimos seu peso e ele ocupa nossos pensamentos; nós só conseguimos
pensar nele. A mente está ocupada lá, com certeza. Assim, a mente não
tem chance de habitar em coisas inferiores. Essa é a beleza da ocupação
intensa em serviço responsável. No sentido prático, isso nos ajuda
muito. Assim, associação e escrituras serão de benefício substancial
para nós: como serviço (pariprasna, sevaya).
Na medida que somos capazes de nos ocupar em
serviço responsável intenso, o efeito de nossas tendências impuras se
minimiza. Elas vêm e espiam, e vão embora quando descobrem que estamos
ocupados intensamente. Não temos tempo de dar atenção à luxúria e à ira;
não podemos ser seduzidos. Desse modo, elas terão que bater em retirada.
Depois, se voltarem uma, duas, três ou mais vezes, não vamos dar a menor
atenção a elas. Vamos estar intensamente ocupados em seva.
Seva, serviço, não deve ser meramente
físico; há o seva mental, e só a responsabilidade pode capturar a
mente. Com responsabilidade, a mente é obrigada a pensar no assunto;
senão, a mente está livre para ir de cá para lá mesmo se o corpo estiver
aparentemente ocupado. Portanto, ocupe a mente em serviço intenso,
serviço responsável.
O que é necessário é a dissolução da atividade com
interesse separado. Aí a pessoa vai surgir no mundo totalmente venerável
e totalmente respeitável; nenhuma conexão com coisas inferiores. Nós
somos servos do servo do servo. Nós somos os mais baixos; todos os
outros são superiores. Nós vamos entrar em contato com a substância
totalmente superior, e a substância inferior da imaginação vai se
extinguir para sempre. Isso é sat-cit-anandam. Sat,
existência eterna; cit, consciência plena, alma plena, subjetivo
pleno; e anandam, sem ansiedade. O fluxo geral é irresistível e
automático, assim não há possibilidade de nenhum sofrimento ou dor.
Assim é o fluxo espontâneo da bem-aventurança, e nós vamos viver nesse
plano. Ou melhor, Yogamaya, um poder superior, supremo e afetuoso, nos
mantém. Ela vai nos capturar e nos utilizar no serviço ao misterioso
Senhor Krsna.
Sob a Mão Afetuosa de Nossa Guardiã
Yogamaya vem e nos influencia, e somos levados para
a terra dos nossos sonhos pelo toque mágico dessas mãos afetuosas. É uma
terra onde nos ocupamos com auto-esquecimento, jñana-sunya-bhakti;
afeição plena. Estamos sob as mãos afetuosas da guardiã. Nós não sabemos
nada, mas somos guiados por nossos guardiões afetuosos de tal forma que
vivemos na terra do mistério, dos sonhos. Nós achamos que estamos em uma
posição muito inferior, mas no tatastha-vicara (julgamento
imparcial) esse tipo de vida é a posição mais feliz para um ser jiva.
Atuamos sob as mãos afetuosas dos guardiões e temos alguma fé e
consciência inata natural para trabalhar de acordo com a orientação
deles.
Jñana-sunya-bhakti. Não existe cálculo, nem
auto-interesse, mas somos entregues dessa forma à causa central como se
fosse em um sonho. Nós trabalhamos automaticamente como um instrumento,
e somos felizes. Somos manipulados e guiados pela fé, pela afeição, pela
bondade, pelo amor, pela misericórdia. Não há necessidade de nenhum
cálculo individual egoísta. Até mesmo o chão pensa em nosso interesse.
Todos lá, sob o custo de seu próprio interesse, procuram o interesse dos
outros.
Não há escassez de anandam, rasam,
aquilo que vivemos a procurar. Não há escassez disso lá. Tudo está lá
profusamente. Afeição, simpatia, misericórdia, e amor transbordam na
terra da opulência. Do jeito que pudermos, precisamos entrar nesse
plano; eles vão cuidar de nós. O terreno vai cuidar de nós! O chão é tão
superior, tão elevado, tão bom, bhumis cintamani, vrksa kalpa taru,
garmanam natyam katha ganam. Doce, doce, doce, doce, doce, doce,
tudo é doce na terra da doçura.
Distribuição de Sua Riqueza Íntima
O Bhagavatam e o Caitanya Caritamrta
descrevem, e encontra-se espalhado em outros Puranas, que
Mahaprabhu, Radha-Govinda combinados, veio distribuir Sua própria
riqueza íntima para o público. É possível para nós nos aproximarmos e
conseguir a admissão dentro desse fluxo. Não é estático, mas sim um
fluxo dinâmico.
É preciso que nos tornemos livres daqueles que são
subservientes a nós. Nossa tendência na posição condicionada,
baddha-jiva, é que tudo deve nos servir e nos satisfazer, mas temos
que nos livrar dessa atitude. Não apenas temos que ser indiferentes a
ela, como também temos que ter alguma ocupação de serviço positiva. Tudo
que está em volta de nós é superior; cada partícula é de uma substância
superior, suprema. É isso que é necessário, cid-vilasa. Nosso
progresso no todo significa que não vamos entrar em contato com
quaisquer substâncias inferiores. Nós somos o mais pequeno dos pequenos,
o mais baixo dos baixos. Somos encorajados a aceitar a mentalidade de um
servo do servo do servo. Não é hiperbólico; é realidade. Nós temos que
entender a vida real, em serviço. Tudo em volta de nós é bom, superior a
nós. Nós necessariamente devemos sempre convidar alguma melhora em nós
próprios pela associação com os agentes superiores. Podemos absorver
algo positivo a cada segundo.
Temos que Nos Lançar ao Capricho do Infinito
Nós mergulhamos no oceano infinito com o
distanciamento da limitação. Mergulhamos no Infinito a partir da posição
finita tangível. Ele vai nos ver. As coisas aparentemente estáveis não
podem nos abrigar. Nós queremos abandonar a companhia da associação
tangível e nos aventurar no Infinito. Mergulhar no oceano; não é uma
tarefa fácil; negligenciar a coisa tangível em que estamos agora, a
matéria sob nosso controle. É um pouco tangível, mas instável. No
presente, onde nos apoiamos, é aparentemente tangível. Mas por ser
transitório, precisamos nos desassociar disso e nos lançar ao Infinito.
Vamos dar um passo muito corajoso agora. Vamos nos
atirar ao capricho do Infinito, do tangível para o Infinito, vamos dar
um passo muito corajoso. Como o Infinito vai lidar conosco? Será que vai
nos adorar, ou Ele vai nos ignorar totalmente, ou Ele fará algum plano
negligente para nós? Não existe certeza.
Aslisya va pada-ratam pinastu mam. Podemos
nos perder na onda do poder infinito, va pada-ratam pinastu mam
adarsanam marma hatam karotu va. Talvez nem tenhamos chance de
entrar em contato com Ele, yatha tatha va vidadhatu lampato. Ele
é caprichoso no nosso entendimento. Ele é O adorado e Ele nos ignora.
Não tem nenhuma explicação para isso, mat prana-nathas tu sa eva
naparah. Mas não temos nenhuma outra alternativa além de nos
rendermos à Sua atividade caprichosa. É preciso adotar essa atitude.
Lançar-nos ao capricho do Infinito é um ato muito,
muito incerto e extremamente corajoso, e vamos fazê-lo por espontânea
vontade. Nós não sabemos qual vai ser o nosso destino. Mesmo assim
queremos essa promoção a uma conexão com o poder superior. Parece ser um
risco, mas ainda sim pode ser um ganho substancial. Nós viemos ao lugar
certo para abrigo. Vão nos conectar com o plano real. Não é um engano;
esse vai ser o nosso consolo.
O favor de tantos agentes inferiores que é efêmero,
e não tem estabilidade. Nós podemos ser ignorados pelo poder central,
mas se a qualquer momento pudermos chamar sua atenção, nossa posição vai
estar bem a salvo e elevada. Assim, vamos aceitar um grande risco para
nosso maior prospecto de vida, apesar de não ser facilmente obtido. É um
ato de risco, sarva-dharman-parityajya.
De outro modo, permanecer em nossa posição presente
e progredir devagar, isso também se recomenda, sva-dharme nidhanam
sreyah, para-dharmobhayavahah. "Abandone tudo e tente vir a Mim. Eu
estou lá e vou salvá-lo". Esse tipo de consolo está lá da parte Dele.
"Eu não sou cego, Eu posso ver qualquer coisa e tudo. Se você vier
realmente para o Meu abrigo, Eu estou pronto. Eu vou abraçar você". A
afirmação é assim a partir do lado Dele.
Da perspectiva dos devotos que nadam no oceano, e
sob a pressão da corrente, subcorrente e inundação, é muito difícil!
Mesmo assim eles não podem abandonar essa campanha, esse esforço
revolucionário. O caminho constitucional e o modo revolucionário, ambos
estão lá. Mas o modo constitucional produz um progresso muito lento. Não
há certeza de quando se vai alcançar o objetivo, e às vezes acontecem
reveses.
Melhor Servir no Céu
O melhor no fim das contas é deixar o mundo de
decepção, maya, engano, o mais rápido possível, mesmo com todo o
risco possível. Pule com grande velocidade na esperança de se encontrar
com o plano não traiçoeiro e amoroso. Esta maya é traiçoeira.
Muitas unidades que lutam entre si, assim é a posição aqui. Livrar-se
disso e pular na área do Absoluto é considerado algo muito, muito
elevado e de grande valor. A posição mais inferior lá é muito, muito
mais grandiosa do que a posição mais elevada neste mundo de engano.
Nós labutamos sob tanta suspeita; tão comprometidos
e oprimidos por maya, a parte deturpada do mundo, que nunca
conseguimos nem pensar no conceito da verdade e bondade. Estamos tão
longe do padrão da bondade e verdade; não podemos entender qual deve ser
o verdadeiro sintoma da existência superior. Somos muito caídos.
Satanás diz, "É melhor reinar no inferno do que
servir no céu". Assim é geralmente o resultado de nossa experiência de
vida aqui. Nós queremos reinar no inferno do que servir no céu. Mas só o
oposto será de verdadeiro valor para nós. Morrer para viver. Ao sair
deste reino, queremos passar para o mais elevado. Após cruzar além da
associação do Brahman que tudo acomoda, além do conceito de Paramatma,
além até mesmo da fonte de todas as fontes e Mestre de toda energia,
Narayana, lá está Krsna em Vrndavana, que satisfaz toda existência com a
realização do amor. Lá fica claro que a aproximação do Infinito para o
finito está em sua percepção plena, como se Ele fosse um de nós. Ele
está muito perto de nós, e Seu amor e afeto são altamente extensivos lá.
O Poder da Afeição
Sri Krsna-karsini. O poder peculiar do amor
é esse: O superior é controlado pelo inferior por alguma tendência, e
isso se chama amor. Quando uma criança pega o dedo de seu pai e o conduz
a algum quarto, o pai vai. O pai é mais forte e o poder da criança é
insignificante, mas o pai é derrotado pelo poder da afeição. Afeição e
amor estão lá, onde descobrimos que o pequeno controla o grande.
A submissão ao mestre é tão intensa que o mestre se
torna subserviente ao servo devido à afeição: "Ele pode dar sua vida ao
Meu menor sinal ou gesto. Portanto, como posso tratá-lo"?
Automaticamente, o coração do mestre vai para o servo. Isso é amor,
prema. Que potência milagrosa existe nesse amor e afeição. O
Absoluto é controlado por Sua potência.
Geralmente é o dono da potência quem guia a
potência, mas às vezes a potência guia o dono. Assim é o amor. Não é a
capacidade física mas a capacidade refinada da força mais sutil, aham
bhakta paradhino. "Sinto-me como se Eu fosse interdependente, não
Absoluto. Sinto que Eu sou controlado por eles só pela devoção; Eu não
sou o senhor do Meu próprio Eu". O Absoluto fala desse jeito. Que coisa
espantosa é bhagavata-prema? Encontra-se presente em maior
percepção no caso de Krsna em Vrndavana. Aham iha nandam vande
yasyalinde param brahma, "Não tenho nenhuma atração pelo
Mahabharata, Veda, Upanisad e todas essas coisas",
nandah kim akarod brahman, sreya evam mahodayam, "mas minha única
atração é por Nanda, pois descobri que o Supremo Absoluto Onipotente
engatinha em seu quintal como um bebezinho". O Bhagavatam
considera essa uma situação muito valiosa. Como é isso? O Parabrahman em
uma situação tão ordinária. Será que Ele é o Parabrahman ou Ele é alguma
outra coisa?
Yasoda, a mãe de Krsna, tenta castigá-Lo, mas ao
tentar amarrá-Lo, em cada tentativa a corda fica dois dedos menor. Falta
só dois dedos para amarrá-Lo pela cintura, mesmo com a emenda de outro
pedaço de corda falta dois dedos. Ela O castiga e Ele chora, mas ainda
tem a diferença. Ela tenta amarrá-Lo em volta da cintura contra Sua
vontade, mas faltam dois dedos na corda. Emenda mais corda, mas sempre
faltam dois dedos, e depois, e depois. Ele mama em seus seios e quando
ela briga com Ele, Ele chora, "Ó Minha mãe, não Me bata, Eu não vou
fazer mais isso". Outra vez, quando Ele bocejou, Yasoda descobriu todo
brahmanda, a criação inteira, dentro da boca da criança. Aí ficou
com medo, mas no momento seguinte um gato miou e o menino pulou em seu
colo de medo. "Ó, Ele é meu menino, meu filho. Ele não é o Brahman que
tudo acomoda, não! Ele é meu menino"! Assim, desse modo, Ele brinca de
esconde-esconde.
O Infinito Toca o Finito
Quando o Infinito vem até o finito em Seu toque
mais próximo, às vezes mostra esse caráter Infinito e às vezes o caráter
mais finito. Ele faz muitas grandes coisas só por diversão. Quando
Trnavarta veio para matá-Lo, Ele estava no colo de Yasoda. Sua mãe
sentiu imediatamente o bebê muito, muito pesado, tanto que não conseguia
carregá-Lo em seu colo. Ela teve que pô-Lo no chão, assim Trnavarta
levou a criança com a tempestade. Depois de alguns minutos, todos viram
que o grande demônio caiu no chão, e o bebê segurava a garganta do
demônio, em cima dele. Aí, Yasoda foi e pegou seu filho depressa. "Ó,
felizmente o bebê aterrissou em cima da cabeça do demônio morto. Senão,
Ele teria Se esborrachado". Trnavarta, o demônio gigante, foi derrotado
pelo bebê, mas com diversão.
As coisas mais milagrosas vêm para um nível
simples. Da forma mais divertida e de modo simples Ele realiza grandes
feitos, que levam muito tempo, muita energia, muito valor, e tudo
termina em apenas um segundo numa forma bem peculiar. Realiza grandes
coisas com um mínimo esforço. A aproximação do Infinito para o finito em
sua forma mais próxima se controla por uma tendência especial, e que é o
amor, prema.
Bhakti é assim. Devemos tentar entender o
que é essa devoção que pode controlar o Absoluto. Mahaprabhu veio
sugerir que devemos seguir somente esse caminho, que é em Vrndavana.
Tente ter uma posição, um lugar em Vrndavana, nesse nível, nesse plano
de vida. Temos que nos aproximar de Vrndavana com esse conceito geral. E
o que é Vrndavana? Não é a soma total de alguma aparência. Uma mera
imitação de um grupo particular de aparências não pode produzir tal
resultado. A própria vida é assim, muito valiosa; a transação da vida
tem que estar lá.
Morrer para viver. Sacrifício. Devemos pedir por
esse tipo de morte que vai matar a própria morte. Se quisermos viver
nesse plano mais elevado, temos que nos entregar completamente; esse é o
preço desse objetivo valioso. O que é esse poder sutil? Como podemos
adquiri-lo? Qual deve ser o preço? Quão séria deve ser a transação?
O Fácil Atendimento da Sua Apelação
Prataparudra Maharaja desceu do trono para servir
como varredor de Jagannatha. Isso derreteu o coração de Mahaprabhu.
Antes disso, vieram muitas propostas a Mahaprabhu. "O rei quer vê-Lo; se
Você permitir, ele pode vir para ter Seu darsana". "Não, não,
isso não é bom. As pessoas vão dizer que este sannyasi tem
ganância por dinheiro e poder, por isso Ele quer se encontrar com o rei.
Isso causa a má reputação de um sannyasi sadhu, por isso
não quero que ele venha Me ver. Eles vão apontar indiretamente que Eu
tenho desejo por dinheiro. Eu não gosto disso". Mas quando Mahaprabhu
viu que ele aceitou a posição de varredor para o Senhor Jagannatha, Seu
coração naturalmente derreteu e Ele abraçou o devoto.
Quando vamos ter o toque do Supersubjetivo, temos
que saber que Ele é onividente, onisciente, onipresente, ou seja, Ele vê
tudo, sente tudo, ouve tudo. A base genuína da vida espiritual é assim.
Depois vamos entrar em contato com a realidade superior; senão temos que
penar na lama da imaginação. A atitude deve ser de querer ser usado por
Ele, e tentar qualquer chance de servi-Lo: "Eu vim aqui para servir, e
não para apreciar a paisagem".
Ele é Infinito e Ele gosta do finito. O finito é
Seu amigo. Mas quando o finito quer exibir uma tendência fingida de se
tornar grande, Ele não gosta. Quando a pessoa assume a posição menor, aí
Ele vem para abraçá-la, trnad api sunicena, taror api sahisnuna,
amanina manadena, kirtaniyah sada harih. Não deseje nada, e qualquer
coisa que venha nos atacar, tente saber a futilidade desse esforço. Tudo
está sob uma mão. A mão Suprema está por trás de tudo, portanto resolva
tolerar tudo. Temos que exibir tolerância, até que a mão superior venha
controlar. Nós não temos que impedir ou se opor a nada; trnad api
sunicena.
Não perturbe o ambiente, e se o ambiente vier nos
oprimir, então tome o curso da tolerância. Não pague com a mesma moeda.
Tente encontrar a vontade Suprema aí. Nós temos que sentir, "Fiz algo
errado, e isso veio para me controlar e para exigir a reação pelas
minhas ofensas. Tat te 'nukampam susamiksamano. Com a visão
perfeita, nós não brigamos com o ambiente. Nem mesmo uma palha pode se
mover sem o desejo Supremo, sem a ordem da vontade Suprema. Portanto, o
que vem para me atacar é minha necessidade. É necessário para mim, para
minha correção".
Quando uma mãe castiga sua criança, ela o faz
somente com a boa intenção de corrigir a criança. Similarmente, o
Absoluto não tem natureza vingativa para nos punir, mas Suas ações são
só para nossa correção. Nós temos que enxergar e nos aproximar dessa
forma.
Tat te 'nukampam susamiksamano bhuñjana
evatma-krtam vipakam: "Tudo de indesejável que encontramos aqui é
resultado de nosso karma prévio, e pela boa vontade do Supremo,
esse karma prévio vai acabar. Nós seremos aliviados. Nós vamos
nos capacitar para o serviço mais elevado a Ele, isso vai acontecer".
Esse é o conselho do Bhagavatam. Não brinque com o ambiente.
Tente se adaptar a ele, temos que nos corrigir. Aí vai estar tudo bem.
Então amanina, não deseje nenhuma posição,
manadena, mas respeite cada um e todos. Adote o Nome com essa
atitude, e nosso apelo à vontade Suprema será atendido com muita
facilidade. Vamos conseguir que nosso apelo seja atendido fácil e
rapidamente se nos aproximarmos Dele com essa atitude. Essa é a chave do
nosso sucesso, nosso caminho para a felicidade. Não perca energia em
todas as direções, mas comande tudo para uma direção, com a restrição de
todos os lados. Não desperdice energia para lutar contra o ambiente por
nada, mas todo esforço deve ser direcionado para o Absoluto. Aí, bem
rápido, o sucesso vai chegar para coroar nosso esforço.
O Critério Mais Elevado de Lila
Se algo satisfaz Krsna, isso é bom. Krsna-lila
acomoda tudo, até mesmo erros. Um erro pode definir algo certo. Krsna
queria que Yudhisthira dissesse uma mentira, mas Yudhisthira hesitou, e
finalmente balbuciou, asvatthama hata iti gajah (Asvatthama, o
elefante, está morto). Krsna pediu para ele dizer uma mentira, mas
Yudhisthira hesitou.
Submissão ao pedido de Krsna, qualquer coisa que O
satisfaça, isso é verdade. A satisfação de Krsna é o teste final, não se
é bom ou ruim de acordo com os padrões deste mundo. Só a satisfação de
Krsna; o critério mais elevado de lila está aí.
Nós não encontramos todas essas coisas nos
passatempos de Ramacandra. Aí, niti ,ou respeito a regras e
regulamentos, tem a mão superior. Mas em Krsna-lila, encontramos
a importância interior, com a eliminação da rigidez externa da
moralidade.
Karna insultou Yudhisthira no campo de batalha.
Yudhisthira saiu da batalha e Arjuna o seguiu. Krsna também veio
descansar no meio da guerra, para Se refrescar um pouco. Nesse momento,
Yudhisthira repreendeu Arjuna, "Você me pediu e obrigou a esta guerra.
Eu não era favorável à guerra. Eu dependo de você, e você não se empenha
em lutar sinceramente por mim. Você estava lá e Karna me insultou.
Amaldiçôo seu Gandiva"!
Arjuna tinha feito um juramento de que cortaria a
cabeça de quem quer que ofendesse seu arco Gandiva, ou então ele mesmo
morreria. Yudhisthira amaldiçoou o Gandiva, e Arjuna ia desembainhar sua
espada. Krsna disse, "O que você vai fazer, seu tolo? Vai cortar a
cabeça do seu irmão mais velho, para cumprir sua promessa? Qual o valor
dessa promessa? Você não prometeu milhares de vezes que faria
Yudhisthira, seu irmão mais velho, o rei, o imperador? Mas para que
servem essas promessas, ao ver você pronto para cumprir essa suposta
promessa de decapitar a cabeça de seu irmão mais velho? Muitas promessas
se fazem no campo de batalha. A guerra continua com toda fúria, e você
vai cortar a cabeça de seu irmão mais velho"?
"Você acha que é esse o objetivo da lei? Você acha
que se criou a lei moral para tal trivialidade? Ao eliminar a
substância, você só pega uma parte da forma e faz tamanha tempestade em
copo d'água. Sim, há oito tipos de mortes. Elogiar-se a si mesmo, isso
também é um tipo de morte. Assim, você se elogia a si mesmo, você é tão
grande, tão grande. E isso é um tipo de morte". Então Arjuna pôs sua
espada de lado.
O propósito é a satisfação de Krsna; o Centro, o
bem Absoluto que tem consciência plena e conhecimento pleno, onisciente.
Sua satisfação, esse é o critério mais alto de cada ação, e todas as
outras leis são subordinadas a essa lei. Existem tantas leis, e tantas
categorias, mas o ponto mais alto é que todas conduzem à satisfação de
Krsna. Esse deve ser o critério mais elevado para tudo. Krsna
sukhatah. Ele é um autocrata, Absoluto, mas Ele é o bem Absoluto.
Essa é a justificativa. O bem Absoluto é autocrático, e todos nós somos
membros de um acampamento militar em relação ao general. Não há outra
consideração. Toda lei se concentra na ordem do general, pois Ele
conhece melhor do que todos soldados.
Temos que ter nosso alvo fixo em direção ao reino
superior. Tudo tem que vir de lá. Não podemos desperdiçar nossa energia
em nenhuma ocupação que seja considerada boa ou má a partir de nossa
perspectiva. Esse julgamento só surge a partir da relatividade deste
mundo mayic. Temos que ter muito cuidado quando pegamos uma onda,
a onda vem do plano mais refinado, não do plano grosseiro. O pensamento
que nos motiva, que nos excita a agir, de que plano vem? É do plano
superior, mais refinado? Podemos pegar a notícia dessa onda? Se pudermos
ler as ondas desse plano superior, está tudo bem.
Devemos pegar sempre a onda que vem desse plano
superior. Isso nos ajuda a começar nossa atividade de lá e nossos
serviços retornarão para lá, para serem registrados nesse plano. Isso
nos ajudará qualitativamente de forma extraordinária. Precisamos
rejeitar nosso ambiente presente para a melhoria qualitativa, inclusive
até mesmo a esfera mental. Tente obter informação do plano mais alto
possível e então se prostre a ele, e não ao ambiente externo em
consideração de qualquer bem ou mal.
O Guru é Servo dos Discípulos
Numa ocasião, Prabhupada Bhaktisiddhanta Sarasvati
deu uma palestra a seus discípulos e amigos onde começou, "Ó meus amigos
que me livraram de um grande perigo". Ele se referia a seus discípulos,
"Vocês vieram para me livrar de um grande perigo. Vocês vieram para me
salvar. Vocês são muitas expansões de meu guru. A posição das
pessoas que vêm para ouvir sobre Krsna não é inferior à do orador. Sua
presença é um sinal de que receberam graça, sukrti, e que possuem
amor por Krsna. Todos vocês vieram para me ajudar em meu caminho da
realização de Krsna. Todos vocês são meus amigos e ajudantes. Vocês
vieram para me salvar de uma posição perigosa".
Assim Prabhupada começou sua palestra. Como ele
apresentou a filosofia, o aspecto ontológico, a conclusão, tão
belamente, com tanta mestria e harmoniosamente. Qual é a posição do
guru? O guru é um servo do discípulo. Externamente, parece
que os discípulos são os servos, mas internamente nós consideramos o
guru como servo de todos seus discípulos. Ele tenta deixá-los aptos
para o serviço a Krsna. O guru serve a tantas pessoas para que
elas sejam capazes de servir a Krsna, como quando vamos ao templo e
limpamos e arrumamos as coisas, para que isso seja aceito por Krsna.
O guru vai ainda mais além. Ele diz, "Estou
em perigo. Vocês todos vieram para me dar alguma ocupação. Vocês me
forçam a me ocupar em Seu serviço por falar sobre Ele. Vocês me ajudam a
me ocupar na cultura da alma. Vocês vieram para me salvar".
"O conhecimento sobre Krsna não tem limites; é
infinito. A busca por Krsna nunca acaba, portanto você não pode
descansar. Você não pode dizer que já está adiantado e agora só faltam
alguns quilômetros para finalmente alcançar Krsna de uma vez por todas.
Não, não é assim! Nossa busca por Krsna é como nadar em um oceano
ilimitado, e vocês vieram para me encorajar em meu movimento em direção
a Krsna. Vocês são muitos amigos que vieram para me salvar nesse oceano
de amor de Krsna e conhecimento de Krsna. Nós estamos juntos em nossa
busca por Ele".
Aproxime-se do Guru com Sraddha
Não se deve considerar a posição do guru
como mundana, ao se identificar com sua aparência mundana. Nós podemos
obter o benefício de nossa relação com o guru somente por meio de
sraddha. Nós só vamos conseguir nos aproximar dele com sraddha,
não importa a distância, perto ou longe. Claro que na vizinhança física,
podemos ter chance de ouvir direto dele e testemunhar vários
procedimentos práticos que podem nos ajudar em nosso caminho. A
proximidade pode nos dar o conhecimento de Vaisnava sadacara, a
conduta apropriada de um Vaisnava. Dessa forma, podemos ter alguma
concepção sobre essas coisas, mas tem que haver sraddha.
Sraddha, fé reverencial, tem que existir aí
em qualquer caso; proximidade ou afastamento físico não é a questão. No
estágio mais baixo, a proximidade física tem mais eficiência. Nós
aprendemos com os movimentos do guru, suas conversas, e com suas
instruções a etiqueta espiritual. Também, muitos ideais espirituais
podem se tornar claros em sua companhia. Por isso a proximidade física
pode ser útil no estágio mais baixo, mas sraddha tem que existir,
senão vamos cometer ofensas.
A proximidade física desprovida de fé pode ser a
causa de ofensas contra Gurudeva. Às vezes, os irmãos espirituais mais
experientes podem ser muito úteis em nosso trato com Gurudeva quando
somos iniciantes. A conduta de Sri Gurudeva pode não ser sempre muito
clara ou útil para nós, nesse caso, algum irmão espiritual mais
experiente pode vir a nos ajudar e explicar os movimentos e eliminar
qualquer diferença que possamos enxergar nele.
isvaranam vacah satyam tathaivacaritam kvacit
tesam
yat svavaco yuktam buddhimams tat samacaret
"As instruções das grandes personalidades são
sempre verdade, mas sua conduta e suas práticas podem não ser sempre
úteis para os iniciantes. Por isso a pessoa sóbria vai aceitar as
práticas que se baseiam em suas palavras, com a compreensão de que em
seu estágio mais elevado, ele pode fazer algo que pode não ser útil para
os que estão no estágio mais baixo. Ele tem tanto poder espiritual que
aquilo que se vê como defeito em um iniciante não pode atingi-lo de
nenhum modo. Portanto, os iniciantes com mentalidade honesta vão aceitar
aquelas práticas que estão em harmonia com suas instruções, pois são
úteis para seu progresso" (Bhag. 10.33.31).
Nós não devemos imitar mas sim seguir. Não
anukarana (imitar) mas anusarana (seguir os passos). Temos
que entender a diferença. Fé ou sraddha é a primeira coisa
necessária para nós; depois vamos poder ter a conexão com nosso guia
espiritual, estejamos perto ou longe dele. É vital que a conexão seja na
linha certa, independente de influência grosseira ou sutil. O plano
energético que estimula nossa indagação sobre nosso próprio bem estar,
que é parte e parcela da questão.
Brahma-jijñasa é a questão para o plano da
compreensão. Está escrito no Vedanta, e quando vem até Sriman
Mahaprabhu na linha do Srimad Bhagavatam, desenvolve-se em
krsnanusandhana, a busca por Sri Krsna. O Vedanta é a flor, e
o Srimad Bhagavatam é o fruto maduro do conhecimento espiritual.
Aquilo que se mistura de algum modo com atividade, ritual e conhecimento
neste plano, encontra-se no Veda. Quando desabrocha no Vedanta
se torna purificado, "Onde estou, o que sou"? Quando o fruto amadurece
se transforma em utilidade; que é krsnanusandhana.
A Busca pela Realização do Nosso Coração
A indagação no Vedanta é sobre o ambiente
Infinito, onde somos apenas partículas, e no Srimad Bhagavatam, a
natureza da indagação é mais desenvolvida, krsnanusandhana: "Quem
é o meu Mestre, quem é o meu Guia, de Quem existo eu"? Assim é o plano
do Srimad Bhagavatam, que está na louca busca, "Com Quem vou
conseguir realizar minha vida? Onde está esse Mestre do meu coração? Não
posso continuar sem o meu Senhor". Mahaprabhu veio com esse
krsnanusandhana, o fruto maduro saboroso da árvore do Veda, o
plano do Srimad Bhagavatam.
Nós buscamos por rasa, por satisfação, em
toda parte. Podemos nos submeter a diferentes trabalhos, mas o fator
comum em tudo é a procura pela satisfação. Sriman Mahaprabhu nos deu o
plano do Bhagavatam, que pergunta, "Quem pode saciar toda sede
dentro de mim? Onde está meu Senhor, a realização do meu coração"? A
procura real tem que ser só por isso; senão a procura nunca vai acabar.
Quando a procura chega nesse estágio e nós temos a orientação certa, aí
vamos ser levados gradualmente até Ele, nosso Mestre.
Por quem procuramos, esse rasa, essa
felicidade, esse prazer? É por nosso Mestre, nosso Guardião, e não nosso
servo. Não devemos pensar que Ele veio para nos satisfazer, e nós somos
os mestres. Ele é tudo para nós, tudo pelo que nos movimentamos daqui
ali, o objetivo de nossa indagação, ou de qualquer coisa que façamos.
Ele é o centro. Nós procuramos por satisfação, e satisfação no estágio
mais alto significa isso: Krsna.
Nossa procura real só começa quando chegamos por
intermédio de sat-guru, o Krsna-bhakta. A indagação
sincera começa aí. Pranipat, pariprasna, sevaya; devemos ter
consciência que seremos utilizados por Ele por Quem nós buscamos. Só com
seva, serviço, poderemos ser admitidos nesse mundo superior.
Desde o primeiríssimo estágio em diante, é só sraddha que pode
nos conduzir ao plano formidável, o plano excelente.
Gosto Adquirido
jata-sraddho mat-kathasu nirvinnah sarva-karmasu
veda dukhatmakan kaman parityage 'py anisvarah
tato
bhajeta mam pritah sraddhalur drdha-niscayah
jusamanas ca tan kaman duhkhodarkams ca garhayan
"Ao desenvolver sraddha nas narrações das
Minhas glórias, com desgosto por todas atividades materiais, depois de
saber que todo prazer sensual conduz à miséria, mas ainda incapaz de
renunciar a isso; Meus devotos devem ficar felizes e Me adorar com
grande fé e convicção. Mesmo se às vezes se ocuparem em prazer sensual,
Meus devotos sabem que todo prazer sensual conduz a reações
desagradáveis, e eles se arrependem sinceramente dessas atividades" (Bhag.
11.20.27-28).
Nós ficamos indiferentes a todas outras buscas,
pois podemos compreender que todas outras atividades geram alguma reação
desagradável. Ainda assim, apesar de entendermos que todas produzem
sofrimento, não podemos nos livrar de suas garras imediatamente. A
dívida já aconteceu, e nossos credores não vão nos deixar escapar.
Estamos no meio de tantas aquisições. Não é muito fácil deixá-las
imediatamente por livre e espontânea vontade. Anteriormente, nós
assumimos alguns compromissos, e não podemos cortar a conexão
abruptamente com eles; eles não vão nos perdoar.
Nós vamos resistir ao suportar as aflições desses
sofrimentos. Vamos suportar e crescer para além da jurisdição dessas
forças mundanas. Quanto mais pressão externa vem, devemos sentir mais
firmeza na necessidade da ajuda do Senhor. Nesse momento, viramos as
costas para todos os sofrimentos deste mundo, e O mantemos na frente.
Começamos a nos mover para frente. Seja lá o que aconteça, não podemos
reclamar. Está sob a jurisdição de nosso Mestre, se Ele achar bom que
passemos por essas provações ou não. Mas nós não vamos abandonar nosso
ideal; não podemos. Qualquer coisa que venha, deixe acontecer, não se
importe.
Humildade Descendente
Mesmo assim, devemos nos repreender: "O que fiz eu?
O que fiz eu? É muito justo que eu esteja atormentado e perturbado desse
jeito. Não está errado. Na verdade, veio o procedimento correto para me
instruir. Por que cometi tamanho erro? Eu entrei no grupo errado, entrei
para a tribo dos gundas, os criminosos, para exploração. A reação
que veio para mim é muito bem merecida e boa". Nós nos culpamos. Nós não
culpamos o ambiente por nos atormentar, mas o vemos como um campo de
concentração por dentro. Nós culpamos a nós mesmos, nossa livre vontade
e destino.
Assim vai ser a natureza do nosso temperamento
nesse momento. Não devemos tentar pôr a culpa nas costas de outros, mas
carregar todo o peso: "Sim, o ambiente fez justiça comigo, o traidor, o
ambicioso, o opressor do ambiente". Quando estamos nesse estado de
consciência, nossa bhakti-yoga ou ocupação devocional se torna
cada vez mais intensa. A intensidade de nosso progresso acelera!
proktena bhaktiyogena bhajato masakrn muneh
kama hrdayya nasyanti sarve mayi hrdi sthite
"Quando pessoas inteligentes se ocupam
constantemente em Me adorar por meio do serviço devocional com amor,
seus corações ficam situados firmemente em Mim. Assim se destroem todos
os desejos materiais dentro do coração" (Bhag. 11.20.29).
O Senhor afirma, "A intensidade delas em relação a
Mim cresce com movimento acelerado. Então, com Meu aparecimento, todas
suas discrepâncias internas se destroem e evaporam. Quando ela alcança
Meu reino com essa aproximação, ou melhor, Eu descendo; expando Minha
existência em seu coração; assim, imediatamente, tudo mais desaparece".
O Nó da Existência Material se Desfaz
bhidyate hrdaya-granthis cidyante sarva-samsayah
ksiyante casya karmani mayi drste 'khilatmani
(Bhag.
11.20.30)
Então bhidyate hrdaya-granthis; todos nós e
embaraços, becos e desvios, todos desaparecem. A desonestidade
desaparece! Vamos nos encontrar no meio de um ambiente honesto, sincero,
claro, espacial e totalmente aconchegante. Nossa atmosfera muda. Todos
os nós com tantas atrações a muitas conquistas se desatam imediatamente.
Eles não têm necessidade nessa terra. Em suma, eles não têm valor. Nessa
terra, nossas conquistas passadas não têm sentido. A ênfase é em quem
somos e não em que somos ou onde estamos. Onde é que fica a nossa
identidade? Hoje! Nós conseguimos a entrada aqui pois aspiramos por
serviço, porque aspiramos por nossa identidade espiritual. Na nossa
frente, podem ter certas conquistas espirituais; atrás de nós, há só um
deserto. Deixe-o para trás. Para sempre.
Hrdayenabhyanujñato (Manu Samhita
2.1): a aprovação interior vem para nos assegurar que chegamos em nossa
própria terra. Cidyante sarva-samsayah: não tem mais espaço para
nenhuma dúvida. Descobrimos que todas nossas aspirações são mais do que
satisfeitas aqui: "Eu procurava, meu corpo inteiro procurava".
No Vaisnava-padavali, a Antologia de Canções
Vaisnavas, há uma expressão: prati anga lage kande prati anga mora.
No acme da divindade, madhurya-rasa, onde Srimati Radharani é
Sakti (a energia divina do Senhor), Ela diz, "Cada um de Meus
membros grita pelo membro respectivo do Meu Senhor. Não apenas Meu eu,
mas cada parte do Meu corpo aspira pela parte correspondente do corpo de
Meu Mestre".
Cidyante sarva-samsayah, cada parte é uma
testemunha: "Sim, nós alcançamos o destino pelo qual aspirávamos, essa é
a nossa satisfação plena. Essa é nossa terra, esse é nosso lar". Cada
átomo do corpo vai dizer isso. Não vai se encontrar nenhum traço de
dúvida, pois já não tem mais espaço para isso. Mas cada átomo vai
encontrar a sua satisfação: "Aqui é o meu lar, aqui é minha terra. Eu
encontrei o conforto do lar".
Ksiyante casya karmani: (O Senhor diz a
respeito de Seus devotos), "E a força da reação não vai vir para
perturbá-los, para puxá-los para baixo ou para atraí-los para trás. Isso
também se rompe. Mayi drste 'khilatmani: "Eu sou o mais perfeito
de toda a perfeição. Eles podem depender de Minha amizade".
Assim deve ser o curso de nossa vida, nosso
objetivo estimado. O Srimad Bhagavatam nos diz isso. Lar, doce,
doce lar. Somos filhos dessa terra, essa é a nossa meta.
Sraddha é Mais do que Cálculo
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada,
um astrólogo perito, fazia cálculos para alguns planos e mostrava para
Srila Bhaktivinoda Thakura, por seu conselho. Bhaktivinoda Thakura dizia
algo quer podia ser contra ou não condizente com seus cálculos. Mas
Bhaktisiddhanta Sarasvati sempre seguia as instruções de Bhaktivinoda
Thakura.
Ele tinha o respeito correto. Sraddha é mais
do que verdade calculada. Bhaktisiddhanta Sarasvati ajudou a provar que
o tipo de cálculo astronômico visuddha siddhanta pode ser
correto no sentido material. Mas ainda assim ele não o utilizava. Porque
Bhaktivinoda Thakura seguia o cálculo de P. N. Bachi para Ekadasi,
Janmastami e tudo mais, nosso Guru Maharaja o aceitou. Mas sraddha
é mais verdade; as palavras dos mahajanas são mais valiosas do
que o cálculo humano.
A verdade física, a verdade material não tem muito
valor. Apesar de tudo, essa é justamente a forte, mas falsa, atitude da
mente. Por isso que não se deve respeitar mais esta verdade do que
acaran, as práticas intuitivas dos devotos puros. A intuição de um
devoto puro deve ter preferência em relação a este cálculo materialmente
veraz das pessoas comuns.
A fé não tem nenhuma conexão com a "realidade"
efetiva deste mundo. É totalmente independente, sraddhamayoyam loka.
Existe um mundo que é guiado só pela fé. A fé é tudo lá e tem natureza
infinita, com harmonia plena. Tudo pode ser verdade no mundo da fé pela
doce vontade do Senhor.
Cálculo não tem nenhum valor lá. Não tem conclusão
e é destrutivo em último aspecto, por isso deve ser rejeitado.
Conhecimento material, os materialistas que aceitam, o cálculo falível
dos seres exploradores, não têm nenhum valor mesmo. Mas no mundo do
Infinito, a fé é o padrão, o único padrão para se mover em toda parte,
do mesmo modo como a bússola é o único guia no oceano Infinito.
A Verdade está Escondida nos Corações das
Grandes Almas
Quando os marujos não conseguem enxergar nada, a
bússola é a única orientação. -Similarmente, encontramos essa afirmação
em relação ao mundo do Infinito, svayam samuttirya sudustaram dyuman
bhavarnavam bhimam adabhra sauhrdah. O Bhagavatam (10.2.31)
afirma que nossos únicos guias, como a bússola, são os passos dos
grandes personagens que viajaram pelo caminho. Essa deve ser a nossa
única orientação. O caminho está marcado com as pegadas sagradas
daqueles que foram ao plano mais elevado. Essa é a nossa única
orientação, mahajano yena gatah sa panthah.
Yudhisthira Maharaja também disse, veda srutayo
vibhinna nasau. O segredo real está guardado na caverna misteriosa,
os corações dessas grandes almas, dharmasya tattvam nihitam guhyam,
mahajano yena gatah sa panthah. As pegadas daqueles que vão para o
mundo divino traçam o caminho principal. Essa é a nossa orientação mais
segura. Só eles são guias confiáveis.
Tudo mais se pode eliminar pois o cálculo é
falível. Todas as instruções confiáveis vêm do Absoluto Infinito. Mas
qualquer modo de instrução pode vir de qualquer lugar, a qualquer
momento. Com essa visão ampla, Vaikuntha significa sem limitação.
Estamos em um barco, que flutua no oceano Infinito. Tudo pode acontecer
para nos ajudar ou impedir.
Boa fé, só a nossa boa fé otimista vai ser nosso
condutor, nosso Gurudeva. Mayanukulyena navasyate namah guru karna
dharam. Guru karna dharam: O guru é o guia. Nós
subimos a bordo de um barco pequeno e o destino é incerto, inconcebível.
Mas é concebível para nosso Gurudeva. Guru karna dharam: Nós
vamos com fé, com fé sincera interior. Mahajano yena gatah sa panthah,
svayam samuttirya sudustaram, é um oceano terrível com muitas ondas
e muitos perigos. Baleias, monstros timingila, e muitas outras
coisas; é cheio de perigos.
Bhavat padambhoruha navam atra te nidhaya yatah
sad anugraho bhavan. As pegadas deles são nossa única esperança. Nós
temos que depender disso. Nosso único consolo é que há tantos faróis,
suas pegadas, tantos faróis no oceano infinito para nos guiar a esse
lugar. Nós precisamos de fé, sraddha mayam loka, esperança no
Infinito, Vaikuntha. Sraddha é saturada de boa esperança no
Infinito.
Vaikuntha é Infinito, e nós queremos chamar a
atenção do Infinito e nada mais. E quando a fé obtém uma forma
definitiva por meio de bhava, ela vem a ser prema, amor
divino. Depois de atravessar para Vaikuntha, podemos encontrar o cosmo,
o cosmo espiritual e sraddha, a luz na escuridão. Só sraddha
pode nos guiar quando viajamos no Infinito. Eu ouvi que é esse o caminho
para lá. Sraddha vai manter nosso coração animado, esperançoso.
Sraddha sabde; krsne bhakti kaile sarva karma: Sem risco, sem
ganho; mais risco, mais ganho. Sarva dharman parityajya mam ekam
saranam vraja. "Eu estou em toda parte, não há por que temer.
Simplesmente, venha para esse plano. Eu sou seu amigo, Eu estou em toda
parte, Eu sou a essência de tudo, e você é Meu". Essa é a nossa única
tarifa para a jornada.
O Dever do Vaisnava
É dever de um cidadão Vaisnava trabalhar sob a guia
de um Vaisnava superior. Esse é o dever. A orientação tem que vir desse
nível superior; essa é a aspiração, o plano mais elevado. Esse é o
conceito do Vaisnavismo correto. Se pudermos compreender isso, vamos
tentar nos guiar por esse conceito tão elevado. A ordem tem que vir de
cima, assim podemos ter a esperança de alcançar esse plano um dia.
Nós devemos adotar esse caminho se tivermos
verdadeira avidez por essa vida, se considerarmos que essa é a forma de
vida superior, a forma de vida mais nobre. É o que se encontra em Vraja.
Essa aspiração vai nos levar para lá gradualmente; a avidez, o gosto.
Isso vai nos dar um nascimento verdadeiro, e nos levar para lá
gradualmente.
Laulyam e sraddha. Quando sraddha
cresce, é considerado laulyam, avidez espiritual. Temos que
desejar isso sinceramente. Esse é o preço, nosso desejo intenso. Desejo
sincero com determinação, esse é o preço. Não pode ser comprado por
nenhum outro preço. Sim, é isso que nós queremos. Não podemos viver sem
isso. Não podemos viver neste plano. Se for possível existir um plano de
vida mais nobre, temos que ir para lá. Não podemos tolerar esta
atmosfera onde todos exploram-se entre si e o ambiente. Nós queremos nos
livrar deste plano.
Sob a orientação do guru que está em conexão
com Krsna, temos que nos empenhar em Seu serviço e obedecer Sua ordem. A
ordem vem Dele através de guru e sadhu. Temos que nos
colocar à disposição desse suddha guru, um sadhu
que já está em conexão direta com Ele, que é Seu agente. Nós nos
colocamos à sua disposição; o que quer que ele peça, nós faremos; esse
vai ser o verdadeiro serviço.
Portanto, está escrito no sastra que o
serviço ao Vaisnava é melhor do que o serviço direto ao Senhor. Se nos
aproximarmos do Senhor diretamente, vamos ter que imaginar ou supor qual
será a Sua instrução. Achar que essa pode ser a Sua ordem, talvez seja
certo ou não; também pode ser contaminada, adulterada pelo nosso
conceito. Mas quando o serviço vem através de um sadhu
verdadeiro, Seu agente, se pudermos realizá-lo, tem uma conexão direta
com Ele, uma conexão de verdade. Assim haverá mais progresso do que
qualquer aproximação direta.
No presente, estamos no meio de uma experiência
particular de um mundo que é irreal, isso vai evaporar logo. Mas o que
procuramos por meio do sastra e dos sadhus é a verdade
completa; o plano onde Krsna vive, nossas personalidades estão em
conexão direta lá.
ya
nisa sarva-bhutanam tasyam jagarti samyami
yasyam
jagrati bhutani sa nisa pasyato muneh
O Gita (2.69) afirma, o que é noite para um
é dia para outro, e o que é dia para um é noite para outro. Agora
estamos despertos somente no cálculo dos interesses local e provincial
deste mundo. O conceito humano direcionado ao Infinito tem diferentes
estágios. Diferentes tipos de pensadores apostam sua própria sorte no
ambiente e vivem de acordo, e acham que tudo está sancionado. Mas tudo
isso é engano.
O Absoluto tem Seu próprio conceito de acordo com
Sua percepção, e devemos nos converter a esse ponto de vista. Só a nossa
alma pode ter a experiência e obter a admissão lá, não este corpo
material. O olho e a mente não podem alcançar esse conceito. Esse
conceito só pode chegar na nossa alma através da audição. A alma vai
despertar e todos regulamentos da mente e sentidos vão evaporar. Assim
vamos obter nosso verdadeiro corpo espiritual. Ele vai emergir de nosso
corpo e mente conscientes atuais.
Tudo tem de ser da ordem espiritual, não uma
imitação. A escola sahajiya tenta encontrar o que ouviram sobre
Krsna neste plano mundano. Eles querem encontrar isso neste plano
mundano, mas isso não é possível. Nós temos que ir para lá por
intermédio de sadhana sob a direção de um sadhu
verdadeiro.
A Pregação Revolucionária
Os escritos de Srila Bhaktivinoda Thakura
geralmente são muito sóbrios, inspiram devagar e progridem suavemente.
Encontramos em seus livros que ele não deu nenhum passo arrojado. Isso
não se recomenda lá. Ele recomenda principalmente o asrama
grhastha. O asrama dos tyagi, a ordem de renúncia, é
arriscado. Bhaktivinoda Thakura expressa esse pensamento em todos seus
livros; seu humor é assim.
Mas o movimento de nosso Guru Maharaja foi
revolucionário, sem caráter defensivo. Ele aceitava qualquer um que
tivesse a menor atração por Krsna ou Mahaprabhu, e os ajudava. Dessa
forma, em sua missão, sadhu-sanga, companhia santa, estava
disponível em muitos centros. Sadhu-sanga é o que existe de mais
valioso que pode nos ajudar em nosso progresso. Ele viabilizou
sadhu-sanga com a abertura de muitos centros diferentes, onde os
devotos podiam viver e cooperar entre si, e seguir adiante. Sarva
dharman parityajya mam ekam saranam vraja. E a campanha de Svami
Maharaja (Srila Bhaktivedanta Svami Maharaja Prabhupada) também foi
arriscada e revolucionária.
Eu tenho uma natureza mais conservadora. Só a
graça, o grandioso ideal de Mahaprabhu que me tirou de minha natureza
conservadora. Ele me tirou das regras estritas de uma família smarta
brahmana. Tive que assimilar muitas coisas novas. Ainda assim,
acho que me juntei à vanguarda dos rebeldes.
Sastra-caksusa darsitah; a pessoa tem que
ter o olho da escritura. O Manu Samhita menciona que os
animais percebem por meio do nariz, pelo aroma. Os sábios védicos,
sábios espirituais, percebem através do olho da escritura. O rei percebe
pelos ouvidos, quer dizer que ele depende de agentes e informantes. E as
pessoas comuns percebem as coisas através dos olhos.
Aqueles que obtêm seu entendimento do conhecimento
escritural são conhecidos como panditas. O entendimento com
influência das escrituras é panda. E quem quer que possua esse
entendimento é um pandita. O pandita tem que perceber pela
escritura. Um devoto também tenta ver as coisas e lidar com elas
conforme as regras e regulamentos da escritura, sem se basear meramente
em sentimento anterior ou samskara antigo. O ideal de Mahaprabhu
me impressionou muito. Por Sua graça, apesar de nascer em uma família
smarta brahmana muito rígida, fui capaz de abandonar todas
essas coisas, pois minha atração por Mahaprabhu era muito intensa.
Quando tive meu primeiro contato com os devotos
do Gaudiya Matha, eles disseram que suas
conclusões eram absolutas e que todo conselho de tantas outras missões e
tantos instrutores devia ser rejeitado. "Sarva dharman parityajya,
abandone tudo mais, esta é a Verdade Absoluta, você tem que aceitar".
Eu pensei, hum, como isso é possível? Eles são
muito orgulhosos, inflados com soberba; essa gente é muito falsa. Mas eu
já sabia alguma coisa, e esse sloka veio na minha memória,
chidyante sarva-samsayah; todas apreensões são cortadas em pedaços (Bhag.
1.2.21). Sim, pensei, já está lá, no Bhagavatam. E nos
Upanisads também; yasmin vijñate sarvam etam vigñatam bhavanti.
Isso é algo milagroso. Se compreendemos isso,
obtemos tudo simultaneamente. Se conhecemos Krsna, conhecemos tudo. Está
nos Upanisads, está no Srimad Bhagavatam, e essa gente do
Gaudiya Matha diz isso a partir desse mesmo plano. Se for possível para
mim chegar em tal plano universal de conhecimento, vai ser algo
maravilhoso. Eu cheguei primeiro com essa objeção e depois progredi com
esse processo. Descobri gradualmente que é real, é possível. O que essa
gente diz é verdade, chidyante sarva-samsayah.
Bhidyate hrdaya granthis, o embaraço que há
dentro de nós, vai ser desfeito. A necessidade universal de nossas
vidas, vai se revelar. A tendência interna de nossos corações está
lacrada, e vai ser aberta. Vai surgir com toda vitalidade: nós somos tal
e tal. Todas dúvidas vão se esclarecer. Ksiyante casya karmani.
Toda necessidade de esforço para adquirir as coisas, isso também será
abandonado. Lá tem tudo. Não precisa adquirir nada. É esse plano que vai
se abrir para nós e vamos descobrir que somos residentes desse plano de
opulência, do Infinito. É revolucionário, o mais revolucionário!
O sábio alemão Max Mueller escreveu sobre o valor
inestimável dos Upanisads da Índia. Ele disse, "Se o tesouro
completo for distribuído para o mundo, o mundo inteiro vai enriquecer.
Mas nada será perdido no depósito da Índia. O mundo inteiro vai
enriquecer, mas a Índia ainda permanece como o país mais rico". Pode-se
oferecer o tesouro dos Upanisads para o mundo inteiro que nenhuma
parte será perdida. Deus também é assim, a satisfação é assim. A busca
por Ele significa tudo isso. É o aspecto máximo.
Não podemos imaginar qual é o grau de satisfação
lá. Quanto podemos fazer, quanto podemos calcular? Que grau de
satisfação podemos calcular? É muito insignificante. Nosso Guru Maharaja
costuma citar o exemplo de um menino que nasceu em uma prisão escura. Um
cavalheiro o convidou de fora, "Por favor, venha, vou te mostrar o Sol".
Então, o menino pegou uma vela para iluminar o caminho, mesmo que não é
necessário uma vela para ver o Sol. O menino na prisão pensa, "Não sou
um tolo? Não se pode ver nada sem a ajuda de uma vela". Mas o cavalheiro
vai levá-lo para ver o Sol.
Nós podemos enxergar tudo com a luz do Sol. Guru
Maharaja costumava explicar desse jeito. Esse milagre vai acontecer com
cada ser em cativeiro que estabelecer uma conexão com Brahman, Krsna, o
conceito de Deus certo. Plenamente maravilhoso. Atma parijñanamayo,
auto-resplandecente. Krsna não depende de nada para tornar-Se conhecido.
Ainda assim, sempre tem um tipo de pessoa que não
consegue ter nenhum conceito desse plano. É o defeito delas. O Sol é
auto-resplandecente, mas as corujas não podem vê-lo. Muitos animais não
conseguem enxergar a luz. Eles precisam de cura. O Sol não existe para
eles pois não têm olhos adequados. Para esse tipo específico, a questão
é se Deus existe ou não. Esse pequeno grupo existe e sempre vai
permanecer cego. Isso não quer dizer que outro grupo não pode ver
também, ou que o Sol não existe. Não está certo.
Krsna é auto-resplandecente. Ele tem o poder de Se
mostrar para todos. Om ajñana timirandhasya jñananjana salakaya
caksur unmilitam yena, o dever do guru é remover a catarata
da ignorância de nossos olhos. Os olhos podem ver depois de remover a
catarata.
Progresso Científico não é Progresso
É somente o desvio da verdade que nos traz ao mundo
mundano, desvio da verdade em cem por cento. Onde e como esse desvio
começa, nós não sabemos. Mas o desvio da verdade nos trouxe para dentro
desta área falsa. A ciência só faz incrementar a circunferência do mundo
mortal. É um mundo de exploração, e segundo Newton, para cada ação
existe uma reação igual e oposta. Temos que ser conscientes desse fato.
Toda aquisição aqui não é nada, vai retornar para o nada como um
bumerangue.
Progresso científico é nenhum progresso. É o
movimento na direção errada. É só um empréstimo. Não gera nenhum lucro
real, mas ao contrário, é como tomar um empréstimo da natureza, e o
pagamento vai ser extraído de nós até o último centavo. Assim não tem
nenhum ganho, nenhum lucro, só exploração. A ciência mede a
circunferência do mundo de exploração. Tudo é materializado. Nós
extorquirmos energia da natureza, pegamos um empréstimo, mas a dívida
tem que ser paga, pode ter certeza disso. Isso não é progresso.
O primeiro princípio de qualquer ser vivo é
permanecer vivo; esse é o primeiro princípio, esse deve ser o ponto de
partida. No Brhad Aranyaka Upanisad 1.3.28 encontramos, asto
ma amrtam gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrtyor ma amrtam gamaya.
Essa deve ser a tendência primária de nossa busca. Quais são essas três
fases? Asato ma sad gamaya: Eu sou transitório e não sou
permanente; torne-me eterno. Tamaso ma jyotir gamaya: Eu sou
ignorante, na escuridão; tire-me da ignorância para o conhecimento, da
escuridão para a luz. Mrtyor ma amrtam gamaya: Eu estou neste
mundo mortal, sou infeliz, insatisfeito; leve-me para o plano de
anandam, prazer. Tire-me do sofrimento, miséria, e me guie para uma
vida digna lá.
Esses devem ser os verdadeiros princípios da vida,
e qualquer pesquisa deve começar somente assim, com essas três fases:
Salvar-se, salvar o mundo, e remover a escuridão. Nossa pesquisa tem que
eliminar a miséria e dar o néctar, a doce, doce vida. Sac-cid-ananda:
satyam, sivam, sundaram. Essa deve ser a matéria da nossa busca, a
linha da nossa busca. Todas outras são falsas, uma busca inútil.
Nós somos suicidas, esta dita ciência é suicida. Os
cientistas nucleares vão provar em breve que a ciência se autodevora.
Ela suga seu próprio sangue. A civilização suga seu próprio sangue, e se
alimenta da própria carne ou da carne de seus amigos. Ciência material
significa isso; não é conhecimento. O conhecimento verdadeiro, a
obtenção vital de conhecimento puro e verdadeiro deve nos redimir e aos
outros, remover a escuridão, trazer a luz, remover a miséria, e trazer a
paz. Essa deve ser a direção de nossa tentativa, de qualquer tentativa.
Pregação Poderosa
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada
pediu, "vão e falem para o mundo a mensagem de Sri Caitanya Mahaprabhu e
também ouçam essa mensagem vocês mesmos. Vocês devem ouvir para si
próprios e falar para o mundo". Assim era o plano de sua mentalidade;
ele veio com grande determinação para propagar a notícia divina no
mundo. "Não voltem, vão e falem para o mundo, e ouçam vocês também". Ele
veio para pregar com enorme determinação, não só com a fala, mas com a
propagação da consciência de Krsna em qualquer meio, com explicações,
palestras, mesmo em disputas, ou no tribunal.
Todos os meios possíveis
têm de ser usados e ocupados na consciência de Krsna. Até o
tribunal e o juiz devem se ocupar em falar sobre Krsna. Deve-se
forçá-los a isso se necessário. Aproximar-se de todo lugar com
consciência de Krsna. Parar todas atividades mundanas. A fala sobre
Krsna tem que acontecer em toda parte de uma forma ou de outra.
Eu disse a Prabhupada em seus últimos dias em Puri
quando estava sozinho com ele, "O que o senhor fez para a propaganda de
Mahaprabhu, de Krsna-kirtana, até agora, nenhum acarya fez
antes". Ele me perguntou, "Você acha isso mesmo"? Eu disse, "Sim, eu
vejo as exposições, o canto das escrituras, palestras, mesmo no
tribunal, em qualquer e todo lugar, o senhor sempre tenta propagar a
consciência de Krsna em cada ponto. É a oposição completa à maya.
O movimento mayic, o fluxo de maya tem que ser parado, e a
consciência de Krsna fluirá em toda parte. O encerramento da atividade
de maya vai levar a consciência de Krsna para toda parte. Isso é
vida".
Não se deve dar nenhuma importância ao mundo
mayic. Mesmo se tiver um incêndio, não devemos dizer, "Bem, vou
apagar o fogo primeiro e depois vou me juntar ao Krsna-kirtana".
Não! Não! Não! Se o mundo inteiro virar cinza, não haverá nenhuma perda.
Ao contrário, se formos salvos pelo fogo do conceito deste mundo
material, será muita boa sorte.
O mundo inteiro pode pegar fogo, mas não seremos
afetados em nada. Toda nossa necessidade está nos pés sagrados de Krsna.
Prabhupada veio para pregar com essas instruções revolucionárias. "Não
percam nenhum tempo".
"Se tiver um incêndio, devo extingui-lo e depois me
juntar ao Krsna-kirtana". Não, não, esse é nosso inimigo! O
conceito material é nosso inimigo! Nós somos almas. E o conceito
mayic é o nosso inimigo, que nos arrasta para baixo neste conceito
de vida material, doença, debilidade e morte. Conceito errado significa
morte, cálculo errado significa morte. Esse era o espírito de Prabhupada.
Impulsionar a consciência de Krsna.
Pregação Exige Organização
A organização só é necessária para propagar a
verdade às pessoas, para seu benefício. A mera organização em si não tem
nenhum valor propriamente. Quando a organização distribui algo saudável
à atmosfera, essa organização é bem-vinda. Senão, qualquer organização
que falhe na distribuição da verdade, vai se extraviar, vai se suicidar,
e vai falhar no cumprimento de seu dever. Há tantas organizações
políticas, sociais e outras; há muitas mesmo.
Nós estamos em uma missão, em uma organização, sob
a guia dos seres auto-realizados mais elevados. Podemos nos deparar com
muitos perigos. Podemos enfrentar muitas dificuldades quando pregamos.
Mas com a ajuda da guia superior, podemos lutar, podemos vencê-los, ou
podemos convidá-los para o resultado superior. Desse jeito, podemos dar
oposição para a oposição.
Pregação significa esforço ofensivo; temos que
atacar maya, o conceito errado. Nesse momento, não devemos pensar
em não fazer oposição ao adversário, sahisnu, que devemos ser
pacientes. Quando nos ocupamos em pregação, temos que nos aproximar e
encarar a oposição, e tentar vencê-la. Se conseguirmos fazer isso por
conta própria, devemos convidá-los para ouvir nosso Gurudeva, e assim
desarmá-los. Assim que devemos seguir as ordens do Vaisnava. O ambiente
local pode nos ferir, mas nossa resistência espiritual vai incrementar
por seguir a ordem do agente superior. Nós seremos mais beneficiados por
meio de Vaisnava-seva.
Vaisnave pratistha, não podemos desejar
nenhuma popularidade com o público ordinário, pois a maioria é insana.
Queremos uma posição nos olhos dos mestres de meu Gurudeva: "Sim, ele é
um servo entusiasmado; ele vai progredir". Quando eles olham para nós
com alguma afeição e encorajamento, esse é o nosso capital. A afeição
deles por nós, sua boa vontade, esse é o nosso capital à medida que
seguimos no nosso caminho em direção ao reino supremo.
Quando estamos em local solitário e cantamos o
Nome, é claro que trnad api sunicena, é preciso observar
estritamente a humildade extrema. Mas quando estamos ocupados sob a guia
de um acarya em uma campanha de pregação, nossa atitude deve ser
diferente, deve ser como cumprir as ordens de um general espiritual
superior. Isso vai nos proporcionar muito mais afeição e benefício do
plano superior, do que nosso bhajan solitário.
O Verdadeiro Progresso é o Progresso da Alma
Nós temos que abandonar o indesejável, a cobertura
corpórea. Isso não é a alma certa. Morrer para viver. Morrer quer dizer
abandonar o ego, e surgirá um magnífico eu interior. "Morrer para viver"
significa matar o que somos agora. Devemos morrer a nossa personalidade
presente. O velho conceito sobre nós mesmos é completamente falso. Temos
que ter um novo nascimento. Aí vamos descobrir que nosso eu verdadeiro
está nesse plano de imortalidade. Morrer primeiro. Mas depois no outro
lado é nascimento, vida de verdade. Temos que eliminar primeiro a porção
inferior; eliminar todos enganos desta vida.
Por volta de 1934 durante a época de Prabhupada,
conversei com um senhor em Kutan. Ele era seguidor de uma grande missão.
Eles tinham grandes cartazes para o "Seva Asrama", e outras coisas de
grande porte. Mas qualquer auditor que fosse lá poderia provar que eles
estavam falidos. Eles não tinham nenhum capital, era uma coisa falsa,
uma farsa. Não tinha nem riqueza nem bem-estar social. Eles não tinham
nenhuma realidade para distribuir às pessoas. Eles eram uma fraude,
mayavada. Eles davam uma dieta nociva aos pacientes, uma dieta
insalubre; esse era o negócio deles.
Onde está o paciente? O paciente está dentro. A
alma é o paciente. E eles ajudavam o corpo, independente do interesse da
alma. Eles serviam ao corpo sem levar em conta o interesse da alma. E
com essa ajuda arbitrária, o corpo vai mais e mais contra o interesse da
alma.
Nós geralmente não organizamos nenhuma ajuda para
os gundas (ladrões). Organizamos ajuda para estudantes,
trabalhadores sociais, mas nunca para os gundas que são
desorientados. Geralmente, todos seres são desorientados; eles vivem a
vida do descarado. Dar ajuda indiscriminada a eles sem mudar sua
direção, é impulsioná-los para o inferno. Esse não é o objetivo correto,
impulsionar para esse lado, para o perigo. A ajuda indiscriminada neste
plano não ajuda em nada.
A pessoa tem que ter primeiro sambandha
jñana, uma boa direção, o conceito correto do destino certo. Aí a
ajuda terá alguma utilidade. De outro modo, sem a direção correta, é só
capricho. Um impulso caprichoso não pode ajudar ninguém no caminho do
progresso. Não é progresso verdadeiro.
Um senhor me disse certa vez em Madras, "Primeiro
ajude os pacientes a manter o corpo e alma juntos. Depois você pode
falar a eles sobre a verdade, sobre Hari, sobre consciência de Krsna. Se
ele morrer, para quem você vai falar"? Eu respondi, "Suponha que haja
fome e eu distribuo alguma comida. Há tantos a meu redor, para obter o
alimento que distribuo. Alguém sai fora desse lugar. Será que devemos
parar a distribuição de alimento e correr atrás dele? Ou devemos
continuar a distribuição de comida para tantos outros? Será que devemos
parar a distribuição e ir atrás dele? Há tantos seres vivos, e alguns
morrem. Por isso que não devo correr atrás dos que morrem para trazê-los
de volta ao corpo, e parar a minha distribuição de néctar para tantos. É
desse jeito".
O que eles concebem como verdade é inverdade na
real. Além do mais, o método que eles aceitam para ajudar outros é muito
errado. É completamente errado. Eles não têm um diagnóstico verdadeiro,
mas se ocupam intensamente em dar tratamentos e dietas. O diagnóstico é
o mais importante. O que está errado conosco, qual deve ser nosso
interesse, o supra-sumo da vida; isso deve ser definido primeiro. A
questão da ajuda vem depois. A ajuda está disponível ou não, onde está a
garantia? Como devemos definir o que é útil e o que não é útil?
O progresso tem que prosseguir na direção certa. E
qual é a direção certa? Exploração máxima, exploração hábil, exploração
irregular e exploração regular, isso é karma. E renúncia,
jñana, é a coisa oposta. Exploração e renúncia; dois opostos. Mas
deve-se achar uma terceira direção para conciliar todas contradições.
Realidade é algo mais. Tad viddhi pranipatena
pariprasnena sevaya upadeksyanti te jñanam jñaninas tattva-darsinah
(Gita 4.34). "Tente saber a verdade somente por se aproximar de
um mestre espiritual. Pergunte a ele com submissão e preste-lhe serviço.
O ser auto-realizado pode dar o conhecimento pois ele vê a verdade".
A Dedicação Real
A coisa mais importante é o padrão, que deve vir do
plano real, não de um plano corrompido, um plano ordinário, um plano
vulnerável. Tad viddhi pranipatena pariprasnena sevaya upadeksyanti
te jñanam jñaninas tattva-darsinah. Tem que vir do plano onde há
essas duas qualificações; jñani e tattva-darsi, o conceito
bem como a aplicação prática. Tem que haver as duas qualificações para
obter o padrão do que é certo e do que é errado.
Nossa atitude também tem que ser assim;
pranipatena pariprasnena sevaya. Pranipat significa render-se
ao conhecimento. Esse não é um tipo ordinário de conhecimento que
podemos materializar; ele é super-subjetivo. Pranipat, nós temos
que nos render. Queremos algo que é superior a nós. Nós queremos Ele, o
Sujeito Absoluto, não algo objetivo.
Pranipat também quer dizer que encerramos a
experiência com o mundo externo. Não temos mais nenhum interesse em nada
no plano em que já viajamos. Pranipat, nós nos oferecemos
exclusivamente a Seu altar, e nós queremos ter a Sua graça. É desse modo
que se aproxima do conhecimento superior.
Pariprasna, indagação honesta, é sempre
permitida. Mas pergunte sinceramente, não com inclinação para discussão
no modo tarka, argumentação. Todos nossos esforços devem se
concentrar na compreensão em uma direção positiva, após deixar de lado o
estado de dúvida ou suspeita. Devemos tentar entender com toda atenção,
pois vem de um plano mais elevado.
Sevaya, é o mais importante. Não vamos
receber esse conhecimento meramente para utilizar a experiência em nosso
benefício próprio. Aquele plano não vem para servir este plano inferior.
Temos que implorar para servir nesse plano. Vamos nos aproximar desse
plano, esse tipo de conhecimento, só com essa atitude. Nós temos que
servir a Ele, esse conhecimento superior, e não podemos tentar fazê-Lo
servir este nosso plano inferior. Esse desejo egoísta não permitirá que
entremos em Seu domínio, o conhecimento não vai descender. Ele não virá
para servir este plano inferior. Ao invés, temos que ter plena convicção
de que precisamos nos oferecer para sermos utilizados por Ele, e não que
devemos tentar usar o conhecimento recebido em nosso caminho individual
para satisfação de qualquer propósito inferior. Se recebemos esse
conhecimento, temos que servir.
Pranipatena pariprasnena sevaya, devemos nos
dedicar a Ele com sevatti-vrtti, não que Ele vai Se dedicar em
satisfazer nosso propósito animal inferior. Com essa atitude, devemos
procurar o plano do verdadeiro conhecimento, a estimativa correta sobre
nosso ambiente. Pranipat, pariprasnena sevaya. Assim é a cultura
védica. Sempre se transmite por esse processo e nunca por aproximação
intelectual.
Nosso Prabhupada usava a analogia, o mel está em um
vidro, o vidro está fechado, e a abelha tenta lamber o mel através do
vidro. Pessoas tolas podem achar que a abelha lambe o mel. Similarmente,
o intelecto não pode se aproximar de atma, espírito. Pode achar
que é capaz, mas isso não é possível. Tem uma barreira, como o vidro.
Conquista intelectual não é verdadeira conquista de conhecimento
superior do plano superior.
Nós só podemos nos aproximar desse plano superior
pela fé, pela sinceridade, pela dedicação a Seus agentes. Se eles nos
admitirem, aí poderemos entrar nessa terra, esse plano de vida superior,
vida divina. Pranipat, pariprasna e seva, o candidato tem
que ter essas três qualificações antes de se aproximar da Verdade. Temos
que nos aproximar com humildade, sinceridade e dedicação.
O Gita menciona isso muitas vezes, e também
há uma passagem especial no Bhagavatam, sabde pare ca nisnatam
brahmany-upasamasrayam. Também no Veda, no Upanisad,
guru srotriyam brahma-nistham. Gurum evabhigacchet.
Gurum eva; temos que nos aproximar do mestre espiritual.
Abhigacchet significa que devemos nos aproximar sem hesitação.
Devemos ir com o coração limpo, um coração honesto. Gurum
evabhigacchet, temos que nos aproximar dele com sinceridade total.
Na linguagem de nosso Prabhupada, não devemos
comprar uma passagem de ida e volta quando nos aproximamos do guru.
Ele sempre costumava dizer, "você veio com sua passagem de volta? Não
venha desse jeito. Venha para sempre". Sa gurum evabhigacchet.
Devemos dizer no fundo do coração, "Eu já vi; tenho experiência total
deste mundo mortal. Não tenho mais nada que aspirar aqui. Devo
prosseguir com essa consciência limpa. Aqui tudo é mortal, ninguém pode
viver aqui. Não tem jeito de viver aqui, nenhuma possibilidade, por isso
só quero viver, e me salvar, minha vida. Agora corro para o abrigo, o
verdadeiro abrigo, com essa determinação". Abhigacchet, samitpanih,
o discípulo tem que trazer todo material necessário, não devemos
perturbar o guru. Devemos ir com nossos recursos próprios,
abhigacchet samit-panih srotriyam brahma-nistham.
Pranipat quer dizer despedir-se de toda
experiência do mundo material. Esse é o significado de pranipat.
"Eu me esgotei aqui. Não tenho nenhuma atração por nenhuma aspiração
material. Todas minhas esperanças podem se obter de cima; eu encerrei
aqui. Eu me retirei de qualquer tipo de prospecto deste mundo mundano.
Eu não quero mais isso. Isso acabou. Eu vim com essa atitude de
expectativa".
Janma-mrtyu-jara-vyadhi-duhkha dosanudarsanam.
Podem nos oferecer um reino inteiro, todo o reino material, mas temos
que rejeitar. Temos que desprezar a má companhia, companhia morta,
associação com mortalidade, doença, e todas essas coisas. Temos que
investigar com atenção total se nos é possível ter essa esperança.
Pranipat, depois pariprasna. Perguntar com honestidade é
permitido; não é que a fé cega vai nos levar a algum lugar. Mas nossa
indagação tem que ser sincera.
Entre na Terra da Dedicação
O fator mais importante é seva; temos que
desejar tudo para a Sua satisfação, não para nossa satisfação. Seva
significa dedicação, a terra da dedicação; nós queremos entrar na terra
da dedicação e nos livrar da terra da exploração. Ninguém pode prosperar
na terra da exploração. Isto é um empréstimo. Exploração quer dizer que
nos comprometemos com um empréstimo, e nós temos que saldá-lo. Estamos
endividados; para cada ação existe uma reação igual e oposta. Nós vamos
nos devorar; é suicídio.
A civilização exploradora é suicida; ela vai se
autodevorar. Ela vive de um empréstimo da natureza. As pessoas desta
civilização têm tanto orgulho e andam de cabeça tão erguida, mas todo
seu bem-estar vem de um empréstimo da natureza. É uma extorsão da
natureza, e a dívida tem que ser paga até o último centavo. Orgulho e
ostentação são muito negativos. Esta civilização de exploração não tem
nenhuma contribuição positiva. A exploração tem que parar. Exploração
significa extorquir as coisas dos outros, e tudo isso tem que ser pago.
Assim é a lei natural. Esta civilização não vale nada.
(Enviado p/ Maharaj em sexta-feira, 18 de janeiro
de 2002) - página 83 do original.
"Follow the Angels"
(Siga os Anjos)
Na Marcha dos Anjos
A Marcha dos Anjos
No Passo dos Anjos
O
Caminho da Dedicação
Sua
Divina Graça Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami Maharaja
"Fools rush in where angels
fear to tread"
Tolos correm onde anjos temem andar
Tolos se apressam onde anjos temem pisar
Tolos investem com pressa onde anjos hesitam entrar
Início da tradução terça-feira, 6 de novembro de
2001
(Visvavandya das - São Paulo - SP) - interrompida
em 03/02/2002.
Continuação Sripad Krishna Kumar Prabhu
(continuação Parte Um - página 84 do original)
(Entre na Terra da Dedicação)...
Nós temos que entrar nessa terra da dedicação, e
tudo será preservado. Qualquer contribuição que façamos estará a salvo.
Porém, não vamos retirar nenhum benefício, nós só podemos depositar
nossa contribuição. Está lá, na terra da dedicação, uma nova terra, uma
terra milagrosa. Nós queremos entrar, obter admissão lá. A exploração em
si é abominável, e a dedicação é o mais puro da pureza. Queremos ser
residentes dessa outra terra. Não vamos pegar nada de lá, de tão puro
que é. E lá, a terra tem etapas.
O grau da pureza é de acordo com sua intensidade,
qualidade e quantidade. Assim, a natureza, vicitra, é variada. E
no grau mais elevado está o amor espontâneo e a beleza do reino de Krsna.
A dedicação das gopis é a de maior graduação. Elas desejam ficar
para sempre no inferno só para curar uma pequena dor, uma suposta dor,
uma dor de cabeça fingida de Krsna. Esse é o tipo de dedicação mais
elevado.
Aslisya va pada-ratam pinastu mam adarsanam
marma-hatam karotu va. A cada estágio, fica mais profundo e elevado.
Adarsanam marma-hatam karotu va, yatha tatha va vidadhatu lampato.
Mesmo o que é nosso de direito, nosso clamor legal, pode ser dado a
outros bem na frente de nossos olhos. Isso também não pode nos desviar
de nosso ideal superior. Quando adquirimos tal natureza dedicada,
estamos liberados nesse grau. Chegamos dentro da jurisdição da confiança
de Krsna. Não podemos ser separados ao agir dessa forma; nós entramos na
área mais confidencial do Absoluto.
Quando nos livrarmos da exploração e nos situarmos
no plano de serviço, dedicação, o ódio é eliminado e abraçamos tudo. Só
o espírito de dedicação pode tornar possível abraçar tudo. Não existe
possibilidade de exploração, e o ódio vem da exploração. A dedicação
torna tudo e todos nossos amigos. Não queremos nada em troca, por isso,
tudo virá a nós. Não queremos extorquir nossos desejos egoístas de nada,
nem mesmo do ambiente. Visvam purna-sukhayate.
Os Mayavadis e renunciantes entregam-se ao ódio.
Mas o devoto é bem o oposto. Karmis exploram e jñanis
odeiam. O devoto abraça tudo, mas com referência ao centro, a Krsna.
Abraça-se tudo na conexão com Krsna, Krsna-sambandha. "Ó, ele é
meu amigo, eu posso usá-lo no serviço a Krsna". Às vezes, mesmo a flor
vai nos lembrar, "Ó, leve-me para Krsna".
Quando estivermos plenamente estabelecidos no plano
da dedicação, tudo irá nos ajudar e nos lembrar. "Ó, vá até Krsna". Tudo
pode ser adquirido numa atmosfera totalmente amigável. Está saturada de
espírito devocional, o espírito da dedicação. O ódio não pode ter lugar
lá. O ódio é o temperamento do renunciante, tyagi-mukti-kami, e
não do bhakta. Nirbandhah krsna-sambandhe yuktam vairagyam
ucyate. Se tudo está em conexão com Krsna, como posso odiar algo?
Só existe amor no acme da dedicação, Vraja
Vrndavana bhava. E pregação; pregação é sankirtana.
Pregação é o verdadeiro serviço a Krsna, e não apenas contar nas contas.
Serviço. Eu tenho que cantar o Nome, contar nas contas, porque
Mahaprabhu e Gurudeva pedem isso. Tenho que cumprir meu dever com
mallika, o cordão de contas. "O mallika não deve jejuar".
Assim falava Prabhupada.
Dedicação Ativa
A escola devocional quer serviço com dedicação,
após cruzar o plano de exploração e renúncia ou indiferença; dedicação e
serviço ativos. No começo tem a ajuda das escrituras e também tem muita
excitação; tudo é formidável, tudo é poderoso. Isso se vê na adoração a
Narayana. E depois podemos entender que o amor é a verdadeira essência
da vida. Não devemos existir sem esse amor. O amor é uma riqueza tão
preciosa que devemos negar nossa própria vida se não tivermos essa
riqueza interna, amor por Krsna, pelo Absoluto. E o amor Dele vem, Sua
beleza vem. Afeição, beleza, amor, harmonia; esse é o conceito mais
elevado que já surgiu neste mundo.
A dedicação é o alicerce do amor, a estrutura do
amor. O amor não pode se sustentar sem a dedicação. O maior Autocrata e
o maior agente em dedicação é Radharani, maha-bhava svarupa.
Radhika. Por que Radha-dasyam, serviço a Radhika? Queremos nos
dedicar, e o maior ideal de dedicação é Radharani. Ela é o maior devoto
do Autocrata Krsna. O zênite da dedicação se encontra Nela. Aqueles que
conseguem Sua companhia de alguma forma, mesmo uma pequena conexão com
Ela, purificam tudo. Essa é a maior fortuna.
Mahaprabhu veio só para demonstrar ao mundo a
dignidade suprema de Radharani. Aqueles que têm a conexão mais próxima
com Radharani afirmam que Mahaprabhu distribuiu o néctar do coração
Dela. Ele é nosso maior benfeitor; nosso cabo eleitoral é o companheiro
mais íntimo de Krsna. Gauranga veio para estabelecer no mercado que a
riqueza de nossos corações é a de maior natureza. Se Ele não viesse para
expressar isso ao mundo, como poderíamos viver? Nossa vida seria
impossível. Se a grandeza de nossa Soberana não fosse exibida, com a
consideração suprema, como poderíamos suportar a vida?
Beleza, Encanto e Doçura
Nós afirmávamos na nossa pregação em Bombaim para
atrair o público em geral que o propósito de nosso movimento era
harmonizar karma, jñana e bhakti. Isso era dito
externamente, só era anunciado na divulgação para o público comum. Como
é possível querer harmonizar karma, jñana e bhakti?
Eu disse, "Claro que a aparência externa tem que ser mantida, mas o
espírito do que fazemos é bem diferente".
Karma quer dizer aplicar esforço, não para
nosso benefício próprio, mas para o Supremo Senhor. Jñana
significa buscar, mas buscar o quê? Não para a exploração coletiva da
natureza; nem por Paramatma, nem por Brahman; nem mesmo pelo conceito de
Narayana sobre a verdade. Não buscamos pelo poder do Absoluto, mas pela
beleza do Absoluto, amor do Absoluto.
No fim, nós alcançamos vimucyeta, vimukti,
visesa mukti, o tipo mais elevado de salvação ou emancipação, devido
a nosso sacrifício, nossa rendição, nossa devoção. É uma conquista
positiva, não apenas o término do conceito negativo. Sair do lado
negativo simplesmente não é verdadeira emancipação ou liberação. Nosso
verdadeiro interesse é entrar na posição mais segura do positivo.
As designações (upadhis) nos foram
confiadas, sarvopadhi vinir muktam tat-paratvena nirmalam.
Anyata rupam, aquilo que é como uma doença; alguma coisa estranha
veio para me cobrir. Isso é upadhi. Isso é anyata rupam.
Com a eliminação bem sucedida disso, devemos chegar em nossa posição
positiva e correta no mundo de amor e beleza. É muito importante
perceber que o poder não é o controlador supremo; mas sim a beleza. O
controle da beleza é muito doce, normal e natural.
Poder, respeito, reverencia, majestade, tudo isso
fica obsoleto no conceito de Krsna sobre o Supremo do Bhagavatam.
Além disso, o conceito de Narayana também fica obsoleto. Beleza, amor e
harmonia é o ideal mais elevado já descoberto. Sri Caitanyadeva nos deu
isso, Vrndavana nos deu isso, e isso é consciência de Krsna. Nosso Guru
Maharaja e Svami Maharaja deram para o mundo inteiro esse conceito de
Krsna, o conceito de beleza, harmonia, amor. Esse conceito do Absoluto é
o original, a causa universal, e nada mais.
Podemos encontrar alívio só com esse conceito
fundamental. Vamos sentir que estamos fora de perigo; não somos mais
vítimas do poder. O poder de Vaikuntha, a majestade, respeito,
reverência, isso não pode ser um anseio íntimo de nenhuma substância.
Beleza é uma garantia esperançosa da nossa posição mais elevada; é
encantadora.
Bhaktivinoda Thakura predisse que quando os
intelectuais do mundo entenderem o valor do que Sri Caitanyadeva
concedeu, todas as religiões acabarão. Não vão poder continuar. Quando o
conceito do Absoluto se identifica com beleza e amor, todas as
variedades de diferentes conceitos não podem permanecer na competição.
Tudo vai abraçá-lo: "Eu quero beleza, beleza Suprema, harmonia Suprema,
amor Supremo, amor fraterno. Se isso for possível, então não quero
nenhuma outra proposta". Devemos correr nessa direção; a indicação geral
vai nos levar.
Todos os outros conceitos religiosos se destinam à
aniquilação. Todos os outros conceitos não podem atrair a classe
superior de pensadores quando vistos com olhos divinos, o olho do
conhecimento divino. Prthivite ache yata nagaradi grama, sarvatra
pracara haibe mora nama, "As glórias do Meu nome serão cantadas em
cada cidade e vila". Essa não é uma mera declaração de Mahaprabhu.
Existe uma base intelectual bem como intuitiva nessa predição.
(fim da parte um - página 88 do original).
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Divina Graça Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Gosvami Maharaja
"Fools rush in where angels
fear to tread"
Tolos correm onde anjos temem andar
Tolos se apressam onde anjos temem pisar
Tolos investem com pressa onde anjos hesitam entrar
Início da tradução terça-feira, 6 de novembro de
2001
(Visvavandya das - São Paulo - SP) - interrompida
em 03/02/2002.
Continuação Sripad Krishna Kumar Prabhu
(continuação Parte Dois - página 89 do original)
Parte
Dois
Siga
os Anjos (Follow the Angels)
Qual é a substância da minha busca interior, minha
busca mais íntima? No fim, cheguei aí. Gauranga me deu a satisfação de
minha demanda mais íntima. Ele é meu. Sem Ele, ninguém poderia ter algum
conceito de vida. O que existe de maior está aqui, e se eu não puder ter
isso, qual o valor da minha vida? Seria melhor que eu morresse; deveria
ter morrido há muito tempo. Se eu não puder entrar em contato com algo
tão valioso nesta vida, melhor eu morrer. Janmiya se kene nahi maila,
eu devia ter morrido no nascimento, se não posso entrar em meu prospecto
eterno, minha satisfação íntima.
paiya
manusa janma, ye na sune gaura-guna,
bena
janma tara vyartha haila
paiya
amrtadhuni, piye visa-garta-pani
janmiya se kene nahi maila
"Qualquer um que obtém um corpo humano mas não
adere ao culto de Sri Caitanya Mahaprabhu, fracassou em sua
oportunidade. Amrtadhuni é um rio onde flui o doce néctar do
serviço devocional. A pessoa que após receber um corpo humano bebe a
água do poço envenenado da felicidade material em vez da água desse rio,
é melhor que não tivesse vivido, mas morrido há muito tempo" (C.c.
Adi-lila 13.123).
krsna-lila amrta-sara, tara sata sata dhara
dasa-dike vahe yaha haite
se
caitanya-lila haya, sarovara aksaya
mano-hamsa caraha tahate
"Os passatempos de Krsna são a quinta-essência de
todo néctar divino, e Caitanya-lila é um lago inesgotável com
esse néctar que flui em centenas de córregos e inunda os corações dos
devotos em todas as direções. Portanto, Ó amigo que busca por néctar,
por favor, deixe sua mente nadar nesse lago como um cisne real" (C.c.
Madhya-lila 25.271).
Essas duas referências das escrituras revelam a
característica extraordinária milagrosa do nosso objetivo em Krsna.
Nosso objetivo em Krsna tem uma natureza altamente extraordinária. Os
devotos descrevem de várias formas, mas sem esse objetivo, ninguém deve
viver.